40 Dias Para Te Reconquistar escrita por jamxx


Capítulo 28
Capítulo Flashback 6 - Eu sou a caça.


Notas iniciais do capítulo

RELOU MEUS LINDJOS *O* Primeiramente: Dedico esse capítulo a heyisBabi, Akemi Tamura e ao Jan Gold. Quero dizer que esse capítulo tem diversas revelações. O Jan simplesmente acertou algo sobre a Marie Clarie e vocês verão ao fim do capítulo. Boa leitura e segurem os corações...



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Até que o sol não brilhe, acendamos uma vela na escuridão. (Confúcio)


Não tenho mais lágrimas para chorar e nem murmúrios saem mais da minha boca. Acompanho dia e noite se passarem por uma janela no alto do meu quarto, que particularmente, parece mais uma masmorra. Estou aqui por um único motivo: ser igual a Sam. Na verdade, ele já sabe que sou a Melanie, irmã gêmea de Samantha. Mas por algum motivo não me deixa ir, às vezes penso que sente grande afeição por mim ou só é um luxo da sua vingança. Sim, vingança porque minha irmã demonstrou ser verdadeiramente uma Puckett e o fez pagar pelo que fez com a doce Shay. Tanto é que as cicatrizes na pele de Antônio são em relevo e algumas são grandes em seu abdômen. Pergunto-me quem vai fazê-lo pagar pelo o que está fazendo comigo. Meu corpo que já foi sem qualquer hematoma, hoje está domado deles. Ele comenta que os arroxeados em minha pele fazem com que eu fique mais bonita. Incompreensível pra mim. Como posso ser bonita com tantos machucados e cicatrizes? Ontem mesmo levei quatro pontos abaixo do peito direito, porque além de misterioso esse homem é macabro.

Antônio, que tem olhos azuis tão translúcidos quanto os meus, toda noite entra para me usar como um objeto. Por muitas vezes ele não vem sozinho e escuto conversas de que sou completamente desejada pelos homens que trabalham para ele. Sou um objeto sexual e por isso todos os dias da semana Shae, a esposa de Antônio, me visita. Eu gosto das visitas dela. Sempre entra pela porta de madeira escura com mimos, que no final das contas é só para me acostumar com aquela situação, ou seja, me fazer gostar de me enfeitar para "dar" o que tenho entre as pernas. Ela é doce e é quatro anos mais velha, ou seja, tem 21 anos. Seus olhos são azuis tão translúcidos como os olhos de Antônio, sua boca é quase em forma de um coração e ela tem cabelos dourados, longos e sedosos. Me pego perguntando se esse é o tipo do seu marido, pois sou tão semelhante à Shae. Tanto no comportamento quanto no físico. É nessa hora que entro em completa contradição. Tem noites que depois de se satisfazer do meu corpo, ele se senta na poltrona ao lado da penteadeira e me observa com atenção. Nessas noites ele fala de Carly e diz coisas que me entristecem ou me deixam com saudades. É engraçado como a vida é irônica, pois no início tudo que eu sabia fazer era chorar, espernear, gritar e suplicar. Eu não sei quanto tempo estou presa nesse quarto, mas dentro dele comecei a crescer. Forçaram-me mudar. Shae me ajuda a progredir e me entrega uma visão ampla dos fatos. Uma das mínimas coisas que aprendi foi olhar além da situação. Ela sempre me diz que tudo irá ser recompensado se planejarmos e que se não for, no próximo plano será.

– Antônio pediu para usar esse vestido hoje pela noite. - Shae tirou de uma das sacolas um vestido de couro. Resmunguei ao vê-lo. Será que tudo que esse homem escolhe sempre vai me deixar mais puta? Parece que não basta me sentir uma prostituta.

– Tomara que caia? Ótimo. Colado? Melhor ainda. Curto? Que maravilha. - Shae riu baixinho do que eu disse e me fitou com carinho.

– Pensei que pudesse usar com esses brincos - Ela mostrou-os com as mãos - e essa pulseira. - Tirou a pulseira de seu pulso e me entregou. Peguei a pulseira de corações em completo silêncio.

