Touched By Hell escrita por raquelsouza, milacavalcante
Notas iniciais do capítulo
Oi gatinhos :D
Desculpem pela demora, aqui está o capítulo. Espero que gostem.
Eu e Percy voltamos pra casa sem ninguém dizer uma só palavra sequer. Estávamos tão absortos no que havia acontecido mais cedo que nem percebemos quando chegamos em casa.
- Huh... Boa noite. – disse eu abrindo a porta do carro.
- Annabeth. – Percy me chamou.
- Sim?
- Quando nós... Hum... Nos beijamos... – enrolou Percy.
- Fala logo.
- Você sentiu algo?
Pisquei atônita. Não tinha parado pra pensar nisso direito. Claro, o beijo não havia sido nada romântico e se eu não tivesse me lembrando que eu estava beijando Percy teria rolado algo a mais.
- Não. – disse rapidamente. – E você?
- Também não.
Fiquei encarando o pára-brisas até que uma luz dentro da casa se acendeu.
Percy e eu nós entreolhamos e corremos pra dentro da casa antes que alguém nos visse. Entrei no meu quarto e me joguei na cama, não havia percebido que estava tão cansada até que meus olhos começaram a se fechar lentamente e o sono tomar posse de mim.
Mas antes que eu adormecesse, a porta do meu quarto se abriu e um homem barrigudo entrou.
- Onde você esteve? – perguntou Gabe furioso.
- Estava na casa da Thalia. – sentei-me na cama e por puro instinto, se afastei.
- Você sabe que hoje nós tínhamos o nosso compromisso.
- Você acha que eu ficaria aqui pra ser estuprada? Eu ainda não fiquei louca, Gabe. – disse com a voz sarcástica. – E além do mais, foi o seu afilhado que me chamou pra ir, e mesmo que eu não quisesse ir, ele me carregaria até lá.
- Você sabe que não pode evitar o inevitável, minha querida.
- Será? – provoquei.
- Será. – Gabe tinha o olhar feroz.
- Você não vai querer fazer isso agora, vai? – perguntei com a voz um pouco tremula.
- Não, você se safou essa noite. Já são quase 6 horas da manhã e daqui a pouco você tem que ir pra escola, eu não me arriscaria a fazer amor com você com Sally aqui dentro.
- Amor? – perguntei rindo. – Por favor Gabe, você não faz amor com ninguém, principalmente comigo.
- Você é tão tola, Annabeth.
Revirei os olhos.
- E o que você foi fazer com a Thalia?
- Não é do seu interesse. – respondi ríspida.
- Ah, claro que é.
Senti o meu coração parar de bater. Gabe pronunciou o nome da Thalia como se saboreasse algo maravilhoso.
- Você não... – minha voz me traia, o medo se apossava novamente de mim. – Thalia...
- Não. Com Thalia não. – Gabe tinha um ar sonhador. – O pai dela é um cara importante aqui na Inglaterra. Mas adoraria ter Thalia comigo por uma noite.
- Não se atreva a tocar em Thalia. – o tom de minha voz passou de medo para raiva. – ou eu...
- Ou o quê? O que você vai fazer?
Mas na hora que eu ia responder, Percy colocou a cabeça pra dentro do quarto.
- Está tudo bem aqui? – perguntou ele com a testa franzida.
- Ah, claro.
- O que você esta fazendo aqui, Gabe? – Percy com certeza estava confuso.
- Eu vim ver se Annabeth já estava melhor por causa do pé.
- Como você já viu, Gabe, eu estou muito bem. Já pode ir. – disse eu.
Naquele momento, tive uma enorme vontade de abraçar o Percy. Quase agradeci aos deuses por Percy ser tão intrometido.
- Claro. Tenha um bom dia, Annabeth.
- Quem vai nos levar pra escola? – ouvi Percy perguntar quando os dois saíram do quarto.
- Sally.
Ouvi os passos pesados de Gabe se distanciarem, e após um minuto, Percy voltou a entrar no meu quarto.
- Por sorte a aula hoje vai começar às 13 horas.
