Kuroi Crystal escrita por Luciane


Capítulo 21
Capítulo 20 - Primeira desilusão


Notas iniciais do capítulo

Enfim, mais um capítulo de KC... Com atraso, pra variar rs

Os motivos do atraso são os de sempre: a falta de tempo e a publicação de Guardians.

Pra quem ainda não sabe, o livro Guardians - Volume 1 já está prontinho e à venda! =) ( mais informações no http://www.livro-guardians.blogspot.com/ ) e meu tempo no pc tem sido quase inteiramente dedicado à divulgação do livro e revisão do volume 2 (que deve sair em breve). Mas o mês de janeiro vem aí e com ele as férias, nas quais pretendo colocar KC, Duas Vidas e Guardians 2 - Makenai em dia (espero!)

Bem, chega de enrolação e vamos ao capítulo de hoje! Espero que gostem =)

Beijos e obrigada pelos comentários!



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Capítulo vinte: Primeira desilusão.

           

-O que disse?

            -Acabou, Kairi.

           

Ele fez mais um breve silêncio, tentando absorver aquela informação tão inusitada.

           

-Luna, eu não estou entendendo o que...

           

-Eu descobri que... – Ela baixou o olhar, fitando o lençol na cama – Que eu não te amo.

           

Kairi piscou algumas vezes, ainda mais confuso do que antes.

           

-Continuo sem entender, Luna. Não me ama?

           

-Eu achava que te amava, mas a verdade é que... Umi tinha treze anos quando conheceu Aki... Ele tinha pouco mais do que isso. Não conheciam nada da vida... Era normal que houvesse um encantamento entre os dois. Mas não era amor, Kairi. Nunca foi!

            Kairi segurou as mãos de Luna junto às suas.

            -Luna, olha pra mim! O que está acontecendo?

            -Eu não quero continuar nessa ilusão, Kairi. Acabou.

            -Luna, olha pra mim!

            Hesitantemente, a loira levantou o rosto, olhando para o rapaz. Com seus olhos fixos nos dela, Kairi perguntou mais uma vez:

            -O que está acontecendo?

            -Eu já te disse.

            -Mas eu não acredito.

            -Não torne isso mais difícil... Por favor!

            -Então me dê uma razão lógica pra isso.

            -A vida é outra... Os tempos são outros. Não temos mais a mesma inocência e inexperiência que tínhamos no passado. Umi e Aki eram duas crianças brincando de se gostar.

            -Eu nunca “brinquei” de gostar de você.

            -Sinto muito, mas... É isso. Tudo não passou de um faz-de-conta.

            Kairi não conseguia acreditar no que estava ouvindo... Tudo o que eles viveram fora um mero “Faz-de-conta”? Não! Aki não tinha um “encantamento” por Umi... Não “brincou” de amá-la... A relação deles não era um mero “faz-de-conta” em sua vida! Não na sua, mas... Seria possível que para ela fosse? Não conseguia ver verdade nos olhos dela quando dizia aquelas palavras... Umi sempre fora péssima mentirosa.

            -Por que quer terminar comigo?

            -Por favor, Kairi, não me faça repetir tudo.

            -Se é verdade, repita.

            -Não percebe o quanto isso é difícil pra mim? Não quero te fazer sofrer... Nunca!

            -Mas está fazendo, Luna! Você não percebe que...

            Ele fez uma pequena pausa, respirando fundo. Luna sentiu seu coração doer quando viu as lágrimas começarem a inundar os olhos puxados do chinês. E doeu muito mais quando ele prosseguiu no que dizia:

           

-Você é a minha vida. Você foi minha amiga quando ninguém mais confiava em mim. Você foi minha família quando me senti completamente só... Você foi meu anjo...

            -Anjo... – Sussurrou ela, surpresa.

            Naoko largou seu braço. Vendo-se finalmente livre, Umi correu até ele, que também foi ao seu encontro. Abraçaram-se com todas as forças que possuíam, como se isso, de alguma forma, pudesse evitar seus destinos.

