Crônicas De Hogwarts I escrita por Ennaz


Capítulo 2
Pirraça se Apavora


Notas iniciais do capítulo

Uma das coisas que eu gosto de fazer, é de brincar com as expressões do português. Gosto de pegar algo que não costumo escrever e usar até seu uso tornar-se instintivo. É um exercício deveras divertido. Pelo menos, para mim.
Conto isto aqui, pois brinquei em uma das falas de uma personagem extravagante que apresentarei neste capítulo. Elas repente os mesmos termos em sua fala, pelo menos, três vezes. É o tipo de fala que as pessoas precisam ficar atentas para compreendê-la.
Então, fica a dica. Divirtam-se



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Recapitulação dos capítulos anteriores:

O pior dos sonserinos, na opinião de Tiago, estava logo ao pé da escada. Esperando por alguém.

– Ah, bom dia, Sev! – Lílian desceu a escada, correndo para se reunir com Severo Snape.

Um rapaz da idade deles. De pele macilenta, nariz em forma de gancho, anormalmente grande e cabelos oleosos. É, era ele mesmo. Tiago e Severo se tornaram inimigos eternos desde aquele dia no trem. E jamais houve sinal de trégua entre eles.

[...]

– Eu sei que foi você. – Lílian quase enfiou o dedo nos óculos de Tiago.

– Não fui eu, Ruivinha. – respondeu ele, tomando que, como não fora ele quem jogou o fogo de artifício, não era culpado. – E mesmo que fosse, o que não foi, como provaria? Nem o Slughorn tem como provar.

– Infelizmente você tem razão. Eu não tenho.

– Viu?

– Mas não quer dizer que outra pessoa não tenha.

Tiago não gostou da ênfase.

– O que isso quer dizer? – ele preocupou-se.

– Nada. Por enquanto.

Rute, ao lado de Lílian, lançou um olhar triste para os marotos, e foi na frente, com a amiga. [...]

O chão e as paredes do quarto tremeram repentinamente. Temeu que o teto caísse sobre a sua cabeça. Um relâmpago iluminou o cômodo com uma claridade tão forte e ofuscante quanto o sol, por uma fração de segundo. O trovão explodiu em seus ouvidos, quase o ensurdecendo. Ele então acordou. Sobressaltado, e suando frio.

Buscou seus óculos no criado-mudo. Assim que sua visão ganhou foco, ele reparou em algo estranho. O despertador que ficava na outra mesinha de cabeceira a frente não estava mais lá.

Procurando olhar de perto, para ver se o relógio de corda não tinha sido jogado atrás da cômoda por um de seus amigos, reparou que a luz do sol estava forte e quente demais para sete da manhã. Abriu a janela para verificar, e viu que o sol estava muito alto. Deveria ser mais de nove horas. Assustado ele procurou seu amigo mais perto.

Encontrando a cama de Pedro, ele abriu a cortina da cama com violência. Mas se deparou com o leito vazio e as cobertas frias e esticadas. Como se ninguém tivesse dormido naquela cama há dias.

Ainda mais assustado, ele procurou por Sirius. Mas antes que ele pudesse abrir a cortina da cama do amigo. O próprio o fez. Surgindo com uma aparência alucinada.

– Cara! Eu tive um pesadelo terrível!

– Que pesadelo?

– Um terremoto, relâmpago e um trovão ensurdecedor.

– Você também?

– Vocês também? – Remo abriu o seu cortinado.

– Oh! Vocês estão aqui também.

Lílian e Rute entraram. A segunda atravessou o quarto sem cerimônia e arreganhou o armário de Sirius.

– Ei! Ué? – exprimiu-se Sirius, ao constatar que seu armário estava vazio. – Cadê as minhas coisas?

Rute e Tiago abriram os outros armários do quarto. Todos eles estavam vazios.

E só para ter certeza, Tiago verificou a cama de Jasão Hughes. A encontrando vazia, do jeito que estava a cama de Pedro.

– O... que está acontecendo? – perguntou Remo.

Após um breve momento de silêncio. Lílian respondeu:

– Estamos sozinhos em Hogwarts.

Capítulo 2

Pirraça se apavora


– Não é bem assim. – disse Rute. – Até onde pudemos ver, estamos sozinhos só na Grifinória.

– Acha que tem gente fora da torre? – Lílian perguntou surpresa.

– Por que acha que estamos sozinhos em Hogwarts? – sondou Rute.

– Bom, as nossas coisas sumiram, as coisas dos outros também, e todo mundo também sumiu. – Respondeu a amiga, em tom de obvio.

– Confesso que é muito estranho.

Um tanto atordoado, Tiago ficou absorto na conversa das duas, tentando absorver alguma coisa, até que Rute reparou nele.

– Os seus óculos não sumiram?

– Hã... não.

– Como os seus óculos não somem, quando todas as nossas coisas somem?

– Não sei...

– Estranho...

– Esquisito.

– Bom, essa é uma questão estranha, mas – interrompeu-os Remo – não há ninguém em Hogwarts, mesmo?

– A Lil exagerou. Até onde sabemos, estamos sozinhos na torre da Grifinória. Parece que somos os únicos alunos da casa.

– Então é o caso de procurarmos por alguém. – disse Tiago correndo porta a fora.

Os demais o seguiram de perto, correndo com ele.

Descobriu que as meninas estavam certas quando disseram que não havia ninguém na torre. O salão comunal estava vazio. A lareira aparentava estar sem uso há dias. Sequer havia lenha.

