Touched By Hell escrita por raquelsouza, milacavalcante


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olá semideuses! De boa? Como a Raquel disse no capítulo anterior, eu (Kamila) estava sem computador e ficou difícil de escrever, espero que me perdoem. Meu computador ainda está horrível mas consegui ligá-lo por tempo suficiente pra escrever esse capítulo. Não surtem com ele.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/220657/chapter/15

- Então garotos, que tal uma pequena aposta pra começar o ano? – a voz da garota que falava atrás da câmera era estridente e fina.  Rachel.

A câmera virou-se para o outro lado e Percy entrou em foco. Ele olhava para o outro lado, parecia estar de olho em alguém.

- Opa! Estou dentro. – disse outra voz, dessa vez masculina. Luke sentou-se ao lado de Percy. – E você, amigão?

- Claro, sempre. – ele respondeu. Era a minha imaginação ou ele estava olhando para Ethan e eu dançando lá atrás?

- Qual vai ser a aposta desse ano? – perguntou Luke já animado.

- A de sempre. – Rachel respondeu. – Vocês sabem, conquistar uma novata e depois partir o seu coração.

- Nós não partimos o coração delas. – retrucou Percy ofendido.

- Percy, meu amigo, você sempre parte os corações das garotas, mas de uma forma mais cavalheiresca. – Luke ria abertamente.

- Melhor do que humilhar as garotas, Luke. Eu pelo menos não sou um cafajeste.

- Sim, você é. Você sabe disso.

Percy revirou os olhos e voltou sua atenção para Rachel.

- Então, qual vai ser a minha novata?

Rachel entrou em foco e ela tinha um sorriso malicioso no rosto. Ela olhou em volta por um tempo e depois de encarar fixamente alguém atrás de Percy, ela disse:

- Annabeth.

Prendi a respiração.

Eu?

Percy também pareceu surpreso.

- A Annabeth? Sério?

- Qual é Percy? A menina parece ser legalzinha. – disse Luke colocando os braços nos ombros de Percy.

- Mas ela mora comigo cara, não é legal.

- Vai amarelar agora? Você sabe que não pode recusar.

Percy pensou por um instante. Ele parecia estar travando uma guerra interior.

- Tudo bem. – ele disse por fim.

Trinquei os dentes e encarei a mesa a minha frente. Não queria acreditar que Percy tinha planejado tudo isso, parece impossível, entretanto ali estavam as provas.

- Esse é o meu garoto! – comemorou Luke.

- E pra você, Luke, a Thalia. – disse Rachel sorrindo.

Olhei para o meu lado, onde Thalia estava, e uma lágrima desceu por sua bochecha, borrando seu rímel. Ela limpou os olhos o mais discretamente que pode e deu um olhar fulminante para Luke cheio de raiva e magoa.

- Ei cara, isso é golpe baixo. – eu não queria mais olhar, mas ainda sim conseguia escutar. – Vocês sabem que eu já tive um lance com a morena.

- Ué, tradição é tradição, querido. – ouvi o toc-toc dos saltos de Rachel e um beijo estalado no rosto de alguém. – Aposto que você não recusaria, afinal, você adora desafios, e a Grace é um ótimo desafio.

Houve um pequeno silêncio antes de Rachel quebra-lo.

- Charlie, você está gravando tudo, né? – mais uns segundos de silêncio.  – Ótimo. Vocês estão de acordo?

- Quanto tempo nós temos? – Percy perguntou.

- 1 mês é o suficiente pra vocês.

- Ótimo, estou de acordo. – Percy disse.

- Eu também. – Luke concordou.

Rachel deu uma risada fria, e disse algumas coisas a mais, só que não soube distinguir o que era. A única coisa que me importava era sair de lá, mas eu não conseguia.

Olhei para Percy e ele balbuciou um pedido de desculpas, mas eu não me importava.  Eu fora boba de acreditar que Percy não tinha a intenção de me fazer mal algum, mas ali ele estava, em pé ao lado de Rachel, olhando para mim, sustentando o meu olhar.

- Você conseguiu, Rachel, está satisfeita? – Thalia disse. – Parabéns. – e ela saiu correndo.

Eu queria segui-la, mas minhas pernas não me obedeciam.

- Ann... – Percy começou a dizer.

