Dois dias depois...

Eu estava em meu quarto tirando uma breve soneca (breve entre aspas, por favor. Grávidas nunca tiram uma soneca, elas hibernam), quando acordei com barulhos vindos da sala de estar. Levantei-me rapidamente na esperança de que fosse Zayn, mas me surpreendi ao ver que era minha mãe.

            - O que está fazendo aqui?- perguntei sonolenta, vendo que ela estava espalhando colchonetes no chão e segurando enormes bolas de plástico.

            - Nós vamos praticar Ioga. – ela falou

            - Você não tinha que estar no hospital com o papai? – perguntei indo em direção à cozinha e ignorando completamente o fato dela querer fazer ioga.

                - Paul está fazendo ultrassom nesta manhã. Tenho duas horas livres e vou desfrutá-las com você e meu neto – ela gritou da sala – E venha aqui! Vamos nos alongar.

Voltei para a sala fazendo cara de cansada.

                - Isso é totalmente desnecessário! E desde quando você sabe Ioga?

                - Desde que eu fiquei grávida de você! Agora para de reclamar.

Ela me obrigou a fazer a bendita ‘aula’. Primeiro começamos com um breve alongamento que fez minhas costas darem enormes estalos.  Em seguida começamos a fazer as bizarras posições. A mais esquisita delas foi ficar de barriga pra cima, segurando as pernas por dentro. Parecia a perfeita posição pra eu parir meu filho ali mesmo.

Foi então que aconteceu o inesperado. Zayn abriu a porta e nos encontrou naquela posição nem um pouco amigável. Ele não disse nada. Estava em estado de choque. Minha mãe não o viu ali, estava de olhos fechados fazendo “huumm.... hummm...”  

                - Oi amor – falei sem jeito.

                - Oi... – ele falou olhando aquilo tudo sem entender nada.

Tentei desfazer a posição e vi que tinha trancado. “Não acredito” pensei.

                - Eu preciso de ajuda...

Ele me olhou e começou a rir. Minha mãe abriu os olhos e se assustou com a presença dele ali.

                - ZAYN! – ela gritou, sentando-se rapidamente no colchonete.

                - Olá Sra. Clara – ele falou ajudando minha mãe a se levantar.

                - Acho que eu vou pra casa... – ela falou dando um ‘tchau’ geral. Nós nos despedimos.

                - Espero que não se importe – disse Zayn – mas conseguimos uma breve folga e todos os meninos vieram.

                - Claro que não me importo. Agora me ajuda a sair daqui.

                - O que?

                - Eu tranquei aqui seu lento! Porque acha que eu estou assim até agora.

Ele começou a rir e se agachou para me ajudar.

                - Mas o que é isso? – uma voz rouca adentrou o apartamento.

                - Nada do que você não tenha visto, Harold – disse Zayn, soltando meus braços e abaixando minhas pernas.

                - Obrigada – falei, conseguindo finalmente me sentar – E oi pra você também Harry.

Ele se aproximou de mim e sentou-se encarando minha barriga.

                - E como está o moço? – ele perguntou docemente, enquanto acariciava minha barriga. Parecia uma criança de 6 anos acariciando o futuro irmãozinho. Eu sorri.

                - Está tudo bem. E os meninos onde estão?

                - Ainda no aeroporto recepcionando as fãs que foram pra lá – Falou Zayn.

                - Como chegaram aqui?

                - Voos diferentes – completou Harry – tem sido muito útil.

Eu me levantei com dificuldade e fui para a cozinha pegar um pacote de biscoitos. Quando voltei vi que Harry não estava mais lá. Zayn disse que pedirá a ele que fosse para seu apartamento, já que nós tínhamos que ir ao hospital.

                - Tudo bem – consenti .

Zayn chamou o motorista e fomos para o hospital.

***

Eu estava nervosa. Muito nervosa. Não sabia qual seria a reação de meu pai. Tinha medo de que alguma coisa acontecesse. O coração dele já não era mais o mesmo.

                - Não se esquece de respirar, tudo bem? – Zayn falou enquanto entrávamos no elevador.

                - Não está ajudando. Nem um pouco...

                - Desculpa.

