“Você é gorda! Você é gorda! Você é gorda!”

“Ele não gosta de garotas feito você.”

“Luca nunca iria se interessar por uma garota ridícula, favelada e da roça metida a besta feito você.”

De novo esses pesadelos, justo com as vozes dessas frufrus. Mas é verdade tudo que e me disseram. Por que eu não consigo ser como elas? Lindas e magras, elegantes, divas. Fiquei acordada na cama pensando no que tinha acontecido no aniversário da Magá. Hoje no colégio vai ser um dia daqueles. E o motivo das fofocas: novamente a querida aqui.

Não esperei as meninas para irmos juntas ao colégio, preferi ir sozinha com meus pensamentos. Quando cheguei na portaria dei de cara com Luca. Ele estava sério, mas eu não queria papo com ninguém logo cedo, nem com ele.

– Isa espera. Eu queria conversar com você sobre a festa da Magali.

– Por favor Luca, depois a gente conversa. Hoje eu não to pra ninguém. – disse, saindo e quando cheguei à sala, me sentei e deitei na carteira. Escutei Luca entrando e ele falando com as meninas que eu estava com dor de cabeça. Ai Luca, obrigada por se importar comigo, mas eu não mereço. Eu gosto do meu melhor amigo que ama outra, e você não pode se prender a mim dessa forma. Você merece alguém melhor e mais sincera.

–Isa, você tá bem mesmo? Ela tá meio pálida. – escutei a Maga perguntando pro Luca.

– To bem, sim, só cansada, Magali.

Durante o tempo em que os alunos iam entrando na sala eu fechei meus olhos e só escutava zumbidos. Quando o professor Rubens entrou para aplicar a prova – droga tinha me esquecido dessa prova - eu pedi a ele para beber um pouco de água antes de começar a fazê-la. Estava terminando a prova e de repente senti uma tontura, fraqueza, não conseguia enxergar a prova direito e continuava escutando zumbidos. Assim que terminei a ultima questão (que eu tinha marcado qualquer coisa) eu me levantei e só me lembro de ter entregado a prova ao professor.

* na enfermaria

– O que estou fazendo aqui?

– Finalmente acordou. – disse Cebola, me olhando aliviado- você nos deu um susto.

– Eu ... eu desmaiei na sala?

– Sim, a enfermeira disse que você teve uma queda brusca de pressão. E que parece que você não se alimentou direito.

– Eu não tava com vontade de tomar o café da manhã.

– E nem jantou ontem né? – disse, como se estivesse me dando uma bronca e se sentando ao meu lado.

– Como você sabe disso? Por acaso tem uma bola de cristal na mochila?

– Nós ligamos pra sua mãe, ela disse que você saiu sem nem falar direito com ela e que ontem deitou cedo, sem ter jantado.

– Eu estou triste Cê, de um jeito que eu nunca estive antes. Nem comer mais eu tenho vontade.

– Pois vai comer nem que seja á força. A Mônica ta trazendo um lanche bem potente pra você, e se não comer vamos enfiar a comida goela abaixo.

– he he he he he he ... só você pra me fazer dar umas risadas. –disse isso abraçando-o. Ai como sentia falta desse abraço gostoso, cheiroso, confortável e carinhoso. Como é possível ele abraçar tão bem? E eu caber direitinhos nos braços dele, encostando minha cabeça em seu peito...

– Desculpe interromper mas eu trouxe o café dessa mocinha.- eu abri os olhos e vi o Luca! Mas não era a Mônica que tinha que trazer o café?

– O que você ta fazendo aqui, Luca? Cadê a Mô? – perguntou Ce, irritado.

– É meio complicado, mas depois ela vai vir aqui ver você Isa.

– Vou lá ver se ela precisa de alguma coisa, se cuida meu docinho. - Cebola me deu um beijo na testa e saiu.

– Isa você ta assim por causa do que aconteceu na festa não é?

– Luca, eu não sei, são tantas coisas que estão passando pela minha cabeça agora.