- Por quê?
- Eles estavam dedetizando a escola ontem, parece que o cheiro ainda está forte.
- Ah sim. – voltei a deitar na cama. – Então deixa eu voltar a dormir.
- Annabeth?
- Sim.
- É verdade que Gabe veio aqui só pra ver se você estava bem mesmo?
Sentei em um pulo. Será que ele tinha ouvido?
- Claro, porque a pergunta?
- Ah, é que Gabe nunca se preocupou com ninguém.
Dei os ombros em sinal de indiferença. Percy saiu do quarto e eu voltei a deitar na cama, mas dessa vez, não teve ninguém pra atrapalhar o meu sono.
POV PERCY
Deitei na minha cama e encarei o teto inexpressivamente. Não sabia exatamente o que estava sentido. Era uma mistura de alegria, intriga, culpa e ciúmes.
Desembaralhando a minha mente deu-se o seguinte: Estava alegre pelo dia de hoje e por ter beijado Annabeth pois isso é mais um passo para o fim dessa aposta, o que também me deixava com um sentimento de culpa. Estava intrigado com o que Annabeth estava escondendo, o que parecia ser algo bem grande e eu estava determinado a descobrir.
E estava enciumado por causa de Gabes ter se preocupado com Annabeth.
Não é nada pessoal, ele nem é meu pai mas ele sempre foi a figura de um pai para mim e nunca foi lá o padrasto ideal mas eu o amava de qualquer forma.
Meus pensamentos passavam rapidamente pela minha mente, eu não conseguia organiza-los e acabei adormecendo por conta disto.
Acordei com alguém cutucando as minhas costas.
- Já vou mãe. – reclamei.
- Percy, levanta logo ou eu vou jogar esse bendito vaso na tua cabeça. – disse uma voz irritada.
Virei-me rapidamente e dei de cara com uma Annabeth estressada.
- Vai embora daqui. – disse ríspido.
- Com todo prazer.
E Annabeth saiu mancando do quarto. Alguns minutos mais tarde, eu já havia tomado o meu banho e estava descendo para almoçar.
Sentei a mesa e me servi. Olhei ao redor e Annabeth ainda não estava à mesa.
- Cadê a Annabeth? – tentei perguntar com o melhor ar de desinteressado possível.
- Ela disse que esqueceu alguma coisa no quarto e subiu pra ir buscar.
Dei os ombros e Sally se inclinou pra frente com o ar de quem ia fazer muitas perguntas.
- Onde vocês estavam onde anoite? - perguntou ela com um sorriso no rosto.
- Vocês quem?
- Não se faça de lerdo, Percy, eu sei que você e Annabeth saíram ontem à noite e só voltaram quando o dia estava quase amanhecendo.
- Estávamos na casa da Thalia. – disse remexendo-me desconfortavelmente na cadeira.
- Aconteceu alguma coisa entre vocês?
- Deuses! Claro que não mãe! – disse passando a mão no cabelo.
- Certeza?
- Sim, porque a pergunta?
- Porque você ficou nervoso e começou a se remexer na cadeira. – olhei para minha mãe e me segurei para não fazer uma careta.
- Você ainda gosta dela, não é?
E nesse exato momento, Annabeth entrou na cozinha. Olhei para minha mãe e balancei a cabeça encerrando a conversa.
Annabeth se serviu e comeu em silêncio, nem sequer lançou um olhar feio nem nada.
- Muito bem crianças, vamos logo. Não queremos nos atrasar.
Dei um suspiro longo e levantei da mesa. Peguei a minha bolsa que estava em cima do sofá e me dirigi a porta.
- Nem uma palavra sobre o que aconteceu ontem... Ou hoje, beleza? – disse Annabeth enquanto eu carregava a minha mala pra dentro do carro.
- Como se eu quisesse que todos soubessem que a garota mais nojenta da escola me beijou. – respondi revirando os olhos.
- Pra sua informação, foi você quem me beijou e eu sei que você queria isso.
- Eu?