– Você disse que me tiraria daqui. - Ignorei tudo que foi dito e mostrado por Shae e assisti ela afastar as diversas roupas espalhadas na cama e se sentar.

– Quais foram as lições da semana passada? - Shae me perguntou demonstrando estar preparada para identificar as expressões do meu rosto. Só então fechei os olhos e tentei ignorar tudo o que assombra a minha mente. Puxei todas as minhas lembranças úteis sobre a semana anterior. Ignorei as visitas, meus lamentos e sofrimento que vivi na semana pedida para ser lembrada. Demorou um minuto e suspirei ao identificar o que aprendi com Shae na semana passada.

– Segredo é o calcanhar de Aquiles. Todos têm segredos e se eu os descobrir terei as pessoas ao meu redor, em minhas mãos. Não sei o que isso tem haver com minha saída daqui... - Conclui e deixei minha irritação fluir.

– Melanie, você é linda. Pena que sua beleza não irá salvar a sua pele e a pele dos seus. Existem pessoas piores do que Antônio...

– Impossível ter pior que ele. - Resmunguei e me sentei ao lado dela.

– É claro que existem. Ele tem algo que é mais fraco que seus segredos, e esse algo é exatamente o coração congelado que carrega. - Ela me explicou e eu não consegui compreender. Porque não consigo ver coração naquele homem. - Eu te falei o que deve fazer e como reagir com as situações com ele...

– Eu não te entendo! - Exclamei.

Shae me deixa visivelmente confusa. Ela me ensinou milhares de coisas sobre o Antônio e me contou os segredos de seus homens. Deu-me aulas de como usar armas e qual a dosagem certa de veneno para matar uma pessoa sem deixar rastros. Alegando sempre que isso é só para o caso que eu realmente precisar. A loira me contou sobre como o seu marido sofreu no início da juventude e tudo que o tornou daquela forma. Eu até aprendi o nome dos seus clientes mais próximos, dos seus amigos de fachada e dos companheiros de sua empresa que gerencia, sei todas as suas senhas e tudo o que, realmente, não sei por que me interessaria em saber. Porém, o que me interessou foi que ele ter repulsa em relação à Itália por causa de negócios não resolvidos e ela deu ênfase que é para lá que eu vou. Claro, quando sair desse lugar. Não me surpreendi e até gostei, pois já era lá que estava quando seus capangas me pegaram. Me sinto controlada por ela, mas ao mesmo tempo, sinto-me esperta. Afinal, sou aprendiz de uma mulher muito perspicaz.

– Você tem que ter muitos planos em mente. Porque se esse de fugir falhar, terá que saber bem o que fazer em seguida e não é por nada, mas isso é uma virtude de mulher com poder. - Fitei seus olhos cristalinos com curiosidade. Quais seriam meus outros planos?!

– Quais seriam os outros?- Senti suas mãos acariciarem minhas bochechas e ela suspirar.

– Ele te quer mais do que imagina. - Ela disse como se fosse boa coisa ou como se soubesse o que chamou sua atenção em mim. Fitei o papel florido velho e suas partes esmerilados. Respirei fundo e me lembrei da única noite em que tentei fugir nesse tempo todo.


3 meses e três semanas antes


No meio de muitas árvores e frio extremado, estou eu. Com os pés descalços e sujos pela lama com até pequenas folhas de gramas decorando meus pés. Meu corpo por inteiro dói e sinto-me a cada minuto esfalfada de tanto correr. Ouvi um tiro e desesperei-me. Eles me viram sair. Ouvi Shae dizer outro dia que essa propriedade é enorme e isolada do mundo. São quilômetros e quilômetros de terras somente de uma única pessoa. Antônio é claro. Quando tomei consciência disso pude entender porque ninguém realmente não me ouvia. O ferimento nas minhas costas arde, mas o que fazer? Parar eu não ia. Prefiro morrer a passar mais uma noite sendo penetrada por um demônio maldito. Ou pelo menos, devo ganhar alguma afeição dele e melhorar a minha estádia nesse lugar. Aquele homem tinha um brilho no olhar intenso e sombrio, eu digo que é um brilho de um espírito do estupro.