Antes de atravessar a passagem da Mulher-Gorda, Tiago se voltou para os amigos.

– Há alguma objeção sobre sairmos como estamos?

Cada um olhou para si e para os outros.

Lílian vestia uma estranha e triste camisola – de velha, amarela com florzinhas cor de rosa. Rute usava um blusão verde e um shortinho salmão do qual só se podia ver a sua barra saindo por baixo do blusão, seu cabelo castanho-escuro comprido e liso, trançado com lacinhos ridículos. Sirius se encontrava com a sua costumeira camisa preta e a bermuda de elástico. Remo usava seu pijama marrom extremamente simples. E por fim, Tiago usava a sua blusa branca com calça comprida.

– Bem... se houver alguém lá fora será um mico, né? – comentou Remo.

– Eu não me importo nem um pouquinho – Sirius sorriu metido.

– Sem objeção. – disse Lílian – Nossas coisas sumiram. Todo mundo sumiu. E tenho certeza que não há ninguém em Hogwarts.

E olhou para Rute. A última esboçou um leve sorriso.

Tiago suspirou teatral.

– Então, apenas basta que o herói se ponha em risco a fim de evitar o pior dia dos seus-

– Vai logo, Potter!

– Ok... estraga prazeres – resmungou antes de atravessar a passagem.

Quando empurrou o quadro da Mulher-Gorda, a figura no quadro exclamou espantada:

– Quem esta aí?!

Ela encarou Tiago quando se fechou.

– O que está fazendo aqui, Sr. Potter? – perguntou.

– Ah... eu estudo aqui?

– Ah! Eu sei que você estuda aqui. Mas o ano letivo só começa amanhã. O que faz aqui tão cedo e ainda por cima só de pijama?

– O que? O ano letivo começou há dois dias. Esse é o terceiro dia.

– Há dois dias? Querido você bateu a cabeça, foi? Está se sentindo bem? – ela quis por a mão na testa dele, mas ela não era uma figura tridimensional – Ah! Maldição! Oh!

Sirius abrira a passagem.

– Tem alguém aí, cara? – perguntou.

– Ah. – Tiago olhou a volta. – Não.

– Não tem ninguém aqui. Podem sair. – ele disse para dentro.

E em seguida, todos estavam no corredor da Grifinória, de pijama e camisola.

– Por que tem tantos alunos aqui? O que vocês estão aprontando?

– Esqueçam a Mulher-Gorda, ela enlouqueceu.

– Retratos enlouquecem? – perguntou Lílian ao correrem em direção ao saguão de entrada.

– Sei lá, mas ela disse umas coisas sem pé nem cabeça pra mim, agora a pouco.


A caminho do saguão eles estranharam quando não viram ninguém além de fantasmas. E estranharam mais ainda quando se depararam com um minipântano bloqueando o caminho num dos corredores que costumavam usar.

– Isso não estava aí antes. – disse Sirius, coçando a cabeça.

– Não havia nenhum pântano em miniatura aqui. O que aconteceu? – Remo perguntou nervosamente.

– Não sei... mas talvez devamos tentar atravessá-lo.

– Potter, eu não costumo ser chata com essas coisas, mas já viu o cheiro que tem isso daí. Vamos sair daí fedendo a gambás.

– Monumento aos irmãos gêmeos Fred e Jorge Weasley – Rute leu uma placa ao lado do pântano – erigido no início de mil e novecentos e... noventa e seis. Tombado pelo Ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt, no dia dez do mês de maio do ano de mil e novecentos e... noventa e oito.

Tiago sentiu seu cérebro falhar momentaneamente.

– Isso só pode ser uma piada...

– Vamos logo para o saguão, procurar alguém.

E Lílian liderou a corrida dessa vez.


Passaram por corredores. Uma passagem secreta. E uma porta atrás de uma tapeçaria. Chegaram ao Saguão por uma porta a oeste.

O saguão estava deserto.

– Não tem ninguém. – disse Lílian, olhando em volta.

– O que é isso? – Rute apontou.

Bem no meio do saguão, havia uma estela de mármore preto na forma de prisma retangular. Com inscrições douradas.

– Nunca vi aquilo. – disse Tiago, e se aproximou, a fim de vê-la melhor.

Chegando perto, pode ler as palavras talhadas no mármore:

– "Monumento erguido em memória às vidas perdidas na Batalha de Hogwarts..."?

– Batalha de Hogwarts?

– Houve uma Batalha de Hogwarts?

– "..., ocorrida em dois de Maio de mil e novecentos e noventa e oito."?

– Mil e novecentos e noventa e oito? Oito dias antes daquele mini-pântano ser tombado pelo ministério da magia.

– Eu até agora não entendi o que está acontecendo.

Rute tomou o lugar de Tiago e continuou a ler sem se interromper:

– "As hostilidades começaram na noite de primeiro de maio de mil e novecentos e noventa e oito quando foi confirmado que Harry Potter, cujo paradeiro era até então desconhecido, se encontrava nos arredores de Hogsmead ou em Hogwarts, o que mais tarde foi confirmado. A batalha teve início à meia-noite do dia dois de maio de mil e novecentos e noventa e oito. E findou com a morte de Tom Servolo Riddle, auto-intitulado Lorde Voldemort, pelas mãos do herói Harry Potter, no derradeiro duelo bruxo que ficou conhecido como O Último Duelo."

"Nesse dia, a aurora brilhou para a nova era bruxa, que trouxe grandes mudanças."

