Assisto Peeta limpar de forma cuidadosa as feições de Catnip e colocar uma gaze no corte – que apenas depois de limpar o sangue ele soube dizer onde era. Mexendo de certa forma, com cautela nos remédios e procurando por outros cortes. Com a faca de Katniss e um esparadrapo, ele estanca todo o sangue e termina de apertar o curativo. Ao ver as roupas de Katniss molhadas ele retira botas e meias, e os coloca para secar. Arrasta Catnip para dentro do saco de dormir e com gestos carinhosos deita ao lado dela. O céu começa a escurecer magicamente e de forma rápida, para que as gotas de água começassem a cair. Peeta solta um gemido ao ver o tanto de goteiras que havia justamente acima do saco de dormir, e levanta. Pega plástico e estacas para fazer um suporte acima do saco de dormir.

Cato está com a espada na mão e uma mochila quase vazia quando começa a chover. O esconderijo de Thresh está intocado, visto que ele ainda se recupera da picada de cobra. Sua perna está bem melhor e Thresh movimenta-se com facilidade mas ainda repousa. O céu escurece e vejo ele conferindo os suprimentos. Ninguém gostaria de sair na chuva para pegar comida. Cato também receia entrar no matagal e para por instantes. Como um transe. Antes Cato queria entrar e pegar Thresh porém Clove segurava-o dizendo a respeito de areia movediça, aranhas e cobras. Mas agora ele parece lembrar que Clove morreu pois sai de um transe enquanto a chuva cai sobre o próprio – que parece ainda mais sombrio e triste com a chuva refletindo seu espírito. Cato não existe mais. Existe apenas seu sentimento de vingança.

Foxface sente a chuva formar-se por entre os galhos. Ela abaixa a cabeça e pragueja – a cabana seria uma proteção, porém um atentado contra sua discrição, que mais de uma vez garantiu sua sobrevivência. Ao armá-la a chuva já era forte e Foxface aconchega-se, em sua barraca e ainda com medo – caso um de seus oponentes a encontrasse, seria morte certa. Não que alguém fosse caçar tributos naquela chuva.

Desprendo os olhos da tela. Pessoas aglomeradas nas janelas de suas casas assistem e me sinto um completo idiota parado, com a caça em minha mochila e logo o cheiro irá me denunciar.

Vendo no Prego alguns peixes e parte da caça. As frutas e raízes guardo para mim e Prim. Depois de trocar algumas coisas por outras, deixo o Prego e vou até a casa de Prim. É mais carne que o costume, então não precisarei visitá-la com tanta frequência. Em casa, a situação é a mesma e aproveito para conversar mais com a família a respeito de tudo. Meu pai costumava voltar mais cedo e falávamos sobre todos os assuntos possíveis, e eu sinto como se meu pai continuasse aqui. Eu sou a presença mais próxima de pai que eles conseguirão. Minha mãe suspira quando vê minhas botas com as folhas e a lama do lago. Olho com certa culpa e divertimento nos olhos. Minha mãe também.

Na televisão, as cenas são todas reprisadas e já penso em desligar quando Katniss é mostrada. Acordada. Ao passar a mão pelo corte em sua testa e quase esbarrar na proteção de Peeta contra a chuva. Ao olhar para ele, seus olhos abrem em sinal de susto.

 Peeta.

 Oi. Bom ver seus olhos de novo.

 Quanto tempo fiquei apagada?

 Não tenho certeza. Acordei ontem á noite e você estava... em uma assustadora poça de sangue.

 E você está melhor.

 É. Seja lá o que você colocou em mim fez efeito. Hoje de manhã quase todo o inchaço tinha acabado.

- Você comeu?

- Desculpa, mas coloquei três pedaços daquele ganso antes de perceber que deveriam durar mais. Desculpe.

-Você fez bem. Logo vou caçar.

- Não tão logo, certo? Deixa eu cuidar de você um pouco. – Diz ele, passando a mão por entre seus cabelos. Depois massageia seus pés e os enrola com a jaqueta. Alimenta Katniss com passas, ganso até que ela não consiga comer mais nada.

- Suas meias ainda estão úmidas, e este tempo não ajuda. – Diz ele fechando o saco de dormir até seu queixo. – Qual será o alvo dessa tempestade?

- Cato e Thresh. – Responde ela. – Foxface deve estar em seu esconderijo e Clove... Ela me cortou e depois..

- Você matou ela? – Peeta pergunta em tom de compreensão – Eu sei que ela está morta, vi no céu ontem á noite.

- Thresh quebrou sua cabeça com uma pedra.

- Sorte que ele não te pegou.

- Ele pegou. Mas me deixou ir. Eu... Clove me imobilizou. Ela iria me torturar, e começou a falar... de Rue. Nós fizemos uma aliança e Clove sabia. Ela começou a falar dela – Katniss franze as sobrancelhas e fecha os olhos com dor. – de como explodimos toda a comida deles, que eles fizeram uma armadilha com as minas e eu descobri, Rue me ajudou e Marvel... matou ela. Eu matei ele. Depois eu ganhei um presente do um pão distrito 11. Quando Thresh ouviu o nome de Rue, achou que Clove matou ela, e que torturou assim como ia fazer comigo. Depois que a matou ele perguntou se eu a ajudara. Eu disse que sim e eu... eu chorei igual uma criança Ele disse que iria me salvar. Por ela. Só dessa vez. Ele -não queria me dever nada.

- Então ele só te salvou para não dever nada?

- Isso. Não espero que você entenda. Você sempre teve tudo que precisava. Mas se você morasse na Costura, não explicaria nada.

- Nem tente. Lógico que sou burro demais para entender isso.

Cato está chegando perto da caverna de Thresh. A chuva o atrasara, é verdade, mas seu instinto o levou a continuar. Com espada em punho, Cato apenas continuar cortando o matagal a sua frente, incansável. E é um longo caminho até a caverna.

Thresh está fazendo uma fogueira na caverna. Ciente de que ninguém jamais o enfrentaria em seu território, a fumaça embaça a visão de Cato, com lama dos pés a cabeça. O ponto de luz o guia em meio á noite escura, e ele não se importa se esse é ou não um convite da morte. Seus pés tropeçam e sua perna se prende até o joelho na areia movediça. Com a ponta da espada, ele puxa a perna até que ela saia completamente e cai no chão de cansaço. Essa será para ele uma longa noite.