Cá estava eu. Com a cabeça praticamente explodindo, meu nariz parecendo que tinha um balão dentro dele, e um sapo em minha garganta.

Se isso não é estar doente, então eu não sei o que é.

Parabéns Jéssica, você acaba de transformar esse dia de ruim para horrível.

Como pode ser possível essa capacidade que eu tenho de deixar as coisas ruins em piores ainda?

E que historia é essa do Justin vir aqui? Ele quer morrer?! Porque se meu pai ver um dedinho do Justin aqui em casa, não sei quem morreria primeiro, eu ou ele.

Presa em meus conflitos internos, fui interrompida por uma vibração em cima da cômoda ao lado da cama. Meu celular.

Me remexendo na cama, com certa dificuldade pois meu corpo doía por inteiro, cheguei ao criado mudo logo pegando o aparelho brilhante e vibrando, destravando a tela.

"Deixe a janela aberta"
- Justin

Acredito meu coração ter pulado um batimento. Respondido um 'ok' suspirei ao reler a mensagem, me levantando e indo em direção à janela deixando-a aberta. Uma leve brisa invadiu o quarto.

Voltei a me aconchegar na cama, me embrulhando com o cobertor enquanto passava Friends na televisão. Nada que umas boas piadas do Chandler Bing não possam ao menos revigorar meu humor, que ultimamente não estava muito bom...

E novamente vinham as preocupações invadir minha mente...

Se já não bastasse estar doente, toda essa história da briga entre o meu pai e o pai do Justin insistia em martelar contra a minha cabeça.

Como duas pessoas que deviam ser vistas como exemplos, poderiam estar brigando como duas crianças?

E o pior de tudo, estar envolvendo duas pessoas que não tem nada a ver com essa história.

Me doía no peito a sensação de ser proibida de ver o Justin. Me chame de maluca, mas essa coisa loira com um sorriso encantador e um beijo viciante, se tornou importante na minha vida mais rápido do que eu gostaria de admitir.

Eu queria ficar com ele, poder vê-lo todo dia, ver seu sorriso, ouvir sua risada, sua voz, sentir seu toque...

Inebriada e cativada em cada perfeito detalhe dele, acabei adormecendo em um sereno e despreocupado sono.

Justin POV

Assim como das outras vezes, não foi nada difícil achar a casa da Jess.

Estacionando o carro na rua da sua casa, retirei a chave da ignição logo saindo do carro e fechando a porta atrás de mim.

Fui caminhando silenciosa e cautelosamente até a lateral da casa, a qual me certifiquei de que não havia ninguém por perto.

Elevando meu olhar, notei que a luz do quarto da Jess estava acesa, me certificando de que ela estava em seu quarto.

Agradecendo mentalmente a avó de Jess, subi no painel de escada feito de madeira que havia ali na parede externa da casa. Ali cresciam algumas daquelas plantas aéreas que necessitavam de suporte para crescer.

Sem dificuldade nenhuma, me pus a subir, logo atingindo o andar do seu quarto, e de uma forma ninjamente incrível, pulei a janela, logo me encontrando dentro do quarto da Jess.

Vagando meus olhos pelo quarto, percebi que nada havia mudado desde a ultima vez que estive aqui.

Senti uma sensação de paz e sossego me atingir ao vê-la ali, tão doce e inocente, em um sono calmo e profundo.

Me aproximei silenciosamente com medo de acordá-la. Ela parecia um pacotinho humano de tão encolhida que estava, em contar o fato de que ela estava abraçada e coberta pelo cobertor de uma forma que parecia até estar sufocada; mas parecia bom, tão bom que me atiçava a vontade de deitar por cima de seu corpo pequeno e dormir ali, daquele jeito.

Ela estava em um sono tranquilo, apesar de uma silenciosa fungada - extremamente fofa- por causa de seu pequeno nariz, levemente vermelho, provavelmente por ter sido esfregado tantas vezes. Seu rosto estava liso e calmo, sem nenhuma linha de expressão. Seus lábios rosados entreabertos, quase me fizeram perder a minha linha de controle- se é que havia uma quando eu estava perto dela- e ir beijá-la no mesmo instante.