"Segue-se, a partir daqui, o nome de todos os heróis que perderam suas vidas na última batalha por um futuro melhor."

Em silêncio, estarrecidos, os cinco estudantes leram os nomes das vítimas e as breves informações sobre cada uma. Muitos nomes lhe pareceram conhecidos. E alguns, em particular, lhe chamavam a atenção. Um deles os abalou especialmente.

– Remo J. ... Lupin? – assombrou-se o próprio ao ler seu nome e informações talhadas no mármore. – Não pode ser... eu morri?

– Casado e pai de um menino. – leu Sirius.

– Isso... só pode ser uma brincadeira de mal-gosto!

Remo irritou-se.

– Dois de maio de mil e novecentos e noventa e oito? Por favor, tenha dó! Ainda estamos no dia três de setembro de setenta e quatro! O que eles querem? Nos convencer que viajamos no futuro num piscar de olhos sem vira-tempo, e viemos parar num futuro em que supostamente ocorreu uma guerra e uma batalha e que eu morri nela? O que querem? Qual é o motivo? Tiago, por um acaso isso é alguma brincadeira idiota sua? – perguntou Remo, pegando o amigo pelo colarinho.

Como Tiago era mais alto, Remo teve que puxá-lo para baixo e elevar o rosto para encará-lo nos olhos.

– Remo, solte o Tiago agora! – mandou Sirius. – Isso não é nenhuma brincadeira dele!

– Então deixe-o responder! O que me diz, Tiago?

– Eu não tenho nada a ver com isso. – disse Tiago, firmemente.

O suficiente para Remo soltá-lo. Seu semblante caiu. E começou a chorar aos pés da estela.

Tiago pôs a mão em seu ombro enquanto chorava.


Quando Remo finalmente se recuperou. Devendo ter passado do meio-dia. Eles voltaram a examinar a estela. E passaram a discutir outro assunto surpreendente.

– Voldemort foi morto. – disse Sirius.

– E por um herói chamado Harry Potter. – Rute observou.

– Você tem algum parente chamado Harry? – perguntou Lílian para Tiago.

– Não. De Potter, entre os bruxos na Grã Bretanha, só tem eu e meus pais. Todos os meus parentes já morreram. Só tenho parentes distantes agora em outros países de língua inglesa. Mas nossos ramos são tão distantes que nem dá para chamá-los de parentes. Nem sei quantos são.

– Será que não é um filho seu, Tiago. – especulou Remo. – Afinal, de acordo com a estela, estamos, no mínimo, em algum momento em mil e novecentos e noventa e oito.

– É... até que não seria mal ser pai do cara que matou Voldemort.

– O que indica que esse seu filho não poderia ter mais que... levando fé que Tiago não se tornará pai antes da formatura – disse Remo – o garoto teria nascido, no mínimo, no ano de mil e novecentos e setenta e oito, lá para bem no final. O que significa que ele não deveria ter mais de vinte anos quando matou Voldemort.

– Fantástico.

– Mas isso é só especulação. – lembrou Lílian.

Uma risada zombeteira encheu o saguão.

Já sabendo quem era, ouviram atentamente o que ele tinha a dizer. Procurando localizar sua posição.

– Aluninhos? Perdidinhos?

Finalmente ele apareceu. Cartola laranja. Terno roxo. Gravata verde. Pernas e braços cruzados deitado no ar, logo acima da estela. Ali se encontrava Pirraça, o polthergeist.

– Querem brincar-

Ele parou abruptamente ao encará-los. Despencou até o chão. Deu uma longa olhada no rosto de cada um. E...

– AAAAAAHHHHHH! TEM MORTO ANDANDO COMO VIVOOOOO!!! SALVE-SE QUEM PUDER!!!

Saiu correndo subindo a imponente escada para os andares superiores.

– Ele até esqueceu que podia voar e atravessar paredes. – disse Tiago.

– Mas o que fazem aqui?

Dessa vez, uma voz desconhecida se fez ouvir por trás deles. Tiago se virou e encarou uma mulher atarracada em vestes cinza e esfregão na mão. Com um olhar muito zangado.

– Ainda nem é primeiro de setembro. O que estão fazendo aqui? E de roupa de dormir, ainda por cima.

Mas antes que alguém respondesse, ela continuou:

– Ah! Deixa pra lá! Venham comigo! Vocês são de que casa? Ah! Não importa. Irei levá-los para a diretora substituta, e vocês serão devidamente castigados.

À mercê das reclamações da estranha mulher com o esfregão, Tiago e os outros foram conduzidos para a sala da diretora substituta. Subiram escadas e mais escadas. Escondidas e principais. Atravessaram tapeçarias e portas. Em nenhum momento eles mencionaram uma fuga, ou algo do gênero, acreditando que poderiam falar com a Prof.ª McGonagall e descobrir o que estava acontecendo. Mas a coisas começaram a ficar estranhas quando eles viraram um corredor no sétimo andar.

Uma música estranha aos ouvidos de Tiago, e muito bonita, pode ser ouvida á distância. Á medida que se aproximavam, a música ficava cada vez mais nítida e clara. Tiago reconheceu o instrumento como o órgão. E Lílian reconheceu a melodia:

– O Fantasma da Ópera.

– Amigo seu? – perguntou Sirius, achando que se tratava de um fantasma de verdade.

– Não. É um musical trouxa conhecido no mundo todo. Bem, originalmente era um livro, mas foi adaptado diversas vezes para o palco e para o cinema como um musical. Essa música é uma delas.

