Capítulo 15 - Fim do verão - Parte I

POV Annabelle

Os dias passaram rapidamente até o sábado. Nós não teríamos nenhum treino naquele final de semana, estaríamos livres para fazer o que quiséssemos durante aqueles dois dias. Algo me dizia que tudo aquilo tinha um dedo de Apolo.

Ele viria me buscar um pouco antes das seis. Passei a manhã conversando com Annabeth e treinando um pouco de esgrima com Percy.

Logo depois do almoço, eu voltei para o chalé de Hades para escolher o que eu iria usar essa noite, não queria deixar tudo para a última hora.

Assim que abri a porta do closet, vi que eu não teria que escolher minha roupa. Um vestido azul com alguns detalhes em preto estava pendurado na altura de meus olhos, e se eu ignorasse o vestido, era impossível ignorar o bilhete rosa choque que estava grudado no cabide do vestido.

– Afrodite... - murmurei balançando a cabeça e pegando o bilhete para ler.

"Oi Anna!

Espero que tenha gostado do vestido, Apolo vai enlouquecer assim que ver você usando isso. Use a sandália que está debaixo de sua cama com o vestido.

Assim que terminar de ler isso, vá imediatamente para o banho. Minhas filhas irão te arrumar para essa noite e eu irei passar por aí para vê-la antes de Apolo.

Beijinhos,

Afrodite.

PS: Siga as instruções corretamente."

Revirei os olhos, mas conhecendo Afrodite como eu conhecia, ela me daria o maior sermão se eu não fizesse o que ela tinha mandado.

Ainda não era nem duas da tarde, mas eu fui para o banho. Quando saí do banheiro, meu chalé, o chalé de Hades, estava parecendo o de Afrodite. Christina e cinco de suas irmãs estavam sentadas em minha cama.

– Finalmente, Anna! - Crystal exclamou assim que saí do banheiro.

– Temos muito o que fazer. - Mila disse se levantando e sendo acompanhada pelas outras.

– Michelle e Luana, vocês duas cuidam do cabelo da Anna. Mila, Crystal e Amanda, vocês cuidam da pele e das unhas dela. Eu fico com a maquiagem. - Christina falou comandando as irmãs. - Anna, poderia nos mostrar o vestido?

– Está ali. - indiquei a porta do closet. Sabia que não iria adiantar discutir com nenhuma delas.

– A mamãe caprichou dessa vez. - Michelle falou tirando o vestido para todas verem e começaram a conversar entre si.

– Chega de conversa! - Christina falou dando um ponto final a conversa. - Temos que deixar a Anna perfeita já que depois a mamãe vai passar aqui para vê-la, não podemos errar.

Mila escolheu a lingerie e fez com que eu a vestisse. Pelas quatro horas que se seguiram, elas me usaram como uma boneca. Passava das cinco quando elas terminaram. Me levantei e elas suspiraram juntando ao mãos, fui até o espelho ver o trabalho delas.

– O que vocês fizeram comigo? - perguntei vendo que novamente eu não parecia uma garota, mas uma mulher.

– Não fomos nós. - Crystal murmurou.

– É a mamãe. - Michelle falou.

– Isso mesmo. - Afrodite disse aparecendo no quarto com uma fumaça rosa. - Está perfeita Anna. Vocês fizeram um bom trabalho. - ela disse se virando para as filhas. - Eu termino agora, podem voltar para seus deveres. - suas filhas saíram do chalé contra gosto, mas saíram sem discutir.

– Terminar o quê, Afrodite? - eu perguntei querendo saber o que ela estava pensando.

– Só queria falar com você, Anna. - ela disse. - Apolo foi lindo pedindo você em namoro, mas me responda. - ela ficou séria. - Você pretende se entregar para ele essa noite?

– Acho que não, não sei.

– Só precisava saber disso. - ela falou rindo. - Vamos, vou levá-la até a Casa Grande porque ele já está esperando por você e meu filho, Stefan, vai tentar agarrá-la novamente. - ela disse irritada me entregando uma bolsa pequena da cor do vestido.

Saímos do chalé de Hades e fomos na direção da Casa Grande conversando, como Afrodite tinha falado, Stefan realmente tentou me agarrar.

– Não toque ela, Stefan! - Afrodite falou calmamente mas com um tom de ameaça na voz, ele ignorou o aviso de sua mãe. - Você quem pediu, moleque. - ela falou agora furiosa e um brilho rosa maligno rodeou Stefan e ele começou a gritar. - Boa sorte, meu filho. - ela murmurou antes de voltar a andar.

– O que fez com ele? - perguntei curiosa.