- Cala a boca. – consegui dizer, e por incrível que pareça, minha voz saiu forte e firme. – Essa é a forma cavalheira de quebrar o coração de uma garota, Percy? Sério que vocês fazem isso por diversão? Você não pensou nas consequências? Na decepção que você causaria? Você se provou um grande babaca. – um enorme nó se formou em minha garganta.

- Me desculpe. – sussurrou Percy.

- Não. Eu nunca vou perdoar você pelo o que fez, nunca.

Obriguei as minhas pernas a funcionarem e andei lentamente até a saída. Todos os rostos se viravam na minha direção, mas eu não olhava pra ninguém. Assim que as portas atrás de mim se fecharam, desatei a correr.

Um ódio enorme se formou na boca do meu estomago e foi subindo lentamente até meus olhos, que se encheram de lágrimas. Fui até o pátio e amaldiçoei a chuva que caía, entrando nela mesmo assim.

Abracei minha cintura e senti as gotas de chuva pesada baterem contra o meu rosto. Andei até o gramado perto dos limites da escola e deitei no chão, fechando os olhos.

Respirei fundo várias vezes pra me acalmar.

Isso não foi nada. – Repetia na minha mente. – Eu já sabia que não havia ninguém em quem eu possa confiar. Eu sabia que algo assim poderia acontecer. Eu sabia.

Eu só não estava preparada para outra decepção.

Sem perceber eu tinha começado a gostar de Percy, como amigo e algo mais... Eu tinha começado a confiar nele. Começado a ter esperança. E agora...

Soltei um gemido de frustação e limpei as lágrimas que haviam se misturado com a água da chuva.

Senti a chuva ficar mais fraca a medida que os minutos passavam e logo ela se tornou apenas um chuvisco, afagando meu rosto com delicadeza.

Pov. Thalia

- Thalia! – alguém gritava. – Thalia, espere! – mas não parei de correr, continuei forçando minhas pernas a correrem cada vez mais rápido.

Mas infelizmente eu não era tão rápida assim, então Luke me segurou pelos braços, e se não fosse por ele, eu teria me estatelado no chão.

- O que você quer? – perguntei irritada.

- Pedir desculpas. – ele disse olhando fundo nos meus olhos.

- Então você acha que é isso? Você pode correr atrás de mim, pedir desculpas e então tudo fica bem? Pro seu governo, meu querido, não vai ser assim. Essa é a segunda vez que você me faz de pateta, e eu já cansei, ok? Cansei dos seus joguinhos.

- Thalia, por favor, eu não queria fazer isso.

- Não queria? Bem, no vídeo parecia que você queria e muito. E não me venha com essa história de que estava bêbado, porquê eu sei quando você está bêbado, e no vídeo você estava muito bem lúcido.

- Tudo bem, você tem razão, mas...

- Mas nada, vá embora daqui.

- Não.

- Tudo bem, então eu vou. – e comecei a andar, mas ele me segurou pelo braço de novo. – Me solta!

- Thalia, você sabe que eu te amo. – Luke se aproximou e tocou o meu nariz. Só que eu não ia cair nessa de novo. Embora estivesse doendo, eu não amoleceria meu coração de novo, não pra ele.

- Não, você não me ama, Luke. Você só quer alguém pra brincar, alguém que caia na sua lábia, mas eu não vou cair de novo. Agora me solta.

- Só vou soltar você quando tudo estiver bem de novo.

- Droga, Luke, as coisas entre a gente nunca mais vão ficar bem.

Eu e Luke ficamos ali, nos encarando por um longo tempo, e minha raiva crescia cada vez mais.

Burra! Como eu sou burra. Porque diabos eu fui achar que ele gostava mesmo de mim? Eu sabia que eles faziam essa aposta, porque eu não duvidei logo disso?

- Deixa ela em paz, Luke, vá embora – disse uma segunda voz para o meu susto.

Olhei para atrás de Luke e lá estava Nico, com os punhos cerrados e olhar feroz. Luke deu uma risada e virou-se.

- Quem você acha que é, Nico, para me mandar ir embora? – Luke disse calmamente.

- Alguém com mais dignidade que você, é claro. Alguém que não faz apostas idiotas, que machuca o coração de uma garota por diversão.

Por um momento Luke ficou sem palavras.

- Você vai embora de boa vontade ou quer que eu te force a ir? – Nico disse com uma voz calma que me deu calafrios.