Um dos galhos de uma árvore qualquer, feriu-me a bochecha e senti o gélido líquido descer sob as maças do meu rosto. Ouvi gritos de um homem, não são gritos quaisquer, são berrando meu nome. Sinto uma onda percorrer meu corpo, ele grita com tanto ódio e diversão ao mesmo tempo. O que tem de divertido correr atrás de uma pobre garota, machucada, violada, infeliz, traumatizada e desprezível como eu? Não vi sentido algum nisso. Não ver cabimento em coisas assim passou a ser normal para mim. Cheguei a conclusão que a mente humana é um labirinto, eu só consigo ver o que tem na minha mente e a mente dos outros só são enigmas indecifráveis.

Lágrimas queimaram a minha face e sinto ainda a essência da dor de me chamar Melanie, novamente. Quando Antônio pensava que eu era a Samantha, tudo era ruim e sofri bastante. Como sou desditosa em pensar que com a prova de quem sou, tudo melhoraria e ele me deixaria, em fim, na paz. Não seria mais forçada a ter relações sexuais com ele ou com qualquer um. Pensei que minhas lágrimas iriam cessar e que não escutaria tantas ofensas. Como sou infeliz por pensar assim, pois, na realidade tudo mudou... Para pior. Adicionaram a lista das minhas tormentas, a tortura e o masoquismo. O doente mental leva uma criança para assistir a algumas das sessões de tortura que me obriga a fazer em mim mesma e isso me machuca tanto, mais pela pequena menina do que por mim. Shae me disse que ela é sua filha e que não a vê a mais de três meses. Mesmo tendo astúcia, algo a empatava para fazer qualquer coisa pela filha. Mas, pensando bem, talvez ela estivesse fazendo algo pela filha. O que esperar de uma mulher com milhares de artifícios?

Tropecei em uma pedra e cai de bruços no chão. Minhas mãos se enterraram na terra escurecida e senti-me derrotada. Não suporto mais. Meu corpo não tem mais forças e por isso, não pude me levantar. Tentei, gemendo de dor, me reerguer e sentei-me escorada em uma árvore. Por um momento me dei ao luxo de respirar um pouco e das árvores grandes, no meio da escuridão e das folhagens, percebi quatro olhos que me fitavam. Passando as mãos no meu rosto e insultei-me por ser fraca. Não iria mais correr, pois agora não adianta. Os dois homens se aproximaram, reconheci um de expressão marrenta, alto, moreno e de olhos profundamente negros. Ele que vigia a porta do quarto em que me colocaram me leva comida e água. Os homens o chamam de Draco, inclusive Antônio, mas, seu verdadeiro nome é Frank, de acordo com Shae. Sempre me olhou com desejo, porém se demonstrava muito leal ao patrão.

– E a caçada termina... - Frank disse com animação na voz. Jogou a arma nas folhagens ao seu lado e olhou para o homem de cabelos grisalhos, gordo e de barba média. Sabia que eles conversam sem pronunciar uma palavra e me irritei profundamente. O que eles querem? São homens da mesma categoria de Antônio, eu sei muito bem o que querem e o que estarão prestes a fazer. Pelo menos o que espero que eles queiram. Aliás, o que todos esses malditos homens desejam. Meus olhos abrem e fecham lentamente, quase que me preparando mais para fingir que nada daquilo estaria novamente prestes a acontecer. Mentir para mim mesma. Fingir que estou fora de mim e não sentir nada é o tipo de coisa que fui obrigada a aprender a fazer. Shae me receitou isso quando disse que já passou péssimos momentos como esses.

– Você é realmente muito bonita. - O outro homem, de início desconhecido fitou o meu colo e pude sentir seu olhar percorrer meu corpo. Passei as mãos no vestido curto de linho branco e respirei fundo. Detesto esse maldito vestido, com babados rendados, curto e de decote grande. Logicamente escolhido a dedo por Antônio.

