Kuroi Crystal escrita por Luciane


Capítulo 1
Prólogo




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Japão
Ano: 1809 D.C.

Os nomes dos companheiros mortos na batalha ressoavam na mente de Yuurei.

“Aki, Hana, Umi, May... Natsu...”

Seus olhos castanhos encontravam-se mergulhados desafiadoramente no inimigo a sua frente: Hiroshi – líder do ataque e o mais poderoso dentre os oponentes. Por todo o Japão, dizia-se que ele era invencível e que, após obter para si os poderes dos cristais, dominaria todo o mundo. Para muitos, aquela era uma ambição inalcançável; contudo, os que tiveram a chance de conhecer aquele homem (e sorte para sobreviverem a isso), acreditavam que ele, de fato, seria capaz de realizar tal feito.
Talvez uma das qualidades que mais contribuísse para a força de Hiroshi era a autoconfiança excessiva. Encontrava-se numa condição em que qualquer guerreiro estaria desesperado: todos os seus aliados estavam mortos e, ele, ferido e cansado. Jamais imaginaria que aquele grupo de crianças que ele tanto menosprezou poderia ser forte o suficiente para acabar com o seu exército. Contudo, sua confiança era inabalável. Estava certo de sua vitória. Para isso, precisava apenas derrotar Yuurei. Um moleque, apenas.
-Natsu... – Murmurou o rapaz. O nome de sua irmã caçula era o que ecoava com mais força em sua mente.
Apesar da dor da perda de seus amigos, apesar de seus ferimentos e da derrota quase certa, Yuurei não se deixava abater. Enquanto continuasse a respirar e lhe restasse alguém a proteger, não desistiria. Sabia da importância de sua missão para o futuro da humanidade, embora já nem pensasse muito sobre isso: o que mais lhe importava naquele momento era salvar sua amada.
E iria salvá-la. A qualquer custo.
Logo que Hiroshi colocou-se em posição de ataque, ele repetiu o gesto. Tinha coragem, mas não muita confiança; afinal, sabia que seu oponente era exímio espadachim, enquanto a sua habilidade com espadas era pouca ou quase nenhuma.
O ataque mútuo teria começado, se uma voz feminina e aflita não tivesse ecoado por aquele campo:
-PAREM!
Yuurei sentiu seu sangue gelar ao reconhecer aquela voz. Voltou-se lentamente para a direção de onde ela vinha, pedindo aos deuses para que ele estivesse enganado. Ela não podia estar ali, de forma alguma!
Mas estava!
Akemi tinha a mesma idade de Yuurei – dezoito anos –, e não era o que se pudesse classificar como uma beldade. Era bonita, mas de uma beleza comum, sem maiores atrativos. Seus longos cabelos castanho-escuros possuíam uma leve ondulação devido ao costume que a jovem tinha, desde criança, de mantê-los constantemente presos. Nessa ocasião, excepcionalmente, as madeixas encontravam-se soltas. Os olhos puxados, da mesma cor dos cabelos, faziam transparecer nela uma aparência frágil. Não se parecia em nada com uma guerreira. E, de fato, não era. Próximo ao seu peito, pendurado por um colar, reluzia um pequeno cristal negro. Os olhos de Hiroshi brilharam à visão daquela pedra.
-Akemi? – Yuurei a chamou, ainda assustado – O que você está...
A frase não foi concluída, pois a garota interrompeu o noivo, dirigindo-se a Hiroshi com um olhar seguro:
-Eu me entrego.
Hiroshi gargalhou, sarcasticamente. Yuurei, por sua vez, completamente confuso arregalou os olhos em direção à garota.
-Akemi... Você enlouqueceu?
Nenhuma resposta foi obtida. Akemi se aproximou e parou ao lado do noivo, voltada em direção ao oponente de ambos. Repetiu, determinada:
-Eu me entrego. Agora pare com tudo isso.
Sorrindo, Hiroshi abaixou sua katana. Akemi ameaçou dar o primeiro passo em direção a ele, mas Yuurei a deteve, segurando-a pelo pulso.
-O que você acha que está fazendo? – Ele indagou, com uma agressividade que não lhe era comum no trato com mulheres. Principalmente em relação à noiva.
A jovem respondeu com a voz baixa, evitando olhá-lo:
-Vou acabar logo com isso.
-Acabar? – Yuurei repetiu, com revolta – É exatamente o que vai acontecer se você se entregar. Sabe o que esse louco pode fazer se obtiver os poderes de seu cristal, não sabe?
-Eu me mato antes disso. – Akemi respondeu-lhe num sussurro, de forma que Hiroshi não pudesse ouvi-la.
Yuurei, indignado, puxou-a energicamente pelo pulso, obrigando-a a olhá-lo nos olhos.
-Nossos amigos estão mortos; minha irmã está morta; sua mãe está morta! Responda-me: pra quê, Akemi? Em vão? Para chegarmos tão longe e você simplesmente se entregar? Para você resolver terminar com tudo simplesmente acabando com a própria vida? Eles morreram, mas morreram lutando, e não fugindo, como você está querendo fazer.
Abaixando a cabeça, Akemi sentiu as lágrimas começarem a transbordar de seus olhos. Levou alguns segundos até conseguir pronunciar algo, quase que num sussurro:
-Eu não quero que você morra também.
Com isso, foi a vez de Yuurei sentir um nó na garganta. Ia dizer alguma coisa, mas Hiroshi o interrompeu:
-O amor é uma coisa comovente, mas eu não tenho a noite inteira. Se quiser mesmo acabar com isso, mocinha, é melhor se entregar agora.
Ela virou-se para ir em direção ao inimigo. Porém, Yuurei a impediu, puxando-a novamente pelo pulso e jogando-a para trás de si.
Encarando o oponente, ele colocou-se mais uma vez em posição de ataque e anunciou:
-Terá que me matar antes.

