Finalmente eu peguei meu boletim e fiquei super feliz com o resultado: tinha tirado muitas notas boas, apenas em Matemática eu quase fiquei de recuperação, mas se não fosse pelo baile dos namorados eu não teria conseguido. Meus amigos todos conseguiram passar e isso significava férias na minha fazenda. Eu já estava imaginando curtir muito com todos eles, mesmo quase todos namorando.

Saímos cedo na segunda feira e ficamos o dia todo dentro da van que o Franja alugou para irmos. Estavam o Cas, Cê, Monica, Aninha, Titi, Cascuda, Marina, Do Contra, Nimbus e Xaveco. O resto da turma teve outros compromissos e a mãe da Magá não deixou ela ir com medo da gravidez. Chegamos bem á noitinha, minha avó já tinha preparado os quartos: meninas em um e meninos em outro.

- Nossa como aqui é bonito Isa. Adorei. Vou fazer muitos desenhos dessa paisagem. – Marina enchia os olhos com as serras e as plantas da fazenda.

- E eu quero andar nas trilhas que voce disse, quem sabe não fazemos rafting ou algum outro esporte radical.

- Não tem nada disso aqui Cascão, só um rio, uma cachoeira pequena de um metro mais ou menos e muitos bichos que voces vão ajudar a cuidar.

- Tudo bem, eu invento algo maneiro.

- Eu não quero fazer nada.

- Mas voce tem que ajudar DC.

- Deixa, Monica, se ele não quer fazer nada nem devia ter vindo então. – Cebola disse com a cara amarrada.

- Opa, Isa o que precisar e só me chamar heim? – Do Contra falou todo empolgado, deixando o Cebola irritado.

- Meninada vamo entrando e se arrumando pra jantarem, depois voces conversam que já tá escurecendo – minha avó chegou na varanda chamando todos para entrarem e nos arrumarmos. Depois de jantarmos minha avó contou algumas historias de família para a turma.

Nos dias seguintes nossa rotina foi cuidar dos cavalos e bois, ajudar na horta, colher frutas, preparar a comida, de tarde íamos no rio, andávamos á cavalo e de noite conversávamos na varanda. Eu estava com a Monica terminando de lavar umas verduras quando ela tocou no assunto:

- Isa voce ainda gosta do Luca?

- Nossa Mo, me pegou de surpresa. Não sei, por quê?

- Eu acho que o namoro dele com a Carminha não anda muito bem. Ouvi algumas coisas.

- Que tipo de coisas?

- Foi no dia do Baile, eu estava com o Cebola na pista e decidimos dar uma volta. – ela ficou meio sem jeito de dizer que eles estavam dando uns amassos- e eu os vi discutindo sobre algo que ele fez. Tinha a ver com uma flor.

- Bom, ele me deu uma rosa no dia do baile, mas eu não aceitei.

- Então era isso. Mas parecia ter sido algo mais.

- Será que foi ele que me mandou o bilhete?

- Que bilhete?

- Fomos ao quarto e eu peguei o bilhete que tinha guardado na agenda. Ela leu e ficou impressionada com a declaração de amor que havia nele.

- Eu fiquei tão preocupada com as notas que nem lembrei desse bilhete.

- Não foi o Do Contra não amiga?

- Não é do tipo dele fazer isso, alem do mais ele gosta de outra garota. Somos apenas amigos.

- Então por que ele sempre diz que estão namorando?

- Por que a garota que ele gosta tá namorando.

- E quem é, posso saber?

- Monica eu não posso dizer. E estamos falando de mim aqui. Voce acha que esse bilhete foi feito pelo Luca?

- Pelo que diz aqui sim. Diz que sente falta sua, que não podem ficar juntos e tal.

- Mas se ele sentisse mesmo minha falta ele não teria começado a namorar com a Carminha pouco tempo depois dele me pedir um tempo pra pensar.

- E por que ele pediu isso? Nunca consegui entender. – eu me lembrei do Cebola e dos meus sentimentos por ele. A Monica não poderia saber disso nunca, seria uma traição.

- Por que ele estava confuso.

- Quem está confuso? O DC? Aquele ali é doido de pedra. – Disse Cascão entrando no quarto junto com o Cebola.

