A Profecia escrita por Semideusa 4ever


Capítulo 7
Panda maldito! (Sam)


Notas iniciais do capítulo

Galeraaaa...desculpe por demorar tanto em postar esse cap...mas é q eu tenho uma cabeça estranha e muito bizarra q não me obedece quando eu peço para ela ficar concentrada na fanfic ai meio q ela vai atras de musica no 4shared só para me irritar(momento desabafo)!Mas eu compensei postando um cap verdadeiramente gigantesco!Espero q amem..e antes q eu me esqueça eu gostaria de dedicar esse cap as minhas fãs lindas e maravilhosas,que por sinal são escritoras muito fodas!
Percy e Annabeth,Megan,Beck Marques,Diana Alves(sou sua fã numero 1!) e a minha amiga mais q perfeita Sara Beatriz q me ajudou a escrever e a corrigir o cap!Vcs são perfects!



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(Sam)

Nós já estávamos voando há horas e ainda não tínhamos trocado nenhuma palavra desde que saímos do Brasil, a minha companheira de viagem parecia estar em uma espécie de transe, se ela não estivesse segurando a minha camisa com força eu poderia jurar que ela estava morta. Ela estava com os olhos bem fechados e sua expressão era muito calma, talvez até calma demais. Definitivamente eu não estava gostando do silêncio.

Eu já estava pensando em como seria uma boa maneira de começar uma conversa até que a Clarisse abriu os olhos e disse:

– Precisamos descer um pouco. - sua voz tremia um pouco.

– Por quê? - perguntei.

– Pérola está exausta.

Só foi ai que eu reparei que o nosso pégaso estava em péssimas condições. Eu estava tão desesperado em voltar ao acampamento que não me lembrei que Pérola teria que levar dois semideuses de um continente a outro, então eu simplesmente deixei que ficássemos horas no ar.

– Você tem razão. - fiz carinho em Pérola. - Vamos descer.

– De nada. - Clarisse murmurou baixinho.

Achei isso muito estranho. Ela definitivamente não havia falado aquilo para mim. Só havia uma explicação para isso...

– Você consegue falar com ela? - disse apontando para Pérola quando já estávamos no chão.

– E você não? - Clarisse me perguntou com uma sobrancelha erguida.

– Não. Você deve ter pego essa habilidade de Poseidon. - digo.

– Como assim? - perguntou confusa.

Eu ainda não havia falado a ela nada sobre o fato dela ser a semideusa mais poderosa do século que tem uma estranha ligação com cinco deuses, eu já havia falado sobre o acampamento, sobre os meus amigos e tudo mais, mas eu ainda não havia contado a ela os perigos que já passamos, as vidas perdidas em batalha e definitivamente não havia contado que havia uma grande possibilidade de ela liderar a próxima missão.

Nós estávamos no meio de uma floresta em algum lugar na Colômbia, se eu contasse tudo a ela e ela surtasse seria impossível fugir, afinal, ela não tinha para onde ir. Mesmo correndo o risco de deixá-la apavorada eu não podia esconder nada dela. Então eu simplesmente contei tudo. Tudo mesmo, desde a tentativa de regresso de Cronos até o quase despertar de Gaia, como ela conhecia mitologia grega foi até fácil contar tudo a ela. Eu simplesmente contei todas as histórias que Annabeth me contava quando voltava de uma missão, e por fim contei sobre a minha visita aos deuses e sobre a reunião do conselho.

Enquanto contava tudo a ela o meu único pensamento era: “Se ela surtar ela vai ao acampamento nem que seja amarrada.”. Nós estávamos sentados em uma espécie de campina enquanto Pérola estava dormindo, estava tudo incrivelmente calmo. Clarisse ouviu cada palavra minha com atenção e às vezes fazia um comentário ou dois tentando se lembrar ou assimilar os fatos das histórias. Ao contrário do que eu esperava ela permaneceu calma, e quando eu terminei de contar tudo nós apenas ficamos lá, deitados em silêncio. Mas como eu sou um filho de Atena naturalmente curioso, quebrei o silêncio perguntando uma coisa que estava martelando na minha cabeça desde a hora que pousamos:

– Por que você estava daquele jeito quando estávamos voando?

– Que jeito? - ela perguntou confusa.

– Como se você estivesse em transe ou qualquer coisa do gênero.

Ela fez uma careta e disse:

– Tenho medo de voar. Não me leve a mal, foi incrível voar em Pérola, mas é que não me sinto segura no céu. Só fechei os olhos e tentei me lembrar de coisas que me fizessem esquecer que eu poderia despencar de uma altura superior a trezentos metros.