– Ele não vai esquecer desse dia pelo resto de sua vida. - Afrodite disse simplesmente.

Apolo me esperava na varanda da Casa Grande, ele estava conversando com Nico, Percy e Annabeth.

– Está entregue, querida. Aproveite a noite. - Afrodite disse desaparecendo em uma fumaça rosa.

– Anna, você está linda! - Annabeth falou assim que me viu.

– Está mesmo. - Percy recebeu um olhar reprovador de Apolo. - Hey, eu tenho namorada! - Percy reclamou.

– Se tentar alguma coisa com a minha irmã... - Nico deixou a ameaça no ar. - Está linda, Belle. - ele falou para mim e os três se afastaram deixando nós dois sozinhos.

Finalmente pude observá-lo. Ele estava com uma calça social preta e uma camisa social azul, combinando com meu vestido, com dois ou três botões abertos, seus cabelos loiros levemente bagunçados, ele estava perfeito.

– Está perfeita, Anna. - ele falou sorrindo.

– Você também.

– Podemos ir? - ele perguntou e eu assenti. Subimos a colina de mãos dadas.

– Para onde vamos? - perguntei já no carro.

– Surpresa. - ele sorriu e piscou para mim. - Dessa vez não vamos enfrentar o trânsito de New York. - ele falou ao mesmo tempo que o carro levantava vôo.

Ficamos conversando por um bom tempo. Não sabia para onde ele estava me levando, tinha um péssimo senso de direção mas desconfiava que estávamos indo para o norte.

– Não vai me dizer para onde vamos? - perguntei pela quinta vez.

– Não, mas nós já estamos chegando. - ele falou e o carro do sol foi perdendo altitude pouco a pouco, então finalmente tocou o solo. - Chegamos. - ele falou desligando o carro e saindo, vindo abrir a porta para mim logo depois.

Olhei ao redor tentando me localizar. Estávamos no meio de uma clareira, no meio do nada, a lua cheia brilhava acima de nós e em um canto à direita havia uma trilha.

– Aonde dá? - eu perguntei indicando a trilha.

– Quer descobrir? - ele perguntou sorrindo.

– Não acho que estou com roupas apropriadas para andar em um lugar como esse. Nem eu e nem você.

– Não se preocupe comigo. - ele falou me pegando no colo e entrando no meio das árvores seguindo a trilha.

– Apolo, me solte! Eu posso andar. Me coloque no chão! - eu pedi batendo em seu peito, mas estava me divertindo com a situação.

Em pouco tempo o cenário mudou. Uma casa surgiu a nossa frente, as luzes estavam acesas iluminando tudo ao redor. A casa era simples, uma varanda que circulava todo o terceiro andar e um jardim que não estava iluminado. A casa mesmo sendo simples possuia um ar majestoso.

– Você planejou isso? - perguntei olhando para Apolo assim que ele me colocou no chão diante a casa.

– Sim. Muitos deuses do Olimpo ajudaram, a maioria ajudou a preparar tudo para hoje. - ele respondeu abrindo a porta para mim.

– Por que aqui?

– Na verdade ela fica em New York não muito longe do Empire States, mas achei que você não gostaria de passar a noite em uma barraca. No lugar da casa está uma ilusão temporária. Entre. - ele me convidou.

Meu queixo caiu quando entrei na casa. Era simples, uma casa muito simples. Eu conhecendo os deuses como conhecia, esperava uma coisa extremamente exagerada mas ali não havia exagero. Tudo estava na medida correta, era perfeito.

– Annabeth planejou a casa e ela foi construída pelos deuses. - Apolo falou rindo respondendo aos meus pensamentos.

– Agora faz sentido.

– Dê uma volta pela casa enquanto eu arrumo nosso jantar. - ele falou me deixando sozinha na entrada. - Deixe a sala e o terceiro andar para ver comigo. - ele falou mais alto de algum lugar.

Subi as escadas, havia cinco portas no segundo andar. Duas de cada lado no corredor e a última no fundo, no final do corredor.

Abri a porta mais próxima, a primeira porta da direita, me deparando com um quarto vazio a única luz que iluminava o quarto era a luz da lua que entrava pela janela de vidro e do corredor. A primeira porta da esquerda era uma biblioteca e um escritório, os dois últimos quartos também estavam vazios. O último quarto no final do corredor estava lotado de roupas, tanto femininas quanto masculinas. Desde roupas íntimas até roupas de gala, roupas casuais, roupas para ficar em casa. Ali tinha tudo, simplesmente um closet completo. Sapatos, bolsas, óculos de sol, cintos, tudo arrumado com perfeição.

