Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Volteiiiii!!!!!! Boa leitura



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Respirei fundo, tentando me recompor. Ou pelo menos do lado de fora. Ergui a cabeça  e toquei a campainha. Não demorou muito e uma das empregadas apareceu na porta em seu uniforme preto e branco, o espanador na mão.

         -Senhorita? – ela gritou assustada – Minha nossa!

         -O que foi Enrieta? – Sue perguntou – Que gritaria toda é… – e então ela me viu e colocou as mãos no coração, surpresa.

         -Isabella, minha querida – e correu para me abraçar.

         Eu aceitei seu abraço, um carro correndo da frente da casa quando a mulher me abraçou. Em pensamento, me despedi de Carlisle e entrei na casa.

         -Querida, como é bom ver você aqui – ela dizia me apertando em seus braços e me enchendo de pequenos beijos.

         -Mamãe – uma voz que eu conhecia desde sempre, mas muito mais triste e velha do que eu podia me lembrar – Eu estou indo…

         Ele não terminou de falar. Do alto da escada Jacob ficou parado, me olhando como se visse um fantasma.

         -Isabella! – ele berrou.

         E correu escada abaixo, me tomou dos braços de sua mãe e me abraçou com força como nunca tinha feito antes.

         -Meu Deus, Isabella– ele sussurrou no meu ouvido com carinho.

         -Jacob – eu murmurei depositando todo o  peso do meu corpo em seus braços e fechando os olhos.

         -Acabou Isabella, eu juro que acabou – ele sussurrou me apertando – Nunca mais vai ter que fazer isso, não vou deixar você longe de mim nunca mais. Acabou meu amor, acabou…

         -Jacob – grunhi.

         -Shh, está tudo bem meu amor, vai ficar tudo bem…

         Meus olhos estavam secos, nunca mais uma lágrima rolaria por eles. Em menos de um ano eu tinha perdido minha capacidade de sentir, minha capacidade de ser humana. Deixara tudo para trás, numa casa em ruínas, num quarto cheirando a mofo com uma luz fraca que deixava a pele num tom doentio, junto com um rapaz magro que se recuperava.

         -Vamos levá-la para o quarto – Sue sugeriu afagando meus cabelos – Ela precisa tomar um banho e dormir um pouco, deve estar exausta.

         Jacob não me soltou, apenas balançou a cabeça concordando com a mãe.

         -Eu levo ela para cima – ele sussurrou.

         Com o braço ao meu redor, ele guiou meu corpo inerte para cima.

-Pode entrar – permiti me encolhendo ainda mais.

         Sentada no meio da imensa cama, eu abraçava meus joelhos, trêmula. A televisão ligada enchia o quarto de uma luz azulada. Jacob entrou, vestia um sobretudo creme, uma calça escura e uma camisa clara. Os cabelos estavam perfeitamente alinhados, com um leve toque de gel e perfume de menta.

         -Com licença – ele pediu sorrindo para mim.

         -Toda.

         Jacob sentou na beirada da minha cama e olhou para a televisão, prestando atenção na reportagem idiota que passava sobre uma amostra de balé em algum lugar do país. Depois de dez minutos em silêncio, ele olhou para mim, com delicadeza separou meus punhos e deitou meus braços ao lado do meu corpo. Só então eu percebi que estava tão encolhida que cravei minhas unhas nos braços, deixando um rastro de manchas vermelhas. Mordi o lábio inferior e olhei para ele, lembrando como se fosse de uma outra vida que eu achava aquele rosto muito bonito. Jacob tinha um rosto praticamente renascentista, traços perfeitos, simétricos, suaves, delicados, dignos de uma estatueta de Michelangelo.

         -Está tudo bem com você? – ele perguntou docemente.

         -Sim – menti.

         -Eu sei quando você está mentindo Isabella– ele avisou sorrindo com carinho.

         -Se eu estou mentindo talvez eu não queira contar a verdade – respondi com frieza.

