A cena me fez ficar paralisada, entrei em choque ao ver as chamas tomarem minha casa.

Quando o fogo finalmente cercou as madeiras, eu senti cada momento que eu tivera ali sendo tirado de mim. Foi impossível evitar que uma maré de lembranças me atingisse: Mamãe fechando os olhos enquanto eu corria para me esconder dela. Eu dormindo com meus pais por culpa do meu medo do ‘’bicho papão’’. Afinal, eu sabia que com eles, eu podia me sentir segura. Como se o tempo tivesse sido acelerado, agora eu me via deitada no sofá com Nessie, enquanto assistíamos aos programas de desenho animado na TV.

Nessie.

Minha irmã estava no quarto. As chamas não demorariam a pega-la, se já não o fizeram. Papai estava na sala, aonde mesmo de longe dava para visualizar que fora o lugar mais atingido da casa. Talvez ele não possa ter sobrevivido, mas Nessie sim.

Imediatamente, voltei com toda pressa possível pelo caminho que eu havia vindo, que iria me levar em direção do meu quarto e do de minha irmã. Um pedaço de madeira saltou da casa e passou com toda a força pelo meu braço, depois caiu no chão. Só percebi que provavelmente havia um prego na ponta da madeira velha quando gotas de sangue começaram a pingar no chão e meu grito de dor confirmou isso. Minha cabeça latejava fortemente e me perguntei se não era possível que meu cérebro não fosse explodir ali mesmo.

Quando finalmente consegui chegar até a janela, percebi que o quarto não havia sido totalmente tomado pelo fogo. Fitei todo cômodo com pressa e meus olhos encontraram Nessie encolhida em um canto, tentando se afastar do fogo. Seus olhinhos estavam cheios de lágrimas e ela gritava pelo meu nome.

Aquela cena só fez os músculos de meus braços se contraírem enquanto a coragem preenchia cada parte de meu corpo que há segundos atrás estava tomado pelo medo.

Em uma tentativa inútil, deixei que minhas mãos tocassem o vidro da janela e isso só fez piorar minha situação. Assim que minha pele entrou em contato com o vidro, senti uma ardência dos diabos e as afastei rapidamente dali. Olhei para o estrago e vi que bolhas estavam se formando no local.

Respirei fundo e sabendo que teria que nascer de novo para recuperar o estrago que ia fazer em todo meu corpo, dei um soco com toda minha força no vidro e fechei meus olhos.

A dor não foi nada comparada ao grito de desespero de minha irmã. Os vários pedaços de cacos de vidro inundaram minha jaqueta de couro e na hora tive a certeza que tive força o suficiente para quebrar a janela.

Abri meus olhos e me atirei para dentro do quarto, enquanto atravessa o cômodo e corria em direção a Nessie, envolvendo-a com meus braços enquanto escutava seus soluços. Seu corpo estava quente e tremia violentamente. A fumaça atrapalhava minha visão e me fez tossir varias vezes.

- Eu to aqui meu anjo, vai ficar tudo bem. – Eu a consolei, enquanto com minha mão livre tirava minha jaqueta e colocava por cima da cabeça dela.

- Não me deixei! – Ela conseguiu falar, enquanto passava os braçinhos em volta de meu pescoço.

Sabendo que eu tinha que agir rapidamente, segurei seu corpo com toda minha força e comecei a correr em direção da janela. Ao chegar lá, olhei para trás e vi que faltava pouco para o fogo tomar conta do quarto, seria o próximo cômodo a explodir. Mesmo com o fogo tomando toda conta da porta, eu pude ver que ao longe havia a sombra de alguém me encarando. Meus olhos não puderam enxergar quem era. Será que era Papai?  Ou será que era a pessoa que havia botado fogo na casa? Afinal, uma casa não poderia ficar em chamas sozinha.

Meu guarda roupa foi corroído pelo fogo e tombou para o lado, fazendo a madeira tremer ao chegar ao chão.

Sem perder mais tempo, pulei pela janela e não me pergunte como, tive força o suficiente para firmar meus pés e não cair ali mesmo. Comecei a correr desesperadamente para longe da casa e quando finalmente cheguei a uma distancia razoável, me joguei no chão e cobri o corpo de Nessie com o meu. Foi o momento perfeito, pois o resto da casa finalmente explodiu.

Percebi que o sol estava nascendo e comecei a chorar quando me sentei na grama e Nessie se jogou em meu colo, chorando junto comigo. O barulho dos pássaros cantando me fez ficar aflita. Não demorou muito para que os vizinhos chegassem e viessem ao meu encontro desesperados enquanto me perguntavam o que estava acontecendo,

A única coisa que fiz foi chorar enquanto segurava minha irmã protetoramente em meus braços, ninguém iria tocar nela.

Mais tarde, quando todos desistiram de tentar tira-la de mim, ouvi o barulho de sirenes e pensei que fosse a policia, só que quando olhei na direção do barulho, encontrei o caminhão dos bombeiros e atrás dele a ambulância, acompanhada por um lindo carro preto.