- “Vamos lá, podemos fazer melhor que isso” – provocou Annabeth com uma falsa voz masculina.
Entrei no carro e eu e Annabeth não dissemos uma só palavra durante todo o percurso.
Chegamos na escola meia hora depois. Annabeth foi a primeira a pular do carro, saí depois dela e a ajudei a descarregar as suas coisas.
- Tchau queridos, até o final de semana. – disse Sally depois de dar um abraço de urso em mim e em Annabeth.
Ficamos parados vendo Sally desaparecer e depois que o carro sumiu de vista, Annabeth voltou a olhar pra ela e vi uma expressão em seu rosto que pensei que nunca veria ao estar na escola: felicidade.
- Feliz em estar na escola? Sério? – perguntei quando estávamos nos dirigindo a entrada na escola.
- Adoro esse lugar, simplesmente.
E sem dizer mais nada, Annabeth se dirigiu a parte do dormitório das meninas.
- Algum progresso, amigo? – Luke apareceu jogando os braços em cima dos meus ombros.
- Digamos que sim. – respondi com um sorriso malicioso. – E você?
- Total progresso.
Olhei surpreso para ele.
- Sério? Como tu conseguiu?
- Fiquei até tarde na casa dela, disse que estava arrependido de ter feito o que fiz, que eu a amava e blá, blá, blá.
- Jogada de mestre.
- Você devia tentar.
- Pra quê? Não foi eu quem traiu uma garota com sua melhor amiga.
- Ai, essa doeu profundamente. – Luke fingiu estar magoado.
- Garotos! – gritou uma voz irritante.
Luke e eu viramos e demos de cara com a Rachel. Ela estava com a aparência radiante, bronzeada e sorridente.
- Como vocês estão? – perguntou ela dando um beijo na bochecha de Luke.
- Bem, e você? – respondi.
- Estou ótima, meu amor. – então ela me beijou.
Olhei para os lados pra ver se alguém – mas especificamente a Annabeth – tinha visto.
- Como vai à aposta?
- Já ta no papo. – respondeu Luke orgulho.
- Parece que a Grace não é tão durona assim, hein? – retrucou Rachel rindo.
Acompanhei os dois.
- E você, Percy, algum sucesso?
Olhei pros lados. Não queria dizer que já tinha algum processo, mas era a minha reputação que estava em jogo. Bem, não sou um garoto fútil, mas as pessoas me respeitam pelo o que eu sou, e eu gosto disso.
- Ainda não. – menti. – Annabeth é marrenta, dura na queda, você sabe.
- Ethan que o diga. – disse Rachel passando a mão no meu rosto.
- Preciso ir, até mais, garotos.
E ela se afasto de nós rebolando até o outro lado.
Olhei pra Luke e ele deu os ombros.
POV ANNABETH
Depois de arrastar com muito esforço a minha pesada mala até o dormitório, me encostei na porta pra respirar um pouco. Fechei os olhos tentando controlar a minha respiração descompassada. Quando voltei a abri-los, uma ruiva estilo vadia me olhava.
- O que é? – perguntei virando-me para abrir a posta.
- Nada, só estou olhando, não posso?
- Não.
Entrei no quarto e fechei a porta, olhei pras duas garotas que me olhavam assustadas.
- Rachel. – disse sentando-me na cama.
Bianca lançou um olhar duro e se levantou pra ir embora.
- Vadia. – resmungou antes de sair do quarto.
- Quando essa garota vai entender que eu não quero nada com o Ethan? - indaguei pro nada.
- Eu ia explicar pra ela que você não quer o Ethan e sim o Percy quando você entrou no quarto e nos assustou.
- Pirou o cabeção? – perguntei olhando cética.
- O quê? Eu sei que você quer o Percy.
- Claro que não.
- Então porque vocês se beijaram antes de ir embora de casa na madrugada de hoje?
Dei um pulo no chão esquecendo do meu pé inchado.
- O QUÊ? – minha voz tinha subido a um oitavo.
- Eu vi, não tenho culpa se vocês resolveram se pegar na sala da minha casa.