– Obrigada. - Sussurrei, mas percebi que só Frank ouviu. Sua expressão mudou da água pro vinho e um pequeno sorriso transpareceu.

– Comece e termine logo. - Meu corpo estremeceu e senti o homem, do qual não sabia nome, puxar com força meus calcanhares e abri minhas pernas. Acabei deitada de costas e tendo como única visão boa, o céu estrelado.

Saí de mim, como se fosse possível e comecei a contar estrelas mentalmente. Lutar contra aquilo não adiantaria, porque eu já lutei tanto e tudo que recebi foram mais feridas. Machucados esses, tanto no coração como no físico. Desejei amar alguém como a quantidade de estrelas no céu. Cento e trinta, cento e quarenta, cento e ciquenta, cento e não sei mais... Ser perdida na contagem de porquês de amá-lo e que esse alguém do meu sonho pessoal, me ame na proporção do céu. Que seja sem limites a ponto de deixar tudo por mim. Eu desejo isso. Desejo de toda a minha alma, poder sentir prazer em fazer amor com alguém que eu ame, que na medida das estrelas do céu seja minha dedicação e que pelo menos por um tempo eu possa ser feliz. Mãos grossas e ásperas apertaram com força os meus seios, por dentro no vestido, enquanto mais uma estocada me fazia arrepiar. O vento passou e os meus pensamentos foram levados junto com ele. Lágrimas começaram a descer silenciosamente pelos cantos dos meus olhos, escorrendo nas têmporas e morrendo junto aos meus cabelos bagunçados com folhas secas. Tudo ilusão minha, o papo de amor do tamanho das estrelas. A verdade é que estão mortas para mim e continuam mortas em meio à luz do dia. Tenho escuridão em mim, como nessa noite e como as noites anteriores, tudo que predomina em mim se tornou motivo de um sofrer maior. Vivo eternamente no luto das estrelas, que certo dia predominou brilhando na minha vida, mas hoje estão sem vida, sem brilho e com evasão de sentimentos.

O homem se satisfez e me obrigou a olhar nos seus olhos. Eu vi desprezo, diversão e satisfação. Definitivamente ninguém naquele lugar se importará comigo ou se preocupará com o que sinto. Ele apertou meu maxilar e senti a sua barba em meu rosto. Seus lábios ressecados encostaram-se aos meus e por segundos desejei intensamente morrer. Mas a vida seria boa demais se hoje e agora eu partisse para um lugar desconhecido. Seria boa demais.

Frank o puxou para trás e vi o homem reclamar. Continue ali, estirada no chão, mas agora não fitava o céu e nem contava estrelas. Minha cabeça está virada em direção aos homens que discutiam. Não sei o nome do que acabou de me fazer sua, então decidi nomeá-lo. Vou chamá-lo de Thanos, pois talvez algum dia um Capitão Marvel apareça e o derrote. Depois da breve troca de ''elogios'', Frank segurou com forma os meus calcanhares e começou a me arrastar daquela forma. Além de tudo, eu tinha virado um nada. Senti-me arrastada sem menor boa intenção, bati diversas vezes em pequenas pedras e com certeza o vestido está todo sujo de lama.

Somente uma hora depois, Frank me colocou nos seus ombros e nada disse. Ainda estou fora de mim, como se estivesse assistindo e não vivendo tudo aquilo. A floresta ficou distância. Entramos na casa grande, pra mim, na casa de horrores.

– Encontraram ela, amor. - Escutei a voz de Shae com um fio de decepção e sorri. Logo depois me jogaram no chão de um cômodo que não tinha entrado nunca antes. Esse era grande e bem arrumado. Percebi então que era a suíte do homem que mais odeio no mundo, Antônio.

– Esses homens fizeram algo a você? - Ouvi a voz grossa e somente então pude encontrar da onde vinha. Ele está sentado na cama e com um cassetete nas mãos. Olhei para o travesseiro da cama Box e vislumbrei uma arma.

