Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 17
Gritos


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem mesmo pela demora,mas acho que vou ter mais tempo para escrever a partir de agora ^-^
espero que gostem o/



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Minha cabeça estava girando, meu cérebro simplesmente não conseguia assimilar as coisas. Os gritos, o cheiro forte, o enjoo... É coisa demais para pensar, tudo o que eu consigo fazer é continuar correndo, lutando contra meus instintos que imploram para que eu pare e procure por Katri, mas, talvez, isso só seja uma ilusão criada pelos idealizadores... ou, quem sabe, pelo meu próprio cérebro.  Além disso, se eu parar, Haymitch para, e eu não quero colocar a vida dele em risco novamente. Tampo meus ouvidos com as mãos, mas não adianta muito, os gritos ainda parecem penetrar no fundo da alma, instalando o desespero em cada célula do meu corpo.

Em poucos minutos estou ofegante, os gritos são muito altos e eu quase não escuto o som de dois canhões seguidos. Um deve ter sido do menino que eu matei... Mas e o outro? Só então percebo que o cheiro é de sangue e carne podre.

- KATRI! – paro, de repente, e grito desesperada.

-O que você está fazendo? Enlouqueceu? – Haymitch pergunta tentando me puxar para a corrida novamente, mas continuo firme e chamo Katri novamente. Sem resposta. Grito de frustração e percebo como a minha voz está rouca.  Então escuto o grito dela novamente, dessa vez mais perto, e, em seguida, uma tosse asmática. Uma estranha mistura de alívio e desespero me invade. Mas quando abro a boca para gritar por Katri novamente, Haymitch tampa minha boca com um tapa.

- Qual é o seu problema?! Seja lá quem for essa menina, esquece! Ou então nós dois vamos morrer... – sua expressão era fria e carrancuda, como sempre. Ele me encara sem um pingo de piedade e me puxa para que eu continue a correr, mas eu balanço a cabeça negativamente. Ele para por um segundo, me examinando com seus olhos, então solta meu pulso e dá um passo para trás -... Ou melhor, você vai! – murmurou me lançando um ultimo olhar ressentido, e começou a correr me deixando para trás.

-HAYMITCH! – grito, mas ele me ignora e continua correndo. Olho para o lado onde os gritos vem e depois para onde Haymitch correu. Não sei o que fazer, estou sozinha, suja de sangue e completamente confusa. Caio de joelhos na grama, meus olhos se enchem de lágrimas. Fico com raiva de mim mesma por ser tão fraca. Suspiro e deixo que as lágrimas escorram no meu rosto por um momento. Então pego minha mochila e preparo alguns dardos. Me levanto com minha decisão já tomada, lanço um ultimo olhar para a sombra de Haymitch e a raiva queima dentro de mim. Corro para onde os gritos partem, preciso encontrar Katri.

É simplesmente inútil gritar, já que ela não me escutaria com todo esse barulho.  Meus passos estão pesados e lentos, como se o peso de estar sozinha novamente tivesse inibido minha rapidez. Me aproximo com relutância e o som fica cada fez mais alto, chegando a ser até doloroso. Não são realmente gritos, pelo menos não a maior parte deles, tenho certeza que não são sons humanos e isso não é nada bom, pois se não é humano só há duas opções: animais e bestantes. Como estamos em um Massacre dos Jogos Vorazes, duvido muito que sejam animais normais, até porque nenhum animal seria capaz de fazer um som tão horrível. O cheiro também parece piorar a cada passo, não é um cheiro de carne podre normal, é cheiro de carne humana podre e só de pensar nisso tenho ânsias de vomito.  Me guiando pela intensidade do som e do cheiro, percebo que estou chegando mais perto e sinto meu corpo ficar tenso. Estou exausta, não quero outra luta; penso como se tivesse alguma escolha.