Aquela garota estava me deixando verdadeiramente confuso. Pensei que ela estava daquele jeito por estar arrependida de ter ido na viagem, mas ela só estava com medo de altura. Sorri ao pensar que talvez a viagem não fosse tão difícil quanto achei que poderia ser, porque, afinal, ela ainda não surtou. Isso me faz levantar outra questão. Por que ela não ficou em pleno pânico depois de saber que a vida de muita gente, inclusive a dela, está em suas mãos?

– Como está se sentindo? - perguntei avaliando o seu estado de espírito.

– Com fome. - ela respondeu.

Depois disso, nós montamos uma barraca, que eu havia colocado em minha mochila antes de sair do acampamento, e usamos os suprimentos que havíamos pegado na casa dela para fazer alguns sanduíches. Pérola passou o tempo inteiro dormindo. Depois de comer nós nos sentamos do lado de fora da barraca e ficamos olhando o céu enquanto escurecia.

– Como é a sua família? - ela perguntou quebrando o silêncio.

– Por que a pergunta? - perguntei olhando em seu rosto.

– Você é o meu colega de viagem, certo? Você já conhece a minha família, sabe onde eu estudo e sabe onde eu moro. Preciso saber alguma coisa sobre você!

Ela tinha razão, eu já sabia quase tudo sobre ela e ainda não tinha dado a chance dela me conhecer.

– Minha mãe sendo uma deusa eu quase nunca a vejo. – comecei.

Suspirei ao me lembrar que quando era pequeno eu vivia brigando com o meu pai porque ele não me dizia quem era a minha mãe. Sempre me senti uma criança abandonada.

– Fui criado pelo meu pai, Edgar Clark, ele é um paleontólogo. Depois de fazer inúmeras descobertas ele finalmente ficou conhecido e respeitado, ele vive viajando e eu o vejo pouco, mas ele é meu melhor amigo. – sorri ao relatar esse fato. Para mim meu pai é um amigo, um conselheiro e um verdadeiro herói.

– Depois de um tempo sozinho meu pai casou, o nome dela era Ângela. Com dois anos de casados ela ficou grávida da minha irmãzinha mais nova, Lucy. Quando Lucy fez dois anos Angela morreu em um acidente de carro. – quando cheguei nessa parte o meu sorriso se desfez imediatamente. Ângela não era apenas a esposa do meu pai ou a mãe da minha irmã, ela foi a mãe que eu nunca tive! Foi muito duro perde-la.

– Meu pai não aguentou passar muito tempo na nossa casa antiga depois do acidente, então nós saímos de Nevada e nos mudamos para Nova York. Foi ai que a minha vida mudou. Um sátiro chamado Walen me encontrou e me levou para o acampamento, mas no caminho ele foi capturado e morto por uma Lâmia, meio mulher meio serpente que devora crianças. – parecia que as minhas lembranças ficavam cada vez mais amargas. Walen era meu melhor amigo, e eu o vi morrer, nunca vou me esquecer daquilo.

– Eu consegui escapar e ir ao acampamento em segurança. Eu tinha oito anos, ainda era o meu primeiro ano como campista, quando fui reclamado filho de Atena. Desde então eu vou ao acampamento todo verão. – o acampamento foi a melhor coisa que me aconteceu. Mesmo tendo lembranças tão duras eu ainda sou feliz, pois não importa o que aconteça eu sempre irei lembrar que Walen e Ângela perderam a vida para que eu acabasse encontrando o acampamento.

– Seu pai sabe que sua mãe é uma deusa? - ela perguntou.

– Sabe.

– Sinto muito por Ângela e Walen. - ela disse olhando em meus olhos.

– Nunca vou me esquecer deles. - disse por fim.

Ela bocejou e começou a esfregar os olhos.

– Vai dormir. Eu fico de guarda, qualquer coisa eu te acordo. - disse.

– Obrigada. - ela disse enquanto entrava na barraca.

Eu simplesmente não consegui pregar o olho, a única coisa que eu conseguia me lembrar era da morte de Walen. Como eu sabia que não iria conseguir dormir nem me dei ao trabalho de acordar Clarisse, preferi deixá-la dormir a noite toda.

Quando o sol estava começando a nascer ela saiu de dentro da barraca, sentou ao meu lado e disse:

– Você precisa dormir.

– Não consigo. - respondi melancólico.

Depois de convencê-la de que eu realmente não estava cansado, tomamos café da manhã, desmontamos a barraca, acordamos e alimentamos Pérola e logo já estávamos voando novamente.

