Highway To Glory escrita por ThequeenL


Capítulo 1
Um - Clove


Notas iniciais do capítulo

Primeira Fanfic aqui, aos comentaristas peço clemência, rs.



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"Tributos do Distrito 2, vocês tem trinta minutos antes de desembarcarmos na Capital" Disse a voz de Enobária ecoante entre os vagões. Meia hora. Esse era o tempo que restava para não pensar em nada antes de ir à luta pela glória, e eu nem tinha chegado sequer a trocar duas palavras com o outro tributo. Acho que o nome dele é Cato, mas não tenho absoluta certeza, o único nome que consigo lembrar direito é o meu, sendo chamado no palco da colheita. Depois disso o orgulho tomou conta de mim de tal modo que tudo parecia supérfluo à minha volta. Ser escolhida depois de tanto tempo, sem precisar me oferecer como tributo, foi realmente fantástico. A sorte estava de fato ao meu favor.

Depois do sorteio feminino tudo o que tenho em minha mente são borrões pouco significativos, mas de sentido previsível: um menino é sorteado, porém outro sobe no palanque em seu lugar, o que sugere que esse ano (como de praxe) temos um voluntariado. Meia dúzia de palavras são ditas pela mulher de cabelos curtos que será nossa instrutora enquanto me fazem apertar a mão do rapaz que se ofereceu para os jogos, depois na prefeitura despedindo-me de meus pais e meu irmão, e agora aqui, sentada na mesma posição dentro do meu vagão-quarto desde o início da viagem. E a única coisa que consigo pensar é na minha sorte. Mal consigo crer no que está por vir. Finalmente aqueles anos de treinamento serão convertidos em algo real. Eu, Clove Ruthless, que sempre fui subjugada e subestimada, terei em fim minha chance de mostrar todo o meu potencial. 74º Jogos vorazes, 24 tributos e apenas 1 sai vivo. Além de honrar o Distrito ainda há glória e fama para aqueles que saem vitoriosos. E o que há de mal nisso?

Consigo sair dos meus pensamentos e rumo em direção ao espelho da penteadeira. É impossível conter o riso, a excitação, a felicidade. Miro fortemente o olhar e vou analisando cada parte de minha face refletida, que está perfeitamente alinhada graças aos bons cuidados proporcionados pela minha alta renda familiar.

"Eles terão muito pouco trabalho para te fazer apresentável na tv. Talvez você possa usar o mesmo estilo menininha inocente que a Johanna, vitoriosa do ano passado" murmuro para mim mesma enquanto solto os cabelos até então presos em um rabo de cavalo alto. Com a pele clara e os cabelos longos e lisos, muitas vezes eu era comparada a um anjo nos tempos de colégio. Na academia de carreiristas ,no entanto, perceberam meu gosto um tanto sádico pela caça, pela luta, pelos jogos. A maioria das outras carreiristas eram umas frescas que insistiam em ir com roupas vindas da Capital para mostrar status, se limitavam a aprender como usar uma espada e quase nunca derramavam sangue. No treinamento com animais, algumas faziam cara de nojo quando algum esquilo era cortado ao meio ou decapitado. Eu particularmente achava os dias entediantes quando não havia nenhuma gota vermelha pelo chão. Se meu irmão tivesse aqui, diria "Clo, não sei como você consegue se manter tão calma em situações como essas", mas isso é porque ele é mais novo e ainda não tem idade para ver os Jogos. Sinceramente não consigo entender como ainda existem pessoas com estômago fraco em Panem depois de quase um século vendo mortes humanas cada vez mais depravadas na tv. Eles não entendem, não entendem que quando você está em uma arena é matar ou morrer. Eu entendo, nasci para isso. Talvez tenha sido minha criação, já que desde pequena vejo mais professores de luta do que meus próprios pais, que se me lembro bem nunca me trataram com o menor risco de afeto. Talvez seja apenas a natureza humana que é má por si só e a qual eu não sinto necessidade de mascarar. Talvez seja porque eu desconheça qualquer tipo de amor ou carinho e, portanto, veja tudo de uma maneira mais gélida. Qualquer que seja o motivo, me fiz forte.

Um sino toca no corredor me avisando que é hora de ir ao vagão de jantar me servir antes da chegada, e caminho sem o menor entusiasmo, preferiria cear sozinha como de costume. Ao entrar no cômodo percebo que nenhum dos presentes se sente confortável com tal proximidade, mas seguimos o protocolo. Por fim Enobária diz algumas palavras para mim e para o outro tributo enquanto um grupo de serviçais Avox retira os pratos da mesa. Ela informa que após a chegada rumaremos direto para nossas instalações no segundo andar do prédio onde ficam os outros participantes e então teremos o resto da noite livre. O menino (que de fato se chama Cato) acena com a cabeça e retorna aos seus aposentos, e eu não demoro a fazer o mesmo, agora é só esperar.