- Ei mocinhos, esqueceram da regra da minha avó? Meninos não entram aqui.

- Ela tá com as meninas mexendo nas roseiras. Vão ficar a tarde toda lá. Mas me contam sobre o que as senhoritas estavam falando? – Cê perguntou me olhando, interessado no assunto.

- Nada não, só...

- A gente ta tentando descobrir quem enviou um bilhete apaixonado pra Isa no Baile dos Namorados. Eu acho que foi o Luca. – nesse momento o Cebola ficou inquieto. Nossos olhos estavam se encarando e de repente ele desviou o olhar, e eu não entendi por que dele ficar daquele jeito.

- Sério véi? Que da hora. Deixa a gente ver Isa.

- Cascão, não vou mostrar nada. Vamos voltar ao trabalho. – eu falei isso e guardei o bilhete no fundo da mala, para que ninguém mexesse.

No fim de semana havia uma festa na cidade que nasci e morei, que ficava uns três quilômetros da fazenda da família. Conversei bastante com meus avós e eles deixaram a gente ir. Nos arrumamos e fomos com o Franja dirigindo a van. Chegamos lá estava exatamente como me lembrava: havia muitas barraquinhas ao redor da praça com bebidas, comidas típicas e brincadeiras para as crianças. Toda a renda da festa ia para a Igreja que ajudava os mais pobres da cidade.

- Isinha amiga, como voce tá? –uma grande amiga minha, Karol, veio me abraçando.

- Ei amore, eu to ótima, e voce? Turma essa é Karol, uma grande amiga minha. Crescemos juntas aqui na cidade.

Todos a cumprimentaram. Ela é morena de cabelos ondulados escuros e usa óculos, o que aumenta sua timidez. Percebi que o Nimbus olhava fixamente para ela.

- Então amiga, que bom que voce veio, precisamos de gente pra distrair as crianças. Elas estão muito agitadas e esse ano não conseguimos alugar muitos brinquedos.

- Oras, podemos ajudar. Quem topa?

- Acho que eu posso ajudá-la, senhorita – Nimbus se pôs á frente e pegou a mão esquerda de Karol, a beijando como um cavalheiro - que tal um show de mágica?

Ela abriu um sorriso enorme e o levou para junto das outras meninas que estavam encarregadas de ajudar na decoração. Elas montaram um pequeno palco, que era usado para um teatrinho, e eles foram arrumar o show de mágica para de noite.

Enquanto isso os casais iam se afastando, conhecendo a cidade e a festa. Sobraram o Do Contra, Xaveco e eu, andando pela praça. Depois de algum tempo encontramos uns ex- colegas meus que fizeram grande amizade com o Xaveco e ele foi ajudá-los na montagem de um show da banda deles. Eu suspeitei que ele foi para deixar o DC e eu sozinhos, já que ele também acreditava que estávamos namorando.

- DC, a Monica sabe que voce gosta de alguém.

- O que? Voce disse que era ela?

- Claro que não, não sou fofoqueira. Mas voce tem que dizer a ela.

- Pra que? Ela tá com o Cebola.

- Eu sei. Não deveria ter dito isso.

- Princesa, eu não quero destruir um lar. Nem voce.

- Eles não são casados DC.

- Voce entendeu.

- O bilhete que te mostrei aquele dia, acredita mesmo que possa ter sido do Luca?

- Sim e não.

- A Mo acha que é dele. – eu expliquei a conversa que tivemos sobre o bilhete.

- Mas ela não sabe que voce e o Cebola se beijaram.

- Droga, DC, por que eu fui gostar dele? Era tão mais fácil quando eu namorava o Luca, a gente se dava tão bem e eu não tinha esse sentimento ruim dentro de mim toda vez que pensava no Cê.

- Por que a vida não é fácil. Nem o coração.

Nesse momento o Do Contra me abraçou. Eu respirei fundo umas três vezes querendo não chorar, mas quando fechei meus olhos as lágrimas começaram a rolar  meu rosto. De repente eu senti um forte puxão e um vazio em minha volta. Quando abri os olhos vi o DC no chão com um garoto enorme o socando violentamente.