Christmas Night escrita por apataeavaca


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Seja o que Deus quiser, AMÉM!



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Era noite de Natal e tudo o que eu queria era estar em paz. Não importava o que tivesse acontecido, eu só queria esquecer. Mas ele não estava lá. Não importava o que eu pensasse, eu sabia que ele não estava pensando em mim, eu simplesmente sabia. Todas as luzes penduradas na Árvore de Natal agora pareciam simplesmente apagadas, por mais que piscassem. E toda aquela decoração festiva não passava de decoração, porque eu sabia que ele não viria. Eu queria mesmo que não fosse desse jeito... Mas o fato era que estava sendo, por mais que eu relutasse em admitir para mim mesmo: nosso casamento estava acabando. De que adiantara eu passar a última meia hora me arrumando, se o motivo de eu ter me arrumado não estava ali? E por mais que eu chorasse, nada o faria voltar para casa.

Simplesmente sem me importar mais, eu apenas peguei um casaco e saí na noite procurando por ele. Ele não podia ter ido muito longe. Tom, quero dizer; o meu, até então, marido.

Andando com dificuldade na neve e sentindo meus tornozelos congelarem por sob a calça, fui até o bar/lanchonete aonde eu esperava que Tom estivesse. Mas ele não estava lá, tampouco.

– Olá – disse uma bonita garçonete com um bloco de pedidos nas mãos, com o rosto um pouco pálido – Posso ajudá-la?

– Sim – respondi – Você viu um rapaz alto de cabelos claros passar por aqui? Eu realmente esperava que ele estivesse aqui, mas pelo visto não está.

– Vi vários rapazes de cabelos claros passarem por aqui hoje, mas com certeza um era mesmo muito bonito, não sei se é este que procura. Estava usando um blazer preto e um boné virado para trás, dos Road Dogs. – respondeu ela, batendo a caneta no bloquinho.

– Road Dogs? Com certeza era o Tom. – disse eu – Faz muito tempo?

– Acabou de sair, não faz nem cinco minutos, por pouco não se cruzam na porta – respondeu a garçonete.

– Droga! – praguejei.

– É seu irmão? – perguntou ela, analisando-me e focalizando no meu casaco dos Road Dogs.

– Não – respondi – Meu marido.

– Oh!

– Muito obrigada, err... – fiz uma pausa e li seu nome em uma plaqueta dourada presa ao seu peito – Katherine! Adeus.

– Por nada. Adeus. – respondeu ela.

Saí da lanchonete bem desesperado, devo dizer. Olhei de um lado para o outro na rua, mas imaginei que ele já devia estar longe. Quero dizer, era noite de Natal, não havia muitas pessoas nas ruas.

Avistei uma pracinha do outro lado do quarteirão e rumei para lá. Talvez ele estivesse por ali, talvez estivesse apenas pensando, talvez estivesse apenas querendo ficar sozinho um pouco. Mas não o vi.

Sentei-me em um dos bancos sob um pequeno coreto no centro da praça, todo iluminado e enfeitado e então, do outro lado da praça, eu o avistei. Imediatamente, meus olhos encheram-se de lágrimas, porque ele estava lá e parecia muito feliz, como eu não o via ha muito tempo, rodeado de amigos, com aquele boné virado para trás, exatamente como Katherine o descrevera. Feliz; ele estava feliz. Foi neste momento que eu percebi: eu não o fazia mais feliz. Essa era a única explicação.

Então eu só quis sumir, voltar para casa e tentar esboçar um sorriso. Se a felicidade dele estava longe de mim, eu tinha que deixa-lo partir, era assim que as coisas funcionavam. Sem me importar com o quanto eu sofreria, eu simplesmente deveria deixá-lo livre para escolher o que queria fazer. Assim, desci do coreto e refis meus passos de volta para casa.

– Ei, aquele não é o Bill? – ouvi alguém dizer. Era uma voz bem conhecida minha: Georg. Mas eu não me virei, continuei meu caminho. Se era assim que Tom queria, era assim que tinha que ser.

– HEY, BILL! – ouvi Gustav gritar – HEY, BILLETE, SOMOS NÓS!

Olhei para trás e lá estavam Georg, Gustav e Tom. Reparei que seu rosto se contorceu em uma expressão de chateação. Voltei-me para frente outra vez. Eu o conhecia mais do que a mim mesmo e sabia que tudo o que ele queria naquele momento era não ter que me ver. Mas não havia solução, Georg e Gustav já haviam me visto e não desistiriam logo. Ainda havia a hipótese de sair correndo e fingir que não ouvira, mas a questão era que não havia condições de correr com toda aquela neve.

– BILLETE, SABEMOS QUE É VOCÊ! QUEM MAIS USARIA ESSE CASACO? – ouvi Georg gritar.

Aproximei-me devagar e pesaroso, com medo da reação de Tom.

– Oi pessoal – cumprimentei-os. Georg e Gustav me abraçaram e Tom fingiu que estava muito ocupado amarrando os sapatos para não ter que fazer isso. Foi como se uma faca acertasse em minhas costelas. – Tudo bem?