- Alguém mais viu isso? – perguntei assustada.
- Somente eu, Percy e o Ethan.
- O ETHAN?
Thalia assentiu assombrosa.
- Ele sabe que você não quer que ninguém saiba disso e vai fazer disso um motivo de chantagem.
Passei a mão no cabelo e voltei a sentar na cama.
- E agora?
- Agora você vai ter que ficar com ele ou ter que espalhar pra todo mundo que você ficou com o Percy.
- Duas coisas que eu não me vejo fazendo.
- Desculpa.
Revirei os olhos e comecei a ajeitar a minha bolsa com o material que iria usar hoje.
- Só toma cuidado, ok? Se você for ficar com ele, não deixa que Bianca veja.
- Acho que devo ter mijado na cruz pra receber isso. – resmunguei.
- É bem a sua cara fazer isso mesmo. – Thalia disse e nós rimos.
Vesti o uniforme da escola e fui pra aula com Thalia. A monotonia seguiu aula após aula. Diversas vezes as pessoas viravam para olhar quando eu e Thalia passávamos. Achei que era porque Ethan já tinha espalhado sobre meu beijo com Percy, mas quando indaguei isso a Thalia, ela negou.
- Eles estão olhando pra mim. Alguém deve ter espalhado sobre o meu beijo. – ela disse suspirando.
- O seu beijo? – perguntei. Não sabia que Thalia tinha beijado alguém. – E quem você beijou?
O pescoço de Thalia ficou vermelho.
- Luke. – ela disse olhando para o livro aberto sob a sua mesa. – Eu estava meio bêbada e ele falou coisas tão inesperadas, coisas que eu esperava ouvir quando namorávamos.
- Thalia... – disse estalando os dedos. – Você não acha que...
- Eu sei. – Thalia me cortou. – Eu fui uma tola por achar essas coisas. Estou me odiando neste momento.
- Está tudo bem. – disse confortando-a. – Você pode dizer pra todos que perguntarem sobre isso que você estava bêbada demais ou que nem se lembra disso.
- É o que eu vou fazer. – ela disse rindo baixo. – Mas não tem como mentir pra mim mesma, certo?
- Não, não tem. – disse a contra gosto.
- Assim como você deveria parar de mentir pra você mesma e assumir que é completamente caidinha pelo Percy. – ela disse.
- Não viaja. – disse bufando. – Eu não sou ‘’caidinha’’ pelo Cabeça de alga.
- Você tem até um apelido fofo pra ele. – Thalia disse crispando os lábios.
- Não é um apelido fofo. – defendi. – Éramos crianças quando eu dei a ele esse apelido.
- Amor de infância, que fofo. – ela disse suspirando.
- Thalia, você está me irritando. – disse olhando séria pra ela.
- Porque você sabe que é verdade... – ela continuou. – Porque mais vocês se beijariam?
- Foi uma aposta. – menti. Tá, não era uma mentira, mas não era toda a verdade.
- E porque você apostou se não queria beijá-lo? – ela revidou.
- Thalia, pela última vez eu não estou apaixonada por ele. – disse um pouco alto demais. A sala inteira virou em nossa direção e Thalia abafou um risinho. A professora olhou pra mim com raiva.
- Bom saber disso Annabeth. – ela disse. – Porque não pensa mais no assunto? Detenção.
- Mas eu não... – tentei me justificar.
- Fora da minha sala. – ela disse e voltou a escrever no quadro.
Arrumei as minhas coisas e levantei da cadeira.
- Obrigada. – sussurrei a Thalia e saí, mas não antes de xingar a professora de vadia e sair correndo.
Fui até a arquibancada da quadra de basquete e fiquei resolvendo a lição de casa de matemática. Na quadra, vários meninos estavam jogando, reconheci Percy e Nico entre eles.
- Não deveria estar na aula? – alguém disse atrás da arquibancada. Não tinha notado Ethan ali antes, mas lá estava ele fumando um cigarro escondido.
- Talvez e você? – indaguei de onde estava.
- Provavelmente. – ele disse. – Venha aqui comigo.