         Seu sorriso sumiu, ele me olhou com tristeza.

         -Eu cometi um grande erro permitindo que você fosse até lá. Acredite, eu perdi muito com tudo isso…

         -O que você perdeu Jacob? – minha voz saiu mais irritada do que eu planejei.

         -Minha noiva – ele respondeu com simplicidade – A mulher que subiria no altar comigo, que se casaria comigo, que diria sim embaixo de um dossel de flores, que eu tomaria nos braços e que seria minha na noite do nosso casamento, que estaria em casa me esperando todos os dias para me dar um beijo quando eu chegasse. A mulher que ficaria enorme, grávida, carregando um filho meu, que daria os melhores momentos da minha vida. Foi isso que eu perdi.

         Jacob baixou a cabeça. Senti pena.

         Ele não tinha culpa daquilo tudo, durante toda minha vida eu fora a garota perfeita para ele, eu aceitara tudo, sua ambição, sua competitividade, seus sonhos. Eu não tinha sonhos, tudo viria para mim de forma simples e natural, nascera com a certeza da felicidade superficial, não precisava ter objetivos de vida, já tinha uma vida estabelecida a partir do momento que lavraram meu sobrenome na minha certidão de nascimento. Então tomara os sonhos dele e os pegara para mim, achando-os maravilhosos, admirando sua capacidade de sonhar, algo que eu nunca fui capaz de fazer.

         Submissa, eu sempre fora submissa a ele, e agora ele podia perceber a diferença, podia ver que não era sua noiva quem estava ali sentada, e sim uma completa estranha. Alguém capaz de ser fria, de ser ríspida. E alguém que acabaria com a raça dele caso ele estivesse mentindo sobre meu irmão.

         -Ela ainda está aí? – ele perguntou de repente

         -Como?

         -Isabella, minha Isabella, ela ainda está aí?

         Nos encaramos, ele buscando em mim o fantasma de sua noiva, eu procurando nele verdades e mentiras. Busca inútil, não havia nada que pudesse encontrar nele, e nem ele em mim.

         -Você já mentiu para mim? – revidei sem responder.

         -O que? – ele estava confuso.

         -Você, alguma vez, já mentiu para mim Jacob?

         -Por que está me fazendo essa pergunta? – ele se esquivou me olhando com curiosidade.

         -Não interessa o porquê, e sim a resposta. Mentiu ou não? – minha voz se elevou. Estava alterada.

         -Eu nunca mentiria para você – ele respondeu enfaticamente, me encarando com hostilidade, como se eu acabasse de ultrajá-lo.

         Sua expressão de ultraje foi a gota d’água para mim, antes que eu tivesse consciência eu tinha empurrado ele para fora da cama e começara a gritar:

         -Deixa de ser cínico, seu mentiroso. Acha que eu não sei?

         Por um momento ele ficou paralisado, pálido. Mas então seu rosto ficou sombrio e estranho. Ele estava muito, mas muito bravo.

         -Você não tem o direito de levantar a voz para mim Isabellae muito menos de me acusar. Quem você pensa que é?

         -Cala boca – berrei com toda a força – Eu estou cansada desse seu ar de cavalheiro, acorda para vida, eu não sou mais a mesma, não vou deixar você dizer o que eu devo ou não fazer, você não manda mais em mim idiota!

         Ele se aproximou como um touro enfurecido, ergueu a mão e a parou no ar, a boca firmemente fechada em ódio. Não me encolhi, a raiva que queimava no meu corpo me deixava forte, eu não tinha medo dele.

         -Eu. Nunca. Menti. Para. Você! – ele repetiu destacando cada palavra, os olhos subitamente vermelhos e molhados.

         -Então por que Erick ainda está vivo se você disse que viu o corpo dele? – perguntei numa voz baixa e fria.

         Aquilo o pegou de surpresa, ele baixou a mão e me encarou, confuso e atordoado.