– Me responda, loira insolente. Esses homens fizeram algo a você? Porque tentou fugir? Se aqui eu te dou tudo. Comida, roupa limpa, minha mulher para ser sua amiga, prazer e cama quente para você dormir. - Ele se levanta e me fita. Seus olhos parecem arder em ódio.

No quarto estão cinco pessoas. Shae que acabara de fechar a porta e escorou nela. Frank que se mantém perto de mim, Thanos ao lado de Frank e Antônio em minha frente com o cassete ainda em mãos.

– Amor, não é preciso bater nela. Digo, ela só deve estar tentando achar uma forma de se extravasar tudo que sente. Porque não a ajuda nisso? Talvez com um saco de pancadas... - A voz doce de Shae tomou o lugar e não entendi se ela queria me ajudar ou o quê.

– Eu faço com ela o que eu bem entender, ouviu, amor? - Ele cuspiu irônico e passou a mão direito nos cabelos. Ficou por mais de cinco minutos em silêncio e começou a abrir um grande sorriso nos lábios.

– Frank, que tal ajudarmos ela a manifestar o motivo de fugir com a força que tem? - Com a ajuda de Frank me levantei, mas ainda me sentia fraca. Então me apoiei nele. Com dúvidas na mente e expressão confusa, vi Antônio me entregar o cassetete, que estava em suas mãos e depois, segurar os braços de Thanos por trás.

– Você vai me mostrar o que sente ou eu vou demonstrar o que sinto quebrando cada parte do seu corpo. - Antônio disse e pausou dando uma gargalhada doentia. - Não te causa nostalgia, Shae?

– É claro que sim. Talvez te arrebente um dia assim, bebê! - Ela falou de forma divertida e fez com que seu marido gargalhasse mais. Um calafrio percorreu meu corpo.

– Você tem opção estrela, ficar viva por mais um dia ou... - Frank não precisou completar a frase. Com impulso ergui o cassetete e apertei-o forte em minhas mãos.

Enxerguei em Thanos todos os meus sofrimentos e problemas. Os rostos de todos que me bateram e me forçaram a fazer o que não queria, se fundiram no rosto dele. Em seus olhos encontrei todos os olhares de julgamento e na sua boca, pude ouvir em pensamento tudo que já foi me dito. Ignorou os gritos, pedidos e tentativas de fuga do homem. O barulho em minha mente continuava e respirei fundo. Senti cheiro de vingança. Tomei posição e vinguei-me. Acertei com força a cabeça de Thanos e de novo, novamente e efetivamente com mais vontade. Chorei amargurada em sentir respingos de sangue em meu rosto. Mas, que mal há em tirar um pouco de tudo que guardo em mim? Qual é o problema fazer Thanos pagar por tudo que sofri? Afinal, ele também me fez sofrer e a chance era essa que eu tinha para mostrar ao Antônio que poderei valer algo ainda viva. Acho que não posso ficar esperando um Capitão Marvel para me salvar e sim ser meu próprio herói. Ele é macabro e a prova disso foi divertisse com a resposta da Shae, sobre nostalgia de ver e realizar violência. Eu sou tão errada em descontar tudo que fazem comigo? Eu acho que sim. No meio que vivo tudo isso faz parte de um completo céu nublado onde as estrelas são mortas e a esperança de uma luz é desejável. Eu quero viver, mesmo que seja assim... Porque um dia, Melanie Puckett vai sambar no rosto de cada pessoa que a fez mal. Inclusive Antônio Suhett.


Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado.

Provérbio árabe


Balancei a cabeça e acordei das lembranças ruins que um dia passei. Dobrei as pernas em cima da cama e encarei a loira do meio lado. Ela esta com um sorriso meigo no rosto e completamente diferente.

– Lição de hoje: Não tem pessoa mais desprezível do que aquela que é cínica e demonstra extrema educação. Sorria. O sorriso tem formas de transmitir coisas e você pode intimidar inimigos assim: sorrindo. - Ela disse animada e mais uma vez, me irritei profundamente.

– Estou confusa. - Falei firmemente e passei os dedos nos meus cabelos.

