Spirit escrita por Hanko


Capítulo 3
Capítulo 3.


Notas iniciais do capítulo

Oi, você que acompanha isso aqui!
Vai ler. Vejo você nas notas finais.



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- Vamos logo, Yuu. – Ruki disse, e eu me deixei levar, enquanto olhava para todos os lados, à procura dele, em vão. Nenhum sinal daquele loiro. E não tinha como ele ter conseguido passar por toda aquela gente tão rápido. – Eu tenho uma surpresa pra você.

Era como se ele nunca tivesse estado ali.

Finalmente, depois de nos espremermos mais um pouco para conseguir nos mover, chegamos até o meu quarto – que era o único lugar onde não havia ninguém.

Ou pelo menos eu achava que não tinha.

Takanori foi até o meu armário e rapidamente pegou algumas roupas, atirando-as na minha direção, como se elas tivessem sido previamente escolhidas. Mandou eu me vestir de uma vez e esperar ali, porque ele tinha uma coisa para mim – provavelmente a tal surpresa, que aliás, eu não estava nem um pouco curioso para descobrir o que era.

Eu estava terminando de passar a camiseta pela cabeça quando ouvi a porta se abrir e fechar outra vez.

- Ruki? – chamei, de costas para a porta. Não obtive resposta. – Ruki? – chamei outra vez. – É você? – nada. Me virei na direção da porta, o silêncio já começando a me incomodar. – Ruki, será que você pode responder quando eu te chamo, caralho?

Não era o Ruki.

Hiroto pareceu ter se assustado com o fato de que me virei bruscamente na sua direção, pois seus olhos estavam um pouco arregalados e ele parecia um pouco sem jeito.

- Hiroto? – arqueei as sobrancelhas. – O que está fazendo aqui?

- Etto… - ele começou, desviando o olhar, corando. -… Aoi-san…

Ele parecia nervoso e um pouco fora de órbita.

- Está tudo bem? – perguntei, me aproximando. Ele parecia estar fazendo um grande esforço para se manter de pé.

- Etto… - continuou, aparentando não saber o que fazer. Seu rosto estava da cor de um tomate, e ele se balançava nos pés enquanto coçava a nuca e encarava o chão como se ele fosse desmaiar caso seu olhar cruzasse o meu.

- O quê aconteceu?

-… Eu juro que a ideia não foi minha, Aoi-san. – ele disse. Franzi o cenho, confuso. Do quê diabos ele estava falando? Da festa? Eu sabia que aquilo era coisa do Takanori. Em momento algum eu pensei que outra pessoa além dele seria tão desajuízada e cara de pau à ponto de fazer aquilo.

- Do quê raios você está falando?

E ao invés de me dar uma resposta, ele me beijou. Seus lábios grudaram nos meus e no mesmo instante eu soube o que tinha acontecido para ele estar tão estranho. O gosto de álcool em sua boca o denunciava. Eu estava travado, sem ação, chocado, e o choque devia ter feito com que eu abrisse a boca – o suficiente para que ele pudesse aprofundar o beijo.

Então o ar se fez necessário, e ele separou seus lábios dos meus, cada bochecha parecendo ter sido atingida por uma chinelada, de tão vermelha.

E eu continuava travado no mesmo lugar, com uma cara de paisagem, parecendo petrificado.

Ou no mínimo um retardado.

Quero dizer, puta que pariu, me dá um desconto. Era coisa demais pra um dia só. Primeiro eu acordava feito um zumbi porque na noite anterior não tinha dormido nada por causa de alguma força sobrenatural da macumba que estava revirando os armários da minha cozinha; depois tive que aguentar aqueles filhos da puta que se dizem meus amigos debochando da minha cara; aí quando  eu chego em casa, morrendo de cansaço, Takanori está dando uma festa no meu apartamento; depois disso eu ainda começo a ver loiros que desaparecem no ar – ou que nem ao menos existem -; e agora, um Hiroto já mais pra lá do que pra cá por causa da bebida está me roubando um beijo?

Porra, grandão aí de cima. Pega leve com o caipira de Mie. Recém é segunda-feira.

- H-Hiroto?! – exclamei, finalmente conseguindo fazer alguma coisa além de olhar de boca aberta para o nada. – O que você está fazendo?

Ele deu os ombros, como se fosse óbvio.

- Beijando você, Aoi-san. – ele respondeu, simplista.

Disso eu sabia.

- Isso eu percebi. – retruquei. – Quero saber o porquê.