Finalmente chegara o dia da última batalha. E eles estavam se separando. Umi iria por um caminho, junto com sua irmã, Hinoky e May. Aki iria no outro grupo, com Yuurei, Natsu e Hana.

            Minutos se passaram, e os dois pareciam realmente não quererem se separar. Os demais esperavam apenas pelos dois para seguirem.

            -Vamos embora, Umi! – Disse Naoko, impaciente.

            Percebendo que havia sido ignorada, ameaçou ir até eles, mas May a impediu. Em seguida aproximou-se dos dois, tocando levemente as costas de ambos.

            -Sinto muito, queridos, mas precisamos ir. – Sussurrou, afastando-se logo em seguida, para deixar que eles terminassem de se despedir.

           Ainda chorando, eles finalmente se afastaram. Segurando nas mãos um do outro, ainda se fitaram por alguns instantes. Até que Aki sorriu de leve.

            -Sabe... Sabe quando eu disse que não podíamos ver os anjos?

            Ela fez que sim em silêncio. Ele prosseguiu:

            -Acho que estava enganado. Às vezes nós podemos vê-los.

            -Verdade?

            -Eu sei disso, porque... Tem um bem diante dos meus olhos agora.

            O choro dela se intensificou ao ouvir aquilo. Tentou dizer alguma coisa, mas as palavras não saíam. Ele sorriu novamente para ela e sussurrou:

            -Eu te amo, meu anjo.

            Umi não teve tempo para responder. Logo sentiu-se sendo puxada pelos ombros, e não precisou olhar para saber que se tratava de sua irmã. Suas mãos se soltaram hesitantemente, e Aki observou, ainda parado no mesmo local, enquanto Umi era puxada para longe dele.

Foi a última vez que se viram naquela vida.

            -...Você é minha vida. Não posso permitir que tirem minha vida de mim.

           

As últimas lembranças, misturadas às palavras de Kairi a desmoronaram por completo. Luna abaixou o rosto e chorou. Soluçava como uma verdadeira criança.

            Kairi permaneceu calado, apenas olhando para Luna, aguardando que ela dissesse algo. Alguns minutos depois, ela conseguiu conter um pouco o choro. Mas não teve coragem de olhar para o chinês. Ainda com a cabeça abaixada, disse:

            -Não quero te fazer sofrer, Kairi. Só quero que você entenda que... Nós não podemos ficar juntos!

            -E por que não? Me mostre uma razão convincente. O que fez o seu amor “acabar” de uma hora pra outra?

            -Tem... Outra pessoa.

            -Outra... Pessoa?

            -É. Não é culpa minha, nem sua, nem de ninguém... Só que... Eu me apaixonei por outro cara.

            Pela primeira vez, o tom de voz dele se elevou:

            -Está mentindo!

            -Não estou!

            -Então olhe para mim e diga quem é essa pessoa.

            Respirando fundo para criar coragem, Luna levantou o rosto, tornando a olhar para Kairi.

            -Diga, quem é essa pessoa! – Insistiu o chinês, olhando no fundo dos olhos da garota.

            Ela tentava pensar num nome... Pensou em dizer que era um colega de trabalho, um conhecido qualquer... Mas não conseguia. Luna realmente era uma péssima mentirosa... E dizer que gostava de outra pessoa, olhando nos olhos de Kairi, para ela era algo quase que impossível.

            Foi nesse momento que, como se aparecendo justamente para salvá-la, Yuuhi chegou ao local, parando próximo à porta ao perceber que, mais uma vez, tinha atrapalhado alguma coisa.

            -De novo? ¬¬’ Desse jeito eu nunca que vou poder entrar nesse quarto! Mas que coisa, ninguém merece!

            Voltou-se para o corredor, já se preparando para sair do local, quando Luna correu até ele, segurando-o pelo braço.

