Bom eu acho que devo começar essa história explicando um pouco sobre mim. Meu nome é Isadora, mas prefiro que me chamem de Isa. Tenho 16 anos e me mudei há poucos dias para outra cidade, deixando amigos, escola e meu primeiro namorado, que amei muito. Decidimos dar um tempo, pois com minha mudança para São Paulo e ele em Minas Gerais ficaria muito difícil nossa relação à distancia.

Quando cheguei no bairro do Limoeiro, me encantei com minha casinha nova, pequena, mas com um quintal enorme e cheio de árvores e plantas, que me lembrava minha antiga casa. Meus pais e eu ficamos muito felizes com o bairro que era tranqüilo e durante os dias em que arrumávamos a casa, percebi que tinha duas vizinhas que pareciam ser super amigas. Eu decidi levar para elas um doce de leite que eu havia feito.

- Oi tudo bem? Me mudei faz alguns dias e, como moro do lado da sua casa eu resolvi me apresentar. Me chamo Isa...Eh.. eu percebi que a senhora tem uma filha mais ou menos da mesma idade que eu e queria conhecê-la.

- Oi querida, mas que gentil da sua parte me trazer esse doce, me chamo Luiza e minha filha se chama Monica, ela está na pracinha conversando com a Magali... Você pode ir lá, ela está com uma blusa vermelha.

- O...obrigada.

Então eu fui morrendo de vergonha, me encontrar com a Monica e sua amiga. Elas estavam sentadas debaixo de uma arvore conversando animadas.

- O...oi tudo bem? Você é a Monica ne? Eu conversei com sua mãe e ela me disse que estariam aqui, me chamo Isa e me mudei pra casa da esquina.

- Oi Isa, essa é a Magali, somos super amigas desde infância.

- Oi Magali tudo bem?

- Tudo ótimo, me diz de onde você é?

- Sou de uma cidade que fica mais ou menos perto de Belo Horizonte, umas 7 horas de viagem de carro.

- E você vai estudar no mesmo colégio que a gente né? Porque é o melhor colégio daqui. Os outros são muito longes também.- Disse a Monica.

- É claro que sim, e tomara que a gente fique na mesma sala. Aliás esqueci de perguntar qual a idade de vocês?

 - A Monica tem 16 e eu faço no final do mês que vem. É claro que você já está convidada.

- Ei meninas por que não continuamos essa conversa na sorveteria? Estou morrendo de calor. – disse a Monica com os olhos brilhando. Percebi que ela teve essa idéia quando me virei e vi dois rapazes entrando na sorveteria.

* Na sorveteria

- Eu vou querer ...hum... de morango, abacaxi, pêssego, goiaba... todas as frutas que tiverem.

- Ei Magali, desse jeito você vai acabar com todos os sorvetes.- brinquei com ela.

- Pois é Isa, você não sabe como a Magá é comilona.

- É claro que não. Eu simplesmente A-D-O-R-O sorvete, mas se vocês não perceberam eu escolhi só os sabores de fruta, pois são os que contém menos calorias. – justificou a Magá, como a Monica a chama.

- E aí Monica, não vai querer de amendoim não? – disse uma voz melosa e enjoada atrás de mim.

Quando me virei para ver quem dizia, meus olhos se espantaram com a beleza da garota. Ela era loira, com os cabelos na cintura e grandes olhos azuis. Pensei que se tratava de uma artista, por ser tão bonita e bem arrumada. Perto dela estavam duas garotas, também muito bonitas. Uma de cabelos castanho claros meio ruivos com uma maria chiquinha e com jeito de repórter e a outra com cabelos lisos e pretos, parecia uma modelo dessas que a gente vê com problemas alimentares de tão magrinha, coitada.

- Por que eu escolheria o sabor de amendoim?

- Oras, não são os preferidos dos elefantes? Há há há há há há há há há há. – e as outras duas riram junto, pareciam aquelas garotas malvadas dos filmes de Hollywood.

- Calma Mô, não dá trela pra Carminha e pra sua “gangue”.

- Ora sua loira oxigenada, eu escolho o sabor que eu quiser, sorte sua eu não estar com meu Sansão aqui se não... – de repente a Monica fingiu que não aconteceu nada, pegou seu sorvete ( de chocolate com bastante calda e granulado) e passou pelo “trio das belezas” como se elas nem existissem e se sentou na mesinha na varanda da sorveteria. Magali pegou o sorvete dela ( abacaxi com pedaços da fruta, sem calda por causa das calorias) e se sentou com a Monica.