Hiroto deu os ombros outra vez.

- Deu vontade. – ele disse, se aproximando. Recuei alguns passos, e ele avançou a mesma distância que eu recuei. – Você não é de se jogar fora, Aoi-san. – ele quase ronronou.

- Er… Obrigado, eu acho. – falei, meio incerto.

Nós continuamos nesse joguinho de eu recuar e ele avançar na minha direção por mais algum tempo, até que Hiroto foi mais rápido que eu – o que era surpreendente considerando que ele já estava meio de porre – e me prensou contra parede.

Devo dizer que eu me senti a bicha mais passiva do mundo quando ele fez isso e que meu orgulho foi terrivelmente ferido, porque o Hiroto – o Hiroto, veja bem – estava sendo mais macho do que eu.

E ele mal bate no meu ombro.

E tem cara de criança.

E é fofinho.

Mas enfim.

- Por que está recuando, Aoi-san? – ele perguntou, com a voz rouca, colando seu corpo no meu. Isso teria sido extremamente sexy se eu não estivesse, sei lá, apavorado.

- Porque você não está sóbrio. – respondi.

-… E daí?

- E daí que eu não vou fazer nada com você bêbado, Hiroto.

- Por quê?

- Porque não é certo.

Ele sorriu, me pressionando mais contra a parede.

- Nem se eu quiser? – ele tornou a quase ronronar, tocando seus lábios no meu queixo.

O empurrei com toda a delicadeza possível, indo em direção a porta. Eu precisava sair dali antes que a coisa ficasse pior.

Não me entenda mal. Hiroto é muito bonito, mas eu jamais me envolveria desse jeito com ele. Eu sabia muito bem o que Tora sentia por ele – e eu sabia que de certa forma aquilo era recíproco-, e isso me deixava incapaz de sequer pensar no baixinho de outra forma além de um bom amigo.

Mas assim que minha mão tocou a maçaneta da porta, ouvi o som da chave girando na fechadura.

A porta tinha sido trancada. Por fora.

Eu devia ter imaginado.

- TAKANORI! – berrei, esmurrando a porta. – O QUÊ DIABOS VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!   – não obtive resposta, por isso continuei. - ABRE ESSA PORTA AGORA,SEU HOBBIT INCONSEQUENTE!

Só pude escutar sua risada do outro lado.

- Calma, Yuu. – ele riu. – Essa é a outra parte da surpresa.

Ele não podia estar falando sério.

- Você perdeu o juízo?! – estrilei. – Não, espera, juízo você nunca teve, mas ISSO, Takanori?

- Será que dá pra você ficar calmo? – ele reclamou, e eu senti vontade de colocar a porta abaixo só para poder esganá-lo naquele mesmo instante. – Eu falei com o Hiroto. Ele está de acordo. Ninguém vai fazer nada que não queira.

- Depois que você encheu a cara dele, ele concordaria até em fazer um pacto com o diabo! – gritei.

- Você faz parecer uma coisa ruim. – Ruki disse, e pelo o seu tom de voz pude ver que ele estava armando um bico de birra. Eu podia ceder à todas as chantagens emocionais do Takanori, mas à essa eu não cederia. Eu não ia fazer uma coisa dessas comigo, nem com o Hiroto, e nem com o Tora por pura mania de se meter onde não é chamado e capricho do Ruki.

Não mesmo.

- PORQUE É UMA COISA RUIM, CARALHO. – retruquei. – Você passou dos limites, Takanori. Abre essa porra de porta antes que eu coloque ela à baixo e mate você.

- É uma festa. Amanhã ninguém vai se lembrar de nada. – ele contra-argumentou. – Não tem problema.

- É CLARO QUE TEM PROBLEMA! – tornei a gritar. Hiroto tinha rodeado a minha cintura e tratava de arranhar o meu tronco. Tentei fazer com que ele me soltasse, mas fazer isso e gritar com Ruki ao mesmo tempo era quase impossível. – Abre a porta, Ruki. Sério.

- Mais tarde eu venho aqui abrir a porta pra você. – ele disse. – Por hora, aproveite sua companhia.

Esmurrei a porta.

- Takanori! – esbravejei. – Você que não ouse…!

Mas ele já tinha ido.

Esmurrei a porta mais uma vez. Aquele desgraçado tinha reservado o dia para me tirar do sério. E estava conseguindo.