Dessa vez Clarisse estava menos tensa, ficou até com os olhos abertos. Depois de algumas horas ela me disse que Pérola precisava parar novamente. Dessa vez nós já estávamos em Honduras. Paramos no meio da floresta ao lado de um lago e montamos acampamento.

Depois que escureceu resolvemos comer alguma coisa. Estávamos em silêncio, um silêncio um tanto desconfortável. A única coisa que se passava em minha cabeça desde a nossa conversa de ontem era a morte de Walen, eu passei nada mais nada menos que o dia inteiro calado. Era como se a morte do meu amigo estivesse me afetando mais uma vez.

– Quero fazer alguma coisa diferente. - Clarisse falou quebrando o silêncio.

– O que? - perguntei com certo receio.

– Algo que faça você ficar mais sorridente. - ela disse me olhando nos olhos.

Ela estava tentando me animar. Sorri ao pensar que ela estava se tornando minha amiga.

– O que você quer fazer? - perguntei com um sorriso.

– Que tal um jogo de perguntas e respostas? Você pergunta e eu respondo.

Ela já deve ter sacado que eu gosto de fazer perguntas.

– Certo. Qual é a sua cor favorita?

– Vermelho.

– Praia ou piscina?

– Os dois.

– Ler ou jogar video game?

– Ler.

– Esportes favoritos?

– Basquete e skate.

Aquilo realmente estava me animando. Aos poucos eu fui sabendo cada vez mais sobre ela. Adorei o jogo.

– Gato ou cachorro?

– Cachorro.

– O que você mais ama nessa vida?

– Minha família e meus amigos.

– Carro ou moto?

– Carro.

– Qual o seu gênero de filme favorito?

– Prefiro comédias ou filmes muito violentos.

– Música favorita?

– Essa pergunta não vale.

– Por quê?

– Porque é muito difícil de responder.

– Certo, mas depois eu quero ver a playlist do seu Ipod!

– Ok.

– Frio ou calor?

– Calor.

– O que você faz nas horas livres?

– Escuto música e canto.

Agora ela conseguiu me deixar curioso.

– Você canta?

– Canto. Por quê?

– Não sabia que você tinha um lado artístico.

– Haha. Engraçado. - ela disse fazendo uma careta.

Conversamos e rimos bastante. Foi incrível como ela conseguiu me animar tão rápido. Por fim acabamos deitando e vendo as estrelas.

– Zoë foi uma heroína. - ela comentou.

Enquanto contava as historias a ela eu falei sobre as caçadoras de Ártemis e sobre Zoë Doce-amarga, de todas as historias parece que foi a de Zoë que a encantou mais.

– Uma das maiores. - completei.

– Agora, depois de me conhecer mais, quem você acha que é o meu pai ou mãe olimpiano? - ela perguntou.

A sua pergunta só fez com que uma nova curiosidade ressurgisse em minha mente.

– Clarisse, me fale sobre a sua família. - pedi.

Ela soltou um riso de escárnio e disse:

– Eu sou adotada. Por isso eu não me pareço com a minha família. Eu não faço idéia de se é o meu pai ou a minha mãe que é um deus.

Era como se ela lesse a minha mente. Ela falou sobre sua adoção com certo ressentimento na voz, como se aquilo a ferisse de alguma forma.

– Eu não faço idéia de quem você pode ser filha.

– Hum. Melhor você ir dormir. Hoje é a minha vez de montar guarda. - ela disse por fim.

Assenti e entrei na barraca. Me senti mal por ter feito com que ela ficasse chateada. Mesmo me sentindo culpado consegui dormir. Naquela noite enquanto dormia ouvi uma canção, não sabia se era bom ou ruim sonhar com canções, mas aquele foi o sonho mais bonito que eu já tive. A voz em meus sonhos me trazia lembranças da minha família e de bons momentos no acampamento. Aquela era definitivamente a música mais linda que eu já havia escutado em toda a minha vida, não era bonita por causa da letra, era bonita por causa da voz da garota que a cantava.

Quando acordei já era de dia, o Sol invadia a barraca e a música dos meus sonhos ainda ecoava em minha mente. Sai da barraca e vi Pérola dormindo, mas nem sinal de Clarisse.

– Clarisse? - chamei. Ninguém respondeu.

– Clarisse? - chamei mais alto.

Comecei a ficar desesperado.

– Clarisse! - berrei.

Quando eu já ia me afastando do acampamento para ir atrás dela me senti sendo puxado para trás. O meu primeiro reflexo foi pegar a adaga que eu escondia em minhas roupas e colocar no pescoço da criatura que estava atrás de mim. De primeira vista eu simplesmente não reconheci, mas depois de olhar com atenção senti um alivio tão grande que pode até ser chamado de felicidade.