– Não entendi quase nada do que você disse, mas percebi que é algo grande.

– A McGonagall não toca órgão. – disse Tiago, preocupando-se. – Pelo menos não na escola.

– Era o que estava pensando. – Rute concordou.

– Silêncio! Vocês nem deveriam estar aqui! – mandou a mulher com o esfregão.

– E a gente nem sabe quem é você. – disse Sirius.

– Ah! Típico de vocês alunos. Nunca sabem quem limpa a escola para vocês. Nunca lembram o nome de quem fica horas raspando pedaços de gosma das paredes e do teto depois que vocês brincam de guerra de lesmas-amarelas. Nunca lembram.

Eles finalmente chegaram a frente à entrada da sala da vice-diretora. Uma gárgula como a da sala do diretor, bloqueava o caminho se não lhe dissesse a senha. A mulher do esfregão deu a senha, bastante curiosa:

– Se a rosa não se chamasse rosa, ela não exalaria o mesmo aroma?

– Senha estranha – murmurou Sirius. Apenas Tiago pode ouvi-lo.

A gárgula, com cara de lobo, ganhou vida. Saiu do caminho. Revelando uma escada circular que dava para uma antessala.

O som de órgão, agora mais nítido, saía levemente abafado pelas portas-duplas. A mulher com o esfregão bateu firmemente na porta. A música parou e uma voz desconhecida mandou:

– Identifique-se.

– É Cadi Arewhere, Prof.ª Harrison.

Silêncio.

Passos.

A porta se abriu, rangendo levemente. Um aroma floral empesteou a antessala. Surgiu, na porta, uma mulher muito branca; vestindo vestes negras bufantes brilhantes. Tinha o cabelo curto cacheado de cor de ouro. Usava um par de óculos cuja armação vermelha-brilhante era puxada nos cantos superiores. Ela piscou seus olhos verde-esmeralda, como se não acreditasse no que via, e perguntou:

– Por que tem cinco crianças de pijama, para os quais eu não me lembro de ter dado aula em toda a minha vida, na frente do meu escritório? Sendo que ainda estamos em trinta e um de agosto. Vale ressaltar. O que estão fazendo aqui? Deveriam estar em casa aos prantos por causa do fim da moleza.

Tiago lançou olhares preocupados para Remo e Sirius.

A mulher loira apoiou-se no portal, a mão no queixo, aparentemente tentando decifrar o enigma que aparecera a sua frente. Suspirou, e disse:

– Entrem, vocês cinco. Srta. Arewhere, pode voltar aos seus afazeres.

Dito isso, a mulher com o esfregão partiu, um rápido cumprimento de cabeça para a professora desconhecida. Tiago, Lílian, Sirius, Remo e Rute trocaram olhares nervosos.

– O que estão fazendo aí parados, andem, entrem.

Mandou a mulher novamente. Dessa vez Tiago olhou para Sirius. Ambos não sabiam o que fazer. A mulher era uma completa estranha. Mas Tiago não viu opção melhor. Então foi o primeiro a entrar.

Assim que pôs o pé para dentro da sala, logo sua atenção foi chamada para o grande órgão do outro lado da sala. Os tubos dourados de alturas variadas eram harmoniosamente organizados em sete seções e emoldurados com madeira mogno envernizada. Esculturas de divindades gregas da música em mármore branco-cinzento embelezavam ainda mais o magnífico instrumento. Os quatro teclados e os vários puxadores causaram a Tiago um sentimento de intimidação.

Uma fina, porém melodiosa voz pôs-se a encher o cômodo com o seu som hipnotizador. Entre o garoto e o órgão, onde antes ficava o jogo de sofás e poltronas verdes e xadrez da McGonagall, havia uma fonte, ofuscada pela visão do órgão. A fonte imitava uma cachoeira em miniatura que enchia um lago, ou um ribeirão. Com uma árvore de tronco fino e copa dupla em miniatura do lado oposto à cachoeira. Numa rocha logo abaixo da árvore, uma miniatura de mulher jovem, de cabelos negros compridos e pele parda, se penteava enquanto cantava. Piscando seus olhinhos verdes para Tiago.

– Iara! Para com isso! – mandou a mulher de cabelos dourados. A minimulher lhe lançou um olhar aborrecido e mergulhou. Um rabo de peixe surgiu no lugar das pernas.

Tiago piscou ao sair do transe, que ele sequer percebeu entrar. Seus amigos e as meninas já tinham entrado. Cada um observando um objeto novo. Numa mesa abaixo de uma janela, ladeada por duas imensas estantes cheias de livros, pergaminhos e outros objetos, tinha um incensário. De onde se originava o perfume floral que enchia a sala. Vizinho de uma bailarina de cristal que fazia piruetas no lugar e uma vitrola.

– Sentem-se aqui, comigo, crianças. Vamos conversar.

A estranha professora indicou um conjunto de sofás e poltronas de mogno, estofados e tecidos vermelhos, dourados e brancos. Com uma mesinha de centro. Onde se via um jogo de chá preparando chá sem ajuda de mãos.

Tiago se sentou num sofá, com Sirius. As duas meninas se sentaram no sofá de frente para eles. Remo na poltrona de uma das pontas, e a professora na oposta. Encarando cada um dos cinco jovens. Arrumou a veste bufante. Cruzou os tornozelos para dentro. Postura ereta. Ela olhou para cada um e perguntou:

– Quais são os seus nomes?

Ela encarou Rute, primeiro.

– Rute Castle. – respondeu a menina, calmamente.