Suspirei, pedindo para que o loirinho me largasse – coisa que não aconteceu. Ao invés disso, ele colou os lábios nos meus outra vez, e eu tive um tanto de custo para conseguir separá-los. Empurrei-o para trás, mas ele me puxou e acabamos os dois caindo no chão – e para a minha desgraça e total desespero, ele estava por cima de mim.

AMADO SENHOR, ME SOCORRE.

ME AJUDA.

TIRA O CAPETA DO CORPO DESSE MENINO.

POR FAVOR.

- Hiroto, chega. – falei. – Não faça isso comigo, nem com você, nem com o Tora.

- Pro raio que o parta com o Tora. – ele resmungou.

Franzi o cenho.

- Como assim ‘’pro raio que o parta com o Tora’’? – perguntei. – O que aconteceu?

Hiroto e Tora eram quase o ovo da marmita do outro. Embora sempre estivessem implicando um com o outro, era unidos como eu e o Takanori. Talvez até mais. Os dois se conheciam desde pequenos e Tora havia estendido a mão para Hiroto quando os pais e a irmã deste faleceram em um acidente de carro, quando ele tinha apenas 12 anos. Shou me contou que Tora esteve do lado de Hiroto em todos os momentos. Ajudou em tudo que foi preciso. Disse que foi graças aos esforços de Tora que o baixinho conseguiu seguir em frente e voltou a sorrir.

Não fazia sentido que agora Hiroto estivesse falando aquilo naquele tom de voz.

- Nada. Só estou me relacionando com outras pessoas. – retrucou, com um tom irritado. – Ou só o Shinji pode?

- O que quer dizer?

- Não sei. Pergunte pra ele e pro novo amiguinho dele.

Sorri.

- É por isso que você está agindo assim? – perguntei, rindo. – É porque está com ciúmes do Tora?

Hiroto - que estava com um perna de cada lado do meu corpo, apoiado nos cotovelos – aproximou o rosto do meu.

- Você que fique quieto, ou eu juro que te mato, Aoi. – ele rosnou. Parecia ter perdido aquele fogo todo com o fato de que eu tinha descoberto o que estava acontecendo, para  o meu alívio. Ah, as doces mudanças de temperamento em alguém alcoolizado.

Meus olhos grudaram na porta no instante em que ouvi o som dela se abrindo. Eu estava me preparando para sair correndo atrás do Ruki e matá-lo, mas mais uma vez não era ele.

O loiro – isso mesmo, aquele lá que eu tinha visto e que tinha desparecido – colocou a cabeça para dentro do quarto, olhando para os lados, como se procurasse alguma coisa. Mas então ele nos percebeu, arregalou os olhos e saiu quase voando dali.

De fato, não era uma boa posição aquela em que estávamos.

- Ei! Você!  – chamei, me levantando e saindo atrás dele. –Espera!

Mas quando eu cheguei até a porta, ele já tinha sumido de vista outra vez.

- Que foi? – perguntou Hiroto, se sentando no chão.

- O loiro que abriu a porta! – exclamei, apontando na direção onde ele estivera. – Você viu ele?

Hiroto me direcionou um olhar confuso.

- Você está bem? – ele perguntou.

- Estou, por quê?

- Porque não tinha ninguém ali.

Passei as mãos no rosto, esfregando-o com força. Um bêbado estava dizendo que eu estava alucinando.

Eu devia estar muito mal mesmo.

Depois de escutar o segundo ‘’não tem ninguém ali, Aoi’’ da noite, eu decidi que estava na hora daquela bagunça acabar. E saí marchando do quarto, um poço de determinação – dessa vez nem toda a chantagem emocional do mundo ia fazer com que Takanori me convencesse a parar -, tentando chegar até a fonte daquela maldita música.

- Yuu?! – Ruki exclamou, ao me ver me espremendo pra conseguir passar, e veio correndo na minha direção. – O que você está fazendo aqui?

- Eu moro aqui. – rosnei, sem nem olhar para ele. Se eu o olhasse acho que arrancaria seu fígado com as mãos.

- Como saiu do quarto?

- Pela porta.

- Mas a chave está comigo! – ele disse, tateando o bolso de trás da calça e me mostrando a chave.

Então não tinha sido mesmo Takanori quem tinha aberto a porta. Tinha sido aquele loiro imaginário.

Ou então a porta nunca esteve trancada e aquilo ali era uma pegadinha.

- Tanto faz. – retruquei. – O que importa é que eu saí e essa palhaçada vai acabar.