Nico e Luke ficaram se encarando por um longo momento, até Luke virou-se e desapareceu no corredor.

Por um momento eu fiquei agradecida, mas logo lembrei que ele sabia da aposta.

- O que você quer? – disse eu ríspida. – Vá lá com os outros, riem da minha cara.

- Thalia, eu não sabia!

- E como é que o vídeo estava em sua câmera, colega?

- Eu não sabia que esse bendito vídeo estava em minha câmera!

- Conta outra!

- Eu só vim saber disso semana passada, quando ouvi Ethan e Rachel falando sobre isso.

- Então você sabia sim! Porque você não me falou então? Você preferiu me deixar servir de palhaça para os outros do que me alertar. Obrigada, amigo!

- Thalia, eu tentei de contar, eu te juro, mas você estava toda feliz e eu achava que assim como Percy, Luke estava mesmo gostando de você. Eu não queria que isso acontecesse. Se eu soubesse que isso ia acontecer, eu teria te alertado.

- Eu quero que você e seus pedidos de desculpa vão pro quinto dos infernos! Era pra você ter me contado.

- Thalia, por favor...

- Nico, cala a boca e...

Então ele fez algo que eu nunca esperei na vida que ele fizesse.

O beijo era calmo e acalentador, eu não estava preparada, algo dentro de mim me dizia para empurra-lo para longe, mas eu não queria. Eu  havia esperado –secretamente- por esse beijo a tempos, mas nunca admiti para ninguém que eu nutria algo por Nico. Eu achava que isso era só porque ele era fechado de um modo sexy, eu achava que o que eu sentia pelo Luke era amor. E depois de um longo tempo parada, finalmente retribui o seu beijo.

Quando nos separamos, Nico me olhava profundamente.

- Eu... É... – tentei formar alguma frase coerente.

- Eu sei que você esta magoada, Thalia, mas é que eu sinto algo por você.

- Isso foi estranho. – Olhei para os meus pés e mordi os lábios.

Ótima frase coerente que você pode dizer, hein Thalia?

- Desculpa. – disse ele. – Eu não devia ter feito isso. Alias, eu nem devia ter falado nada.

Tentei dizer que estava tudo bem, mas não consegui, ainda estava abalada demais para falar outra coisa.

- Esquece o que aconteceu, tudo bem? – e ele foi embora.

Quis dizer pra ele ficar, que eu não ia esquecer merda nem uma, só que não consegui.

Quando por fim eu consegui andar, segui direto para o quarto e me joguei na cama, repassando várias vezes o que tinha acontecido minutos atrás.

Pov Annabeth

Voltei para o quarto toda encharcada e com os dentes batendo com o frio, mas com o coração um pouco mais leve. No térreo do dormitório levei um sermão da monitora por estar molhando o chão, mas nada grave.

Percy me esperava sentado no chão ao lado da porta do meu quarto. Respirei fundo e andei até ele. Ele me olhou angustiado e começou a levantar.

- Continue sentado. – disse sentando ao seu lado. – O chão está mais quente.

Ele me olhou sem dizer nada por um momento e suspirou.

- Eu fiz merda, me desculpe. – ele disse tocando o meu joelho.

Não respondi de imediato.

- Você fez merda. – finalmente respondi. – Acontece.

Percy me olhou sem acreditar.

- Você não está com raiva? – ele perguntou franzindo as sobrancelhas.

- É claro que eu estou, você me enganou. – disse olhando séria pra ele. – Mas o que eu posso fazer? Eu sabia que você era um babaca e ia acabar fazendo algo assim. A culpa é toda minha.

Percy fez uma cara de desolado.

- Não é culpa sua. – ele disse. – Porque você está me torturando assim? É claro que a culpa é toda minha.

- Então sofra com ela. – disse dando de ombros e levantando.

Percy suspirou.

- Annabeth, é sério. – ele disse se levantando rapidamente e segurando o meu braço. – Eu sei que você está chateada, não finja que não está. Eu conheço você.

- E o que você quer que eu faça? Chore por você? – perguntei sorrindo com escárnio. – Eu não vou fazer isso, você não merece.

- Por favor, entenda... – ele disse tentando se explicar. – Aquele vídeo foi gravado antes de tudo. Eu sei que eu errei, mas eu queria uma desculpa pra me aproximar de você, mesmo que tenha sido enganando a mim mesmo, dizendo que era só pela aposta. Não era só por causa da aposta, agora eu vejo isso.

