Conto Com Você escrita por ParkBruh


Capítulo 3
Capítulo 3 - Macarena, deuses e retorno, enfim.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora.
Leiam as notas finais, sim?



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Conto com Você

Capitulo III — Macarena, deuses e retorno, enfim.

Revisado por Vick OShea

Percy queria que um buraco se abrisse no chão do aeroporto para poder enfiar a cara em estilo avestruz.

De todas as vergonhas alheias do mundo que poderia passar — escorregar em uma casca de banana teria sido melhor —, tinha de ser Sybelle Allerton e James Talbot dançando Macarena do seu lado? E dentro do McDonald’s ali do La Guardia?

É pedir para ir mais cedo ao Mundo Inferior. Ao menos Hades não permitiria que esse tipo de coisa ocorresse nos seus domínios.

Se o gerente da lanchonete aparecesse e os expulsasse dizendo para nunca mais terem o atrevimento de por os pés no estabelecimento dele, Percy não o culparia. De maneira nenhuma.

O problema era que os funcionários estarem incentivando a dança dos loiros, soltando assovios e gritando “É assim que se rebola!” junto aos poucos clientes que lanchavam por ali. A única exceção, além do próprio Percy, era uma velhinha sentada no canto à esquerda com aquela típica expressão de no meu tempo os jovens não faziam essas coisas indecentes.

Dinheiro agora viria calhar. Devia ter guardado o troco daquele milk-shake que comprou em Los Angeles para algo mais útil como uma ligação de algum telefone público. Quem sabe já não estaria no acampamento depois de uma boa carona com o padrasto. Deixaria os dançarinos para trás. Em vez disso, usou o único dinheiro que tinha para comprar três latas de coca-cola pra lá de suspeitas.

Foi depois de beberem que James e Sybelle tiveram a súbita vontade de fazer todo esse espetáculo. Algo na mente de Percy suspeitava que houvessem misturado Redbull no refrigerante durante a fabricação deste.

Ninguém ficava energético de uma hora para outra.

Melhor parar esses dois que eles resolvam iniciar um strip-tease, Percy pensou decidido. Não quero ser preso por atentado ao pudor.

Porém, antes que pudesse se levantar e pedir para os colegas encerrarem a dança, uma voz desconhecida ao seu lado o fez travar no local.

— Isso é divertido, não é?

— O quê? — Percy estranhou. Divertido não estava na lista de definição que Percy mentalmente elaborou para a dança da dupla loira.

O desconhecido soltou uma risada baixinha. Percy o encarou e sentiu-se dentro daqueles desenhos animados infantis aonde o queixo dos personagens vai completamente ao chão.

Por que sentado ao lado estava o garoto mais bonito que ele já vira em seus dezesseis anos de vida. Luke, que sempre arrancou suspiros e elogios das garotas no acampamento, parecia um bebê birrento perto desse garoto.

Grossos e longos cílios cobriam parcialmente os orbes azuis, que depois mudaram para verdes, e castanhos e várias cores em diante. Um verdadeiro caleidoscópio. Os lábios bem desenhados como os desenhos daqueles quadros famosos.

Percy engoliu em seco e esbugalhou os olhos quando teve o olhar retribuído junto ao sorriso mais deslumbrante já visto. Quando o garoto inclinou de leve a cabeça para o lado, os delicados cachos da cor mel acompanharam o movimento.

Como as pessoas não percebiam a presença dele era um tremendo mistério. Percy não conseguiu formular palavras coerentes. O máximo que conseguiu foi um “Hun Gah”.

— Que fofo — riu o garoto. — Não se preocupe. Todos reagem assim. Até pior, às vezes. — piscou, divertido.

Percy limpou a garganta e desviou o olhar com esforço para não ficar babando igual uma fã histérica ao ver o ídolo favorito. Se quisesse conversar direito, com palavras compreensíveis, o melhor seria fixar o olhar nas latas vazias em cima da mesa.

— Quem é você? — perguntou.

— Não consegue adivinhar?

— Minha mente está... em branco, por assim dizer.

O garoto bonito riu outra vez.

— Tudo bem. Na verdade, é melhor assim — Percy viu pelo canto dos olhos que ele apoiou os cotovelos na mesa. — Mas eu gostaria que me dissesse o que acha da dança aqui ao nosso lado.

Percy quis dizer vergonha alheia, porém soaria um pouco ofensivo. Procurou escolher as palavras com cuidado.

— É meio... estranho. Chama atenção — demais, completou em pensamento.

