Meu sonho começou de maneira inofensica. Mas aos poucos foi tomando proporções preocupantes. 

Eu estava sentada na grama, usava um vestido amarelo claro e tinha meu cabelo preso por uma fita da mesma cor. Eu olhava para o céu, estava distraída com as diferentes formas das nuvens. Olhava cada contorno, cada detalhe. Mal percebi que alguém se aproximou.

Ele correu até mim e se deitou ao meu lado. Seu cabelo escuro estava mais comprido, e ele usava uma roupa um tanto... inapropriada para nossa época. Era uma camisa branca, que deixava parte de seu peito de fora. Percy era tão branco branco quanto eu. Mas ele estava lindo. Parecia um marinheiro. Senti uma brisa salgada assim que ele se deitou ao meu lado. Sorri para ele e ele fez o mesmo.

Me perguntei porque estávamos ali, não sabia exatamente porque, nem quando chegamos naquele lugar, mas tudo era muito lindo. O sol batia levemente sobre nossos rostos. Era prazeroso ficar deitada ali. Fechei os olhos por um minuto e quando os abri novamente, estávamos no Central Park. Eram as mesmas roupas e nós dois sentados na grama do Central Park observando as pessoas passearem.

Olhei para Percy e ele me encarava com um sorriso nos lábios. Foi inevitável não sorrir também. Então Percy fez algo que me surpreendeu. Ele se arrastou e foi se sentar mais próximo de mim. Eu mal conseguia me mexer, fiquei paralizada olhando para ele. Seu rosto fino e branquinho, seus lindos olhos verdes que tiraria qualquer uma do sério, seus lábios finos que agora esboçávam um ligeiro sorriso... Quase não notei quando Percy se inclinou e me beijou. 

"Por que não consigo me mover?" perguntei para mim mesma. Mas aquele sonho... parecia real. Me sentei de repente e olhei em volta. Sim, fora apenas um sonho. Coloquei a mão em meu peito e senti que meu coração batia mais rápido do costumava bater. Pousei as mãos de leve em meus lábio, por que aquela sensação tinha que ter sido tão real? Era como se eu estivesse mesmo beijando seus lábios. 

Olhei o relógio e vi que ainda eram 7h. Deitei, mas tinha certeza de que não conseguiria dormir novamente. Continuei em minha cama apenas olhando para o teto. Qual fora o propósito de tudo aquilo? Esperava que não fosse apenas mais uma peça de Afrodite, a deusa do amor, sobre mim. Me recusei a pensar que talvez... não, não poderia ser verdade. Cobri minha cabeça com a coberta, não queria levantar da cama. Não queria me encontrar com Percy e... 

Droga, Annabeth! Pare de pensar essas bobeiras! disse para mim mesma. 

Me levantei então da cama e fui para o banheiro tomar um banho, quem sabe assim minha cabeça se acupasse com outras coisas. Devo ter ficado pelo menos uma hora embaixo do chuveiro. Lavei meus cabelos e sai enrolada em uma toalha. Não me aprecei com as roupas nem com meu cabelo. Vesti a primeira coisa que encontrei no guarda-roupa. 

Depois de estar praticamente pronta, fui para a cozinha comer alguma coisa. Bebi um copo de leite e comi um pouco de cereais. Lavei a louça e me encaminhei até a sala para esperar Percy. Meu estômago revirou quando pensei na hipótese de vê-lo novamente. Por que raios tinha que ser assim?

Estava um tanto entretido com minhas dúvidas, mas um pequeno papel cor-de-rosa chamou minha atenção. Sorri involuntariamente ao vê-lo. O peguei e li o que estava escrito:

"Sempre que vejo o seu rosto meu coração acelera. Agora não tenha medo, é apenas amor isto o que estamos sentindo. Eu jamais lhe faria mal, ou te decepcionaria, ou te enganaria; Não despreze, é apenas amor isto o que estamois sentindo. Estou na sua estrada, é meia-noite e eu estou indo de um lado pro outro. Eu tinha que saber se você sentia o mesmo.

Não será fácil, também tenho minhas dúvidas. Mas já era, sem você estou perdido, incompleto. Sim, você me faz sentir em casa, minha casa. 

Eu sei o que estou sentindo, Annabeth, mas e você, sabe?

Assinado: alguém que te ama demais."

Sorri como boba ao lê-lo. Era incrível como meu admirador sempre escolhia as palavras, ou músicas, certas para cada ocasião. Dobrei o bilhete com cuidade e o guardei em minha gaveta, junto com os demais. 

Pensei em ir caminhando até a casa de Zeus, afinal andar um pouco não mata ninguém. 

Depois de uma reunião comigo mesma, decidi, iria caminhar hoje. 

Fui até meu quarto e coloquei meus tênis de caminhada e uma camiseta mais folgada. Meu cabelo ainda estava molhado, então o deixei daquele jeito mesmo. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Percy:

"Não precisa passar aqui hoje, irei andando"

 Queria evitar mais constrangimentos, achei que seria melhor assim. E eu também estava precisando caminhar um pouco. 