– Você está lokão?! - Clarisse me repreendeu.

Ela estava diferente. Seus olhos estavam completamente verdes e os cabelos muito escuros.

– Se você não tirar essa faca do meu pescoço agora eu juro que você vai se arrepender pelo resto da vida. - ela ameaçou.

Não ousei contrariá-la. Me afastei e guardei novamente a adaga. Depois de um breve momento olhando para ela vi o motivo de sua mudança. Ela estava molhada.

– Onde você estava? - perguntei.

Ela revirou os olhos, apontou para as roupas molhadas e disse:

– Antes de ser atacada por você eu estava nadando no lago!

– Desculpa. Não tive a intenção de te deixar brava, mas é que você simplesmente desaparece, e do nada alguma coisa me puxa, ainda bem que eu não te matei. Não sabe que é perigoso assustar uma pessoa armada? - disse.

– Me desculpe pela minha falta de conhecimento sobre as regras básicas de sobrevivência!

Eu apenas ri. Eu tenho certeza que poderíamos ficar discutindo por dias.

– Eu tenho cara de palhaça por acaso? - ela perguntou furiosa.

Ela deveria ser bipolar. Em um momento estava tentando me animar no outro estava querendo me matar. Garotas são piradas!

– Desculpa. - pedi ainda rindo.

Depois da nossa pequena discussão tratamos de comer alguma coisa, desmontar a barraca e cuidar de Pérola. Logo nós já estávamos voando novamente.


Nossa viagem estava levando mais tempo do que eu imaginava. Já fazia quatro dias que estávamos viajando e só agora nós havíamos conseguido atravessar o México e chegar aos Estados Unidos. Senti muita pena de Pérola durante todo o caminho, ela tentava ficar no céu o máximo de tempo possível, mas era muito difícil ficar levando dois semideuses o tempo inteiro, então ela só conseguia voar durante umas seis ou sete horas seguidas.

Sempre procurávamos pousar na floresta e montar um mini-acampamento. Todas as noites eu e Clarisse conversávamos bastante, principalmente sobre o acampamento meio-sangue e as aventuras dos que lá viviam. Ela e Pérola pareciam ter desenvolvido uma amizade especial, elas viviam conversando, mas como eu não tinha nenhuma ligação com o cabeça-de-alga pai, obviamente, não entendia nada. Em relação aos meus sonhos, sempre que eu dormia escutava a mesma canção.

Só nos restavam dois dias para chegar ao acampamento, como já estávamos em Novo México, iríamos chegar em cima da hora. Era o nosso quarto dia de viagem e já estava escurecendo. Montamos a barraca, como sempre faziamos, e preparamos alguns sanduíches. Depois do jantar entramos na barraca e ficamos em um silêncio confortável, até que eu resolvi quebrá-lo.

– Eu nunca ouvi você cantando. – observei.

Ela olhou para mim e disse:

– Você nunca pediu para que eu cantasse, apesar de eu estar sempre cantando.

– Quando você canta? - perguntei.

– Depois que a bateria do meu Ipod acabou, e eu tinha que vigiar a barraca durante a noite, eu simplesmente passava a noite inteira cantando para aliviar a minha carência de música, na verdade você nunca esta consciente quando eu estou cantando.

– Quando vou ouvir você cantando?

– Quando você pedir.

– Isso não vale como um pedido?

– Não. - ela respondeu calmamente.

Bufei, olhei para ela e perguntei:

– Será que a senhorita poderia me dar a honra de ouvir uma linda canção vinda de sua pessoa enquanto eu estou morgando?

Ela revirou os olhos, deitou na barraca e fez um sinal pedindo para que eu fizesse o mesmo. Depois de um breve momento de silêncio ela começou a cantar.


She's all laid up in bed with a broken heart

While I'm drinking jack all alone in my local bar

And we don't know how, how we got into this mad situation

Only doing things out of frustration

Trying to make it work but man these times are hard


Não era a primeira vez que eu escutava essa canção. Não era a primeira vez que eu escutava essa voz. Era essa a voz dos meus pensamentos que me fazia ter bons sonhos. Era com essa voz que eu sonhava todas as noites.


And we don't know how, how we got into this mad situation

Only doing things out of frustration

Trying to make it work but man these times are hard


Eu nunca havia escutado uma voz tão bonita. Tinha algo diferente, era pura. Era uma voz doce e suave que faz com que boas lembranças e sentimentos estranhos tomem conta da minha mente e do meu coração.