            -Espera, Yuuhi!

            -Que foi, Lu-chan?

            Tornando a encarar Kairi, Luna abraçou Yuuhi com força, deixando os dois rapazes totalmente confusos.

            -Essa pessoa é o Yuuhi. E ele parece estar retribuindo aos meus sentimentos.

            -Ãh? – Perguntaram os dois ao mesmo tempo.

            -É isso então, Kairi! Acabou! Agora que já te disse tudo, passe bem!

            E, sem dar tempo de Kairi sequer tentar argumentar qualquer coisa, Luna saiu correndo, arrastando Yuuhi pelo braço.

            Depois que eles saíram, Kairi piscou algumas vezes, ainda parado olhando para a porta.

            -Luna e Yuuhi? ...Ah, mas tem algo de MUITO estranho nisso!

            E ele saiu do quarto, indo atrás do “casal”.

*****

            Quando chegaram à sala, Yuuhi parou, de costas para a escada, e segurou Luna pela mão, obrigando-a a também parar. Ela o olhou totalmente envergonhada.

            -Dá pra me explicar agora o que foi aquilo lá em cima? – Perguntou o rapaz.

            -Yuuhi... Me desculpa te envolver nisso. É que eu queria terminar com ele e não tinha um motivo convincente, então eu disse que... – Ela parou de falar, ao avistar Kairi descendo as escadas.

            -Disse o que, Luna? Fala, garota!

            Ela tornou a olhar para Yuuhi.

            -Akemi, minha amiga... Onde você estiver, me perdoe!

            Após murmurar essas palavras, Luna puxou Yuuhi pela camisa e o beijou.

            -Mas o que é isso?? O.o – Pensava Yuuhi, pego totalmente de surpresa pela atitude da loira – Luna tá me beijando?? A Luna? A Umi? Namorada do meu melhor amigo? Melhor amiga da minha namorada? ...Mas... Isso... Isso... Pow, isso tá bom! *.*

            Esquecendo-se totalmente de todas as questões que aquela atitude envolvia, Yuuhi começou a corresponder ao beijo. Luna tremeu de leve ao sentir as mãos do rapaz deslizarem para sua cintura.

            -Safado! Tarado! Pervertido! Ò.ó Eeeei... Para de descer com essa mão! O.o Essa mão tá indo pra onde, Yuuhi? Para! Para... Para... – Afastou-se bruscamente dele, gritando – AAAAAAAAH!

            Yuuhi se assustou com o grito. Ia perguntar o motivo daquilo, mas seus olhos caíram sobre as duas garotas que estavam paradas na porta da sala, olhando para a cena: Miyu e Manami. Foi a vez dele gritar:

            -AAAAAAAAH!! Nami-chan!

            -AAAAAAAAH! – Gritou Luna novamente, olhando em direção ao corredor.

Assustando-se novamente com aquele grito, Yuuhi seguiu os olhos da brasileira, encontrando Karin parada próxima ao corredor, também olhando para a cena.

-Er... Sayuki?

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!! – Gritou Luna mais uma vez, dessa vez olhando para a porta do escritório.

Yuuhi olhou para aquela direção, avistando Maaya – com uma expressão completamente surpresa – ao lado de Hideki... Que não parecia nem um pouco feliz em presenciar aquilo.

-Ei... Eu não fiz nada! Pela primeira vez eu posso dizer que fui o inocente da história! – Yuuhi tentava se explicar.

Luna ouviu os passos na escada e olhou para lá. Kairi subia, parecendo revoltado. A brasileira tornou a se entristecer com aquilo. Tudo o que menos queria era causar sofrimento ao namorado... Agora ex-namorado.

-...Eu tava na minha! Eu juro! Foi a Luna que chegou do nada, e... – Yuuhi ainda tentava, inutilmente, explicar a situação.

Em choque, Manami saiu correndo para o quintal. Miyu a seguiu.