— Não gosta de atenção.

— Digamos que já atingi minha cota — respondeu Percy com uma careta.

Lembrar dos acontecimentos ocorridos durante seu primeiro ano no Acampamento Meio-Sangue nunca foi muito agradável. Tinha calafrios ao recordar da picada daquele escorpião das profundezas.

— Que pena — comentou o garoto. — Estou achando tudo divertido. Eu tenho bom gosto mesmo.

Percy piscou aturdido, pronto para perguntar um “O que quer dizer?”, quando a realidade o atingiu como um tapa certeiro. Considerou-se um idiota por não ter notado no exato instante que pôs os olhos nele.

Esse garoto é um deus. Uma divindade grega antiga problemática como a maioria dos outros eram. Devia imaginar que James não dançaria em público assim do nada. Mesmo que o conhecesse apenas por um dia, podia afirmar que o loiro não era esse tipo de pessoa. Sybelle, por outro lado, era um assunto mais delicado.

— Pare com isso! — Percy ordenou com raiva, movendo os olhos para o garoto de cabelos cacheados. — Faça-os voltar ao normal! — tornou a ordenar ainda no mesmo tom. A raiva parecia tirar o efeito hipnotizante de antes. Não diminuía a beleza do menino; só não o afetava a ponto de não falar coisa com coisa.

O deus sorriu delicadamente.

— Não precisa ficar exaltado.

Percy suspirou aliviado ao vê-lo estalar os dedos. Infelizmente a situação mudou de loiros energéticos dançando e loucos incentivando para todo mundo paralisado como uma coleção de marionetes perfeitas. Por que os deuses não escutavam um pouco, pelo menos para mudar a rotina?

Quem sabe assim o aquecimento global não estivesse acontecendo e metade dos países não fosse capitalista.

— Não fique exaltado, Percy Jackson — repetiu o deus, sorrindo. — Vim apenas para conversar.

Percy crispou os lábios.

— E sobre o que seria?

— Você.

Aquela resposta soou familiar para Percy. Ele buscou o motivo nas suas lembranças, tentando juntar as peças do quebra-cabeça. Não conseguiu nem a primeira peça. Estava mesmo com a mente em branco para saber quem era o deus tão ou mais charmoso que Apolo.

— Não vejo o que possa interessá-lo a ponto de fazer tudo isso.

— Mesmo? — A divindade entrelaçou os dedos e apoiou queixou no meio deles, um brilho de curiosidade e algo mais que Percy não reconheceu preenchendo os olhos brilhantes. — Você é realmente interessante. Entendo por que os outros gostam de manter os olhos sobre você. És intrigante.

Percy não conseguiu aceitar o elogio. Por algum motivo desconhecido não conseguiu, mesmo vindo daquele garoto bonito. E ficou desconfortável com o fato de ainda estar sob a vigilância constante dos parentes divinos. Salvara o Olimpo há poucos meses; merecia um pouco mais de crédito, não é?

Devia estar com uma expressão desgostosa, por que o deus sorriu todo compreensivo, como que dizendo que sabia o quão desagradável era alguém vigiando sua vida privada. Ninguém gostaria que ficassem metendo o bedelho na vida alheia.

— Vida de celebridade é difícil. E não faça essa cara desdenhosa. Você aparece com bastante frequência na TV Hefesto. Arranca suspiros das ninfas, até.

— Sinto-me tão amado — Percy disse sarcástico.

Isso pareceu agradar ao garoto, cujo sorriso satisfeito fez um arrepio subir pela espinha de Percy. Já vira aquele sorriso. Tinha certeza. Não nesse rosto; em outro... mais feminino, talvez. E adulto.

— O que você quer que eu faça? — quis saber Percy. Faltava pouco para descobrir de quem esse deus podia ser filho ou irmão. Isso fazia seus cabelos na nuca ficarem em pé numa espécie de alerta. — Roubaram sua arma? Tentaram sabotar seu encontro e agora quer recuperar algo perdido? Perdeu alguma base para monstros?

O deus torceu o nariz.

— Não faz parte de meu feitio jogar minhas obrigações para semideuses. É deselegante demais. Vim aqui por que gosto do desafio que representa Percy. Minha mãe até queria cuidar do seu caso como fez antes, mas ela está empolgada com outra pessoa. E pediu para eu tratar com carinho esse e mais outros. Ela adora desafios. — comentou sorridente. A voz dele denunciou toda a admiração que nutria pela mãe. Devia amá-la com sinceridade.