A professora passou a olhar para Lílian, que respondeu ligeiramente nervosa:

– Lílian Evans.

Uma sobrancelha da professora se levantou. Fixou um olhar avaliador em Lílian por mais um tempo, até que se voltou para Remo.

– Ah... Remo... Remo Lupin. – ele estava muito nervoso. Ficando ainda mais nervoso quando a professora expressou surpresa moderada ao ouvir seu nome.

Com um olhar desconfiado, ela virou seu rosto para Sirius. Metido, ele respondeu:

– Sirius Black.

Agora a professora parecia ficar nervosa. De cenho franzido, ela olhou nos olhos de Tiago, que disse:

– Tiago Potter.

A professora ficou muda. Olhou para o grande bisbilhoscópio imóvel em sua mesa do outro lado da sala. Em seguida encarou suas mãos sobre seu colo. Como se conversasse mentalmente com elas. Esfregando uma na outra. Até que se levantou. Agitada. Inspirou e expirou três vezes e perguntou:

– E por que estão com apenas roupas de dormir?

Cauteloso, Tiago trocou olhares com os outros, e respondeu:

– Nossas coisas sumiram.

– Sumiram?

– Sim. Nossas roupas. Malões. Livros. E... todos que conhecíamos.

Piscando para a última declaração de Tiago. A professora continuou com o assunto das roupas.

– Eu posso lhes dar umas roupas que eu tenho comigo. Há, também, algumas roupas feitas pelos alunos de estilismo mágico que vocês podem usar. Mas... enquanto isso... acho melhor lhes apresentar ao diretor. Oh! Ora essa. Esqueci de lhes servir chá. – encarou o bule intocado – Deixa pra lá. Venham comigo.

Apressada, mandando-os segui-la:

– Vamos. Vamos. A hora é curta.

– Ela me lembra a McGonagall – Rute comentou baixinho enquanto seguiam a professora de vestes bufantes.

Desceram a escada circular, a gárgula saltando de seu lugar para deixá-los passar. Sem fazer nenhuma parada, a professora os levou diretamente para a entrada da sala do diretor Dumbledore. A gárgula já conhecida de Tiago, deu ao garoto novas esperanças de ver tudo explicado e dentro de seu contexto normal novamente. Mas então a professora deu a senha:

– Bubotúberas.

Dumbledore sempre usou nomes de doces como senha. Não de plantas. O que estava acontecendo?

A gárgula saltou para o lado, revelando a escada circular conhecida. A professora foi na frente, mandando que os garotos a seguissem. Na antessala do diretor, a professora parou diante da porta para o escritório. E bateu dez vezes, tão rápida quanto um pica-pau furando a madeira.

Meio minuto depois, a porta se abriu. E um homem alto, ligeiramente fora de forma, de barba aparada, abriu a porta.

– O que aconteceu agora, Prof.ª Harrison? – perguntou numa voz cansada.

– Temos cinco garotos desconhecidos de roupas de dormir perdidos na escola. – ela saiu do caminho, fazendo um gesto amplo para Tiago e os outros.

O tal diretor olhou diretamente na cara de Tiago, estreitando os olhos. O olhando de cima abaixo. Encarou a professora languidamente, com a cabeça enviesada, e disse:

– Não reconhece o seu aluno, Tiago Potter, Prof.ª Harrison?

Apontou Tiago.

A professora olhou de Tiago para o tal diretor, duas vezes, até que disse direta:

– Ta cego? Ele não é o nosso aluno que passou para o quinto ano recentemente chamado Tiago Sirius Potter, Prof. Longbottom. O nosso aluno que passou recentemente para o quinto ano chamado Tiago Sirius Potter, e que vai enfrentar os exames do N. O. M. s este ano, tem olhos castanhos tom de chocolate, iguais aos da mãe, Ginevra Weasley Potter. Este garoto que se chama, coincidentemente, Tiago Potter, sem o nome Sirius no meio, tem olhos castanho-esverdeados, também chamados olhos cor de avelã. – dissera aquilo tudo rapidamente, olhando nos olhos do tal diretor.

Já o diretor, não fez outro movimento senão ficar parado e ouvir. Depois olhou nos olhos de Tiago novamente.

– Ah! E o nosso aluno Tiago Sirius Potter não usa óculos de armação tartaruga – ela enquadrou os óculos de Tiago com os dedos – ele usa óculos retangulares de armação super descolada. Que lhe permite ser bastante popular entre as garotas.

– É... você tem razão... e... qual o nome dele mesmo, que você disse?

– Tiago Potter.

– Tiago potter?

– Tiago Potter.

– Tem certeza?

– Tenho.

– Parente do Harry?

– Harry Potter?

– É, de que outro Harry eu estaria falando?

– Sei lá, existem tantos Harry por aí. Poderia ser outro Harry, como Harry Houdini.

– Por que eu teria um amigo chamado Harry Houdini?

– Ué? Não pode?

Cansado de vê-los conversando como se os tivesse esquecido, Tiago simulou uma tosse.

– Que foi, filho, ta resfriado? Também pudera. Andando descalço por esse piso de mármore frio, todos vocês. Vou pegar as roupas que disse que tinha. Prof. Longbottom, que tal conversar com os cinco as sós, e descobrir, você mesmo, o que está acontecendo? Já volto.

E saiu.

– Ah... claro... senhores... entrem. Por favor. E não se preocupem, a Prof.ª Harrison pode ser um pouco excêntrica, mas é extremamente competente.