– Se estamos bem? Estamos ótimos, Bill, é Natal! – disse Gustav.

– Tom, você não disse que o Bill estava gripado? – perguntou Georg, visivelmente desconfiado. Fingi um espirro.

– E eu estou – respondi com a voz embargada de fingimento. – Não sei o que deu em mim... A-ATCHIM... de querer sair neste frio.

– Concordo. – respondeu Gustav – Mas então por que foi que você disse ao Tom que não estava bem pra vir festejar com a gente e agora está aqui?

– Eu disse? – perguntei.

– Sim, agora há pouco quando Tom te ligou, não fazem nem vinte minutos! – respondeu Georg.

– Ah, é mesmo, eu disse, não é? – consertei, sem conseguir olhar para Tom, que acabara de se levantar. – É que eu... Eu quis vir desejar Feliz Natal pra vocês assim mesmo, mas já estou voltando para casa, então se puder, eu já vou indo, se não, err... A-ATCHIM... vocês sabem, eu posso me... me resfriar ainda mais e... Tchau!

Vir-me-ei rapidamente, mas não pude voltar a andar.

– Não, não mesmo – era Gustav – Tom vai com você. Ele é seu marido, vai passar a noite de Natal com você, não com nós. Nós passamos o Natal juntos desde sempre, não vamos sentir falta só dessa vez. Nos vemos amanhã, de qualquer forma.

– Não, tudo bem, eu já vou indo, vocês estão bem aqui, e eu estou resfriado, então...

– Ora, não discuta, Billete – disse Georg.

– Vá com ela, Tom – mandou Gustav. – Nos vemos amanhã de manhã, já é quase meia-noite!

– Certo; adeus pessoal, até amanhã. – respondi cumprimentando um por um, e Tom fez um hi-five deprimente.

Voltei a andar e sem dizer nada, Tom somente me seguiu. Com ele ali ao meu lado, eu me sentia seguro, era como se meus tornozelos não estivessem mais congelando, eu me sentia quente, como se pudesse fazer qualquer coisa que imaginasse. Mas ele estava frio, andava ao meu lado, mas estava longe, de cabeça baixa, as mãos nos bolsos da jaqueta, o olhar fixo na neve que cobria a calçada.

Ao chegarmos a casa, despi o casaco e o cachecol que usava, Tom pendurou o boné no corrimão da escada e então me virei para ele. O meu nariz ardia e eu sentia as lágrimas vindo, mas eu as seguraria.

– Bem, eu... – comecei – Eu já estou em casa, portanto se, se você quiser ir, eu... Eu entendo. Feliz Natal.

Subi as escadas lentamente, sentindo as lágrimas finalmente escorrerem, felizmente em silêncio.

– Bill – ouvi-o me chamar. Virei-me para ele esperançosa, tentando secar as lágrimas e esconde-las. – Eu... Bem, Feliz Natal – disse Tom consultando o relógio. Sorri tristemente.

– Sabe, Tom – falei – Você realmente não precisa mais ficar comigo se... Se você não quiser. Eu vou entender se você estiver cansado disso tudo, eu vou respeitar você, eu te amo, você é mesmo meu irmão, no fim das contas. Eu só quero que você seja feliz; se a sua felicidade não está comigo, vá embora, então.

– Eu, eu... – percebi que ele ficou sem palavras. – Eu não quero ir embora, me desculpe se eu te fiz pensar isso, eu realmente não sabia o que estava pensando. Quero dizer, olhe para mim, sou casado com um cara incrível e me sinto inseguro! – ele limpou uma lágrima que escorreu pelo canto do olho, furioso – E olhe para você, quem mais usaria um casaco dos Road Dogs? Quem mais mentiria para os próprios amigos para encobrir minhas burradas? Quem mais fingiria que está doente? Eu sei que você ficaria doente por mim, de verdade. Eu sei que você passou meia hora se arrumando para mim e me desculpe se eu não estava aqui. Desculpe-me por tudo o que eu te faço passar, você é perfeito pra mim e só eu sei como eu sou burro às vezes. Eu ainda te amo, Bill, como irmão e como homem, e vou continuar te amando, não importa o que aconteça! Nunca se esqueça e não me deixe esquecer. Se eu errar, me castigue, ou eu cometerei o mesmo erro de novo e de novo! Eu te amo, Bill!

Aproximei-me devagar e me peguei limpando suas lágrimas. Ele beijou meu sorriso e então, novamente eu me senti feliz, como se nada tivesse acontecido, porque ele estava ali ao meu lado e ele também parecia feliz outra vez.

Tom beijou minha bochecha e eu senti ferver. Nunca fora fácil pra nós, de qualquer modo. E eu deveria saber que estava sujeito a isso a qualquer momento.

No fim das contas, eu o entendia, porque ele era parte de mim. Às vezes, eu me sentia inseguro, às vezes sentia que talvez aquilo tudo não valia a pena...

Mas lá estava ele, por mim. Não importava quantas vezes brigássemos, se no fim estivesse tudo bem.

E estava.



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Notas finais do capítulo

Não sei o que foi pior: a história ou a sinopse SHAUSHA'