Sem conseguir prolongar muito mais a minha vontade, me nivelei perto de seu corpo, me abaixando para poder depositar um leve beijo em sua testa.
Ela, mesmo em seu subconsciente, sorriu levemente, fazendo meu ego inflar e eu sambar mentalmente.

Me aconchegando melhor ao seu lado, me ajustei em tal posição que eu ficasse sentado com as costas recostadas na cabeceira da cama, e ela estivesse curvada e encolhida com a cabeça ao lado das minhas coxas, com as minhas pernas esticadas. Assim, eu poderia vê-la da melhor forma possível.

Estar próximo dela me trazia uma sensação de paz, aquele estado que chamam de Nirvana. A calmaria que alguém ou algo te trazia, te desligando totalmente do mundo e dos problemas que te cercavam. Contanto que essa pessoa esteja ali, do seu lado, o mundo poderia acabar que eu nem perceberia.

Eram horas assim que eu me lembrava de quando eu ficava até tarde, no meu quarto enquanto eu ainda morava no apartamento que eu e minha mãe tínhamos em uma parte mais simples da cidadezinha que morávamos no Canadá. Mamãe ainda não havia chegado do trabalho, e eu ficava sozinho, apenas tocando meu violão e cantarolando alguns versos aleatórios. Sem me preocupar com a vida, apenas naquele momento.

Era engraçado como a Jéssica me fazia relembrar do antigo Justin. Eu tenho saudade dele; apesar de sermos a mesma pessoa, eu penso que com os anos, ao crescer, eu mudei.

Um sorriso bobo brotou no meu rosto sem ao menos eu perceber.

Se remexendo um pouco, acordei de meus desvaneios, notei que ela abria seus olhos lentamente, bocejando e logo acompanhando a linhatura das minhas pernas, chegando ao encontro dos meus olhos, fazendo com que eu pulasse uma respiração.

- Bom dia raio de sol- falei sorridente, não deixando de transparecer a minha felicidade por estar ali com ela.


Jess POV

- Bom dia raio de sol- sua voz soou, quase acariciando em um tom de veludo meus ouvidos.

Sorri ao perceber que ele estava aqui. Sem preocupar com os possíveis problemas. Ele apenas, estava aqui.

- Que horas são? - perguntei sonolenta, logo me arrependendo depois de sentir uma pontada na garganta. Ai, desgraça de gripe.

- Pouco depois das nove- ele responde indiferente enquanto acariciava meus cabelos e sorria para mim.

- Você parece um anjinho dormindo.

Ergui uma sobrancelha como quem disse para que ele elaborasse melhor.

- Quando eu cheguei, você estava cochilando- ele falou.

Sorri em resposta.

- Olha, sobre o que aconteceu hoje ced-

- Jess!- fui interrompida por leves batidas na porta. Xingando até o quinto dos infernos quem seria a alma que estaria gritando a uma hora dessas enquanto minha cabeça praticamente explodia.

Me levantei e fui até a porta, agradecendo mentalmente por ter trancado-a mais cedo.

Olhei para trás, me certificando de que Justin estava escondido; ele estava acabando de entrar no banheiro.

- O que foi? - perguntei abrindo a porta.

- Ah, já era hora né? - mamãe falou impaciente- olha, eu fiz essa sopa pra você, já que você não jantou mais cedo.

Torci o nariz ao ver. Vamos dizer que eu não sou a maior fã de sopa.

- Come porque eu não quero te ver doente.- ela insistiu. Oh, a ironia disso.

- Ok Ok! - falei pegando a bandeja e colocando em cima da cama.

- Coma tudo e depois vá dormir ok? - ela perguntou depois que voltei a porta.

- Sim- respondi.

Depositando um beijo em minha testa, ela saiu. Fechei a porta e fui até o banheiro.

Ao abrir a porta, me deparei com Justin fuçando na bolsa de maquiagem que eu e Sara havíamos trazido.