Sorri falsamente e apontei para a minha perna.
- Não estou afim de quebrar o outro pé, amor. – disse e fechei o livro.
Ethan soltou uma baforada de fumaça e sorriu.
- Desça da arquibancada e venha até aqui. – disse.
- Me obrigue. – provoquei.
Ethan sorriu.
- Você é mesmo cabeça dura como dizem, né? – ele disse balançando o cigarro.
- Ah, dizem isso é? – indaguei sorrindo torto. – E o que mais dizem, posso saber?
- Eu posso dizer... Se você vir aqui. – ele disse. – Vamos, eu não mordo. Só quero conversar.
- Ah claro. – disse. – Então porque não vem aqui em cima?
Ele levantou o cigarro.
- Matar aula não é a única regra que eu estou burlando no momento. – ele disse. – Mas pretendo quebrar outras regras logo.
- Ah é? Quais seriam? – perguntei levantando uma sobrancelha.
Eu sei, eu não deveria provocar mas isso é tão divertido que eu não resisto.
- Venha quebra-las junto comigo. – ele disse. Sorri.
- Você me convenceu. – disse descendo da arquibancada e arrodeando até onde ele estava.
- Quer? – ele disse me oferecendo o cigarro.
- Não curto. – disse.
- Então você ficou com o Percy na festa? – ele perguntou sem rodeios.
- E você sempre gosta de ser voyeur? Espiar os outros é excitante? – rebato.
Ele ri.
- Você é impossível. – ele disse e ficou sério. – Eu quero um beijo seu.
- Todos querem. – disse dando de ombros. – Porque você deveria ganhar?
Ele sorriu.
- Você ficou com o Percy. – ele disse simplesmente.
- E? – indaguei.
- Quer que todos saibam? – indagou.
Gargalhei. Thalia estava certa.
- Está me ameaçando, Nakamura? – disse encarando-o maliciosamente.
- Interprete como quiser. – ele disse se aproximando.
- Então se eu não te beijar, você vai espalhar que eu fiquei com o Percy, é isso? – disse enquanto ele colocava a mão na minha cintura.
- Isso. – ele disse. O cheiro de cigarro estava impregnado em seus lábios.
- Então eu deveria te beijar, certo? – indaguei roçando meus lábios nos dele.
- Sim. – ele disse sussurrando.
Então fiz a coisa que ele menos esperava naquele momento: dei um chute no meio de suas pernas. Ethan caiu no chão urrando de dor e segurando suas bolas.
- Nunca ouse me ameaçar de novo moleque. – disse e dei um chute no seu estômago com a perna boa.
- Vadia. – ele gemeu. – Você vai se arrepender por isso.
Dei as costas a ele.
- Não vai ser a primeira coisa de que me arrependo. – disse e o deixei ali.
Manquei até o outro lado da quadra, sentei na arquibancada e voltei a terminar de fazer a minha tarefa. Senti que pequenos olhos fuzilavam as minhas costas.
Coloquei a minha caneta na base superior do caderno e me voltei ao olhar se uma Bianca furiosa.
- Você não tem vergonha?
- De quê? – disse eu olhando ao redor. – Do que eu deveria ter vergonha?
- De ser uma prostituta? De ficar dando em cima de todos os garotos?
- Primeiro, eu não sou uma prostituta, porque elas pedem pagamento pelo que fazem e eu apenas faço o que faço por diversão e em segundo, eu não fico dando em cima de todos os garotos. Pelo menos não agora.
- Você é uma prostituta vadia! – gritou ela.
- Minha querida, existe uma grande diferença entre ser vadia e prostituta, como eu lhe disse...
- EU NÃO QUERO SABER A MERDA DA DIFERENÇA, SÓ QUERO QUE VOCÊ MORRA! – A voz de Bianca subiu a um oitavo.
Agora todos que estavam na quadra as olhavam.
- Eu também queria morrer, acredite, mas suicídio não faz o meu estilo. – respondi com calma e indiferença.
- Vaca. – Bianca tremia de raiva.