- E você, “miss light”, vai pedir o mesmo que a dentuça, ou vai na onda da Magá saúde? - disse a loira, que me identifiquei como a tal Carminha.

- Pra sua informação eu não vou na “onda” de ninguém, eu escolho o que bem quiser e ninguém tem nada com a minha vida, mas se você quer tanto saber o que vou pedir, vai ser morango com maracujá acompanhado de bastante calda de leite condensado. Além de três casquinhas de cérebro com calda de boas maneiras pra vocês três, e não se preocupe querida, que eu pago com maior prazer. – quando disse isso os dois garotos que eu tinha visto entrando na sorveteria mais cedo, ficaram me encarando espantados com o que eu disse, como se a tal Carminha fosse uma deusa e que eu tivesse louca para falar assim.

Eu peguei meu sorvete e saí andando como se nada tivesse acontecido e o “trio das belezas” foram embora se sentindo indignadas com o que falei. Quando me sentei na mesa a Monica estava uma fera, mas a Magali conseguiu acalmá-la. Eu disse o que aconteceu e elas começaram a rir muito.

- Obrigada Isa por me defender. Eu não agüento aquela garota e suas capangas. Vivem fazendo fofoca e humilhando os outros para se sentirem superiores.

- Que isso Monica, eu faria isso por qualquer um, e além do mais vocês são minhas amigas. Minhas primeiras amigas nessa cidade nova.

- Você tem que conhecer a Marina, Isa. Ela é incrível e blá blá blá...- assim passei a tarde toda conversando com elas até escurecer.

Elas foram para suas casas e eu decidi dar mais umas voltas na pracinha, para conhecer melhor meu novo lar. Mesmo tendo conhecido duas amigas, me sentia excluída pois nem todo eram receptivos como elas. Algumas pessoas me olhavam como se eu fosse insignificante, ou uma completa extraterrestre que pousou no planeta errado. De repente eu ouvi uma voz de um garoto:

- Ei você de vestido verde. Posso falar com você um minuto? – quando me virei era um dos garotos que estava na sorveteria. Ele usava jeans e camiseta branca, que marcava seus braços fortes e seu peitoral e tinha um penteado bem diferente, mas charmoso.

- Oi tudo bem?

- Oi, eh, o que você quer falar comigo? – perguntei meio sem jeito, já que ninguém daquele bairro se aproximou para conversar comigo até o momento.

- Eu achei muito bacana o que você fez pela Monica, aquelas garotas são um saco, e quando querem, conseguem magoar feio.

- Ah, que isso, não foi nada. A Monica e a Magali são minhas primeiras amigas nessa cidade nova e eu não iria deixar uma garota mimada ofender ninguém que eu gosto.

- Então você que se mudou pro lado da casa da Monica né?

- Sim. Você é namorado dela?

- Na... namolado dela? Por que você acha isso? – notei que o garoto ficou muito nervoso quando disse isso, tanto que trocou até as letras.

- Eu vi você olhando pra ela. Pelo que eu percebi, pareciam que estavam juntos e que se gostavam muito.

- Eu sou só amigo dela. Desde criança. Ah desculpe eu não me apresentei, me chamo Cebola.

- Cebola ... que diferente. Eu me Chamo Isa.

 - Diferente bom ou ruim?

- Diferente bom, hehehehe. Especial. – quando eu disse isso ele ficou meio sem jeito.

- Especial... ( disse sussurrando) ...Bom, se você quiser eu te levo até sua casa, preciso passar na Monica pra entregar um cd que ela pediu que eu gravasse. E já ta ficando tarde pra uma garota da sua idade ficar na rua.

- E você também não? Pelo que eu to percebendo, parece ter mais o ou menos a mesma idade que eu. 16 anos.

- Como adivinhou? Bom não importa, eu sou homem e você é mulher. Não é perigoso pra mim. – disse sorrindo debochado.

- Tudo bem, senhor “eu sou homem e nada de ruim acontece comido durante a noite”. Mas depois não diga que eu não te alertei. Hum.

Ele me levou em casa enquanto conversávamos e foi para a casa da Monica. Me senti feliz de conhecer um garoto tão simpático, divertido e lindo. Mas sabia que ele gostava dela, mesmo ele dizendo que não.