- O que que você ta fazendo? - perguntei fazendo-o pular surpreso com as mãos para cima em rendição.

- Eu?! err... N-nada. Por que?- falou nervoso.

- Deixa essa maquiagem aí e pode sair, porque minha mãe já foi- falei rindo. Lancei um olhar maroto para ele, porque não muito comum você abrir um banheiro e ver um garoto fuçando na sua maquiagem.

- Olha, eu só tava olhando a maquiagem porque eu fiquei curioso, porque aquilo é muita maquiagem para uma pessoa só.- falou se defendendo.

Não pude deixar de rir com ele nervoso assim.

- Essa maquiagem não é minha seu bobo.- falei enquanto íamos em direção a cama- a maioria ali é da Sara.

- Uhmm - falou soltando um suspiro de alivio- ainda bem. Porque você não precisa de nada disso.

Corei no tom mais brilhante de vermelho, minha bochechas praticamente derretiam de tanto calor. Ai garoto!

{-}

Justin POV

-Nããããoo quero!! - ela manhou- não vou tomar essa meleca!

Jéssica agora estava deitada de bruços, com o cobertor até a cabeça, reclamando igual a uma criança de cinco anos prestes a tomar remédio. Ainda bem que eu gosto dela, porque vai ser teimosa assim!

De uma forma irritante, ela conseguia até ser fofa. Mas bem irritante.

- Por favor Jess- supliquei- isso aqui vai te deixar melhor.

- Não vai não! - sua voz saiu abafada por causa do travesseiro que sua cara encontrava-se amassada.

Deixei o pote com a sopa em cima da cômoda, me virando a ela e puxando levemente o cobertor.

- Jess- usei minha voz manhosa o máximo possível.

- Toma essa sopa- pedi enquanto ela cedia lentamente- ela vai te deixar melhor, eu prometo.

- Mmmmm- choramingou virando o rosto para mim com alguns fios pendentes em seu rosto.

- Por favor?

- Ta bom

Com sua carinha mais triste, ela se sentou na cama e logo estendeu a mão para pegar a colher, mas eu a interrompi.

Me olhando curiosa, em um movimento rápido, coloquei ela em meu colo, fazendo com que ela agora se sentasse de lado em meu colo.

Entendendo o que eu tinha em mente, sorriu timidamente. Ela não conseguiria ser mais fofa.

Pegando uma colher com uma quantidade de sopa, direcionei até sua boca.

Colocando os lábios para dentro da boca e balançando a cabeça como uma criança, negou-se a comer. Semicerrei os olhos, como se falasse que ela tinha prometido que ia comer.

Lentamente, mas de uma certa forma indo, ela cedeu, me deixando colocar a colher em sua boca e ela engolir o conteúdo, fazendo uma careta depois.

- Ah qualé Jess?- reclamei- nem tá tão ruim assim.

Fazendo bico, ela começou a ceder a cada colher. De vez em quando eu até fazia o aviãozinho, fazendo com que ela revirasse os olhos e apenas risse de mim.

Essa garota me encantava. Mesmo sendo chata e teimosa, eu não conseguia ficar ao mínimo nervoso com ela. Ela me trazia uma paz, uma felicidade interna que eu já não tinha há muito tempo.

Um ano atras, eu até me sentia feliz quando eu namorava a... Selena. Mas nada me fazia me sentir completo como eu me sentia ao lado da Jéssica.

Não era a Selena quem eu queria...era a Jéssica.

Seu nome me trazia arrepios, seu sorriso me trazia alegria. Sua presença me trazia paz. Seu corpo me trazia desejo. Sua voz acariciava meu ouvido. Ela me trazia de volta ao garoto que eu sempre fui, e isso era bom, muito bom.

Acabando a ultima colher, deixei o pote em cima do criado mudo. Ela deitou sua cabeça em meu ombro, conseguindo achar -não sei como- o lugar perfeito onde ficávamos encaixados perfeitamente.

Perfeito.

- Eu te amo- ela suspirou.

Oh, eu ouvi certo?