Ele abriu espaço para os garotos entrarem. Ainda desconfiados, eles entraram.

Tiago se lembrou de como era a sala circular quando era escritório de Dumbledore. Ele tinha estantes cheias de livros. E engenhocas e geringonças curiosas que ninguém nunca sabia para que servia. Talvez somente Dumbledore. Mas a sala do tal Prof. Longbottom não tinha geringonças curiosas. Tinha plantas. E no lugar da magnífica fênix no poleiro, se encontrava um sapo grande e gordo dentro de um aquário com água verde e montes de lama.

– Mas o que isso significa?!

A exclamação de Sirius chamou sua atenção para um dos retratos de ex-diretores no alto da sala circular. Bem ali, ressonando sobre uma poltrona verde, cabelos oleosos, pele macilenta e nariz anormalmente grande em forma de gancho... se encontrava Severo Snape. Mais velho; mais alto; e mais sombrio.

– O que? – Tiago engasgou-se.

– Oh! Eu não acredito! – rejubilou-se, Lílian.

Sua voz pareceu despertar Severo. Ele a encarou sobressaltado.

– O que Lílian Evans faz aqui? – perguntou o retrato.

– Isso é uma piada! Eu tenho certeza que é!

– Ora, se não é Tiago Potter. – o retrato sorriu cínico. – Não consegue acreditar na ideia de que aquele garoto que você desprezava viria a se tornar diretor de Hogwarts um dia?

E riu.

– Ora, seu...

– Isso é um pesadelo, só pode ser. – lamentou Sirius, branco como cera.

– Um cara odioso como você não pode se tornar o diretor de Hogwarts! – Tiago gritou para o retrato.

– Com medo, Potter?

– Nem um pouquinho! – era mentira.

– Severo, pare de importunar o rapaz. Já deveria ser sabido o suficiente para evitar discussões bobas como essa. – disse o retrato de Alvo Dumbledore, que Tiago não tinha reparado ainda.

– Prof. Dumbledore?

– Sim.

– Por que o senhor é um dos retratos dos ex-diretores?

– Bom. Por que eu morri.

– O que?

– É impossível. – disse Remo, lívido.

– O que? Não entendi. – Lílian perguntou.

– Quando um diretor morre, minha criança, seu retrato surge entre os retratos dos ex-diretores. – explicou Dumbledore.

– Isso significa que...

Ela olhou para o retrato de Snape. Então a ficha caiu. Severo Snape, naquela realidade estranha, estava morto.

Os anos de implicância pesaram na consciência de Tiago. Ele jamais desejara, sequer pensara, em ver aquele garoto esquisito morto. E lá estava, um retrato dele entre os ex-diretores, mortos, de Hogwarts. Ele e Dumbledore.

– Por que? – chorou Lílian – Por que, Sev?

Mas o retrato de Severo Snape não respondeu. Preferindo virar o rosto, levantar-se e dizer:

– Não me procurem. Estarei em alguma moldura vazia no castelo.

E saiu. Deixando uma poltrona solitária.

– O Prof. Snape sempre foi bastante frio. – lamentou o retrato de Minerva McGonagall.

O maior retrato da sala. Logo atrás da mesa do diretor. Onde eles ainda não tinham visto. Sentada numa poltrona vermelha. Ela sorriu para eles. Ainda que seu olhar fosse severo.

– A professora McGonagall também não! Me diga que a senhora também não morreu. – disse Sirius, desesperado.

– Eu morri, Sr. Black. Eu morri. Em paz. Deitada em meu leito. Em minha casa. Ao lado de meus familiares. A minha hora já tinha chegado.

– Por favor, me expliquem o que está acontecendo. – pediu o tal Prof. Longbottom, suplicante, aos retratos. – Me aconselhem a respeito do que está acontecendo.

– Os cinco garotos que se encontram á sua frente, Prof. Longbottom, estudaram em Hogwarts durante os anos de mil e novecentos e setenta e um e mil e novecentos e setenta e oito. Recomendo que seja sábio no que concerne às informações sobre os futuros de cada um.

– A professora confirma este fato? – perguntou o professor desconhecido.

– Sim. Eu confirmo.

– Então isso significa que estamos no futuro, Prof.ª McGonagall? – perguntou Rute.

– Sim.

– Isso é impossível. – disse Tiago. – Não estamos no futuro. É apenas uma brincadeira de mau gosto de alguém.

– E de quem seria, Potter? – Lílian perguntou.

– Sua! – acusou.

– O que? Minha? – ela perguntou ultrajada.

– E de quem mais seria?

– Por que minha?

– Sei lá. Talvez queira dar o troco por todos esses anos implicando com o seu amiguinho Ranhoso. Ele morto, seria uma boa forma de fazer me sentir mal por tudo o que eu fiz a ele.

– O que?

– Pois eu tenho uma novidade. Eu não me sinto mal por isso! – até o momento, Tiago controlara bem o seu tom de voz. Mas somente até quase gritar a última declaração.

– Não grite assim comigo, Potter.

– Eu estou gritando?

– Está.

– Eu não estou gritando!

– Está sim.

Você está gritando!

– EU não estou griTANDO!

– ESTÁ GRITANDO SIM!

– AGORA ESTOU GRITANDO! ANTES NÃO ESTAVA! MAS AGORA VOCÊ ME FEZ GRITAR DE TANTA RAIVA QUE EU SINTO DE VOCÊ!