À essa altura eu já tinha alcançado o lugar onde estava o som e toda aquela parafernália e já tinha visto em que tomada tudo estava conectado, rumando para essa direção. E à essa altura Takanori também já tinha percebido o que eu ia fazer e já estava vindo atrás de mim, tentando me impedir.

Ele só ia tentar, mesmo.

- Yuu! – ele gritou, enquanto eu me espremia pra conseguir despistá-lo. – Não!

Aí se desenvolveu a patética cena de eu sair correndo – do melhor jeito que dá pra correr em uma casa lotada de gente – até a tomada e o Ruki sair correndo atrás de mim.

Eu estava perto, tão perto!

Só mais uns passos, e aquele inferno de música ia acabar! Só estender a mão, puxar aquele fio maldito e tudo ia ser paz e tranquilidade e…

… E aí Takanori puxou a minha perna, eu tropecei, e caímos os dois com tudo no chão feito os idiotas que éramos.

- NÃO DESLIGA, YUU! – ele gritou, tentando me puxar pra longe da tomada enquanto eu me debatia feito um peixe fora d’água. Embora aquele protótipo de pessoa fosse enérgico que só ele, eu ainda era maior e mais forte, e então consegui me soltar e puxar o fio da tomada antes que Takanori se atirasse em cima de mim outra vez.

POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOONTO PRO CAIPIRA DE MIE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Me levantei, vitorioso – internamente eu estava fazendo até a dancinha da vitória e cantando ‘’We Are The Champions’’-, segurando o ‘’T’’ com todas as tomadas e extensões plugadas como se fosse um troféu ou algo assim, sob os protestos e vaias das pessoas que estavam lá e que pareciam estar me detestando como se eu fosse um estuprador ou tivesse matado um filhotinho de labrador à chutes.

Mas que se fodessem eles.

- Desculpem, mas a festa acabou. – anunciei. – Dirijam com cuidado, voltem em segurança pra casa, não esqueçam seus casacos, au revoir, arrivederci, até nunca mais.

Aí eles aceitaram, foram embora, e eu finalmente pude dormir em paz.

Haha.

Não.

Eles estavam decididos a não ir embora porque ainda não era uma da manhã e eu tinha dito que eles podiam ficar até a uma da manhã e todo esse mimimimimi.

Eu já estava quase cogitando a possibilidade de tirar todo mundo dali na base da vassourada quando um enorme estouro ecoou pela sala e tudo ficou escuro.

Ótimo.

Realmente.

Pra coroar, a luz tinha acabado.

E antes que eu pudesse sequer terminar de rogar uma praga, a luz voltou.

E aí foi-se outra vez.

E voltou.

E foi-se novamente.

E voltou.

E foi-se.

Então as luzes começaram a piscar até que outro estouro se deu, e quando as luzes voltaram, uma continuou apagada.

Ótimo.

Uma lâmpada estragada e um problema na luz.

O lado bom disso – se é que houve um lado bom -, é que incentivou as pessoas a irem embora. E depois que metade das pessoas – que eram muitas – foram, ainda haviam aquelas que não estavam totalmente convencidas a SAIR DA PORCARIA DO MEU APARTAMENTO.

Enquanto eu deixava bem claro que não os queria ali.

Sinceramente, dava pra ver mesmo que eram pessoas do meio de convívio do Takanori, afinal, elas eram caras-de-pau, inconvenientes, sem noção e barulhentas.

Definitivamente, amigos do Takanori.

E enquanto eu pensava em um jeito de fazer as pessoas caírem fora, um ser aleatório apareceu correndo na porta gritando que um vizinho estava reclamando com o síndico do barulho, e que estava querendo dar queixa à polícia por perturbação da paz.

Nunca vi um lugar se esvaziar tão rápido.

Quando a última ‘’visita’’ foi embora e fechou a porta, eu criei coragem para olhar ao redor, e quase caí estirado e morto no chão com a visão do caos. Mas, ao invés disso, me limitei a virar na direção do sofá onde Ruki acabara de se atirar.

- Você. – falei, apontando o dedo acusadoramente na sua direção. – Você é o responsável por tudo isso.

- Ah, você se divertiu. – ele me deu um sorriso malicioso. – Admita.

Peguei a almofada mais próxima e atirei nele.

- Eu devia te matar.

- Mas não vai, porque me ama e não vive sem mim. – se gabou.

Acertei outra almofada nele.

- Não tenha tanta certeza disso. – suspirei,  massageando minha cabeça com uma mão e pegando uma latinha de energético com a outra. Meu pai amado, parecia que uma manada de elefantes usando salto agulha tinham passado por cima de mim.