- Tá bom Percy, só... – tentei falar mas ele continuou a falar.

- Não, me escuta. – ele disse segurando os meus dois braços. – Porque você acha que eu sempre impliquei com você? Eu sempre tentava chamar a sua atenção de alguma forma porque eu não tinha coragem de falar ou mesmo sentir o que eu sentia. O que eu fiz foi errado, eu não nego, mas isso não muda nada. Eu gosto mesmo de você, Annabeth Chase, espero que não se esqueça disso.

Fitei-o em silêncio por um momento, me deliciando com as suas palavras. Doces palavras. Quisera eu acreditar nelas.

- Não vou esquecer. – disse. – Eu desculpo você, afinal, ainda temos muitos meses até que eu possa voltar pra minha casa então é melhor não ficar criando ressentimentos e mágoas desnecessárias. Eu te desculpo, mas o que a gente tinha acabou.

Percy mordeu a bochecha e soltou meus braços.

- É justo. – ele disse e eu entrei no quarto.

Thalia estava deitada na cama com o fone de ouvido, claramente chateada. Quando eu entrei no quarto ela tirou os fones de ouvido e sentou na cama.

- Como você está? – ela perguntou.

Apontei para as minhas roupas.

- Molhada. – disse sorrindo. – E você?

- Desnorteada. – ela confessou. – Quer conversar?

- Não sei. – confessei. Não tinha o que falar na verdade. Eu e Percy terminamos. Mesmo nem tendo começado direito. Acontece.

- Você vai ficar doente se ficar andando com as roupas molhadas por aí. – ela disse.

Assenti e entrei no banheiro.  Entrei embaixo da água quente e refleti por um momento. Seria melhor assim. Se Gabes descobrisse sobre a gente ele mataria o Percy então foi bom que isso tenha acontecido. 

Mas então porque esse nó na boca do estômago não desaparece?

 Saí do banheiro e vesti uma blusa de moletom enorme e jeans escuros, além de meias bem grossas. Thalia estava arrumando suas coisas numa mochila.

- Percy acabou de vir aqui. – ela disse colocando a mochila nas costas. – Sally veio nos buscar.

- Sally? – perguntei aliviada.

- Umhun. – ela respondeu. Arrumei a minha mochila rapidamente e fomos até a entrada da escola. Encontramos Sally no portão, acenando para a gente. Percy estava lá, encostado no carro olhando pra lua cheia.

- Como foi a semana, meninas? – Sally perguntou depois de abraçar cada uma de nós.

- Normal. – respondi sorrindo.

- Decepcionante. – thalia disse entrando no carro.

Percy me olhou de soslaio, eu acenei com a cabeça e entrei no carro. A viagem até a casa demorou o dobro do tempo pois tínhamos de deixar thalia em casa e o clima no carro estava meio estranho.

- Onde está Gabes? – Percy perguntou.

 - Viajou. – ela disse ríspida. Não acredito nem por um momento que ele tenha mesmo viajado. Apertei a mão da thalia e ela apertou de volta. De alguma forma, eu me senti mais segura.

Quando chegamos em casa fui direto pro meu quarto, tirei os jeans e me enrolei embaixo do edredom. Estava morrendo de fome, mas não queria sair dali.

Era bom fazer isso, se esconder debaixo do edredom, como se nenhum mal pudesse ultrapassar o lençol grosso e me machucar. Abracei o travesseiro e me deixei soltar algumas lágrimas.

Ouvi alguém bater na porta e limpei as lágrimas rapidamente com as costas da mão.

- Annabeth? – ouvi Percy perguntar e entrar no quarto.

- O que foi? – disse sem sair debaixo do edredom. Minha voz saiu um pouco abafada.

- Mamãe pediu pra te trazer comida. – ele disse colocando algo em cima da cama. – Eu disse pra ela o que aconteceu.

Levantei rapidamente.

- Você contou sobre a gente? – perguntei aflita.

Ele pareceu acanhado.

- Não, mas ela deve ter adivinhado. – ele disse coçando a cabeça. – Não que faça diferença agora, já que não temos mais nada.

Quem dera fosse tão simples.