- Pode dizer o que quiser, nada vai me ofender. – disse dando de ombros. – Mas você deveria se sentir ofendida de gostar daquele moleque, ele não presta.
E jogando a bolsa por cima do ombro, peguei o meu caderno e saí daquele lugar.
Horas mais tarde eu estava saindo da minha última aula quando um garoto meio albino veio falar comigo.
- Oi, você é Annabeth Chase, certo? – o garoto indagou meio tímido.
- Às vezes sim. – brinquei. – Quem é você?
O pescoço dele ficou vermelho.
- Sou Jorge Bernawell. – ele disse estendendo a mão. – Sou do primeiro ano.
Apertei a sua mão. Ele pigarreou e me estendeu dois papéis.
- Disseram pra entregar isso pra você. – ele disse.
Peguei os papéis da mão dele e li o papel de cima. Detenção. Ótimo Annabeth. Teria que limpar algumas salas amanhã de noite.
- Segunda semana e já estou na detenção, não é legal? – disse revirando os olhos. Jorge sorriu tímido.
O segundo papel era um bilhete. A caligrafia era forte e um pouco floreada. Senti as minhas mãos tremerem.
‘’Ficaremos juntos em breve. G.’’
- Está tudo bem? – Jorge perguntou percebendo o meu nervosismo.
Fiz um grande esforço pra sorrir e acenar.
- Bem, nos vemos por aí. – disse e sai correndo.
Corri para o meu quarto e me escorei na porta. Thalia e Bianca não estavam no quarto então cedi de joelhos no chão e chorei.
Eu não iria aguentar isso por muito tempo, sabia disso. Achei que aguentaria e conseguiria evitar, que fugir dele seria fácil, mas não é, ele está me perseguindo.
Eu não posso fugir. Se eu fugisse ele me encontraria de alguma forma. E seria pior.
Tirei a camisa do uniforme e coloquei na boca. Gritei até minha garganta arder.
Uma ideia surgiu na minha mente. Eu poderia voltar pra casa. Poderia ficar bem lá, apesar das regras de Atena e de Frederick. Eu posso lidar com eles.
Esperançosa, peguei o meu celular no fundo da mochila e o liguei. A cada segundo que passava a ideia ficava mais fixa na minha mente e parecia mais real.
Disquei o número de casa. Tocou oito vezes e foi pra caixa postal. Desliguei e liguei de novo. Minha esperança diminuía a cada toque não atendido.
- Alô. – Frederick atendeu.
- Sou eu. – disse caindo em lágrimas. – Sou eu.
- Annabeth, é você? – ele perguntou com a voz meio enrolada.
- Sou eu. – repeti com a voz embargada em lágrimas.
- Não é proibido usar celular na escola? – ele perguntou rindo. – Você não consegue seguir as regras né garota. Está bem aí?
- Não, não estou bem. – disse descontrolada. – Eu quero voltar pra casa, pai. Ele está me perseguindo. Ele me espancou e me estuprou de novo. Eu não aguento mais pai, eu quero sair daqui, me tira daqui por favor.
- Mas e como eu fico? – ele perguntou meio enrolado. – Você não é a única em perigo, querida.
Senti a pouca esperança que sobrara se tornar poeira.
- Você está drogado? – perguntei inexpressiva.
- Nããão. – ele disse e riu. – Eu parei com isso.
Soquei o chão com toda a minha força e senti minhas articulações doerem.
- Onde está Atena? – perguntei.
- Por aí. – ele disse rindo. – Vou desligar, beijo filha. Papai te ama.
E então ele desligou.
Não sei se fiquei parada olhando pro nada por 1 segundo ou 1 hora. Sabia que logo as meninas chegariam então levantei do chão e coloquei outra roupa. Lavei o rosto, sentei na cama e comecei a fazer os exercícios de química.
Não poderia sentir nada. Não poderia pensar. Não haveria solução.
Concentrei-me nos exercícios pra esquecer tudo o que estava sentindo.
Minutos depois Bianca entrou no quarto e me lançou um olhar fuzilante. Mais um problema.
