Untitled escrita por bitte_me


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/216329/chapter/1

Você se lembra de nós? Eu me recordo perfeitamente de cada palavra que foi dita. Elas ainda ecoam com uma intensidade imensurável em minha cabeça. Eu me recordo de cada gesto teu. Inconscientemente, eu repito todos eles. A forma como mexia a pulseira do pulso direito quando estava nervoso. A forma como estreitava os olhos, quase os fechando, ao sorrir. A forma como seus olhos se perdiam na imensidão do vazio que ficava cada vez maior - e mais evidente - entre nós.

Você sempre dizia que não gostava de me ver chorar. Mas nos últimos meses, todos seus atos ou palavras foram causadores de lágrimas amargas, que teimavam em descer por meus olhos, antes que eu pudesse contê-las. E você sempre reparava, antes que eu pudesse enxugá-las. Maldito seja o dia em que deixei você conhecer tanto de mim.

O nosso último encontro foi diferente.  Sentados no parque, encarando um céu límpido, de um azul vibrante. Lado a lado, com as mãos entrelaçadas e apoiadas sobre a minha coxa. Éramos apenas irmãos que não queriam ficar sozinhos em um domingo ensolarado. Certo? Não, não pra mim.

Eu havia encaixado minha máscara quase estrategicamente. Meu escudo empunhado sobre o peito, protegendo com veemência o lado esquerdo. Por mais que a tensão fosse palpável entre nós, eu não chorava. “Você está frio comigo.” Me lembro de sua observação.  Apenas lancei-lhe um sorriso torto como resposta, um pedido de desculpas calado. Eu só estava tentando ser forte. Respondi que fazia isso inconscientemente, por estar acostumado a agir assim com os outros. Você meneou a cabeça negativamente, com um sorriso zombeteiro nos lábios. O movimento fez com que seus cabelos dançassem em sua testa, e cobrissem parcialmente seus olhos. Um pequeno gesto, que fez minhas pernas bambearem como se fossem de gelatina. “Eu não sou como os outros!” protestou carrancudo, enquanto deitava em meu colo, apoiando a cabeça em minha coxa.

Minhas mãos, automaticamente, buscaram a extensão de pele escondida sob seus cabelos negros e compridos. Sem proferir nenhuma palavra, iniciei a massagem que você tanto gostava, e que diversas vezes, em nossos inocente infância, era a única coisa capaz de te acalmar. Sim, você não é como os outros. Você é único. Você é o único que me faz agir dessa maneira. Você é o único capaz de me fazer sentir o que eu julgava só existir em contos de fadas estúpidos e infantis. Você é o único que faz eu me sentir bem sendo apenas... eu. Que me faz amar sem que eu me sinta fraco. Sem precisar representar papéis, uma superioridade e maturidade forçada.

Você murmurava coisas sem sentido e se aconchegava mais em minhas pernas. Eu me divertia com a cena. Meus olhos captavam todos seus movimentos, com bastante clareza, para nunca serem esquecidos. O modo como segurava a grama ao seu redor, com força, talvez para não deixar que a inconsciência do sono te levasse. O modo como mexia os pés, no ritmo de alguma melodia desconhecida por mim. Sua expressão calma, serena, como um pequeno anjo.  A forma como a camisa, pequena demais para o seu corpo, deixava parte de seu lânguido abdômen à mostra, justo aquela que eu julgava ser a mais sexy em você. O volume presente em sua virilha, não por excitação, mas pela calça extremamente justa deixar de forma evidente.  Eu me perdi em casa detalhe, por mais comum, pequeno e sórdido que fosse.

Então, você me encarou. Aquele par de olhos claros que tiraram meu fôlego desde a primeira vez que pousaram sobre os meus. Então, você sorriu. Mostrando aquela fileira de dentes tortos e encantadores, em perfeita harmonia com teus belos lábios rosados, que sempre fora um convite para a minha perdição. E eu te beijei.

Com a proximidade dos nossos corpos, eu pude sentir o seu coração. Se o parque estivesse um pouco mais silencioso, com certeza eu o ouviria também. Ele batia forte, acelerado, descompassado, em estranhos solavancos. Batia como na primeira vez em que nos tocamos. E isso foi um estalo pra mim. Eu percebi que havia me tornado aquilo que você sempre buscou. Que depois de ter te perdido, passado por tudo que passei, enfrentado dias de depressão e vontade de largar tudo pra trás, eu tinha me tornado forte o suficiente pra manter você do meu lado.

Agora que era tarde demais.                                                           

A minha máscara caiu. A minha proteção se esvaiu. Eu fiquei vulnerável a você. Eu me entreguei a você. Eu fiz o que jurei a mim mesmo nunca mais voltar a fazer.

Assim que cessamos o beijo, você me encarou com olhinhos assustados. Depois sorriu. De forma radiante. De forma com que o brilho tomasse conta de todos os folículos existentes em sua face, e refletisse nos teus olhos. Você também tinha sentido. Você também tinha entendido. E você tinha gostado.

Apressadamente, eu sibilei aquelas palavras. Aquelas que eu sabia que magoariam você. Aquelas que eu sabia que você não estava pronto pra ouvir. Aquelas que eu precisava dizer, ou todo meu esforço de meses teria sido em vão. Ou eu voltaria ser frágil, como você está sendo agora.

Adeus, meu amor. Meu irmão.

E por mais que você duvide, doeu muito mais em mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(Não me matem leitores lindos da woche... só não estou mais no clima, so sorry...)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Untitled" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.