         -Como? – Jacob indagou numa voz trêmula.

         Eu fui até a mesa de computador e liguei o visor. Já estava acessado no meu e-mail, eu cliquei no item desejado e coloquei o vídeo para iniciar. Jacob veio até mim, cada vez mais confuso, e assistiu o vídeo.

         -Meu Deus – ele sussurrou quando viu Erick surgir encolhido.

         A dor assolou a voz dele, a mesma dor que eu vinha sentindo, e pela primeira vez eu senti que ele me dizia a verdade. Porque a dor que ele sentia eu conhecia, e não tinha como disfarçar isso.

         -Agora você vai dizer que não mentiu? – perguntei, lágrimas escorrendo dos meus olhos quando o vídeo terminou.

         Voltei para cama e desabei no colchão, voltando a ficar encolhida, aquele era o único modo de continuar inteira quando, por dentro, eu estava despedaçada. Não sei quantas vezes Jacob reviu o vídeo antes de voltar a sentar do meu lado, só sei que, quando ele se aproximou, a noite já tinha caído e nós estávamos no escuro. Seu vulto pesado se aproximou do meu corpo encolhido e sua cabeça repousou nos meus braços enrijecidos.

         -Isabella, me desculpe, eu nunca… Não é o que você está pensando, por favor, me deixe explicar…

         Suas lágrimas molharam meu braço e fiquei confusa. Nunca vira Jacob chorar na minha vida, nem quando ele era pequeno e seu cachorro morrera atropelado. Jacob era tímido quando se tratava de expor seus sentimentos em gestos, sempre que algo o afetava, sempre que ele sofria, ele ficava sozinho. Chorava sozinho.

         E, entretanto, ali estava ele, chorando em meus braços magros e frios.

         -Explique – concedi, duvidando se ele realmente poderia fazer isso.

         -Naquele dia eu fui até o IML, reconheci novamente seu pai, sua mãe e Embry. Quando chegou a vez de reconhecer Erick eu estava mal, muito mal. Ver sua família morta não foi algo fácil, eu precisava de tempo para me recuperar, eu sabia o quanto você amava aquele menino e não estava pronto para ver seu irmão predileto morto. Pedi para dar um tempo antes de fazer o último reconhecimento. Foi então que um dos senadores surgiu e ofereceu para ir no meu lugar. Eu dei a ele isso – e tirou uma corrente de dentro da camisa, a retirou do pescoço e colocou sobre meus braços – E ele fez o trabalho por mim. Ele voltou, disse que o menino era realmente seu irmão e que já mandara lacrar o corpo. Eu tentei ver seu irmão, mas ele disse que não era mais preciso, que o reconhecimento tinha sido fácil, apesar dos ferimentos. E eu acreditei nele, afinal quantos garotos de seis anos cheios de cachos louros são seqüestrados no nosso bairro? Eu acreditei, e quando disse que reconheci o corpo eu estava tentando evitar mais dor tendo que explicar toda a história. Eu jurava, por minha própria vida, que ele estava realmente morto. Isabella, nunca passou pela minha cabeça a hipótese… Eu nunca pensei que ele pudesse estar vivo ainda, eu nunca esconderia isso de você. Eu te amo Isabella, desde pequeno eu sempre te amei, todos os dias, a cada segundo, toda vez que eu respiro, meu coração, meu corpo e minha mente compreendem e expande ainda mais meu amor por você, eu nunca faria você sofrer.

         -Mentira – comecei num sussurro.

         -Não Isabella, eu juro que não sabia – ele estava angustiado.

         -Não é isso, eu estou falando que é mentira você me amar! Se você me amasse, nunca permitiria que eu fosse embora.

         Ficamos em silêncio, ambos chorando, nossas respirações iam e vinham, se embaralhando num amontoado de mornidão e umidade.

         -Acredita que eu não sabia sobre o Erick? – ele quebrou o silêncio entre nós.