– QUEM ESTÁ COM RAIVA AQUI, SOU EU, E DE VOCÊ! A CULPA É SUA! VOCÊ ARMOU ESSA BRINCADEIRA ESTÚPIDA! FEZ O REMO CHORAR!

– EU NUNCA FARIA UMA COISA DAQUELAS! NÃO FUI EU QUEM FEZ AQUELA ESTELA NO SAGUÃO!

– ENTÃO ADMITE QUE ISSO É UMA BRINCADEIRA SUA!

– NÃO! NÃO É! EU NÃO TENHO NADA A VER COM ISSO! ESTOU TÃO PERDIDA QUANTO VOCÊ NESSA HISTÓRIA!

– ISSO É MENTIRA!

– NÃO ME CHAME DE MENTIROSA!

– Parem com isso!

Rute se pôs entre eles, segurando cada um pelo ombro. Obteve a atenção de ambos. Ela inspirou fundo e, antes que Tiago pudesse revidar, disse firmemente:

– Tiago, não desconte a sua raiva na Lílian. Você e todos nós sabemos que ela não tem a ver com isso. Portanto controle esse seu gênio terrível e esfrie a cabeça. Você é um garoto gentil e se arrependerá profundamente pelas palavras que acabou de deixar escapar por causa dessa sua raiva momentânea. Quando estiver em situações difíceis, não perca seu tempo procurando culpados. Procure soluções. E Lílian. Quando alguém gritar. Não grite de volta. Isso só faz a pessoas gritarem mais alto. Deixe-as gritarem e nunca retruque. Elas logo se cansarão, te deixarão em paz, ou pedirão desculpas. E não se importe com palavras de acusação nem com as depreciativas. O que você enfrenta em casa, te torna forte o suficiente pra lidar com palavras mal proferidas e impensadas. Você é muito mais forte que isso.

– Eu sou... não sou? – Lílian começou a corar.

Concordando, Rute a abraçou enquanto ela chorava em seu ombro.

A cabeça de Tiago esfriou, logo percebendo o terrível erro que cometera. Se sentiu como o pior ser humano do mundo. Com vergonha de olhar no rosto, até de seus amigos, correu porta a fora. Quase esbarrando na professora de vestes bufantes que carregava montes de roupas em seus braços.


Ele teria vergonha de admitir que chorou tal qual uma criancinha. Escondido na escada secreta mais próxima que encontrou. Mas Tiago chorou. Arrependido pelo que dissera. Sentimento esse que ele raramente experimentava. Quando suas lágrimas secaram. Após o que ele achou ser horas. A professora de vestes bufantes anunciou sua presença.

– Ora, veja o que encontrei, um menino triste.

Ele não sabia por quanto tempo ela estava lá, o observando, mas não se importou. Ouviu-a descer os degraus, até que ela deu um grito surpreso.

Automaticamente, se virou para ver o que tinha acontecido. Seu humor melhorou imediatamente. A professora pisara no degrau errado, e agora se encontrava com um dos pés preso ao degrau falso. Tentando se soltar, enquanto resmungava:

– Eu não acredito. Sete anos estudando nessa escola. Três anos lecionando nessa escola. E eu ainda piso... nesse maldito... degrau. Oh! Como eu sou descuidada!

Lutando para não rir, Tiago se ofereceu:

– Quer ajuda, professora?

– Oh! Por favor. Eu ficarei imensamente grata.

Ligeiramente constrangido por ter de segurar a professora nos braços, Tiago a segurou e contou:

– No três... um... dois... três!

– Ah!

Eles deram um forte puxão. E a professora se soltou, finalmente.

– Ah! Essa não, meu sapato. – lamentou quando viu seu pé descalço. Seu sapato vermelho tinha ficado preso no degrau. – Ah, deixa pra lá. Depois eu o pego. Por agora, vista isso.

Ela pegou um conjunto de veste preta simples e um par de chinelos felpudos.

– Peguei essa veste bruxa fora de moda porque era a mais simples de vestir. É só jogá-la por cima de sua roupa de dormir. E os chinelos são para deixar seus pés aquecidos e protegidos do piso frio de mármore.

Tiago apanhou a veste e a vestiu, e depois calçou os chinelos. Imediatamente, sentiu-se confortável e aquecido. Mas ridículo. Como se percebesse o desconforto do garoto, a professora contou:

– Os seus amigos estão usando vestes parecidas. Não se preocupe, é só até arranjarmos algo melhor.

Amigos. Aquela palavra fez Tiago se lembrar de sua vergonha. O deixando sem coragem de falar. Assim, ele e a professora ficaram em silêncio por um tempo. Até que ela falou:

– Você deve ser um bom garoto.

– É? Por que acha isso?

– Um garoto mau não se importaria em magoar uma amiga.

– É... ela... não é bem uma amiga...

– Ah, não, é sua namorada. Então é pior.

– Não, nem isso. Ela não me suporta. Me acha mesquinho. Arrogante. E estúpido.

– Ah... mas você gosta dela.

– É eu- não! Quer dizer... não gosto, gosto. Mas só gosto. Ela é da Grifinória. Eu sou da Grifinória. É algo mais como... irmão e irmã... um implica com o outro, sabe como é?

– Ah, sei muito bem. Mas...

– Mas?

– Você detestou ter dito aquilo tudo para ela, não foi? Aquelas palavras. Aquela forma. Tenho certeza que detestou.

– É...

– Se arrependeu por ter dito aquilo?

– É...

– Então peça perdão.

– Perdão, é?