– Eu prometi que te tiraria daqui, mas você sabe que se tudo que planejei falhar e ele te encontrar será sua responsabilidade criar devidamente bem a Sansa. Ela é tudo que tenho de mais valor. Antônio te quer e tenho certeza que quando você fugir, definitivamente, ele vai surtar. Você não conhece um por cento de seus surtos. – Ela me explica. Shae pausa um pouco e continua - Eu sei o que estou te ensinando, porque se ele te encontrar de uma forma ou de outra, você poderá tomar meu lugar. Será esposa dele e mãe de Sansa. - Shae falou e me deu um tempo para digerir o que foi dito.

– Como sabe que isso pode acontecer?

– Eu o conheço mais do que qualquer um. Melanie, eu me casei com ele com permissão dos meus falecidos pais. Eu quis me casar, assim, jovem. Porque convenhamos, ainda sou jovem. - Ela riu baixinho e se ajeitou, demonstrando pra mim que contara a história dos dois.

Ela me relatou como conheceu Antônio e de como seu irmão Joffrey, ficou enciumado. Ela descreveu-me sua relação com o irmão, que foi algo muito perturbador: tinha além de amor fraternal pelo o Joffrey. Me disse que era bem saidinha, cheia de vícios e deixava todos com dor de cabeça. Ela namorava Antônio e se envolvia com seu irmão. Fiquei pasma com as indiretas sobre seu relacionamento íntimo com o irmão, que segundo a mesma, começou aos 15 anos. Outro fato surpreendente é que Shae e Joffrey são irmãos gêmeos. Ainda falou sobre detalhes de brigas e confusões que se meteu entre esses jogos com o irmão e o namorado. Segundo ela, Antônio nunca foi flor que se cheire, mas sentia atração e amor por seu lado obscuro. O que me fez definir Shae um tanto perigosa e estranha.

– Casei com Antônio em um dia de primavera e para minha surpresa no dia, Joffrey compareceu. Naquela manhã eu soube que estava grávida... Lembro-me de olhá-lo inexpressivamente e depois olhar meu ventre, que eu sabia que surgiam as primeiras pétalas de um minúsculo girassol vermelho. - Ela sorriu com nostalgia.

– Você quer dizer que Sansa... - Comecei a exaltar-me e ela tampou a minha boca com uma das mãos.

– Sim e ele desconfia, por isso estou aqui.

– Ele fez...

– Não. Eu acho que ele tem é medo de saber a verdade. Por sorte eu consigo manuseá-lo e por isso minha filha está comigo aqui. - Ela riu baixinho e se levantou da cama.

– Está anoitecendo. Vou pedir ao Frank que traga algo pra você comer. Depois, eu volto para te ajudar a se arrumar para o meu marido. - Ela informou e eu me levantei também, entristecida.

– Está bem. - Concordei e fui logo pegando uma toalha.

– Aguenta. Joffrey está a caminho, para "me buscar", mas é você quem ele vai levar. - Sorri inteiramente animada pela sua afirmação.

– E se ele não quiser me levar?

– Ele vai te levar por amor a mim. Eu vou de helicóptero na cidade, escondida de Antônio. E você tem que deixá-lo completamente bêbado. Pela madrugada eu passo aqui e te darei as últimas lições. - Ela sorriu e me passou conforto.

– E os homens que cuidam daqui?

– Todos estão em minhas mãos. - Shae concluiu e me pareceu segura do que diz. Ela se dirigiu a porta e a abriu, do lado de fora pude ver Frank e depois que a porta foi fechada, ouvi seu pedido para ele.


Me arrumei sem ajuda de Shae, que por um acaso não voltou como prometeu. Frank entrou no quarto e me olhou interessado no que via, colocou um prato com batata frita e um copo de suco na mesa que centralizava o quarto.

– Você está linda, pequena Mel. - Ele me elogiou e sorriu.

– Batata frita?

– Sim. O chefe está se arrumando para ter uma noite com você, parece que ele está de bom humor e talvez dessa vez você goste. Ele virá logo! - Ele deu um pequeno sorriso.