- Finja que nada aconteceu, Percy. – disse pegando a bandeja e mordiscando um sanduíche. – É melhor que ninguém mais saiba.

- Melhor pra quem? – ele perguntou de repente.

Pra você.

- Pra nós dois. – disse sustentando o seu olhar.

Percy bufou.

- Obrigada por trazer isso pra mim. – disse apontando para a comida. – Foi muita gentileza.

- Foi a mamãe que... – ele tentou explicar.

- Ela se trancou no quarto assim que a gente chegou. – disse levantando uma sobrancelha. – Aposto que ela e o Gabes brigaram.

Percy grunhiu.

- É normal já. – ele disse revirando os olhos. – Na verdade eles pararam mais desde que você veio pra cá.

Fiquei séria.

- Estou cansada, melhor eu terminar isso e ir dormir, boa noite. – disse voltando a comer.

Percy franziu os lábios, pensando.

- Boa noite, Annie. – ele disse e saiu do quarto.

Pov Percy

Soquei a parede com força e senti os nós dos meus dedos estremecerem. Eu conseguira estragar tudo, logo agora que estávamos nos dando bem, eu estrago tudo. Soquei a parede com força novamente.

Sentei na cama massageando as mãos e tirei a camisa, pensando. O que eu poderia fazer agora? Pedir desculpas não adiantaria, fazer grandes declarações também não, ela odiaria isso.

Fiquei com vontade de socar a parede novamente. Não sabia o que deveria fazer.

A luz fraca de um farol iluminou a janela do meu quarto. Levantei e olhei pela janela, estava escuro mas pude distinguir um carro preto na frente de casa, deveria ser Gabes voltando de seja lá onde estivesse.

Fui até a sala de estar e esperei ele entrar, mas não entrou. Abri a porta da frente e procurei pelo carro, mas ele já tinha sumido.

Antes de voltar pro quarto fui à cozinha e encontrei o Senhor Gonçalvez arrumando algumas coisas.

 - Buenas noches. – ele me saudou. – Fome?

- Nem tanto. – disse sentando em cima da mesa.

Ele encheu um copo de leite e pegou biscoitos na dispensa.

- Coma. – ele disse. – Leites e biscoito são ótimos para corações partidos.

Sorri e comi um biscoito.

- O que aconteceu? – ele perguntou sentando na cadeira.

Hesitei antes de responder.

- Eu magoei alguém que eu gosto. – disse fitando o copo de leite. – E não sei o que fazer pra tê-la de volta.

- É, mulheres são complicadas. – ele disse levantando. – Sabe o que você deve fazer? Dê flores, mulheres adoram receber flores.

Sorri e peguei outro biscoito.

- Ela é marrenta demais pra se encantar com flores.

O Senhor Gonçalvez sorriu e negou.

- Nenhuma mulher é marrenta demais pra não se encantar com flores, nem mesmo a nossa querida Annabeth. – ele disse limpando a mão no avental que usava. – Venha comigo.

- Como você sabe que...? – comecei a perguntar mas desisti.

Ele me levou até o quintal de casa, onde ele plantava mudas de rosas brancas. O Senhor Gonçalvez me passou uma tesoura gigante e disse como deveria cortar.

- Cuidado com os espinhos. – ele disse.

Comecei a cortar as rosas uma por uma, me furando uma vez com um espinho. Chupei o sangue do dedo e voltei a tirar outra flor.

Ele me deu uma tesoura menor e disse pra eu aparar os espinhos. Fiz exatamente como ele mandou.

- Agora uma fita. – ele disse sorrindo e voltando a passos lentos até dentro de casa. Segui-o prontamente.

Ele foi até o quarto dele e voltou com uma tira cor de rosa.

- Minha esposa usava isso aqui. – ele disse juntando as rosas e amarrando-as junto com a fita. – Ela dizia que dava sorte.

- E dá? – perguntei. Sabia que a esposa dele tinha morrido no parto e o bebê não sobrevivera.

- Não. – ele disse sorrindo fraco. – Mas não é esse o ponto. A questão é que ela tinha esperança. E você deveria ter também.

Acenei minimamente.

- Pronto. – ele disse me passando o buquê e limpando a sujeira que eu tinha feito na cozinha. – Agora faça como quiser.

- Obrigada. – respondi.

- Esperança, Percy, tenha esperança. – ele disse voltando para o seu quarto.