-Pera aí, Nami! Volta aqui! Aff, Luna! Por que você fez iss... – Yuuhi foi impedido de prosseguir o que dizia, ao sentir a mão de Luna indo com tudo contra o seu rosto.

-SAFADO!!! TARADO!

Gritando isso, Luna também saiu, subindo correndo as escadas. Maaya a seguiu.

Confuso, Yuuhi passou a mão pelo seu rosto marcado com os dedos da brasileira.

-Ela me beija e o safado sou eu? – Murmurou.

Em seguida saiu correndo na intenção de ir atrás de Manami e tentar resolver sua situação. Porém, parou próximo à porta, voltando-se em direção ao corredor. Karin ainda permanecia lá, parada, olhando para ele com um olhar que ele não saberia identificar o que ela poderia estar sentindo ou pensando... O olhar vazio de sempre. Os dois permaneceram se encarando em silêncio por alguns instantes, até que a garota saiu, também subindo as escadas.

Yuuhi virou novamente em direção à porta e ameaçou dar o primeiro passo para sair. No entanto, algo o impediu. Sem entender direito o porquê daquilo, ele voltou-se para dentro de casa, e correu, indo atrás de Karin.

Restando sozinho na sala, Hideki olhou com maus olhos para o rapaz que subia rapidamente as escadas.

-Yuuhi... Espero que não faça minha irmã sofrer...

*****

-Mas que mulherzinha insuportável!

            Tiemi concordou em silêncio com as palavras de Jean. Megumi realmente não dava trégua... Tinha ficado no pé de Nathalie o tempo inteiro, e não a deixara ir a nem ao menos um dos brinquedos daquele parque.

           

No momento, Tiemi e Jean estavam na tão tradicional roda gigante. Nathalie e Megumi aguardavam por eles no chão.

            -É melhor irmos para outro lugar onde a Nat também possa se divertir. – Sugeriu a ruiva.

            -É... Tem razão. Aff... Nat não merece uma criatura dessas como babá!

            Olhando para Jean, Tiemi sorriu, despertando a curiosidade do rapaz.

            -Que foi, guria?

            -Gosta mesmo muito dela, não é?!

            -Você não vai dar uma de pensar igual a minha mãe, achando que eu tenho segundas intenções com aquela menina, né?!

            A ruiva moveu a cabeça numa negativa.

-Não. Dá pra perceber que você não olha pra ela com maldade.

           

-Não mesmo! Eu realmente adoro aquela garota! Tenho um carinho especial por ela.

            -Você parece ser o único amigo que ela tem.

           

-Não mais. Ela parece gostar muito de você.

            Tiemi lembrou-se de Hana. Sua amiga de outra vida, a caçula da equipe. Esperava que, nesta, ela e Nathalie fossem tão amigas quanto já foram. O que não parecia algo tão difícil de ocorrer.

            -Eu também gosto dela. Nat é um amor de menina.

            -Fico feliz que você estejam se dando bem. Nat precisa mesmo de uma amiga. Tá naquela fase de começar a pensar em garotos e tal... E convenhamos que eu não levo jeito pra conversar com ela sobre isso!

            Tiemi riu.

            -Entendo! Vou levar um papo com ela sobre isso qualquer dia desses.

            -Faça isso!

            Eles ficaram em silêncio e tornaram a olhar para fora. De lá de cima tinham uma vista fabulosa. Tiemi estava distraída pensando nisso, quando sentiu aquelas mãos tocarem as suas. Olhou para frente e se surpreendeu ao ver o rosto de Jean perigosamente próximo ao seu.

            -Jean? O que está... O que está fazendo? – Perguntou ela, um tanto tímida com a situação.

            Ele sorriu e respondeu:

            -Terminando o que começamos outro dia.

            E a beijou.

*****

            -Não adianta, Nathalie. Ficar com esse bico não me fará mudar de idéia.