She needs me now but

I can't seem to find the time

I got a new job now in the unemployment line

And we don't know how, how we got into this mess is it a God's test

Someone help us cause we're doing our best

Trying to make it work but man these times are hard


Quando eu virei a minha cabeça para vê-la fiquei maravilhado quando vi uma cor verde tomar conta dos seus olhos lentamente.


But we're gonna start by

Drinking old cheap bottles of wine

Sit talking up all night

Saying things we haven't for a while, a while yeah


Eu já conhecia aquela musica, era “For The First Time” do The Script. Ela falava de duas pessoas que estavam enfrentando uma situação difícil, mas no final, mesmo com os corações ainda partidos, elas acabam falando coisas que deveriam ser ditas e pensamentos que deveriam ser abertos, coisas que não faziam a muito tempo.


We're smiling but we're close to tears

Even after all these years

We just now got the feeling that we're meeting

For the first time OOH


Enquanto cantava, ela ficou olhando para o teto da barraca enquanto eu olhava para os seus olhos feito um retardado. Quando a música acabou ela olhou para mim, deu um sorriso vitorioso e disse:

– Eu disse que cantava.

– É você canta. - disse.

Ela desfez o sorriso e perguntou:

– Quanto tempo você acha que vai levar para chegarmos ao acampamento?

– Nós precisamos chegar em dois dias. Acho que vai ser tempo suficiente.

– Espero que sim. - ela disse com um novo sorriso se formando em seus lábios.

Ficamos um tempo sem falar nada, apenas nos olhando. Depois de um tempo ela olhou para o meu braço, franziu o cenho e perguntou:

– Que relógio é esse?

Ela estava se referindo a minha bússola. Fazia tanto tempo que eu não olhava para ela que eu até tinha esquecido que ainda a estava usando. Na verdade, depois que eu encontrei Clarisse, a bússola ficou meio pirada, a agulha ficava apontando para todas as direções, então eu parei de confiar nela.

– Isso é uma bússola. Quíron me deu e disse que me ajudaria a te encontrar. Mas depois que eu te achei ela parou de funcionar.

– Eu posso ver? - ela perguntou.

– Claro. - disse tirando a bússola do pulso e estendendo para ela.

Enquanto ela analisava a bússola eu fiquei observando o objeto em suas mãos. Eu nunca havia prestado muita atenção naquela bússola, claro que enquanto eu estava indo ao Brasil eu vivia olhando para ela, mas nunca havia prestado atenção em seus detalhes. De fato aquilo era uma bússola, mas possuía uma pulseira de relógio de couro. Eu nunca havia prestado atenção, mas o objeto possuía vários detalhes em bronze celestial. Aos olhos mortais poderia ser considerado um relógio muito bonito.

Quando ela virou a bússola para olhar em outro ângulo eu vi uma coisa curiosa, uma mensagem gravada na parte de trás.

Eu peguei o objeto de suas mãos e verifiquei a mensagem. Estava em grego antigo, e dizia o seguinte:


          "Ο χάρτης των επιθυμιών και την ασπίδα της ασφάλειας."

– O mapa dos desejos e o escudo da segurança. - Clarisse traduziu.

Como eu nunca havia prestado atenção nisso? Eu devo ser o filho de Atena mais burro e desatento da historia! Mas, afinal, o que isso quer dizer? Mapa dos desejos? Escudo da segurança?Analisando, como um objeto como este pode ser considerado um mapa para desejos? Bom, levando em consideração que é uma bussola e indica direções pode ser considerado um mapa. Que desejo esse mapa me indicou? Que desejo eu consegui realizar com a bússola?

Enquanto milhares de perguntas e possibilidades se formavam em minha mente Clarisse continuava analisando o objeto.

Mas que desejo a bússola realizou? Quíron me disse que ela iria me ajudar a encontrar a semideusa. O que eu mais queria naquele momento em que ele me deu ela, o que eu mais queria durante toda a viagem de ida até o Brasil era achar à meio-sangue e completar a minha missão. Então a bússola me mostrou o caminho porque esse era o meu maior desejo. E depois que eu a encontrei o meu maior desejo era fazer com que nós voltássemos para o acampamento a tempo, e esse é um desejo no qual não se pode apontar uma direção.

Mas agora vem a outra questão... Escudo da segurança? A bússola nunca havia se transformado em um escudo quando estava comigo. Então será que era para ela estar comigo?

– Essa bússola aponta a direção para o que mais desejamos. E eu acho que ela pertence a você. - disse colocando-a em seu pulso.