– Mas já? Que horas são?

– É quase nove, querida. - Frank disse e me olhou com carinho, por mais que eu ignore isso essa sombra de compaixão dele.

– Você é o único...

– Menos ruim? - Ele perguntou como se aquilo completasse a minha frase.

– Isso. Menos ruim. - Sorri e ele saiu do quarto.


Borrifei três vezes o perfume em meu pescoço. Prendi meu cabelo e coloquei os sapatos nos pés. Escutei a porta se abrir e logo me virei para vê-lo. Antônio entrou pela porta com um buquê de rosas vermelhas e logo atrás dele, Frank carregava um balde com vinho branco e uma pequena caixa de chocolates. Antônio me saudou com um beijo no pescoço e sorri fraco. Frank apoiou o balde e a caixa do doce na mesa do centro do quarto e antes de sair me lançou um olhar sugestivo e jurei que vi carregado de malícia.

– Porque tudo isso? Geralmente só entra, fazemos... E você se senta para conversar, depois vai embora. - Pronunciei o fitando.

– Shae sugeriu isso. - Ele sorriu com orgulho - Disse que você merece um mínimo de romantismo. Acho que ela gosta de você.

Sorri como ela me ensinou e ele se aproximou de mim na mesma hora. Meu corpo foi pressionado no dele com força e senti seus lábios tocando os meus. Concordei em retribuir o beijo e tudo que fosse fazer nesta noite. Não me tornaria imparcial ou ser inexpressiva. A noite se inicia pra mim e finalmente me tornarei o que meu nome sugere... Uma Puckett. Ou seja, ele conhecera uma nova Melanie. Tenho seguido diversas das instruções de sua esposa e sei bem o que fazer. Ele tem caído cada noite em uma nova armadilha. Ele não vê, mas o seu coração irá vislumbrar, talvez amanhã, depois, daqui dez anos ou nunca. Claro que eu gosto da última alternativa. A frase de Shae passou na minha mente lentamente: "Na noite anterior a que você irá fugir vai ser a noite da decisão do arquivo dos outros planos, se ele te encontrar ou algo acontecer com quem te ajudar. Você tem que ser perigosa, ele tem que sentir um desejo e querer ser selvagem com você na cama. É simples. Se falhar na fuga, você poderá tomar meu lugar, claro, se terminar de raptar seu coração sem ele mesmo perceber."

Bêbado e dormindo como um anjinho. Sorri mesmo em com tanta ansiedade. Sem perceber comecei a andar de um lado para o outro, com os pés descalços e um lençol sob meus ombros. Me aproximo da cama e pego no pulso de Antônio, fito seu relógio. Grunhi soltando seu pulso. Quatro e meia da manhã e nada de Shae. Ouvi o barulho da porta se abrir e ela entrar completamente ofegante. Ao olhar o corredor atrás da porta, me assustei. A figura de um homem caído no chão. Abri minha boca para perguntar o que diabos está acontecendo, mas fui puxada para fora do quarto e empurrada em cima de outro homem.

– Vocês têm uma hora e meia para sumirem daqui. - Shae disse tirando o blazer e me entregando. No mesmo momento deixei o lençol cair e coloquei o blazer. Mesmo assim o frio predominou. Porque seria? Eu estou somente de lingerie e um blazer!

– Você vem junto! - O homem que estava atrás de mim, passou e ficou na frente da loira.

– Joffrey, não. Ele é meu marido. Se depois que ela for embora, ele continuar bruto... Bem, eu te prometo que pego a Sansa e fujo. Sou boa nisso, você sabe! - Shae disse e se virou, fechando a porta do quarto em que me hospedava.

– Melanie.

– Oi?

– Tem uma maleta no jipe dele. Na maleta você vai encontrar logo de cara um papel com senhas de três contas que eu possuo. Esse dinheiro é seu... É assim que mantenho ordem nesse bando de homens, além das ameaças e dos segredos que obtenho deles. - Ela riu baixo.

– Ele vai desconfiar que você está me ajudando...