Sai de casa e a tranquei. Eu demoraria 1h, provavelmente, para chegar até a mansão de Zeus, seria tempo suficiente para refletir. Mas infelizmente, não demorou muito e encontrei com a última pessoa que eu queria ver naquele dia. Parecia nem ter acabado de acordar também. Usava um shorts de corrida e uma camiseta branca, que lhe caia muito bem, a propósito...

Luke correu até mim com um sorriso no rosto. 

- Hã.. Bom dia, Annie. - ele disse sem graça.

- Bom dia. - eu disse apenas.

Não sabia ao certo se Luke poderia ser meu admirador secreto, mas de qualquer forma não queria dar falsas esperanças para ele. 

- Hã... Me desculpe por ontem, é que... eu estou meio confuso... sabe, sentimentos... - ele disse corando um pouco.

"Não será fácil, também tenho minhas dúvidas" lembrei deste trecho do bilhete. Me recusei a pensar na hipótese de que Luke fosse o cara que estivesse me mandando bilhetes secretamente.

- Tudo bem, Luke. Só não quero que aquela cena se repita. - digo. Aquilo soou um tanto rude, mas não me importei muito.

Luke me encarava confuso.

- Então você quer dizer que nós... não tem mais nenhuma chance disto acontecer de novo?

Fiquei com um pouco de pena dele, mas não sentia absolutamente nada por Luke, não podia alimentar aquele sentimento.

Apenas balancei a cabeça negativamente. 

Ele me encarou por um minuto e então agarrou minha cintura e me beijou. Foi um susto e tanto na hora. Não correspondi, e manti meus lábios o mais unidos possível, não deixando que sua língua passasse. Quando Luke baixou a guarda, o empurrei para longe de mim.

- Luke, eu disse que nós dois... não dá mais. O que eu senti por você, foi forte, mas acabou! - eu disse me controlando para não lhe dar uma surra.

Ele apenas encarou o chão e disse:

- Que pena. Mas saiba que eu nunca deixei de gostar de você, loirinha. - e em seguida atravessou a rua correndo e foi para outro lugar.

Limpei meus lábios e continuei meu caminho. Como Luke ousou me beijar a força? Estava realmente irritada. Odiava ser forçada a fazer as coisas. Desde comer algum legume esquisito até beijar alguém. Não, não poderia ser Luke quem estava me mandando os bilhetes. Como eu pude, um dia, namorar com aquele cara? Apertei meus olhos tentando afastar as lembranças. O que passou, passou, não podemos fazer nada para mudar. Infelizmente ainda não tinha inventado uma máquina do tempo.

Meu caminho foi tranquilo. Achei que foi bem rápido até. Pensei que chegaria toda suada e cansada, mas não foi tanto assim. Ao chegar na mansão, avistei um velho camaro preto. O reconheci na mesma hora.

O portão estava aberto, como sempre. Acho que Zeus havia dado algumas férias ao porteiro. Caminhei até a casinha dos fundos e não demorei muito para encontrar a porta que levava para o laboratório secreto de Zeus. A abri e logo avistei ele e Percy conversando. Ambos pareceram um tanto surpresos ao me ver. Por um minuto pensei que talvez estivéssem conversando sobre mim.

- Bom dia. - lhes disse.

Zeus sorriu e Percy corou. Acho que ele ainda estava um tanto constrangido pelo que aconteceu noite passada. Sorri para eles e fui até seu encontro.

- Alguma novidade? - perguntei.

- Pensei em começármos procurando Bill. - Zeus disse enquanto mexia em seu computador.

Bill, ou Willian, era o nome do namorado de Thalia. Tanto Zeus como Hera, nunca o viram. Só sabiam seu nome pelos pequenos comentários que a filha fazia. Não sabiam o sobrenome, nem onde morava. Estávamos praticamente em um navio sem rumo. 

Comecei a ver alguns papéis. Eram relatórios de hospitais. Nenhuma Thalia Grace Olimpius havia sido internada nos últimos dias. Tinham também algumas certidões de óbto, mas também não encontrei seu nome em nenhuma delas. 

Percy me ajudava com os papéis, afinal eram muitos. Zeus ainda mexia em seu computador, provavelmente procurava algo sobre Bill. Mas, de repente, ele parou e tirou seu celular do bolso. Quem quer que fosse, parecia ser importante, pois na mesma hora sua expressão facial mudou. Ele ficou gélido e sério. Murmurou algumas palavras e logo em seguida guardou seu celular novamente.

Seus olhos estavam distantes, e completamente vazios. Pude sentir que algo o deixara profundamente triste. Só pensei em uma resposta plausível para isso. E esta, não me agradou nem um pouco.

- A encontraram. - ele disse.

Percy e eu não sorrimos. Ambos sabíamos o que sua expressão queria dizer.