*****
Ele levantou-se com esforço, acompanhando com os olhos a rápida aproximação de Hiroshi. Olhou para sua katana, caída ao longe, e gritou para que Akemi fugisse. Aquele seria o seu fim e ele sabia que não teria mais o que fazer para evitar isso.
As ações eram rápidas, mas ele tinha a ligeira impressão de que tudo ocorria em câmera lenta. No exato instante em que a katana do inimigo aproximava-se de seu peito, avistou Akemi “surgindo” diante de si. Apenas teve tempo para segurá-la quando ela começou a cair, pelo efeito letal da lâmina do inimigo que se cravara em suas costas.
Nesse momento, o cristal que ela trazia preso ao pescoço começou a brilhar, emitindo uma forte luz negra, para, em seguida, despedaçar-se, desintegrando-se no ar. Yuurei gritou, em desespero:
-AKEMI!!!
Que brincadeira de mau gosto seria aquela? O que aquela doida tinha na cabeça para tomar uma atitude daquelas? Ele pediu para que ela se afastasse... Sua missão era protegê-la. Mais do que isso: o único sentido de sua vida estava em protegê-la. E, agora, tudo se invertera e fora ela que tentara protegê-lo... Com a própria vida. Yuurei simplesmente não sabia se chorava ou gritava, xingando-a de estúpida, idiota, insensata.
Mas, por hora, ele não fez nada disso. Com as mãos trêmulas, deitou-a cuidadosamente no chão. Então, levantou o rosto e olhou, com ódio, para Hiroshi, que, enquanto recuava lentamente, observava perplexo o corpo da jovem, constatando que, com a destruição do cristal negro, também se desintegravam suas ambições nutridas durante mais de vinte anos.
Em total silêncio, Yuurei levantou-se e caminhou até sua espada para apanhá-la. Em seguida, correu em direção a Hiroshi, que, por ainda estar totalmente atônito, olhando fixamente para o corpo da garota, sequer teve reflexo suficiente para desviar-se da lâmina que se cravou profundamente em seu abdômen.
-Vá direto para o inferno, maldito! – Rosnou Yuurei, enquanto puxava com fúria sua katana, observando o corpo do inimigo que ruía de encontro ao chão, sob esguichos de sangue.
-Yuu... Yuurei... – Murmurou, baixa, uma voz feminina.
O coração do rapaz disparou ao ouvir aquele balbucio que pronunciava seu nome. Voltou a olhar para Akemi e percebeu, surpreso, que ela ainda respirava. Voltou a ela, correndo, e abaixou-se ao seu lado. A garota abriu um pouco os olhos e tentou dizer alguma coisa, mas engasgou-se com o sangue que lhe subiu pela garganta.
-Shiiiu... Calma! – Sussurrou Yuurei, acariciando-lhe os cabelos – Vamos voltar pra casa, tá?! Você vai ficar bem.
Ela, respirando pesadamente e com os olhos ainda imersos em lágrimas, pediu:
-Acabe... Acabe com isso... Por favor... Acabe... Com a dor...
Ao ouvir aquilo, ele não mais conseguiu conter a emoção. Akemi estava morrendo e lhe pedia para acabar com seu sofrimento. Um golpe de misericórdia, era tudo o que ela implorava. Yuurei não conseguiria imaginar sua vida sem Akemi ao seu lado, mas, ao mesmo tempo, também não admitia que ela sofresse ainda mais.
Com cuidado, levantou-lhe o corpo e o abraçou com força, enquanto conduzia uma das mãos ao cabo da espada cravada nas costas da garota.
-Não... Não faça isso. – Ela implorou, ao perceber as intenções do rapaz, que, em meio às lágrimas, sorriu de leve.
-Jurei te proteger até o fim, lembra? Jurei que seríamos felizes juntos. Não sei o que nos espera depois da morte, mas sei que, seja lá o que for, enfrentaremos juntos.
-Yuurei, não...
-Aishiteru.
-Yuurei, onegai...
Ele afundou com força a lâmina da espada, transpassando o peito da garota até atingir o seu.