Todos os três quartos possuíam portas de vidro que levavam para a sacada, já a biblioteca e escritório possuía uma janela enorme. O closet tinha o tamanho de dois quartos e eu não via nenhuma janela ali, mas era o tipo de lugar onde eu não me sentiria sufocada mesmo que passasse horas ali dentro.

– Gostou das roupas? - Apolo perguntou apoiado no batente da porta enquanto me olhava.

– Adorei. Sem exageros e são roupas confortáveis, até mesmo esses vestidos de gala. - sorri para ele. - Quem escolheu essas roupas?

– Afrodite. Deixei ela escolher essas roupas com a condição que ela escolheria roupas simples, casuais, não esses vestidos de festas. Mas você conhece ela, trouxe as duas coisas. - ele riu vindo na minha direção. - Vamos jantar? - perguntou me puxando pela cintura.

– O jantar está pronto?

– Sim. - ele me conduziu para fora do closet e fechou a porta atrás de si.

Descemos as escadas e ele me conduziu para uma das salas. Uma TV estava em um canto, um sofá para no mínimo quatro pessoas no outro, uma mesa de centro no meio da sala, duas poltronas e alguns pufes estavam espalhados pela sala; não reparei logo de cara no tapete - branco e felpudo. Uma porta de vidro levava para fora, para a parte de trás da casa.

– Sala de estar. - Apolo disse e me puxou para fora da sala abrindo outra porta mais ao fundo do corredor. - Cozinha. - com certeza, aquela cozinha era o sonho de muitas mulheres mas sinceramente, eu não era nem um pouco fã de cozinhar. - Vou te levar para a sala de jantar antes da última sala. - ele falou me deixando extremamente curiosa.

– O que tem no terceiro andar e nessa outra sala que você não quer me mostrar? - perguntei curiosa enquando ele me conduzia para outra porta.

– Mais tarde. - ele sorriu. - Espero que goste de lasanha. (N/A: Quem não gosta?)

– Adoro.

– Que bom. - ele disse puxando uma das cadeiras para mim. - Já volto. - Ele retornou com dois pratos de lasanha. - Foi o melhor que consegui fazer sem a ajuda da Héstia. - ele sorriu colocando um dos pratos na minha frente e depois tirou uma garrafa de vinho de algum lugar atrás dele. - Você toma? - ele perguntou abrindo a garrafa.

– Nunca experimentei. - dei de ombros.

– Experimente, se não gostar temos suco de uva. Não vou deixar Dionísio descobrir que você tomou vinho e não gostou. - ele piscou para mim colocando a taça com o líquido vermelho na minha frente.

– Por que me trouxe aqui? Quer dizer, por que não um restaurante comum? - perguntei levando a segunda garfada a boca.

– Não poderia levá-la onde queria por causa da sua idade. O melhor que consegui pensar foi aqui. A lasanha está tão ruim assim?

– Está ótima. - eu sorri.

– Não exagere no vinho. - ele alertou quando eu levei a taça pela segunda vez a boca. - Você não sabe se é fraca com álcool. - sorri em resposta. - Temos sobremesa. - ele falou quando deixei o garfo de lado. - Venha. - ele se levantou a contornou a mesa puxando a cadeira para mim.

Quando ia perguntar sobre os pratos, eles simplesmente sumiram.

– Onde vamos? - perguntei quando saíamos da sala de jantar de mãos dadas.

Ele não respondeu, me guiou até a sala onde não tínhamos entrado e abriu a porta. Um vento gelado saiu de dentro do quarto fazendo com que eu me arrepiasse.

– Bóreas. - Apolo murmurou tirando o paletó e colocando-o sobre meus ombros. Puxei a peça para mais junto de meu corpo.

Aquela sala era praticamente como a outra, só havia duas diferenças. Uma era a lareira no lugar da TV e a outra era a cor das paredes e de tudo o mais. As coisas na outra sala eram brancas, dessa sala eram pretas. O que iluminava essa sala era o fogo que crepitava na lareira e dois abajures, um de cada lado do sofá.

– Essa sala foi Hades e Perséfone que arrumaram. - ele Apolo falou me puxando contra seu corpo me aquecendo. - O frio é coisa do Bóreas. - olhei para ele sem compreender onde o deus do vento norte entrava na história. - Estamos no final do verão e deixar a lareira acessa em pleno verão em um quarto fechado seria loucura, isso se transformaria em uma sauna. Para não deixar os ventos de lado, Bóreas se disponibilizou para deixar o quarto eternamente gelado. - ele explicou.

– Ter o deus do sol nessa sala deve ser um problema para ele. - sorri divertida. Apolo contrariava tudo o que Bóreas prezava.