– Não, vai não. Porque você vai me bater e o que eu contar fará todo sentido. - Ela sorriu orgulhosa de si e me fitou. Me coloquei em uma posição desesperadora. Não iria bater nela... Iria?

– Me bata, porque as marcas têm que ser reais.

– Você só pode está louca. Eu não vou te bater...

– E vai jogar tudo fora? Vai permitir ele acordar e abusar de você novamente? Eu te ajudo a esconder a filha de Carly, da qual ele não vai saber. E se ele souber? Já pensou o que poderia fazer? Melanie, pelo amor. Pare de ser covarde... Eu sabia que seria uma fraca. Covarde, fraca, desprezível, saco de pancadas, infeliz, vadia... - Shae vociferou e me empurrou com força. Entendi o recado. Em questão de segundos, lancei-me em cima dela e soquei seu rosto, barriga e colo. Minutos depois, parei tomando ar e ela permaneceu no chão.

Ela levantou com o rosto ensanguentado e sorriu de forma meiga. Me abraçou com pouca força e olhou com carinho seu irmão. Na testa de Shae tem um ferimento aberto, pequeno e fonte do sangue que descia sob sua têmpora.

– Adeus e cuide dela, Joffrey. - Ela concluiu.

Sai da casa acompanhada do irmão de Shae. Ele me acompanhou em uma corrida no meio da floresta e meia hora depois não parecia cansado. Só consegui observá-lo quando entrei no jipe e me acomodei. Sentia-me sem fôlego e ele não demorou nenhum segundo para fazer o carro andar. Ele é um homem com cabelos até os ombros. Tem os olhos claros também, só que não são tão translúcidos. Pelo menos pelo que percebi. É musculoso e desde o momento em que o vi, percebi que também é alto. Ele veste uma camisa branca e calça jeans. Sorri discretamente e olhei pelo retrovisor o estado em que me encontro. Completamente irresistível! Com cabelos bagunçados, suada, de lingerie, pés e canelas sujas. Completamente linda. Respirei fundo e me questionei porque estava pensando no meu estado. Soltei um grito de alegria e em fim um suspirou. Joffrey parou de olhar para a estrada e olhou pra mim. O sol estava nascendo e não consegui segurar meu sorriso em mim.

– É. Você está livre... - Joffrey se dirigiu pra mim, pela primeira vez suas palavras foram além de “Corre. Vamos logo! Cuidado”

– Sim, eu estou. - Sorri gostosamente e gargalhei.

– Você deve querer encontrar sua família...

– Não. Eles estarão mais seguros comigo longe... Onde está a maleta que Shae falou? - Mudei de assunto completamente.

– No banco de trás. - Ele mal terminou de dizer e me movimentei para alcançar a maleta no banco de trás. Peguei com dificuldade e ajeite-me no banco.

Abri a maleta e a primeira coisa que vi foi a tal folha. Mexi nas coisas, basicamente na maleta tinha o essencial. Peguei uma carteira dentro dela e me deparei com a minha foto. Olhei confusa para o Joffrey.

– Marie Clarie? - Perguntei divertida.

– É. Você é minha esposa de acordo com os registros...

– Como é? - Interrompi confusa. Shae tinha me casado com ele? Eu gargalhei. Não, ela casou Marie Clarie com seu irmão, Joffrey. Peguei o passaporte na mala e sorri.

– Vamos pra onde, marido? - Perguntei ainda sorrindo para o estranho do meu lado.

– Itália. - Ele concluiu. De uma forma estranha, me senti bem perto dele e pude concluir que devia ser só a excitação de sair daquele lugar e começar novamente... Melhor ainda, sendo Marie Claire.



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Notas finais do capítulo

Genthy Y.Y eu tenho um comunicado a fazer... Eu e a Yo Mismo começamos a nossa fic, se chama Cruel Fairy Tale! Passa lá no meu perfil e dá uma espiada :3 Sobre o capítulo: Gostaram? Muitas revelações, né? Shae é bem cool, né? Por favor, me contem o que acharam de tudinho U_U' xoxo e até a próxima :*