– Você esta falando sério? - ela perguntou.

– Uhum. Ela cai muito melhor em você do que em mim!

Quando coloquei a bússola no braço dela a agulha voltou a apontar em uma única direção, que por sinal era a direção para a qual estávamos indo.

– O que você mais deseja nesse momento? - perguntei a olhando nos olhos, que por sinal já estavam voltando a ficar castanhos novamente.

– Ir para o acampamento. Você me fez ficar ansiosa para ver uma coisa na qual eu não conheço. Acho que eu preciso ir para lá para ver que tudo não passa de um sonho bem estranho.

Ri ao pensar que ela não havia se referido a nossa viagem como um pesadelo, mas sim como um sonho estranho.

– Eu estaria me sentindo igualmente confuso se eu fosse você. - falei com sinceridade.

Depois de uma breve conversa e um bom momento em silêncio ela caiu no sono, não tive problemas com isso, afinal, hoje era a minha vez de ficar acordado durante a noite. Resolvi passar a noite dentro da barraca. Passei a noite inteira vendo-a dormir. Naquela noite eu acabei descobrindo outro fato sobre ela. Ela falava enquanto dormia. Ela falava coisas desconexas como: “Sinto sua falta.”, “Larga o meu skate.”, “Eu não tive a intenção.”, “Sai daqui panda maldito.”, na verdade era muito engraçado ouvi-la reclamar com um panda.

Lá pelo o meio da noite comecei a ouvir uns ruídos estranhos vindos da floresta, então sai da barraca, peguei minha lança, que se encontrava dentro da minha mochila, e fui em direção aos ruídos. Isso mesmo, minha lança. Na verdade a minha arma original não é a adaga, mas sim uma lança. Uma alabarda de dois metros de comprimento, seu cabo preto possui detalhes em bronze e sua lâmina termina em uma espécie de machado com uma ponta longa e pontiaguda revestida de bronze celestial, uma lança chamada Bitrios, se chama assim porque serve tanto para furar quanto para cortar.

Entrei na floresta e a uns cento e cinquenta metros de onde estávamos acampados estava tendo uma bela reunião de lestrigões. Quatro dos maiores lestrigões que eu já vi na vida, não que eu já tenha visto algum, mas eles eram realmente grandes. Eles deveriam ter em uns três metros de altura e músculos do meu tamanho, lestrigões grandes, fortes e insuportavelmente fedorentos.

– Eu nunca vi um filhote de deus com um cheiro tão forte! - disse o lestrigão que estava usando uma camiseta do Bob Esponja, que por sinal era a maior camiseta que eu já havia visto.

– Mike, lembre-se que o patrãozinho disse que tínhamos que levá-lo vivo. - advertiu o lestrigão que não tinha os dois dentes da frente.

– Mas ele falou que tinha um filho de Atena que poderíamos jantar. - lembrou o lestrigão que segurava um porrete.

– Melhor acharmos eles logo, já estou ficando cansado de procurar esses filhotes de deus. - falou o mais baixo que estava usando um galho de árvore como palito de dente.

Essa conversa me atingiu como um raio. Tinha alguém atrás de nós. Tinha alguém querendo nos matar. Mas como haviam descoberto que eu já a havia encontrado?

Enquanto milhões de perguntas se formavam em minha mente eu só tive uma ação. Corri o mais rápido que pude para onde estávamos acampados. Eu corria tão rápido que mal via as árvores na minha frente, então eu acabei batendo o meu braço em um galho pontiagudo, a boa noticia é que não era o braço que estava com a lança, a má noticia é que eu acabei fazendo um corte enorme no meu braço. Quando cheguei ao acampamento Pérola ainda estava dormindo, eu a acordei e pedi para se preparar para voar. Quando entrei na barraca Clarisse ainda parecia ter uma discussão com um panda.

– Clarisse, acorda. Temos que sair daqui! - disse mexendo seu ombro.

– O que é? - ela perguntou aborrecida.

– Tem monstros vindo para cá. Estão atrás de nós!

Aquilo pareceu alertá-la, pois ela levantou em um salto e perguntou:

– Que monstros?

– Lestrigões gigantes que usam galhos de árvores como palitos de dente!

Nesse exato momento ouvimos ruídos cada vez mais altos vindos da floresta. Peguei minha mochila e arrastei Clarisse até onde Pérola nos esperava para partir. No mesmo instante em que levantávamos vôo o primeiro lestrigão apareceu por entre as árvores, por sorte eles não conseguiram nos pegar. A última imagem que vejo deles são os quatro monstros gritando de frustração e destruindo a única barraca que tínhamos.