– É. Olha... a vida é curta demais para caber brigas. Mas quando houver brigas, saiba que a melhor parte delas é o perdão.

– O perdão?

– É... mas é preferível evitar as brigas a todo custo. As pessoas dizem que brigas são normais e fazem bem aos relacionamentos. Mas na verdade não faz. Se há algo de bom que pode ser extraído delas é o crescimento pessoal, mas apenas para que se aprenda evitá-las. Portanto, hoje você aprendeu. Hoje você ficou mais velho e mais sábio. Hoje você cresceu como pessoa. E hoje você vai pedir perdão, pois se arrependeu do que fez. Sempre que se arrepender do que fizer, meu bom rapaz... peça perdão. E não cometa o mesmo erro novamente.

De repente, Tiago se sentia melhor. Ainda sentia receio, pois teria que pedir perdão, ele tinha que admitir que seu orgulho tornava a tarefa ainda mais temerosa. Mas no geral, ele se sentia melhor. Abriu um leve sorriso para a professora. Que retribuiu com um sorriso ainda maior. Esta, para finalizar a conversa, pediu:

– Pode me ajudar a pegar meu sapato, por gentileza?


Assim que o sapato vermelho foi recuperado, e a professora o calçou, ela escoltou Tiago de volta para a sala do diretor. Onde Sirius, Remo, Rute e Lílian tomavam chá. A última, sentada ao lado de Rute, somente ao lado de Rute, se encontrava num ânimo ligeiramente cabisbaixo. E quando repararam em Tiago, o clima pesou. Apesar de todos tentarem dissipá-lo com falas como:

– E aí, Tiago, senta aí. O Prof. Longbottom disse que vai trazer algumas pessoas para nos conhecer.

– Parece que elas poderão nos ajudar.

– Ah é? Que pessoas?

– Não sabemos. Ele não nos disse.

Tiago encarou o professor, indagador. E este explicou:

– Creio que ouvi um de vocês falarem que tinham lido a estela no saguão. Estou correto?

Lílian e Tiago se encararam, e desviaram o olhar rapidamente quando seus olhos se encontraram.

– Sim, senhor.

– E parece que por meio dela vocês encontraram o nome do senhor... Remo Lupin na lista de pessoas que perderam a vida na famosa Batalha de Hogwarts.

– É.

– Sim.

– Bom... então vocês já devem saber, que ao menos, estão no ano de mil e novecentos e noventa e oito. E não de... desculpe, de que ano vocês vieram, mesmo? Esqueci de perguntar a vocês.

– Mil e novecentos e setenta e quatro. Três de setembro. – respondeu Rute.

– Ah. Já tinham começado o ano letivo de vocês, não é? Em que ano estão?

– Quarto ano.

– Bom. Quarto ano. E então... vocês devem achar que estão em mil e novecentos e noventa e oito, ao menos, estou correto?

– Na verdade, eu imagino que estamos no ano de, pelo menos, dois mil e dezessete. – disse Rute.

– Hã?

– Por que acha isso, Rute? – perguntou Remo.

– A Prof.ª McGonagall foi a última diretora a morrer. E em seu quadro, a sua morte está datada no dia vinte e um de julho de dois mil e dezessete. Estou correta?

– Que excelente poder de observação, Srta. Castle.

– Agradeço pelo elogio.

– Sem dúvida, vocês não se encontram no ano de mil e novecentos e setenta e quatro, sem dúvida, nem no ano de noventa e oito. Nem no mesmo século. Muito menos no mesmo milênio, como a Srta. Castle observou. Mas vocês se encontram, neste exato momento, no dia trinta e um de agosto de dois mil e vinte.

– O que?!

– Dois mil e vinte?

– Tudo isso?

– Menos do que esperava. – disse Rute, levando os outros a ficarem surpresos com ela e fazer Tiago se perguntar se ela era normal.

– É. Surpreendente para vocês. Com certeza. E incrível demais para ser verdade. Então, para me ajudar, decidi chamar um dos meus maiores amigos do tempo de escola.

– Por que um amigo de escola seu seria capaz de nos ajudar? – duvidou Sirius.

O Prof. Longbottom se dirigiu até a lareira da sala. Pegou um pouco do pó de flu no jarro sobre o console da lareira. Então disse:

– Harry Tiago Potter.


Continua...


No próximo capítulo:

Duas gerações se encontram.

Segredos são revelados e outros são mantidos.

O marotos descobrem que a loja de logros e brincadeiras, Zonko’s, desapareceu. Descobrindo a loja Gemialidades Weasley funcionando em seu lugar.

Negociações são feitas, acordam planos e condições.

Tiago descobre dois traços conflitantes em sua personalidade, e terá de abrir mão de um para dar espaço a outro. A decisão é dele.

Finalmente chega o dia primeiro de setembro.

Descubram os segredos e se divirtam com as aventuras dos marotos pela Hogwarts e Hogsmead de dois mil e vinte.

E quando a terceira geração Potter será apresentada?

Descubram no próximo capítulo.



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Notas finais do capítulo

Bem, eu queria informar que procurei informações a respeito do primeiro musical do Fantasma da Opera, mas não encontrei algo muito certo. Sei que houveram muitas adaptações. Nem sei se a música que eu coloquei que a estranha professora de vestes bufantes em seu órgão seria conhecida para a Lílian. Pq eles são de 74, e acho que a música é de depois. Mas, vá saber. Quem sabe.
Quem souber, me conte. Amo saber coisas q não sei.
E aí? Como ficou? Preciso prestar atenção em alguma coisa?