Percy pouco se ateve nesse detalhe. A parte “como fez antes” ficou reverberando na sua cabeça, buscando a memoria na qual essa informação se encaixava. Onde, meus deuses?

— Alguma dúvida? Já sabe por que estou aqui.

— Quem é sua mãe?

Quando os lábios perfeitos se abriram para responder, Percy notou algo estranho no cenário que chamou sua atenção. A parede da lanchonete parecia estar descascando como fruta. Nenhum pouco normal. Voltou a olhar para o deus, questionando com os olhos o motivo de aquilo estar ocorrendo. Seriam os efeitos colaterais dos poderes dele?

Pela careta insatisfeita, diria que não. Ou quem sabe fosse por que não prestou atenção. Ele parecia do tipo que gostava da atenção estar focada somente nele.

— Morfeu é o deus mais impaciente que conheço — Ele reclamou aborrecido.

Percy voltou a fitar a parede se desfazendo aos poucos. O efeito anterior do deus começava a afetá-lo de novo. Se ficasse olhando para aquele bico gracioso, perderia qualquer senso de razão e faria a maior loucura dos seus curtos anos de vida: o beijaria.

Os funcionários começaram a tremular como uma miragem dos delírios causados no deserto pelo insuportável calor. As luzes começaram a piscar como se estivesse prestes a queimar.

— Esse é meu sinal — A voz do deus denunciava a indignação que nutria no momento. — Aproveite Percy, e tente adivinhar quem é minha mãe. Não é difícil.

— Por que não me diz... — tentou Percy, parando quando sentiu o chão tremer como nos terremotos vistos nos noticiários.

— Tente adivinhar desta vez. Ah, espero que não se importe de ter adormecido nas batatas fritas.

— O quê?!

— Até mais, Percy. Como gostei da nossa agradável conversa, darei uma carona para você e seus amigos. Vejo-lhe em breve.

Percy abriu a boca para contestar sobre aquela de adivinhar. Nunca fora bom com mistérios.

Entretanto o piso partiu-se como se fosse um rio congelado onde as pessoas estavam patinando. A última coisa que viu foi o deus olhar insatisfeito para um homem de terno que Percy nem sabia estar ali.

Antes de a escuridão tomar conta de tudo, inclusive da sua consciência, Percy gritou por James e Sybelle.

ooOoo

Chocolate.

Sentia gosto dos biscoitos de chocolate que Sally preparava.

Mas por que sentia as têmporas latejarem? Chocolate desnorteava a esse ponto? Não se lembrava disso. Também não tinha nenhum tipo de alergia relacionada ao doce.

—... cy!

Oh! Tinha alguém chamando. Ele conhecia essa voz. Já fora chamado assim por ela antes, pelo que conseguia recordar.

—... orde!

Anda, acorde!

Percy gemeu e, com esforço, forçou as pálpebras a subirem para poder enxergar claramente.

Duas coisas amarelas. Não, espera! Três coisas amarelas. Uma usava um perfume enjoativo; ele torceu o nariz para tentar se livrar daquele cheiro. Por que alguém compraria algo assim? Queria que todos se afastassem?

— Onde... eu estou? — perguntou grogue.

Alguém suspirou aliviado. Percy esfregou os olhos. Piscou duas ou três vezes antes da visão voltar ao ponto certo.

As três coisas amarelas eram, na verdade, Sybelle, James e Annabeth. Pelo visto os loiros começavam a predominar o Acampamento Meio-Sangue.

— Estás na enfermaria, mon cher — Sybelle respondeu sua pergunta, um pequeno sorriso repuxando os lábios pintados de rosa. — Você nos deixou preocupados.

Percy coçou a nuca, sonolento. Ao menos fora respondido de onde vinha o enjoativo perfume de rosa.

— O que aconteceu?

Houve uma troca de olhar entre os três loiros. Percy aborreceu-se. Odiava quando faziam esse tipo de coisa. Não gostava de ser deixado de fora.

— Percy — Foi Annabeth que tomou as rédeas da situação. —, você desmaiou enquanto lanchavam no aeroporto. Ainda tem maionese na sua bochecha como prova.

Ele limpou para não ficar desfilando com aquela coisa branca no rosto.

— Isso não explica como vim parar aqui.

— Eu e Sybelle tentamos te acordar — contou James, sentando-se na beirada da maca. — Primeiro pensamos que fosse porque você estivesse enjoado do voo. Sybelle disse que você não pode ficar muito tempo nos domínios de Zeus. Até que você começou a ficar vermelho e suar.