            Olhando para a mulher sentada ao seu lado no banco, Nat bufou. Não conseguia entender porque seu pai insistia na idéia estúpida de que ela ainda precisava de uma babá.

            -E não adianta bufar também.

           

-...Sim, senhorita Megumi.

            Nathalie se levantou. Megumi a fitou, curiosa.

            -Aonde vai?

           

-Esperar pelos meus amigos na saída da roda gigante... Posso?

           

-Vou com você.

           

Rendida, Nathalie concordou. E as duas seguiram até a saída da roda gigante. Enquanto Megumi olhava ao seu redor, comentando o quanto aquele local era inapropriado para uma jovem do nível de sua protegida, a loira olhou para cima, a procura da cabine onde seus amigos estavam. Seus olhos azuis se alargaram ao finalmente localizá-los. Não podia acreditar no que via...

Tiemi e Jean estavam se beijando.

           

Começou a recuar alguns passos, até que se virou e voltou correndo até o banco onde estava instantes antes. Surpresa com a reação da garota, Megumi a seguiu, parando preocupada ao seu lado.

            -Nathalie? O que foi? Por que está chorando? – Perguntou com certa frieza na voz, embora estivesse realmente preocupada.

            Nat não respondeu. Apoiou as mãos no encosto do banco e abaixou a cabeça, continuando a chorar.

*****

            -Espera, Sayuki!

           

Ela ouviu Yuuhi chamando-a, mas não parou. Seguiu pelo corredor e já se aproximava da porta que ia para o sótão quando ele finalmente a alcançou, segurando-a fortemente pelo braço.

            -Sayuki, me escuta!

            Sem nem ao menos olhá-lo, ela disse com a voz baixa, mas autoritária:

            -Solte o meu braço.

            -Não solto!

            -Mandei me soltar!

            -E eu já disse que não vou obedecer! Olha pra mim! ...Sayuki, olha pra mim!

            Ela o encarou com hostilidade. Yuuhi começou a se explicar:

            -Sei que deve tá me achando um canalha... E, de fato, eu sou mesmo! Mas aquilo lá na sala realmente não foi provocado por mim! Foi a Luna que chegou, e...

            -Por que está me dando explicações?

            -Oras, porque... É verdade! Por quê? O.o

            -Idiota!

            Ela puxou com força o braço, soltando-o da mão do rapaz e já ia continuar seu caminho, quando Yuuhi correu para sua frente, bloqueando a porta de acesso às escadas.

           

-Dá pra parar de me chamar de “idiota”? Isso me irrita, sabia?!

            -Problema é teu! Saia da minha frente!

            -Se você pedir com educação, eu penso no teu caso!

            -Já mandei sair!

            -“Já mandei sair”? Isso não foi nada educado!

            -Em vez de ficar aí me enchendo, devia tentar se explicar com a vagaba fútilzinha!

            -Não fale assim da minha garota!

            -É o que ela é.

            -Fala sério... Tu morre de inveja dela, né?!

            -Não me faça rir!

            -Claro que não faço! Acho que você nem deve saber como se faz isso, né?! Olha, eu entendo que você seja traumatizada, complexada e tudo mais... Mas o mundo a sua volta não tem culpa disso! Não tem porque viver dando patadas e insultando qualquer um que apareça na tua frente!

            -Acabou?

            -Não acabei, não!

            -Para de palhaçada e saia da minha frente!

            -Já disse que sairei quando você me pedir com educação!

            -Saia... Da minha... Frente!

            -Você é mesmo insuportável, sabia?! Impossível conviver contigo! Vai acabar morrendo completamente sozinha! Esse é o destino de monstrengas anti-sociais que nem você!

            Ela continuou a sustentar o olhar do bad boy por alguns instantes, até que abaixou um pouco a cabeça, fitando o chão. E pediu, com a voz baixa:

            -Me deixe passar? Quero ir para o meu quarto.