Voltei para o meu quarto com o buquê na mão. Escrevi um pedido de desculpas num post-it e encaixei no meio das flores. Sai do quarto novamente e parei na frente da porta dela. Abri-a sem fazer barulho e coloquei o buquê no chão bem em frente à porta.

Voltei para o meu quarto e dormi sem sonhar.

Acordei com a porta do meu quarto abrindo, mas fingi que continuava dormindo. Senti o cheiro de rosas ao meu lado e abri os olhos.

- Ah, não queria te acordar. – Annabeth disse envergonhada.

Olhei sonolento para as rosas que ela tinha colocado ao meu lado na cama e depois olhei pra ela, perguntando.

- Não posso ficar com elas. – ela disse olhando para os próprios pés. – Elas são lindas mas chamam muita atenção.

Cocei a cabeça, tentando ignorar o fato de que ela estava só de blusa e calcinha.

- Você podia ter se vestido pelo menos, não consigo ficar com raiva por você estar rejeitando as flores se você aparece aqui seminua. – brinco.

Ela sorri e revira os olhos.

- Palhaço. – ela diz e senta ao meu lado na cama. – Obrigada pelas flores.

- Estou perdoado? – pergunto passando o braço ao redor de seus ombros. Ela ri.

- De jeito nenhum. – ela diz. – Mas fico feliz por tentar se redimir.

Ela pegou uma rosa do buquê, me deu um beijo na bochecha e saiu do quarto.

Fiquei olhando para o buquê sem saber o que pensar, por fim o joguei pra debaixo da cama e voltei a dormir.

Acordei mais tarde com uma dor de cabeça terrível. Virei para o lado e dei de cara com as flores que Annabeth devolvera, o cheiro forte e doce das rosas me deixavam com um certo enjoo.

Andei até o quarto de Sally, mas ela não estava lá. Desci as escadas e perguntei de Gonçalvez onde minha mãe tinha ido.

- Não sei, mi hijo. – respondeu ele. – Ela estava bastante triste, disse que ia sair para esfriar a cabeça.

Apoiei os cotovelos no balcão e passei a mão no rosto.

- O que será que está acontecendo entre ela de Gabe? Antes de Annabeth vir pra cá, eles não paravam de brigar um segundo sequer.

- As vezes conflitos entre casais acontecem, Percy, você sabe muito bem disso.

Droga, porque esse cara tem que perceber tudo?

- Porque você também não sai pra esfriar a cabeça, mi hijo?  Parece que você também está precisando.

- Ela não aceitou as flores. – disse olhando para o nada.

- Eu sei. Dê um tempo pra ela, Percy.

Assenti e voltei para o quarto para vesti uma camisa e uma jaqueta.

Dirigi pelas ruas desertas de Notthigan até a minha cafeteria preferida. Não sei porque, mas o café da Starbucks não me agradava tanto assim como agradava o resto das pessoas.

Parei na frente de um antigo porém reconfortante prédio e entrei. Sentei no balcão e pedi um café expresso forte.

- Aqui está, meu jovem. – disse a proprietária. – Está tudo bem com você?

- Não muito. – disse com um meio sorriso.

- Vai ficar tudo bem, meu querido. – disse a velhinha dando um tapinha fraco em minha mão.

Mas que diabo de dia está sendo esse? Parece que todo mundo sabe o que aconteceu.

Bebi o meu café rapidamente e fiquei ali, observando as pessoas que iam e vinham, até que alguém se sentou ao meu lado.

- Oi, Percy. – disse Rachel,

Revirei os olhos e virei para olha-la.

- Oi.

- Imaginei que estivesse aqui, aliás, essa é a sua cafeteria preferida.

- É.

- O que foi? Porque você está sendo tão ríspido comigo? – perguntou ela com uma voz afetada. 

- Você sabe o que aconteceu, Rachel.

- Ah, querido. – ela me abraçou. – Você está assim porque Annabeth fez um drama? Pobre coitada. Mas pense pelo lado bom, você não precisa mais fingir que está apaixonado por ela. Agora nós podemos ficar juntos, como nos velhos tempos.

Tirei os braços dela do meu pescoço e ri com ironia.

- Você acha mesmo que eu vou voltar pra você, Rachel? Eu disse pra você não fazer isso, eu disse pra você que tinha desistido da aposta! – soltei. – E eu não estava fingindo que gostava da Annabeth, porque eu gosto mesmo dela, agora você estragou tudo!