Quando abandonamos o acampamento o Sol estava nascendo. Agora ele já estava apontando o começo da tarde, deveriam ser umas três horas. Pérola já estava exausta, ela não havia voado tanto assim já fazia um bom tempo, então quando chegamos a Chicago resolvemos parar. Nós pousamos em uma área de conservação ambiental perto do rio Mississipi. Por sorte conseguimos encontrar uma espécie de gruta que seria o local onde nós iríamos dormir, já que a nossa barraca foi destruída por lestrigões. Resolvemos não acender uma fogueira, como aquele local era área de conservação ambiental se acendêssemos uma fogueira iríamos acabar chamando atenção, mas isso acaba que se tornando um problema já que Chicago, mesmo no verão, é uma das cidades mais frias dos Estados Unidos.

Enquanto Pérola dormia, eu e Clarisse estávamos sentados do lado de fora da gruta enquanto eu contava para ela tudo o que eu havia ouvido da conversa dos lestrigões.

– Quer dizer que tem monstros nos caçando? - ela perguntou aparentemente tensa.

– Isso mesmo, mas não se preocupe, quando chegarmos ao acampamento estaremos a salvo. - tentei tranquilizá-la.

– Espero que sim. - ela disse.

Passamos um tempo assim, só em silêncio até que o corte do meu braço começou a latejar e eu fiquei inquieto por causa da dor, ao perceber por que eu estava inquieto, Clarisse segurou o meu braço machucado com cuidado e perguntou:

– Aonde você conseguiu isso?

– Enquanto corria para o acampamento acabei esbarrando em um galho de árvore, não é nada de mais. - disse tentando esquecer a dor.

– Não, isso aqui é sério. Você sabe que pode perder o braço se esse corte infeccionar? - ela perguntou olhando em meus olhos.

– Esquece. Daqui a pouco eu dou um jeito nisso aí. - disse dando de ombros.

– Não, quem vai dar um jeito sou eu. Você tem kit de primeiros socorros aí?

Depois que eu entreguei a ela o kit de primeiros socorros que eu tinha em minha mochila, como disse sou um semideus precavido, ela começou a limpar o ferimento tão cuidadosamente que eu não senti nada.

– Você leva jeito. - observei.

Ela deu um sorriso para mim e disse:

– Quero fazer medicina. É mais do que a minha obrigação saber cuidar de um corte.

– E aí... Vou sobreviver? - perguntei.

– Isso aqui está feio. Não sei como você não está chorando de dor.

Na verdade estava doendo muito, era como se o meu braço tivesse sido rasgado, mas eu sou um guerreiro, a dor é minha companheira.

– Não estou sentindo quase nada. - menti na maior cara de pau possível e imaginável.

– Uhum. Acredito nisso. - ela falou com sarcasmo. -Você é masoquista por acaso?-ela me perguntou com uma sobrancelha erguida.

Não respondi, pois eu sabia que iríamos começar uma discussão e acabaríamos por ficar com raiva um do outro, e por alguma razão eu não queria isso.

Depois de algum tempo, muito tempo por sinal, ela enfaixou o meu braço, me deu um comprimido, sentou ao meu lado e disse:

–Agora eu tenho certeza que você vai sobreviver!

–Obrigado Dra.-agradeci.

Ela aparentava estar bastante cansada, seus olhos pareciam pesados e ela esfregava os olhos freneticamente.Depois de algum tempo observando-a sendo consumida pelo sono percebi que ela olhava para a bussola em seu pulso com certa preocupação.

–Não de preocupe você vai adorar o acampamento. -tentei tranqüilizá-la

– Estou contando com isso. - ela disse antes de encostar a cabeça em meu ombro e dormir.

Ela deve ter dormido por umas duas horas até eu acordá-la para irmos para a gruta, pois já estava começando a chover. Comemos uns sanduíches e depois do jantar nós fomos nos preparar para dormir. Nós tentamos colocar o máximo de roupa possível por causa do frio, mas mesmo com quilos de roupas e um saco de dormir estávamos congelando. Não estávamos conseguindo dormir, mas também não conseguimos conversar porque a minha boca estava tremendo tanto que eu não conseguia pronunciar nenhuma palavra. Eu definitivamente não estava legal, sentia arrepios intensos, não conseguia sentir os meus dedos e meus pensamentos não estavam coerentes.

Ao que parece a Clarisse estava tão mal quanto eu. Em um momento ela se virou para mim e disse:

– Ssseus lábios e-estão azulados e v-você está p-pálido! C-consegue ssssentir as m-mãos?