            Yuuhi se surpreendeu ao ouvir aquele pedido. No entanto, não ficou feliz com aquilo. Realmente preferia mil vezes vê-la tratar todos de forma arrogante do que abaixando os olhos diante de alguém e falando com aquela voz insegura... Quase depressiva.

           Ele saiu do caminho e Karin pôde finalmente subir para o quarto. O rapaz a observou enquanto ela subia as escadas.

            -Você é mesmo um idiota, Yuuhi! – Murmurou para si mesmo – O que tu tinha que vir atrás da Sayuki? Não deve satisfação nenhuma a ela, e... KAMI-SAMA!!! A MANAMI!!! O.O

            Lembrando-se de sua namorada, Yuuhi saiu correndo. No caminho, passou por Hideki, que subia as escadas, mas seguiu direto.

*****

            Saindo da roda-gigante, os dois seguiram caminhando lado a lado. Riam, conversando sobre assuntos triviais, quando Jean parou ao avistar Nathalie, sentada no banco, chorando. Preocupado, correu até lá, abaixando-se diante da garota. Tiemi o seguiu, também preocupada.

            -Nat? O que foi? – Jean voltou seus olhos para Megumi – O que aconteceu com ela?

            -Eu não sei. – Respondeu a babá, sinceramente.

            Jean tornou a olhar para Nathalie.

            -Princesa, o que aconteceu?

            -Quero ir embora. – Disse a mestiça, ainda chorando e sem olhar para o rapaz.

            -Já sei o que foi! Está assim porque essa chata aí não te deixou fazer nada, né?! Mas não esquenta! Nós vamos para outro lugar onde você possa se divertir também!

            -Eu não quero! Estou com dor de cabeça, quero ir para casa.

            Tiemi abaixou-se ao lado de Jean. Olhou para Nathalie e falou:

            -Jean tem razão, Nat! A gente vai pra outro lugar, e...

            -Já disse que não quero! – Gritou Nat, interrompendo Tiemi – Não estou me sentindo bem e quero ir para minha casa!

            Jean suspirou:

            -Tudo bem. Se você quer assim... Vamos embora!

*****

-Ai, a Manami deve tá uma fera comigo! Como eu saio dessa agora? – Resmungava Yuuhi, indo para a parte dos fundos do quintal, a procura de sua namorada.

Finalmente a avistou, sentada à sombra da cerejeira, chorando. Miyu estava ao seu lado. Yuuhi apressou o passo em direção a elas, mas parou ao ouvir uma parte do que Miyu dizia:

-...Ela certamente o beijou por causa da chantagem, baby!

            -Chantagem?– Pensou Yuuhi. Antes que elas o vissem, escondeu-se atrás de uma árvore, para ouvir o restante da conversa – Que papo é esse de chantagem?

            -Não... Tem...Nada...A ver...- Dizia Manami pausadamente, entre soluços – Yuu-chan não... Me... ama... Nem um pouquinho!

            -Oh, baby! É claro que ama!

            -Acho que ele tem uma queda por monstrengas!

            -Não é nada disso, dear! Yuuhi e a sem-sal não tem nada um com o outro! Ela com certeza só fez aquilo pra terminar com o Kairi!

            -Acha que aquilo só aconteceu por causa da sua ameaça?

            -Sure! Não ligue para isso! Então, não chore! Sabe que isso dá rugas, né?!

            -Tem... Razão...

            -Mas que papo de ameaça é esse? – Pensou Yuuhi.

            Ele ainda permaneceu escondido ali por algum tempo, esperando que elas dissessem mais algo... Mas elas não mais tocaram naquele assunto.

*****

            Sentada no chão, de frente para a janela, Karin ouviu alguém batendo na porta de seu quarto, mas ignorou. Tinha idéia de quem fosse: a única pessoa que ia naquele quarto todos os dias, comunicar que o almoço ou o jantar estava pronto, acordar-lhe de manhã para ir ao colégio (em vão, pois geralmente já a encontrava acordada) ou meramente para perguntar se ela estava se sentindo bem – Shihara Maaya.