Tudo aconteceu rápido deste então: Os bombeiros jogaram água na casa, produzido mais fumaça por todo o lugar. De dentro do carro saiu um homem charmoso e ao mesmo tempo apavorante, que logo reconheci: Edward. Não demorou até que ele chegasse a mim.

- Largue ela e a entregue para os caras da ambulância, não irão afastá-la de você, eu prometo. – Ele disse, enquanto tentava pegar Nessie do meu colo.

- Não toque nela – Gritei, enquanto fazia toda força possível para me levantar e apenas depois de um tempo tentando consegui.

Correndo para dentro da ambulância, eu a deitei na maca enquanto uma eficiente equipe médica cuidava de seus ferimentos. Afastei-me de Nessie e deixei que cuidassem dela, naquele momento saindo de dentro da ambulância e vendo a minha frente o que eu costumava chamar de casa.

Tudo estava destruído. Não havia restado nada.

Fechei meus olhos e dei as costas para aquilo. Era impossível suportar tal idéia. Suportar que perdi minha casa, que meu pai estava morto e tudo mais. Tudo isso havia acontecido em um dia.

Quem diria que em um dia toda a sua vida possa mudar.

Olhei para minha mão que estava machucada e percebi que ela estava cheia de bolhas e inchada. Puxei a manga de minha camisa para cima e encontrei um corte forte profundo em meu braço, que agora estava roxo. Aquilo me enojou e jurei que ia vomitar ali mesmo, só que desisti da idéia ao ver que Edward se colocou ao meu lado.

- O que aconteceu? – Ele perguntou em um tom tranqüilo, olhando para mim.

- A casa pegou fogo – Respondi, o encarando. – Meu pai morreu e minha vida esta ferrada. E você, quais são as novidades?

- Bem, vou direto ao ponto – Ele foi falando tranquilamente, como se tudo aquilo que acabara de acontecer comigo fosse um simples fato da vida – Você esta vendo aquela mulher, com dois homens atrás dela? – Ele perguntou, apontando para uma mulher baixinha que estava com dois homens enormes atrás dela, todos com seus olhares voltados para dentro da ambulância – Eles vão tomar Nessie de você.

- O que? – Quase gritei, enquanto me sentia tonta.

- Eles são membros de um orfanato. Você só tem dezessete anos e não pode cuidar dela. Nem de si mesma, obviamente as duas vão para um orfanato. Você completa dezoito anos a alguns meses, mas Nessie vai continuar lá, já que você não sem condição de se cuidar, quem dirá de sua irmã. Mas tudo isso pode mudar!

Isso não podia estar acontecendo, eu não podia ir para um orfanato e quem dirá minha irmã. Droga. Droga. Droga.

 - Como? – Perguntei, já sabendo a resposta.

- Case comigo. Tenho vinte anos e sou dono de uma fortuna infinita. Posso salvar vocês duas. – Ele me propôs tranquilamente, enquanto sorria ironicamente para mim.

- Eu caso. – Respondi rapidamente, sabendo que era a única a única maneira de manter minha irmã comigo.

- Não é tão simples. Escute. Eu vou estar encostado em meu carro e você vai ate lá e me beija. Só espere ate cuidarem de seus ferimentos... São nojentos. Depois disso, saia correndo da ambulância e venha me beijar, atravesse toda a distancia ate nós e eu farei o mesmo. Não me olhe com essa cara, eles precisam acreditar que você esta apaixonada por mim, assim como eu por você. Então, topa?

Não respondi a aquela proposta idiota, apenas fui em direção da ambulância e quando finalmente liberaram Nessie, eles começaram a me cuidar. Chorei quase todo o tempo em que levei agulhadas em meu braço e principalmente na palma de mão. O cheiro da pomada nojenta atingiu minhas narinas e quis vomitar (como se já não bastasse a dor de cabeça). Assim que eles terminaram seu trabalho, acabei com minha mão direita enfaixada, assim como meu braço esquerdo.

Sai da ambulância e procurei por Nessie. Meus olhos a encontraram falando com a mulher que Edward havia me apontado, certamente a dona do orfanato. Percebi que os dois homens estavam prontos para carregar minha irmã à força dali. Rapidamente, encontrei Edward olhando para mim com aquele sorriso debochado, como se tivesse me desafiando. Seus olhos dourados exibiam o mais puro divertimento. Era raro quando seu rosto expressava algo além de frieza e crueldade. Afinal, era o que Edward era.

Eu odiava aquele homem.

Ouvi o choro de Nessie do outro lado e olhei rapidamente para minha irmã, ela encarava aquela mulher com medo. Certamente a bruxa havia falado tudo para minha irmã, os homens avançavam calmamente para cima de Nessie. As pessoas que estavam ali olhavam para a cena sem entender nada, cheguei ate e encontrar Jéssica no meio da multidão.

As próximas coisas que fiz, sabia que não eram racionais.

- Edward! – Berrei a plenos pulmões, enquanto via todos desviarem sua atenção para mim – Eu aceito me casar com você!

Comecei a correr em sua direção e ele fez o mesmo, enquanto todos olhavam surpresos para nós.

Fechei meus olhos e me atirei em seus braços, enquanto meus lábios tocavam os dele.