– Eu sei o que as meninas falaram de você. Mas eu não me importo com nada disso. Te acho linda, divertida, carinhosa e eu gostaria muito de ficar com você. – de repente nossos olhos se encontraram e eu tive uma vontade irresistível de terminar aquele beijo que o Cebola interrompeu. – mas agora ta na hora de você comer alguma coisa, sua maluca.

– Tudo bem, você pode me dar a maçã? – e quando ele me entregou eu toquei sua mão macia. Fui me aproximando mais dele e quando percebi estávamos nos beijando. Ele ficou um pouco assustado, mas se entregou ao beijo que queríamos muito. Foi uma sensação maravilhosa àquele beijo.

– Eu não devia ter feito isso, me desculpe. – disse morrendo de vergonha.

– Eu queria esse beijo à muito tempo.

– Luca você pode me deixar sozinha? Eu prometo comer tudo isso aqui. Só preciso pensar.

– Eu entendo Isa, você sabe que eu te dou todo tempo do mundo. – ele me deu um selinho e saiu.

Oh meu Deus, eu acabei de beijar o Luca. E foi eu que tomei iniciativa. Isa você está começando a ficar muito pra frente. Nossa que beijo bom, ele é tão fofo, e seu beijo delicado, parece um príncipe de contos de fadas. E seu cheiro amadeirado, não tinha reparado nisso antes. Quando ele segurou meu rosto parecia que não queria me deixar ir embora. Ai ai ai... eu estou me apaixonando por ele, será?

Eu fiquei na enfermaria ate o recreio, e a diretora me liberou para ir embora, mesmo eu jurando que havia comido tudo e estava me sentindo bem. Meu pai veio me buscar e quando cheguei em casa fui obrigada a comer mais uma bandeja cheia de frutas e um sanduíche natural. Minha mãe ficou super preocupada e até inventou de me levar a um medico. Depois disso fiquei sem ir na aula durante uns dois dias. Meus pais são neuróticos, e aproveitei esse tempo para ir ao medico e fazer exames. Ninguém merece e isso tudo no mesmo dia. Fiquei pensando muito no Luca e no Cê.

Quando foi na quarta feira, o Cê veio me ver e trouxe uma cesta de frutas. Já não to agüentando mais ver frutas. Affe.

– Meu docinho eu quero saber como você ta. – disse todo preocupado.

– Cebola não agüento mais ver frutas e o que você me traz é só isso.- cruzei os braços, fingindo estar zangada, como ele faz comigo.

– Se eu te trouxesse bombons sua mãe não ia nem deixar eu entrar na sua casa.

– É mesmo, perigoso ela jogar os bombons na sua cabeça. Hehehehehehehe. Cê eu quero te perguntar uma coisa: o que você acha do Luca?- ele ficou surpreso quando perguntei logo de cara.

– Ora Isa ele é um cara legal, gente boa. Por que a pergunta?

– Ele me pediu em namoro.

– Eu já suspeitava. Mas por que você ta perguntando isso pra mim? Por que não conversa isso com as meninas?

– Por que você é meu melhor amigo e quero uma visão masculina da situação. Além do mais as meninas vão vir hoje me atualizar das fofocas do colégio e eu converso com elas.

– Bom Isa se você gosta mesmo dele então aceite o pedido. Ele é gente fina, como disse antes.

– Obrigada Cê, eu precisava saber sua opinião. – ele estava com os olhos tristes, não sei por que mas eu o abracei forte, como se ele fosse embora e nunca mais eu o veria.

– Isa eu...- então ele pegou no meu rosto e me encarou com um olhar de desejo. Minhas borboletinhas dançavam e pulavam de alegria em meu estômago. Eu não acredito que o Cebola também gosta de mim desse jeito, é bom demais para ser verdade. Ele quer me beijar. Ele vai me beijar, isso é tudo o que mais quero desde que o vi correndo em minha direção aquele dia. Quando eu estava com a Monica. Oh meu Deus, eu não posso fazer isso com ela. É a minha melhor amiga e meu melhor amigo. Ele colocou a mão em minha nuca. Estremeci mais ainda. Não posso traí-la.