Balancei a cabeça negativamente.

Ela esfregou as mãos e pela primeira vez conseguiu dizer algo sem gaguejar:

– Estamos com hipotermia subaguda. É por causa do ambiente frio. Eu ainda estou sentindo os meus dedos, ou seja, ainda estou no primeiro estágio, mas você já esta no segundo. Precisa de calor agora, senão vai ficar inconsciente.

Não sei o que ela estava fazendo, mas ela saiu do seu saco de dormir e começou a tirar a roupa até ficar só de short e uma camiseta. Depois veio até o meu saco de dormir e começou a tirar a minha roupa. Ela deve ter visto a minha cara de perplexo, pois falou:

– Não pense besteira cara-de-coruja, não temos fonte de calor então vamos usar o que temos, calor corporal, senão vamos morrer.

Não ousei fazer nada. Quando eu só estava de calça jeans ela entrou no meu saco de dormir, detalhe eu estava dentro. E me abraçou e ao sentir o calor que emanava de seu corpo me agarrei a ela.

Depois de algum tempo eu comecei a sentir os meus dedos novamente. Ela ainda estava lá, deitada no meu saco de dormir abraçada comigo quando eu cai no sono. Pela primeira vez desde que começamos a viajar eu não sonhei com a canção, mas eu não posso dizer que a noite foi ruim.

Quando acordei, ela ainda estava dormindo com a cabeça em meu peito. Eu não queria, mas fui obrigado a acordá-la, pois esse era o ultimo dia que tínhamos até chegar ao acampamento.

Depois que juntamos as nossas coisas e tomamos café da manhã começamos a voar novamente.

Nós mal conversamos durante a viagem, era de certa forma constrangedor pensar que ela havia dormido comigo, não dormir dormir, mas dormir de sonhar, apesar de eu não ter sonhado, mas tudo bem.

Depois de várias horas de viagem eu já conseguia ver a Colina Meio-sangue. Eu estava tão feliz que era impossível descrever o meu estado de espírito, já estava com medo de ter alguma coisa a ver com Íris, a deusa do arco-íris, pois eu já estava chegando ao ponto de acreditar que poderia vomitar colorido.

Já estava conseguindo ver o pinheiro de Thalia quando fomos atingidos. Eu não sei o que nos atacou, sinceramente não consegui ver ninguém, mas foi um impacto tão grande que tanto eu quanto Clarisse caímos de Pérola, que estava nos acompanhando em uma queda para a morte.

Enquanto caiamos Pérola pareceu recobrar os sentidos e conseguiu planar, quando viu que nós estávamos caindo avançou em nossa direção para nos apanhar. Ela me pegou primeiro, pois eu estava a poucos metros dela, por sorte eu estava consciente então pude me agarrar a ela e voltar para as suas costas, mas Clarisse estava inconsciente e caindo com muita rapidez.

– Pérola depressa, temos que pega-la. - gritei.

Depois que eu disse isso, Pérola juntou as asas ao corpo e começou a cair com tanta velocidade que eu podia jurar que éramos mísseis prontos para colidir com o alvo. Quando conseguimos alcançá-la ela já estava muito próxima ao chão, talvez uns cinco metros de distância, ela estava caindo de cabeça então eu só consegui agarrá-la pela perna da calça jeans que ela havia vestido hoje de manhã e suspendê-la por pouco mais que três segundos antes que o tecido da calça rasgasse e ela caísse no chão.

Eu nem esperei Pérola pousar, pulei de suas costas e fui ver como Clarisse estava. Ela estava estirada no chão quando cheguei perto dela. Sua cabeça sangrava muito, mas estava respirando e falando coisas desconexas como se estivesse dormindo.

Panda idiota.

Ela estava brigando com o panda novamente enquanto eu a carregava até o Acampamento Meio-sangue que estava a poucos metros de distância. Eu só não a levei em Pérola porque tinha medo de alguma coisa colidir conosco novamente, então preferi levá-la em meu colo mesmo.

Enquanto ela estava em meus braços com a cabeça sangrando e seu lado inconsciente brigava com um panda o meu único pensamento era: “Você tem que ficar comigo.”.


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Notas finais do capítulo

Espero q tenham gostado..e mais uma vez eu gostaria de agradecer a minha best por me ajudar com o cap!Sara eu te amo..eu e a torcida do Flamengo inteirinha!Ei galerinha...adivinha por quem vai ser narrado o proximo cap??Isso msm..pelo o nosso semideus alto,moreno,bonito e sensual!Perseus Jackson!



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