            Após algum tempo, não obtendo resposta, a pessoa que batia simplesmente entrou. De costas para a porta, Karin continuou a olhar fixamente para a janela.

            -O que quer, Shihara? – Perguntou com hostilidade.

            -Como sabia que era eu? – Questionou alegremente uma voz masculina.

            Karin virou-se em direção à porta, avistando aquele que entrava... Shihara Hideki.

            -Ah, é você? – Ela voltou a olhar para a janela – Achei que fosse sua mãe.

            Ele foi até ela, sentando-se ao seu lado, também olhando para a janela.

            -Daqui tem uma vista boa, né?!

            -Aham. – Foi a resposta seca que obteve.

            Hideki suspirou, criando coragem para tocar no assunto que tinha ido tratar:

            -Tá chateada pelo que presenciou lá embaixo, né?!

            -Não sei do que está falando.

            -Falo de Kawamoto Yuuhi. Já reparei que você tem uma certa... Queda por ele.

            -Que besteira!

            -Não adianta se fazer de indiferente. Sei que está mal. Sofrer por amor não é nada agradável.

            -Por que eu sofreria por ele? É um galinha! Aikawa, Mcloan, a tal Akemi, e agora a brasileira... Todas fazem parte da “coleção” dele. No colégio é a mesma coisa. Apesar de ter namorada, é comum vê-lo com uma ou com outra. Acho que quase todas daquela escola já passaram pelas mãos dele... Ele tem a garota que quer!

            Hideki não disse nada. Surpreendeu-se com o fato de Karin parecer estar querendo desabafar com alguém... E aquela era a segunda vez que o escolhia para aquilo.

            -Eu nunca pensei que seria diferente... Aquele beijo... Não significou nada para ele.

            -Ele te beijou?

            Ela fez que sim.

            -Ele me insulta, depois me beija... Depois me insulta novamente e pede desculpas... Mas deixa claro que o beijo foi um erro. Mais tarde ele me defende do Minoru, cuida do meu ferimento... Diz que poderia estar se apaixonando por mim, e... E logo em seguida manda eu esquecer o que ele disse. Acho que deve estar se divertindo brincando com os sentimentos da “monstrenga”... Se é que uma monstrenga tem sentimentos...

            Hideki a olhou com carinho.

            -Você não é uma monstrenga! Não deixe que ninguém fale assim de você.

            -Não ligo pro que falam de mim.

            -Não mesmo?

            Ela moveu a cabeça negativamente.

            -Só não quero que ninguém me incomode.

Ele a fitou em silêncio por um instante. Em seguida se aproximou mais e passou o braço pelo ombro da garota. Ela tremeu com aquilo e tentou se afastar, mas ele a segurou e começou a puxá-la lentamente para junto de si.

            -Calma... Calma... – Sussurrou ele, enquanto a puxava. Sorriu de leve quando sentiu que ela parava de demonstrar resistência – Isso... Boa garota!

            Ele a envolveu com seus braços, começando a passar uma das mãos pelos cabelos castanhos e curtos. Apoiando a cabeça no ombro de Hideki, Karin sentiu as lágrimas se formarem, mas fechou os olhos e as conteve. Pela respiração da garota, Hideki percebeu que ela estava contendo o choro que ameaçou vir à tona.

            -Deixa vir, garota.

            -O quê?

            -As lágrimas.

            -Quem disse que quero chorar?

            -Sei que está sofrendo, mas... Talvez seja melhor assim. No futuro entenderá porque você e Yuuhi não podem ficar juntos.

            -E quem disse que quero ficar com ele? Não preciso de ninguém.

            -Todos precisam.

            -Vivi os últimos doze anos da minha vida completamente sozinha. E sobrevivi muito bem até agora.