- Você é um ótimo comediante, Percy. – Rachel soltou uma gargalhada. – Como você poderia estar apaixonado por ela? Ela é problemática, todo mundo sabe disso, ela é sem graça, eu sou muito melhor do que ela, querido.

- Não, você não é. Você não me faz sentir vivo como ela me faz, você não chega aos pés dela, querida. Quando você vai se dar conta de que eu não te quero mais? O que a gente teve ficou no passado.

Deixei uma nota de 10 na mesa e sai da cafeteria furiosamente, deixando uma Rachel embasbacada lá.

Comecei a andar até o meu carro quando vi na esquina da rua, Gabe empurrando Annabeth pra dentro do carro e depois entrando e dando a partida.

Entrei no carro e o liguei rapidamente. Procurei pelas ruas atrás do carro mas foi em vão. Fiquei com uma pulga atrás da orelha em relação a isso. Gabes não deveria estar viajando? E porque diabos ele jogou a Annabeth pra dentro do carro? Era como se ele estivesse sequestrando-a.

Ri desse pensamento. Pra quê ele a sequestraria?

Enrolei mais um pouco dirigindo pelas ruas e acabei voltando pra casa.

Liguei a tv e fui assistir um filme qualquer. Tentava prestar atenção no filme de ação mas a cena de Annabeth e Gabes não saía da minha mente. Onde eles poderiam ter ido?

Acabei cochilando na metade do filme e acordei sobressaltado com o celular vibrando ao meu lado.

Olhei no visor e atende.

- Annabeth, onde você está? – perguntei preocupado. Ouvi o barulho de um carro buzinando e pessoas falando.

- Estou na frente de um prédio antigo. – ela disse um pouco nervosa. – Tem uma cafeteria aqui perto, pode vir me buscar, por favor?

- Estou a caminho. – disse e desliguei.

Peguei as chaves do carro e saí correndo. As coisas não estavam fazendo o menor sentido. Onde estava Gabes?

Dirigi rapidamente até onde eu esperava encontrar Annabeth. Ela estava parada na frente da cafeteria abraçando o próprio corpo com uma expressão que eu só podia dizer ser medo.

- Annabeth. – chamei. Ela olhou pra mim com os olhos arregalados e depois disfarçou com um sorriso.

Ela entrou no carro e colocou o cinto. Comecei a dirigir.

- Onde você estava? – perguntei.

- Eu me perdi. – ela disse sem olhar pra mim. – Pra onde vamos?

Estreitei os olhos. Era óbvio que ela estava mentindo.

- Quer ir ao cinema? – perguntei.

Ela negou rapidamente.

- Algo mais animado. – ela sugeriu. – Tipo... vamos pra outra cidade? Londres deve ter coisas mais interessantes pra fazer.

- Não vamos pra Londres. – disse de uma vez.

- York então? Não é tão longe quanto Londres mas... – a interrompi.

- Annabeth, primeiro me diga a verdade, onNde você estava? – eu disse passando por um sinal vermelho.

- Eu já disse, estava andando e me perdi. – ela respondeu.

- Annabeth, eu vi você entrando no carro com o Gabes. – disse pausadamente. Annabeth virou-se rapidamente para mim, seus lábios tremeram levemente e a cor do seu rosto sumiu.

- Você viu o que? – perguntou. – Eu não entrei no carro com o Gabes. Ele está viajando, não está?

- Era o que eu pensava, até vê-lo com você. – respondi.

- Pare o carro. – ela disse séria.

- Annabeth você têm que... – comecei mas ela me interrompeu.

- PARE A DROGA DESSE CARRO AGORA. – ela gritou histérica. – PARA! PARA! PARA!

Não tive outra alternativa a não ser estacionar o carro no canto da rua. Annabeth saiu rapidamente do carro e vomitou na calçada. Saí do carro e tentei ajuda-la.

- Não toque em mim. – ela disse se afastando e pondo a mão na testa, pensando.

- Me conte que droga está acontecendo. – pedi exasperado.

- Não! – ela disse fechando os olhos.

- Por favor, Annie. – pedi tocando seu braço.

- Não. – ela falou um pouco mais calma. – Você não pode saber. Ninguém pode saber. Principalmente você. Principalmente você.