Chegamos na hora prevista e subimos pelo elevador. O andar é de fato maravilhoso. Não que eu não estivesse acostumada com luxo, mas é impossível comparar as construções do Distrito 2 com as da Capital. Começo a sentir de verdade a satisfação de fazer parte dos Jogos Vorazes. Dentro do meu quarto o armário já se encontra repleto de roupas e sapatos, e escolho o que mais faz o meu estilo (o que foi bem difícil de encontrar): uma camiseta cinza e uma calça preta, o mais simples possível para terminar a noite. Penso em usar logo uma camisola, mas todas eram muito coloridas e cheias de babados totalmente desnecessários, de modo que ficaria parecida com um bolo confeitado e não com uma moça do meu grau de maturidade. Do lado de fora do quarto está tudo silencioso, o que me faz deduzir que todos já foram se deitar. Depois de explorar um pouco o andar (que mais parece uma casa), me confundo com os corredores e tento voltar ao meu quarto, e fico aliviada ao encontrar a porta de madeira entalhada em dourado. Vou abrindo sem cerimônias e quando percebo estou realmente dentro de um quarto, mas que claramente não é o meu, a menos que tenham mudado as cores das paredes e os móveis todos de forma e de lugar. Me viro para sair quando ouço atrás de mim uma voz masculina desconhecida

“Veio falar comigo?” Pergunta o outro tributo, que agora vejo estar enrolado numa toalha branca pela cintura e sem camisa. Isso é definitivamente inapropriado, tendo em vista que é o mais perto que já cheguei de um cara sem ter a intenção de matá-lo. No momento.

“Quarto errado, já estou de saída.”

“Espera. A gente nem foi apresentado”

Ótima hora para apresentações. Penso em fugir, mas esse não é um comportamento digno. Se eu tivesse alguma faca, pelo menos poderia distraí-lo com alguns arremessos. Tento parecer suportável já que fui eu quem invadiu o local.

“Sou Clove, Clove Ruthless”

“Cato Greedth. Você está bem por ter sido sorteada hoje? No palco você parecia meio tensa...” Ele começou provocando. Senti meu ego inflar em defesa

“Eu queria ser sorteada! Não sou uma fraca qualquer que passa o ano temendo os jogos” Disse com raiva. Odeio quando acham que eu sou covarde.

“Não foi o que eu quis dizer” Ele consertou frio enquanto colocava uma camisa e uma bermuda decente por trás da porta do closet. Ao sair, seu olhar era de deboche, com um meio sorriso e uma sobrancelha levantada. “você queria mesmo ser sorteada? Não foi o que pareceu”

“Só porque eu não tive a oportunidade de me voluntariar não significa que estou aqui contra a minha vontade. Sou perfeitamente capaz disso.” Digo um timbre acima do tom normal.

“Que seja, não precisa gritar ou vai acordar todos do edifício. De qualquer maneira eu só estava brincando com você. Não me lembro de ter te visto no centro de treinamentos”

“É porque sou discreta” Retruco agora num tom mais baixo, mas ainda imponente. Ele se escora de braços cruzados na parede oposta e revira os olhos como se pensasse que discreta seria a última palavra numa lista de definições sobre mim, e sou obrigada a revelar minha identidade. “Sou a garota que atira facas”

“A dos esquilos? Não brinca. Você acerta bichos em movimento num raio de vinte metros!”

“Mais de vinte, ás vezes”

“É, então talvez você não seja assim tão fácil de matar”

“Nem um pouco fácil de matar, eu diria” Agora é a minha vez de olhar com desdém. Ele não se intimida e mantém a postura.

“Confio no meu taco. Você realmente acha que ganharia num confronto contra mim? Você já deve ter ouvido falar da minha habilidade com espadas”

Ótimo, ele é um dos babacas espadachins. Minha destreza com armas maiores não deixa nada á desejar, mas sempre preferi armas menores e de grande alcance como flechas, dardos ou facas. A verdade é que consigo fazer armas com qualquer coisa. Acho que aqueles que têm necessidade de manter uma arma grande em mãos são dependentes demais.

“Duvido muito que você consiga me alcançar de longe com uma”

“Há outras maneiras de matar na arena. De qualquer forma não é algo que vamos ter que nos preocupar de imediato, os Carreiristas sempre formam um grupo no começo. Enobária disse que este ano a melhor estratégia é nos manter unidos o maior tempo possível”

“só posso torcer para que ele seja curto então” Digo em voz alta sem perceber. Cato olha para mim surpreso e um tanto quanto furioso. Imagino que agora ele vá dizer algo realmente maldoso ou apenas jurar que eu serei a primeira a morrer por ele, mas ao invés disso ele caminha até mim e me prende bruscamente contra a parede, chegando bem perto, me permitindo ver com clareza seus grandes olhos azuis desafiadores

“espero que não seja tão curto assim” Ele sussura. Saio do quarto em silêncio, e a última coisa que consigo me lembrar é de estar avançando pelo corredor em direção ao meu quarto completamente aturdida pelo que tinha acabado de acontecer.



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Notas finais do capítulo

O final do capítulo ficou ruinzinho e o Cato ainda não está fiel ao perfil "real", mas esperem por melhoras. Deixem por favor algum cometário/dica em reviews, thanks :)