            -Será que foi tão bem assim?

            -Você não sabe de nada, Shihara!

            -Porque não fazemos um acordo? Me chame apenas de Hideki, e me deixe te chamar pelo primeiro nome também. Já que em breve minha mãe será sua tutora, seremos quase irmãos.

            Karin abriu os olhos nesse momento, permitindo que uma lágrima rolasse pelo seu rosto.

            -Hideki... Era o nome do meu irmão...

            -Me deixe substituí-lo. Deixe eu e Maaya sermos sua família e cuidarmos de você.

            Ela não disse nada, e Hideki respeitou esse silêncio. Alguns minutos se passaram até que pôde sentir que Karin começava a soluçar de leve. Abraçou-a com mais força.

            -Deki-oniichan? Oniichan? Oniichan?

            Ele acordou ao ouvir aquela voz o chamar. Abriu os olhos, vendo sua pequena irmã já subindo em sua cama.

            -Ka-chan... Vai dormir!

            -Deixa eu dormir com você? – Pediu a menina de apenas quatro anos de idade.

            O menino, que tinha o dobro da idade da irmã, afundou a cabeça no travesseiro, tornando a fechar os olhos.

            -Vai dormir na sua cama!

            -Tá chovendo!

            -E daí?

            -Tô com medo!

            -É apenas a chuva, Ka-chan! Volta pra sua cama!

            A menina fez bico, mas obedeceu ao irmão. Voltou para sua cama, que ficava bem ao lado da de Hideki, naquele mesmo quarto.

            Ajeitou-se, cobrindo-se por completo. Um forte trovão a fez se encolher por debaixo da coberta. Foi nesse momento que ela sentiu que alguém praticamente se jogava em sua cama e a abraçava. Descobriu o rosto e olhou para o “invasor”.

            -Er... Mas já que você tá com medo, eu fico aqui com você! Sou seu irmão mais velho e tenho que te proteger!

            Ela riu.

            -Deki-Oniichan tá com medo também!

            -Tô nada!

            -Tá sim!

            -Não tô, não!

            -Tá!

            -Não tô!

            -TÁ SIM!

            -NUM TÔ NÃO!       

            Depois desses gritos, a porta do quarto foi violentamente aberta. As duas crianças voltaram seus olhos para ela, encontrando sua mãe: Sayuki Ayumi – Na verdade, mãe de Karin e esposa do irmão mais velho de Hideki – parada, olhando seriamente para eles... Parecia irritada.

            -Foi ele(a) que começou! – Gritaram os pequenos ao mesmo tempo, um apontando para o outro.

            Ela continuou encarando-os seriamente. Nessa noite, seu marido Sayuki Takashi estava de plantão no hospital onde trabalhava e só regressaria pela manhã. Se estivesse em casa, era certo que seria ele quem iria ao quarto das crianças após ouvir aqueles gritos... Conversaria com eles, contaria histórias, cantaria, até que eles se acalmassem e dormissem... Pois Ayumi não levava tanto jeito para aquilo. No entanto, ele não estava e ela era quem precisava resolver a situação... E isso dava um pouco de medo aos pequenos.

            -Lá vem bronca! – Cochichou Hideki.

            -Ela tá braba! – Constatou Karin.

            No entanto, para a surpresa deles, Ayumi sorriu carinhosamente.

            -Querem dormir comigo hoje?

            Ela não precisou repetir a pergunta. Os dois sorriram de orelha a orelha, se levantaram e saíram apostando corrida até o quarto da mãe.

            Hideki sorriu ao se recordar daquilo. Bons tempos! Seu pai estava vivo... Os quatro viviam juntos como uma família feliz... Karin sabia sorrir.

            -Hideki? – A voz da garota o arrancou de seus pensamentos.

            Ele sorriu mais uma vez ao ouvi-la chamá-lo pelo primeiro nome.

            -Sim?

            -Nada! ...Não é nada!

*****


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