Mas esse era mais fácil de resolver.
Afastei os livros e olhei pra ela.
- Bianca. – chamei-a. Ela não olhou pra mim.
- Você está certa, eu sou uma vadia. – disse. – Me desculpa.
Ela olhou pra mim.
- Você andou chorando? – ela perguntou. A raiva em seus olhos suavizou.
- Não. – menti desviando os olhos.
- Você está mentindo. – ela disse me encarando.
- Mas não menti quando disse que não quero nada com o Ethan. – disse.
Ela franziu os lábios.
- E o que foi aquilo que eu vi na arquibancada? – ela perguntou desconfiada. – Vocês estavam quase se beijando.
Sorri pro chão.
- As aparências enganam. – disse melancolicamente. – Ele estava me ameaçando.
Bianca sorriu incerta.
- Porque ele te ameaçaria? – ela perguntou levantando uma sobrancelha com ceticismo.
Hesitei antes de responder.
- Porque ele sabe algumas coisas sobre mim que eu não quero que ninguém saiba. – disse olhando-a nos olhos.
Ela pensou por um momento.
- Você é cheia de segredos, né? – ela disse fazendo uma sugestão de sorriso.
Não respondi.
- Eu te desculpo. – ela disse simplesmente. – Mas não vou confiar em você.
Assenti duas vezes.
- Tudo bem. – disse e deitei na cama virando na direção oposta a ela. Ouvi um farfalhar de roupas e a porta sendo aberta.
Fiquei deitada olhando o céu pela janela. O dia estava acabando e a noite chegava lentamente. Thalia entrou no quarto quando a primeira estrela apareceu no céu.
- Tá acordada? – ela perguntou sentando na cama.
- Estou. – disse sem tirar os olhos da estrela.
- Bianca disse o que houve. – ela disse. – Ela estava preocupada porque você parecia triste.
- Eu estou bem. – respondi depois de algum tempo.
Thalia suspirou.
- E você é sempre emo assim? – ela brincou. – Vamos lá, diga o que aconteceu.
Hesitei antes de responder. Sentei na cama e dei de ombros.
- Saudades de casa. – disse, o que não era mentira.
Thalia bufou.
- Não é só isso. – ela adivinhou. – Pode confiar em mim, seu segredo está salvo. Palavra de escoteira.
- Você não é escoteira. – disse sorrindo um pouco.
- Certo, eu juro pela minha honra e por todos os cd’s que eu tenho que eu não contarei pra ninguém seja lá o que está acontecendo com você. – ela disse levantando a palma da mão.
Sorri.
Por um momento pensei em contar tudo pra ela. Mas isso seria arriscado demais. Eu não poderia colocar a vida de Thalia em perigo.
- Eu liguei pra casa e meu pai atendeu. – disse simplesmente. – Ele estava drogado.
- E isso te incomoda. – ela deduziu. Assenti.
- Meu pai também tem esses vícios. – ela confessou. – Eu faço de tudo pra esconder isso de Jason, mas às vezes é impossível. Meu pai não é muito discreto, sabe? E Jason é bem esperto.
- Deve ser difícil pra você também. – disse.
- Era. – ela disse dando de ombros. – Agora é só uma questão de não deixar o Jason saber. Ainda bem que só preciso me preocupar com isso nos fins de semana, ele também estuda em um internato.
- Obrigada por me contar. – disse sorrindo pra ela.
- Sem drama sentimental. – ela disse revirando os olhos. – Vou encontrar o pessoal lá no muro, vamos?
- Eu não sei... – disse apontando para os livros ao pé da cama. – Muito dever de casa.
- Quem se importa? – ela disse bufando. – 2 minutos pra colocar algo decente.
Sorri e fui trocar de roupa.
Coloquei um short jeans rasgado, uma meia calça grossa, blusa de manga comprima preta pra me afugentar do frio e meu antigo tênis.
Thalia e eu nos esgueiramos pela escola e Thalia nos conduziu por um caminho totalmente diferente. Minutos mais tarde, Thalia e eu estávamos sentadas na grama encostadas ao muro da escola.