*****
Japão
Ano: 2009 D.C

“Sua filha Akemi carrega em si as trevas. Uma força maligna existente no universo, que escolheu o corpo dela para se refugiar. Outros sete jovens também foram escolhidos para guardar em si outras forças; essas, bem menos perigosas. Sua missão, Shiawase May, é encontrar e unir esses jovens e, junto a eles, proteger a portadora das trevas, evitando que essa força que ela transporta seja utilizada de maneira indevida. Cada um deles será portador de um cristal, onde cada qual dessas forças estará concentrada. Mas cuidado! Mesmo não sendo malignas, essas outras energias poderão ter um poder devastador se forem utilizadas em conjunto com a energia negra de Akemi”.

Eu estava orando junto ao túmulo de minha filha Kaori, quando recebi essa mensagem dos deuses. É lógico que achei que estivessem blefando! Oras, só porque são deuses não significa que eles não possam tirar uma com nossa cara de vez em quando!
Mas... Não era um blefe. Minha Akemi era apenas uma criança quando isso aconteceu. Mas Akemi cresceu... Akemi morreu... Escolheu seu caminho. E isso... Ha, isso já faz mais de duzentos anos. Achei que nossa missão estaria cumprida... Mero engano! Voltei à vida. Voltei a minha missão...

Maaya andava sozinha pelas ruas já quase desertas. A noite estava fria e um vento gelado brincava com seus cabelos avermelhados. Em suas mãos, um pequeno papel com um endereço.
Finalmente, ela parou em frente a uma casa de dois andares. Olhou o número no muro ao lado do pequeno portão de madeira e tornou a olhar para o papel em suas mãos, a fim de confirmar se era mesmo aquele o local. Tirou os óculos escuros que cobriam seus olhos negros e voltou a fitar a casa. Sorriu. Era mesmo ali.
Duzentos anos... O que nos espera nesta vida?
Tirou um celular da bolsa e discou um número. Não demorou até ser atendida.
-Oi, querido. Já cheguei... É... Encontrei o lugar... Agora falta apenas encontrar as “minhas crianças”...


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