Franzi as sobrancelhas tentando entender.

- Mas eu quero saber. – ela se ajoelhou no chão e colocou a mão nos olhos. Ajoelhei-me ao seu lado, tentando ignorar o cheiro de vômito. – Me conte.

- Você não pode saber, Percy. – ela disse depois de respirar fundo. – Não há nada pra saber, eu só tive uma crise de pânico e acabei me perdendo.

Encarei-a sem acreditar.

- Annabeth, fale a verdade pra mim. – pedi novamente. – Eu vi você com meu padrasto, onde ele está? E o que vocês faziam juntos?

Annabeth não respondeu. Uma ideia horrível me veio a mente. Levantei e ela olhou pra mim como se estivesse suplicando.

- Vocês estão tendo um caso. – eu afirmei. Annabeth arregalou os olhos o que foi como uma facada no meu estômago. – É isso, não é?

Annabeth não respondeu.

- Sua vagabunda traíra. – disse antes de pensar. – Você está transando com o meu padrasto?

Annabeth olhou pra mim sem dizer nada. Ela parecia estar pensando, ponderando. A raiva me subiu a cabeça.

- É por isso que você não ficou chateada com a aposta? Você estava ocupada demais fodendo com o marido da minha mãe pra se preocupar com qualquer coisa. – cuspi as palavras na cara dela. – Você é uma grande vadia.

- Percy, eu posso explicar. – ela falou baixo, percebi que estava chorando.

- Não quero suas explicações, quero você longe da minha vida, longe da minha casa! – gritei.

- Eu não estou tendo um caso com ele. – ela disse me olhando. Vi que seus olhos estavam mareados e cheios de dor, mágoa e raiva. Ela levantou e ficou de frente para mim. – E se você me acha uma vagabunda, agradeça aquele monstro que você chama de padrasto, porque é tudo culpa dele.

Ela botou o dedo na minha cara, acusando.

- Você não sabe nada sobre mim, garoto. Já devia saber disso. – ela disse e limpou uma lágrima com as costas da mão. – Não crie teorias e saia gritando para todos ouvirem a não ser que você queira morrer. E acredite, é bom que você fique vivo, porque eu estou aguentando tudo isso pra você e outros poderem viver, entendeu?

- O que você quer dizer? – perguntei confuso e irritado ao mesmo tempo.

- Já disse que não posso contar. – ela falou sem olhar pra mim. – Pelo bem de todos nós.

- Não me importo. – disse sério. – Eu quero saber.

- Você não vai gostar de saber. – ela disse ríspida.

Ainda tinha mais uma carta na manga. Era jogo sujo, mas foi o que me restou. Seja lá o que estava acontecendo, eu precisava saber, ainda mais quando Annabeth diz que eu posso morrer.

- Talvez Gabes queira me contar. – disse sério. Annabeth arregalou os olhos e agarrou o meu pulso.

- Não faça isso. – ela disse com desespero na voz. Senti meu coração apertar. – Não faça.

- Porque? – perguntei.

- Por favor Percy, não faça isso. – ela disse passando a mão na testa. – Só vai piorar as coisas.

Segurei seus ombros com força. Ela estremeceu.

- Então me conte o que está acontecendo. – disse exasperado.

- Eu não posso. – ela choramingou. – Não me obrigue, por favor.

- Me conte. – disse segurando seu rosto entre as mãos, fazendo-a olhar para mim.

- É pro seu bem, Percy, por favor. – ela disse.

- Eu posso cuidar de mim mesmo. – disse mais valente do que eu realmente me sentia. O que poderia ser tão sério para assustá-la tanto? Logo ela, que sempre é tão corajosa? – E também posso cuidar de você.

- Não pode. – ela disse. – Enquanto ele viver, ninguém pode cuidar de mim.

- Ele quem? – perguntei confuso.

Ela piscou os olhos com força para afastar as lágrimas.

- Gabes. – ela disse simplesmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Se você ainda está vivo com o final desse capítulo, não se desespere! As férias chegaram e com elas o tempo livre uhuuu ou seja, mais tempo pra escrever e mais rápido o próximo capítulo vai sair.

Agora me digam, o que vocês acham que vai acontecer nos próximos capítulos? Aceitamos dicas e sugestões, é claro.

É isso galera, deixem muitos reviews e sorriam, beijos.