– Vá se sentar em frente à lareira, eu vou buscar a sobremesa. - Apolo pediu dando meia volta e saindo deixando a porta aberta para que eu não congelasse naquele lugar.

Abri a cortina para ver o lado de fora da casa. Um jardim cercava a casa. Todas as flores estavam abertas como o jardim de Perséfone no Mundo Inferior. Era como se esse jardim fosse uma miniatura do que estava no Mundo Inferior, e talvez eu estivesse certa.

Puxei o paletó de Apolo contra meu corpo novamente e me sentei no tapete em frente a lareira. Minutos depois Apolo entrava com uma bandeja.

– O que é isso? - eu perguntei quando ele colocou no chão entre nós dois. - Morangos?

– Morango com chocolate derretido. - ele sorriu vendo meus olhos arregalados. - Acertei na sobremesa?

– Deve saber que é a coisa que eu mais gosto!

– Fico em segundo lugar? - ele perguntou puxando a bandeja para longe de mim.

– Corrigindo minha frase, a coisa que eu mais gosto depois de você. - revirei os olhos. - Você sabe... - fui interrompida pelos lábios de Apolo. Ele colocou seu peso sobre meu corpo fazendo com eu me deitasse no tapete.

– Estava louco para te beijar. - ele falou contra meus lábios. - O que estava dizendo?

– Você sabe ser irritante quando quer sabia? - o empurrei e me sentei rindo.

– Sabia. Mas não tente me enganar, gosta de mim desse jeito certo?

– Irritante, mas eu gosto. - ele riu comigo.

– Vamos comer essa sobremesa e depois vamos lá pra fora. - ele falou mergulhando um morango no chocolate e levando até minha boca.

Ficamos em nosso momento meloso por mais de quinze minutos, quando os morangos acabaram ele me puxou para fora da sala.

– Para onde vamos? - perguntei curiosa.

– Trocar de roupa e vamos para outro lugar. - ele sorriu para mim me puxando escada acima. - Eu escolheria algo quente e confortável. - ele me aconselhou abrindo a porta do closet.

– Acho que a Afrodite já escolheu nossas roupas. - eu sorri vendo as duas sacolas de papel rosa choque. - Vá se trocar ali. - ele me indicou um provador no canto do quarto, peguei a sacola que estava com meu nome e fui me trocar.

Calça jeans escura, uma blusa de algodão de manga comprida lilás e uma jaqueta preta. Roupa típica de uma filha de Hades. Me livrei dos saltos e coloquei o primeiro tênis que encontrei por ali.

– Linda. - Apolo falou assim que eu abri a porta do provador.

Tinha acostumado em vê-lo como um adolescente, mas ele estava extremamente bonito naquela roupa. Calça jeans em um tom mais claro do que o meu, camiseta branca e uma jaqueta fina sobre a camiseta.

– Não tinha me aconselhado colocar roupas quentes? - eu perguntei.

– Sou o deus do sol, amor. - ele sorriu. - Venha. - ele abriu a porta do closet e me puxou para fora da casa.

– Vai me dizer para onde vamos agora?

– Mais alguns quilômetros para o norte.

– Não vamos com o carro? - perguntei quando ele me puxou para fora da casa mas pelos fundos.

– Não. Vamos da minha forma, se segure em mim e não abra os olhos de jeito nenhum. - ele falou me puxando para junto de seu corpo.

– Apolo... - eu comecei não gostando nada daquilo.

– Feche os olhos. - ele aconselhou e eu escondi o rosto em seu peito fechando os olhos com toda minha força. Senti minha pele esquentar e por um momento pensei que fosse entrar em combustão, o chão desapareu, mas eu não tinha a sensação de que estava caindo, era como viajar pelas sombras. Tão rápido quanto veio a sensação passou, voltei a sentir o chão sob meus pés. - Tudo bem? - Apolo perguntou passando uma mão por meus cabelos. - Annabelle! - ele exclamou preocupado quando me soltou, só continuei de pé por que ele voltou a me segurar pela cintura. - Você está bem, querida? - ele se sentou comigo em seu colo.

– Isso foi horrível. - eu falei abrindo os olhos devagar e sentindo tudo girar.

– Pior do que viajar pelas sombras?

– Sim! Eu odeio viajar pela sombras, sabe disso. - eu o fuzilei.

– Teletransporte é uma coisa que nós deuses usamos todo o tempo. Vou me lembrar que você não gosta disso na próxima vez. - ele beijou minha testa. - Consegue andar? Posso carregá-la sem nenhum problema.

– Posso andar. - eu falei me levantando e seguimos de mãos dadas por alguns minutos até pararmos em uma campina. Olhei ao redor e não vi nada conhecido.