Chegamos ao andar onde ficava o quarto de meu pai. Ele ainda não tinha voltado dos exames e ficamos esperando no quarto.

                - Já tem alguma ideia de nome para ele? – Zayn perguntou acariciando minha barriga.

                - Não pensei em nada. Talvez William... Não sei.

                - Não, William não dá, já tem o príncipe...

                - Você quer o que então? – perguntei desafiadora

Foi então que começamos uma pequena discussão sobre qual nome usar. Ficamos assim até os enfermeiros trazerem meu pai de volta para o quarto. Quando ele chegou, tudo ficou em silêncio.

                - Que prazer ter vocês dois aqui – ele falou com a voz mais rouca do que nunca.

Nós nos aproximamos da cama.

                - Pai. Queremos precisamos conversar com você – falei, tentando acabar com aquilo o mais rápido possível.

           - Eu queria dizer algumas coisas.... – ele começou a tossir – algumas coisas antes...

                - O senhor tem que descansar – disse Zayn

            - Não! – ele teimou, fazendo força para se sentar – Eu tenho que falar.

Nós dois assentimos e o deixamos falar o que queria.

Entre tosses e soluços ele disse o que eu jamais imaginaria ver meu pai falando. Ele começou se desculpando mais uma vez com Zayn.

                - Você é um dos homens mais responsáveis que já encontrei em toda a minha vida. Cumpriu com todas as suas promessas e esteve do lado da minha filha nos momentos em que ela mais precisou.

Quando ele disse aquilo me perguntei se ele já suspeitava da gravidez, mas decidi ficar quieta. Vi que os olhos de Zayn brilhavam.

Ele voltou a tossir e tomou um gole de água.

                - E Jess... Você minha filha. Eu te amo. Nunca se esqueça disso.

                - Pai... para com isso...

Ele me olhou e começou a chorar. Eu nunca tinha visto aquilo, nunca tinha visto meu pai chorar. Eu não consegui mais me segurar, as lágrimas começaram a correr de meu rosto.  Zayn apertou minha mão.

                - Tenho medo de que eu morra e você não saiba disso. Mas é verdade filha. Você foi a melhor coisa  que eu e sua mãe poderíamos ter ganho... Em todos os momentos, por mais que eu... – ele começou a tossir novamente. Dessa vez foi mais longa a crise. – Por mais que eu não aparente, que eu seja grosso e egoísta em relação a você – ele olhou para Zayn e deu um leve sorriso – É porque eu te amo. É porque para mim você sempre vai ser a minha princesa, a minha criança. Você é meu tudo Jéssica. Perdão. Perdão por tudo que eu fiz de errado.

                - Pai... – falei entre soluços – Eu... eu estou grávida. Você vai ser vovô.

Por um instante ele arregalou os olhos, em seguida, deu um sorriso amável. Ele tentou falar algo, mas não saiu som algum. Foi então que tudo começou a ocorrer em câmera lenta.

Os batimentos cardíacos de meu pai se aceleraram. Ele começou a tossir freneticamente. Zayn se levantou e foi para o corredor chamar o médico com urgência.

Meu pai parou de tossir e me olhou docemente. Um olhar tranquilo, de quem não tem nada a temer. Os batimentos cardíacos foram diminuindo gradativamente. Zayn reapareceu com uma equipe de enfermeiros e médicos.

                - CHEQUEM A PRESSÃO!

                - OS BATIMENTOS ESTÃO DIMINUINDO!

Eles gritavam uns para os outros dentro da sala e eu estava em pânico. Os batimentos foram diminuindo até não haver mais nenhuma elevação na linha do coração. Os médicos tentavam reanimá-lo com a maquina de choque, mas não estava funcionando.

O meu mundo tinha desabado.               A dor tomou conta de mim e eu vi tudo pelos ares. Zayn me abraçava forte enquanto os médicos tapavam o corpo com um lençol branco.

Meu pai havia partido. O homem que eu mais amara na vida, que foi meu herói e amigo durante tanto tempo, estava ali na minha frente, morto.

Foi então que Zayn sussurrou em meu ouvido

“Paul. Nosso filho vai se chamar Paul.”