O sol já está quase se pondo, mas as árvores são tão altas que quase tampam totalmente a luz, fazendo com que a minha visão seja guiada através da sombra das coisas. Paro por um momento para observar e percebo uma sombra pequenina se mexer levemente perto de uma árvore à minha esquerda. Preparo meu dardo, mas antes que eu possa me aproximar o dono da sombra emite um som: uma tosse, sem dúvidas, asmática. Sinto meu coração dar um salto e corro até ela. Quando meus olhos finalmente encontram a dona da sombra, um alívio tão grande percorre meu corpo que tenho vontade de chorar.

-Katri! Você está viva! – grito, chegando mais perto para abraçá-la.

Mas ela me encara de olhos arregalados e sua face fica pálida e, hesitando, ela dá um passo para trás. Por um momento fico assustada, por que ela está se afastando de mim? Só então percebo que estou apontando mirando meu dardo em seu peito e abaixo a arma.

- Desculpe, j-já é automático – admito envergonhada. Ela sorri e me dá um abraço. O alívio é tão bom. Saber que ela está viva e junto comigo novamente.

- Senti sua falta – disse dando um sorriso, que foi interrompido por mais uma terrível crise de tosse. Encaro ela, preocupada. – Não...n-não tenho mais forças pra correr, May. Mal estou conseguindo respirar, não vou conseguir fugir.

- Fugir? Do que?

-Uma garota e... bestantes– ela responde, confirmando meus receios.

- Que tipo deles?

- Nunca tinha visto nada parecido com eles, são um bando de pássaros gigantes. Eles gritam e tem olhos de demônio. Eu...eu estava fugindo de uma garota e de repente começaram os gritos, tão altos que senti que meus ouvidos iriam sangrar se eu não corresse, e quando olhei para trás vi eles: tinham bicos dourados e voavam  muito rápido, são quase o dobro de mim, eu acho. – contou cautelosamente, como tentasse se lembrar dos detalhes.

- Temos que fugir! Vamos, Katri! – digo agarrando seu pulso e puxando-a para frente.

- Não, você pode ir. Eu não consigo mais. Sinto muito. – sua expressão era fria, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- Não vou sem você – encaro seus olhos negros e entrelaço suas mãos pequeninas nas minhas. Tenho vontade de acrescentar: Até porque, não sou como Haymitch. Mas fico calada.

Tento pensar em alguma coisa... Subir nas árvores? Não, eles podem voar até lá. Se esconder? Impossível, bestantes tem um olfato perfeito, encontrariam (e matariam) qualquer ser vivo. Ela tem razão, o único jeito é fugir.

- Você tem que tentar – insisto – Ou nós duas vamos morrer – acrescento, sabendo que desse modo ela não pode hesitar.

Dou um passo para frente e Katri me acompanha. Ótimo.

Começamos a correr novamente, depois de cinco minutos eu estou quase arrastando Katri, que tem uma crise depois da outra. Mesmo assim, somos lentas demais, os gritos chegam cada vez mais perto, junto com a nossa morte. Então ouço um grito bem atrás de nós. E todo meu sangue parece congelar. Katri para e eu também .Quando olho para trás vejo uma cena tão terrível, que começo a tremer.

- A g-garota... – gagueja Katri, mas sua voz falha.

Sim,aquela deveria ser a garota que tinha perseguido Katri. Agora era tarde demais para ela: os pássaros tinham se aproximado o suficiente dela e estavam, literalmente, a fatiando. O sangue caindo para todos os lados, junto com pedaços de carne arrancados e, o pior de tudo, os últimos gritos da garota. Gritos tão desesperados e que com uma dor tão grande dentro deles, mas que infelizmente não poderão salvá-la da morte.

Katri começa a chorar. Observamos o bando de pássaros nojentos terminar seu trabalho satisfeito e ir embora, como se nada tivesse acontecido, carregando alguns poucos pedaços da carne dela, em seus bicos. Então a menina dá seu último suspiro desesperado e eu ouço um canhão.


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Notas finais do capítulo

Que tal deixar um review e fazer o dia da escritora mais feliz? :D