Eu abaixei a cabeça e ele beijou minha testa. E de repente ele me olhou primeiro espantado com minha reação, depois ficou sem graça e se afastou.

– Espero que dê tudo certo entre vocês dois. – ele disse cabisbaixo e foi embora.

Ai o que eu faço agora? O Cebola ia me beijar. Eu tenho certeza disso.

– Isa, você ta viajando no Luca é? – perguntou Magá, entrando no meu quarto com a Monica.

– Oi meninas, eu tava pensando numas coisas. O Cê disse pra mim o que acha dele. E até desejou que desse certo.

–Então menina se joga, o Cê o conhece, sabe do que ta falando. – Mô disse, tentando me alegrar- vamos te atualizar das fofocas e trouxemos os deveres dos professores.

– Senhorita Monica, por que você não foi na enfermaria e pediu o Luca que levasse a bandeja?

– Você acredita que aquelas nojentas falaram coisas de você? Isa eu não aceito que falem mal dos meus amigos e dei umas boas lições naquelas três bruxas.

– O que você fez?- Perguntei curiosíssima.

– Eu simplesmente derramei toda a bandeja que a Magá tinha preparado pra você na roupa delas.

– Sim, uma vitamina de banana com aveia e mel, uma salada de frutas e um sanduíche natural. – respondeu Magali, se lamentando pelo lanche destruído.

Passamos a tarde toda conversando e estudando, mas não me saía da cabeça que o Cê quase ia me beijar. Se passaram alguns dias depois disso e eu fui com minha buscar meus resultados dos exames.

Fomo ao medico e ele me disse algo péssimo. Eu tenho hipotiroidismo, uma alteração na glândula tireóide, que o medico disse que alem de outros sintomas causa ganho de peso. Mas eu não me importo mesmo com meu peso, ter 10 quilos a mais do que ele falou não é grande coisa e ele me passou um tratamento para eu não ter outras doenças e me alimentar melhor. Depois que saí do medico fui com minha mãe comprar varias coisas saudáveis. Só vou poder ver doces no fim de semana. Muito triste isso. Mas se é para minha saúde tudo bem.

Eu estava sentada vendo a turma jogar vôlei já que eu não sei jogar e o Luca apareceu do meu lado. Ficamos conversando muito tempo sobre esportes e vídeo games. Eu percebi que tinha muitas coisas em comum com ele. Quando estamos juntos parece um conto de fada, porque ele é um doce de menino, super delicado e atencioso.

Eu olhei para a quadra e vi o Cebola jogando. Ele estava tão lindo, de regata preta. Pulando e jogando como um craque no vôlei. Me lembrei daquele “quase beijo” com ele no meu quarto. Ele mexe muito comigo, diferente do Luca. Como se fosse algo mais carnal, não sei explicar. Mas ao mesmo tempo ele tem gestos de alguém apaixonado, como meu ex. quando tocou meu rosto, e colocou sua mão em minha nuca, sabia que seria um beijo. De repente eu vi ele olhando pra Monica e acenando. Aquele sorriso sincero que ele nunca mostrou para mim.

Luca pegou minha mão e disse:

– Isinha, você ta me ouvindo?

– Luca eu viajei aqui, o que você disse?

– Não é importante não. Deixa pra lá.

– Eu quero saber.

– Tudo bem então, mas você pode chegar mais perto? É um segredo. - Eu me aproximei dele, ficamos bem próximos. – Eu estou fazendo um esforço quase sobrenatural para não te dar um beijo, mas não sei se posso resistir mais. – ele tocou meu rosto com uma das mãos e a outra ele colocou em minha nuca. Suas mãos estavam frias e isso me deixou arrepiada ao mesmo tempo em que minhas borboletas bateram asas freneticamente. Fechei meus olhos e sabia que iria mergulhar no beijo apaixonante e doce dele. Me senti feliz por estar com um garoto que me dê atenção e seja super fofo e carinhoso comigo.

– Luca eu ficar com você. – disse quando no separamos.