— Uma garçonete veio perguntar se estava tudo bem — continuou Sybelle. — Eu pedi para ela buscar um copo de água bem gelada. Achamos que um banho de agua fria conseguiria acordá-lo. Então você começou a resmungar sobre Macarena, deuses bonitos e adivinhação.

— Sybelle percebeu, então, que devia ser obra de algum deus. Quando ela pegou o celular com a intenção de ligar para alguém aqui do acampamento, tudo rodopiou e paramos na mesa onde o centauro e o diretor do acampamento jogavam pinochle — completou James, animação tomando conta do seu timbre ao relatar a última parte. Conhecer um centauro e o deus do vinho pareceu deixa-lo empolgado além da conta. Ele estava com aquela expressão de criança de cinco anos cujo presente no natal fora o que almejara durante o ano inteiro.

— Quíron me trouxe aqui — adivinhou Percy.

— Sim, foi ele mesmo — respondeu Annabeth. — Lembra-se de algo Percy? — perguntou preocupada.

Percy franziu o cenho, fitando James como se ele pudesse responder. Então, aos poucos, conseguiu se lembrar do que ocorrera no sonho. Devia ter batido a cabeça quando pousaram na mesa. Percy foi relatando devagar tudo que aconteceu no sonho, deixando detalhes sem importância de fora. Não contou também sobre o bico e o impulso de quase beijar o deus. Aquilo, por ora, ficaria trancado a sete chaves no seu subconsciente.

Aconchegou-se no travesseiro ao terminar e esperou a opinião geral.

Os segundos passaram. Tudo que as meninas e James fizeram foi olhar para seu rosto como se tudo que ele contou fosse irreal demais. Na verdade Sybelle parecia indignada por ter dançado Macarena. O sorriso de James denunciava o quão divertido ele achava tudo aquilo.

Foi apenas um sonho, ele parecia dizer.

Annabeth pigarreou.

— Isso foi... diferente — disse por fim. — Eu não tenho ideia de quem pode ser esse garoto bonito, Percy. Mas você disse que apareceu um cara de terno no final?

— Sim — confirmou Percy.

— Morfeu, eu suponho. O outro reclamou sobre Morfeu ser impaciente, então deve ser ele.

Percy sacudiu a cabeça.

— É verdade.

— Bem, vou avisar Quíron que você acordou. — sorriu Annabeth. — James, não quer conhecer o acampamento? Eu posso chamar alguém para lhe explicar como funcionam as coisas por aqui.

— Deixe isso comigo — intrometeu-se Sybelle sorridente.

Percy trocou um olhar duvidoso com James. Os dois pensaram a mesma coisa. Aquele sorriso doce de Sybelle era uma arma perigosa. Durante o voo — na qual Percy se agarrou aos braços da poltrona como se sua vida dependesse disso — Sybelle ficara tagarelando sobre roupas, joias, sapatos e como filhos de Atena não tinham senso de moda. A vítima que ela mais atacara fora Annabeth.

Algo disse a Percy que ela nutria uma profunda antipatia por Annabeth, coisa não notada pela mesma, pois Annabeth sorriu em agradecimento para Sybelle e saiu da enfermaria.

Assim que os cachos de Annabeth desapareceram de vista, os olhos claros de Sybelle voltaram-se para Percy e James.

— O que um sorriso non faz.

Sybelle Allerton era um perigo para humanidade. Quem pensasse o contrario, era tremendamente ingênuo.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a Vaca Loca, Zerochann, Ganimedes, leh jackson, Vick OShea, laa,Corsy On Fire, Yuchan pelos comentários. Incentivaram-me muito, viu? E Yuchan (de novo) e Cathy M pelos MP's que me inspiraram mais do que nunca. Obrigada a todos.
Agora... Esse capítulo não foi um dos melhores, mas ele é necessário. O número três é sempre um desafio. Que coisa. -.-'
Alguém conseguiu adivinhar quem é esse deus e quem é sua mãe? Quero ver se alguém adivinhou!
Até o próximo. Que já está em andamento, eu juro!
Momento propaganda: Eu também estou escrevendo uma original slash/yaoi, cuja trama é um triângulo amoroso. Eu ficaria muito feliz se lessem e deixassem um review. Aqui está o link:
http://fanfiction.com.br/historia/334314/What_To_Do/
Obrigada pela atenção.