Os olhos claros observavam o garoto pálido, que conversava com Tessy. Estavam fixos nele, analisando suas roupas, seu corpo, sua expressão.

Claro, quem olhasse para ele iria pensar que estava de olho na loira com quem o outro conversava. Ninguém jamais pensaria que ele, Murilo Jaguar, estava encarando fixamente outro garoto.

Suspirou. Ele realmente não sabia o que estava acontecendo com ele. Tudo vinha se tornando extremamente confuso desde que fora naquela maldita boate, naquele maldito dia e bebera mais do que deveria.

Era o quinto copo naquela noite. Não fazia a mínima ideia do que estava ingerindo, só sabia que sentia a bebida queimar sua garganta e aquecer seu corpo, ao mesmo tempo em que se sentia cada vez mais livre, leve.

O término com Cameron não estava sendo fácil de encarar. Ele estava há um bom tempo com a garota, e saber que ela o trocara por outro fora realmente péssimo. E ele não tinha capacidade de suportar aquilo sozinho. Por isso o álcool.

Perambulava pela pista de dança, roçando de vez em quando em algumas garotas, até que seus olhos recaíram sobre o garoto encostado na parede.

Cabelos negros, pele branca, olhos levemente puxados e da mesma cor dos fios. Bissexual. Satoru estudava consigo há pelo menos 3 anos, e pelo que se lembrava, no primeiro ano que estudaram juntos ele havia demonstrado certo interesse em si.

Era hétero e tinha certeza disso. Porém não saberia dizer se era a bebida, ou talvez a falta da namorada, mas alguma coisa estava fazendo aquele garoto ser atraente ao seu ponto de vista.

Aproximou-se rapidamente dele, encostando ao seu lado. Os olhos do oriental seguiram seu movimento e sua sobrancelha arqueou ao vê-lo ali.

– E aí... Satoru. Curtindo a boate?

O tom de sua voz era claramente de alguém que estava embriagado. Qualquer um perceberia isso sem dificuldade alguma.

– Hm.

A resposta monossilábica do outro não era exatamente o que queria ouvir.

– Qual é, não quer conversar?

Satoru revirou os olhos.

– Não estou a fim de perder meu tempo conversando com bêbado.

Um sorriso surgiu nos lábios do garoto de olhos claros.

– Mas podemos fazer muitas coisas ao invés de conversar – E ao proferir a frase, colocou-se na frente do outro, puxando-o pela cintura e colando seus corpos.

Apesar de surpreso pela atitude do outro, seus lábios também se repuxaram em um sorriso sacana.

– Tem certeza disso?

E a resposta veio sem palavras. O outro simplesmente chocara suas bocas, que logo se entreabriram para poderem aprofundar o beijo. As mãos afoitas passaram a percorrer os corpos. Arranhar, morder, beijar. Um ciclo que se encerrou apenas horas depois, quando os dois acabaram por dormir no pequeno banheiro da boate.

Bufou alto. Não fazia a mínima ideia de como tinham parado naquele banheiro. Porém sabia o que tinham feito.

Depois daquele dia, nenhuma palavra havia sido trocada entre os dois. Foi como se nada tivesse acontecido.

Ainda observando Satoru, arregalou os olhos ao vê-lo beijar a garota loira com quem estava conversando. Fora apenas um encostar de lábios, mas pegou-o de surpresa. E talvez a maneira como estava encarando a cena ou a forma como não disfarçava o que estava fazendo, atraiu a atenção do outro garoto que olhou para ele e franziu as sobrancelhas.

E eles ficaram ali, se encarando, enquanto Tessy falava sobre algum assunto que claramente não interessava ao oriental.

Ali, olhando para os olhos negros daquele com quem passara uma noite, ele assumia. O que houve foi repentino, inesperado e não se repetiria. Era um segredo sujo que ambos compartilhariam para sempre.

Porém, não podia negar. Algo dentro de si havia mudado.