         -Talvez, mas vai ter que me explicar direitinho essa história e me provar que está sendo sincero.

         -Tudo bem, eu posso provar. Me espera aqui, eu volto com a prova de que estou falando a verdade.

         Ele se afastou de mim e o colchão tremeu quando ele saiu de cima dele. Eu ouvi seus passos no quarto escuro e a porta sendo aberta. Mas ele não fechou, o pouco de luz do corredor que entrou no quarto mostrou que ele estava parado.

         -Acredita mesmo que eu não te ame?

         -Eu tentei acreditar, mas é difícil quando tudo mostra que você não me ama como diz que ama – respondi baixando a cabeça.

         A porta fechou e fiquei sozinha.

         Jacob estaria falando a verdade?

         Eu acreditava que sim. Peguei a corrente que ele me dera e olhei o pingente gordo e grande que pendia nela. Era um tipo de relicário, algo parecido com o que eu carregava no pescoço, ou melhor, um dos que eu carregava, estava com a corrente de Alice (que fora de Dino) e de minha mãe. Abri o pingente e achei duas fotos, uma de cada lado. Liguei o abajur ao lado da cama e trouxe o pingente para perto da luz, vendo em fim as fotos. Uma era minha com Erick, sorrindo, no outro lado estava a foto do major e de Sue.

         Nas faces externas do pingente havia duas frases diferentes, na do lado dos pais, estava escrito “Origem”, do lado de minha foto estava “Objetivo”.

         Antes que eu pudesse ter qualquer reação com a leitura daquilo, ele voltou com uma pasta na mão, ligou a luz do quarto e sentou aos meus pés.

         -Aqui estão todos os documentos sobre a morte dele, o velório, o assassinato, o seqüestro. E também a carta do legista apontando quem fez o reconhecimento dos corpos e quem estava presente na ocasião.

         Ele me deu os papéis que testificariam sua inocência e eu li cada um deles, buscando dopar minha mente com a idéia fraca de que estava lendo a morte de desconhecidos, então de quem eu mais amara no mundo. Na carta de Erick, só estivera presente o legista e o Senador para reconhecer o corpo.

         Jacob não mentiu.

         Um alívio imenso caiu sobre mim e tirou o peso monumental que eu carregava nos últimos dias quando pensei que, por algum motivo, ele sabia que meu irmão estava vivo e prisioneiro.

         -Acredita agora? – perguntou olhando nos meus olhos com medo e dor.

         -Acredito.

         -Agora, por favor, pode me dizer o que está acontecendo? Mas de verdade, eu estou quase enlouquecendo. Como você conseguiu aquele vídeo?

         -É uma longa história – avisei.

         -Eu tenho tempo.

         Dando atitude as palavras, ele pegou uma das almofadas e colocou no estrado da cama, apoiou as costas nela e cruzou os braços, esperando que eu falasse.

         -Você recebeu minha carta? – iniciei.

         Do meio da pasta ele tirou um papel amassado de tanto ser lido e relido e me entregou, era minha carta.

         -Eu não entendi nada do que você escreveu aí.

         -Então é daqui que eu tenho que começar a explicar.

         Respirei fundo e comecei.


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Notas finais do capítulo

Bem,desculpem a demora,é que me encontrei num impasse muito grande: interferir na história fazendo um POV do Edward para que ele pudesse explicar seu lado, ou continuar deixando a Bella contar a história. Bem, eu tentei,mas simplesmente não deu, colocar um POV do Edward foge completamente as minhas intenções e eu peço que compreendam.
Eu tenho uma ideia, ainda não sie se dará certo, mas vou desenvolvendo ela melhor com o tempo. O que posso adiantar é fazer uma versão da história na versão do Edward.
Bem, para finalizar, gostaria de agradecer a Emily Rose pela indicação da fic *_*
Fiquei tão emocionada :)
Comentem sobre o capitulo, nós vemos em breve. Prometo. Bjus