Percy e seus amigos estavam sentados a nossa frente falando algo que eu não me interessava.
- Vamos fazer um jogo? – perguntou Thalia depois de um tempo.
- Se for verdade ou desafio, estou fora. – respondi.
- Não é verdade ou desafio, é o jogo do “beba”.
- Nunca ouvi falar. – disse.
- É assim, a gente vira uma garrafa e uma pessoa vai falar algo sobre você, se ela estiver errada ela vai ter que dá um gole na sua bebida, quem acabar de beber primeiro, perde e terá que pagar algum desafio.
- E como a pessoa vai saber se ela está errada ou não?
- A gente avalia as emoções da pessoa de acordo como a sentença cai sobre ela. Todos sabem fazer essa brincadeira, somos especialistas em ver as reações das pessoas.
Avaliei o jogo por um momento. Bem, que mal poderia acontecer? Eu sabia esconder as minhas emoções, ninguém as ultrapassaram antes, e não seria hoje que a ultrapassariam.
- Tudo bem.
Fizemos um circulo e Thalia começou a girar a garrafa.
- Eu começo. – Thalia disse e passou a garrafa pra Percy. – Você têm uma paixonite pela Annabeth desde que descobriu que o que tem entre suas pernas não serve só pra mijar.
Percy franziu os lábios e eu ri.
- Beba. – ele disse de cara fechada. – Isso não é verdade.
Thalia revirou os olhos e bebeu um grande gole da garrafa.
- Mas todos sabemos que você está mentindo. – ela disse girando a garrafa de novo.
Dessa vez parou na Bianca e no Luke.
- Você quer transar com o Ethan. – Luke disse dando um gole na garrafa e passando a garrafa pra Bianca que corou como um camarão.
- Isso não é verdade. – ela disse e bebeu da garrafa.
- Safadinha. – Thalia comentou rindo.
Bianca ainda não estava falando comigo, mas parecia que não estava com ódio de mim, o que era algo bom.
Thalia rodou a garrafa de novo e ela parou em mim e adivinhem em quem? Se você pensou no Percy, é claro que você acertou.
Percy sorriu maliciosamente pra mim.
- Ora, ora, ora. – Thalia disse tornando a garrafa com bebida em sua boca. – Isso vai ser interessante.
Percy me encarou enquanto eu mantinha o meu rosto impassível.
O que será que ele estava pensando? Olhos cinzas encaravam olhos verdes, e se manteve assim até Thalia pigarrear.
- E ai?
- Calma. – respondeu Percy.
Revirei os olhos.
- Você tem esse jeito revoltado porque teve algum problema na infância e culpa a sua mãe por isso por ela não ter prestado atenção em você.
Tentei manter o rosto impassível, mas a raiva já me dominava, como ele era capaz de dizer isso? Como ele chegou a essa conclusão?
- Beba. – disse entre dentes.
- Tem certeza? – desafiou ele.
- Eu disse pra você beber.
Percy virou a garrafa mas não tirou os olhos dos meus.
- Para a sua informação, eu sou assim porque eu quero ser assim.
E sai na roda. Sentei-me longe do grupo e mais tarde eu e Thalia dividíamos nossas garrafas de vodka.
- Você ainda é virgem, Annabeth? – perguntou ela baixinho.
- Não.
- Se eu errar, mande eu virar a garrafa, certo?
Sorri em resposta.
- Você perdeu a virgindade ainda nova e se revolta por isso.
Dei um longo gole.
Thalia me encarava um pouco pasma.
- Aos oitos anos. – disse eu mais tarde.
Já no dormitório, Thalia vomitava no banheiro e eu estava jogada em cima da cama.
- Annabeth – chamou-me Thalia. – Porquê você não disse para eu beber quando eu disse aquela afirmação? Porquê você não quis a esconder?
- Estou tentando confiar em você, escoteira.
Thalia soltou uma risada fraca e eu acabei dormindo logo depois, entrando em meu mundo de terror particular.
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Beijos da mila