O Coração de um Caçador escrita por Joanna


Capítulo 32
Faz sentido?


Notas iniciais do capítulo

O título é estranho, mas vocês vão entender conforme a leitura do capítulo (: Espero que gostem, essa é minha primeira cena gadge decente u.u



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O dia na escola é estafante. Garotas que acreditavam existir algo entre mim e a caçadora se encheram de esperanças, e olhares me seguindo são a maior sensação que tenho sentido ultimamente. Em casa. Na escola. Talvez Katniss tenha razão quando diz que, desde que comecei a caçar, tenho mania de perseguição.

Claro que o beijo não saiu da minha cabeça. Os beijos. Se estiverem mesmo olhando para mim, em grande parte será porque assim que pisco, imagens do beijo ilustram minha cabeça. E eu pressiono meus dedos em minhas têmporas e sacudo a cabeça – não é uma cena que eu chamaria de normal – Como se uma ideia muito ruim me ocorresse. Na pequena televisão que temos na escola, posso ver cada carícia de Peeta e Katniss que se repete. Viro em rosto em direção de qualquer coisa que possa trazer algo bonito para meus olhos. E involuntariamente paro quando Madge solta o cabelo, que antes estava em uma trança e os fios cobrem parte do seu rosto, iluminados pelo sol, e olha para mim sorrindo discretamente, sentada sozinha em um canto do refeitório. Sem pensar muito, levanto e sento ao seu lado, bem na frente da televisão.

- Porque sempre reprisam essa cena?

Ao contrário do que penso que ela faria, Madge dá risada. Depois de um tempo rindo – que me faz sentir um completo idiota – Ela responde.

- Olha o ciúmes, Gale. Katniss sempre te viu com mais um monte de outras meninas, qual o problema?

- É diferente. Muito diferente.

- Não é. É como se eu e você nos beijássemos. A Katniss nem ia se importar.

Devo ter revirado os olhos com esse comentário, porque ela continua comendo como se eu não existisse. E naquele momento, eu realmente não queria existir. Do nada, Madge volta a prender o cabelo e consigo sentir o seu perfume, que sei que já senti em algum lugar. Tento puxar outro assunto para falar com ela, quando tenho que voltar para as aulas.

Sinto a sala vazia. Apenas eu, as meninas e alguns garotos muito magros continuam na minha sala. Todos aqueles que tinham porte físico o bastante foram trabalhar nas minas e novamente a ideia de trabalhar no lugar que matou meu pai passa por mim. Trabalhar nas minas a semana inteira, caçar aos domingos. E morrer de uma doença no pulmão a longo prazo. É isso o que está guardado para o meu futuro.

Depois disso, a floresta é, novamente, meu maior abrigo. Pego uma corda e começo uma armadilha que estou preparando há dias, uma enorme rede. Mas que parei – Lembrava assustadoramente a rede que prendeu Rue – depois desse acontecimentos. Mas não adianta. Não fui eu que a matei.

Deixo a rede pela metade e checo as outras armadilhas. Hoje não peguei muita coisa. Dois coelhos. Caminho até uma piscina natural que encontrei algum tempo atrás e pego um peixe pequeno e espinhento, que não lembro o nome. Preparo uma fogueira e deixo o pequeno peixe no fogo, enquanto saio cavando o chão atrás de raízes.

Depois de colher raízes, vou atrás de amoras e morangos. Encho a minha cesta com morangos. Um bom pedido de desculpas e um pretexto para ir até a casa do prefeito.

Voltando ao distrito, não há nada a vender com exceção dos morangos, portanto saio por um buraco na cerca que dá quase no quintal da casa de Madge. Um enorme quintal, porém vazio, com uma velha árvore chamada cerejeira – e que no inverno presenteia o distrito com lindas flores, que podem ser vistas de muito longe – e um balanço, que sempre a via usando quando criança. E hoje ela está lá, sentada e sozinha. Não percebe que estou chegando, mesmo estando em frente a ela. Com o olhar perdido e uma mão nas correntes do balanço, só olha para mim quando eu a chamo.

- Mad?

- Oi, Gale.

- Trouxe para você. – Estendo a cesta, e ela nem se move.

- Entra ai.

Passo por cima da cerca baixa e feita de madeira em volta do quintal. Caminhando até ela, o sol bate contra meus olhos – o sol estava se pondo – e fiz uma careta. Assim eu arranco dela um pequeno sorriso. A cerejeira fornecia uma fina sombra, e ali me sento. Coloco a cesta ao seu lado, no chão. O silêncio se forma, e nos olhamos, sem dizer nada.

- A Katniss ia ligar sim, se eu te beijasse. Ela sempre ligava. – Quebro o silêncio. – Não era porque ela gostava de mim, mas ela morria de ciúme.

- Como ela sentia ciúmes se não gostava de você?

- Não sei. Faz sentido?

- Não. – Ela dá de ombros – Mas eu não sou igual as outras meninas. Você nunca olhou pra mim.

- Eu sempre reparei em você. Mais ou menos. Sei lá, o seu perfume é bom.

Ela ri. – Obrigada. Sabia que ele me lembra você?

- Você lembra de mim quando sente o próprio perfume? Faz sentido isso?

- Não. Mas toda vez que você vinha pra cá, o seu cheiro era de morangos. Ai eu lembro de você. Quando eu passo perfume, quando como morangos e quando olho pra floresta. Ou seja, o tempo todo.

- Legal. – O silêncio volta novamente, desconfortável. Não constrangedor. O tipo de silêncio em que eu queria falar, e ela também queria. – Sabe, se a gente se beijasse, eu ia me importar sim. Muito. Você é especial. – Depois do ‘legal’, não sabia mais o que estava dizendo. Mas se eu dizia, é porque era verdade. - Faz sentido?

- Faz. - Ela desce do balanço, senta ao meu lado e segura minha mão – Você também é. Cavando o chão de novo? – Diz, segurando minha mão.

- É. Mas não tem flores pra você, dessa vez. – Entrelaço meus dedos com os dela. – Se a gente se beijasse, a Katniss ia se importar. Você também ia?

- Sim. – Ela responde e sorri. – Faz sentido?

- Faz. – Respondo e me aproximo dela. E então a beijo. O calor do sol se pondo me aquece assim que saio da sombra, e a luz incomoda meus olhos mesmo fechados. Mas o perfume de Madge faz com que eu não deseje mais nada. Que o tempo pare agora. Que os lábios macios de Madge me toquem para sempre. Que a pele macia da sua mão continue passando pelo meu pescoço. Mas é claro que tinha que parar. Quando me solto dela, Madge está tão atônita quanto eu. Me aproximo mais uma vez e encosto meu nariz no dela, com os braços em torno de sua cintura. Mas ela me abraça e entra, e não sobra alternativa nenhuma para mim a não ser voltar para casa.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? eu amei *-* Eu estou pensando em fazer um POV madge dessa cena, o que vocês acham? *apesar de ser uma fic sobre o ponto de vista do Gale* mas eu escrevi e achei mto fofo, se quiserem ler, digam nos comentários :3