Eu estava um caco.

- Está cansado? – perguntou, todo falsamente meigo.

- O que você acha? – debochei. – Porra, olha o estado disso aqui. E eu tenho que trabalhar amanhã. Porra, Takanori. Uma festa? Uma porcaria duma festa? Hoje? Aqui? Porra! – quase gritei. – E depois me trancar no quarto com o Hiroto? VOCÊ NÃO PENSA ANTES DE SAIR FAZENDO AS COISAS?! – respirei fundo. – Você estrapolou dessa vez, cacete.

- Eu já pedi desculpa, Yuu. – ele resmungou, armando um  bico.

- Não pediu não.

- Pedi, sim. – insistiu. – Você não lembra de quando eu te pedi desculpas?

- Não, porque não aconteceu. – era incrível como ele sempre tentava isso, mesmo sabendo que não ia funcionar. Eu precisaria estar muito bêbado – ou ser muito imbecil – pra cair nesse truque.

- Aconteceu, sim! – repetiu. – Eu pedi desculpas, Yuu!

- Takanori, você sabe que isso não cola comi…

E então a latinha que eu estava segurando caiu no chão. Que nem o meu queixo.

- Yuu? – chamou Ruki, arqueando as sobrancelhas devido ao fato de que minha voz tinha morrido na minha garganta e que eu devia estar fazendo uma cara muito esquisita.

- Você!

O loiro. O loiro que tinha evaporado. O loiro que aparentemente ninguém além de mim tinha visto. Tinha brotado sabe-se lá de onde. Estava ali. Ele estava ali, sentado no braço do sofá onde Ruki estava esparramado.

Estava ali, na minha frente. E sua cara não era das melhores.

-O quê? – Takanori parecia confuso.

- É ele! – exclamei outra vez. – O loiro que eu disse. É esse loiro que está sentado do seu lado. – falei, apontando. – Eu disse que ele era real, Ruki! Eu disse que não estava vendo coisas!

Ruki franziu o cenho.

- Não tem ninguém ali, Yuu. – ele disse, me olhando preocupado.

- Claro que tem! – insisti. – Está aí, do seu lado.

- Não tem ninguém ali, Yuu. Já falei.

- Por que o Takanori não está te vendo?

- Com que você está falando, Yuu? – ele perguntou, franzindo o cenho.

- Com o loiro do seu lado!

Takanori foi até mim e segurou meu rosto com as duas mãos, me forçando a encará-lo dentro dos olhos. Ele parecia assustado.

- Yuu, me escuta. – disse. – Não tem ninguém ali.

Olhei outra vez, e senti minhas pernas amolecerem e a minha cabeça girar.

De fato, não tinha.

Me sentei na poltrona, enterrando o rosto nas mãos e respirando fundo.

Eu estava enlouquecendo.

Só podia estar enlouquecendo.

- Você vai ficar bem? – perguntou Ruki, pegando o copo com água – agora vazio – que havia trazido pra mim.

- Vou, eu acho. – murmurei. -… Eu só… Só preciso dormir.

Talvez fosse sono.

É.

A falta de sono estava fazendo com que meu cérebro entrasse em parafuso e eu começasse a ver coisas – ou loiros lindos que somem no ar.

Ou talvez eu tivesse pirado de vez e acabasse usando uma linda camiseta de força combinando perfeitamente com as paredes brancas do meu quarto com paredes estofadas.

No hospício.

- Bom, então eu vou indo, ne. – Takanori disse, pegando suas coisas.

O segurei pelo braço.

- Não pense que vai se safar de limpar tudo isso aqui. – falei. – Eu disse: a arrumação fica por sua conta.

- Amanhã eu dou um jeito nisso tudo. – retrucou, me fazendo uma careta. – Ok? Ok. Durma bem, Yuu.

- Quero  só ver. – resmunguei. – Boa noite, chibi.

Fechei a porta, suspirando pesadamente. Finalmente, sozinho.

Finalmente, dormir, pra acordar bem amanhã. Me virei na direção da sala. O loiro estava sentado no braço de uma poltrona, com as pernas cruzadas e me encarava com um olhar nada amigável.

Pisquei algumas vezes. Continuava ali. Sem dizer nada, apenas me encarando. Seus olhos estavam grudados em mim, pareciam um leão que encurralava sua presa e tratava de intimidá-la antes de atacar, seguindo e analisando cada movimento meu.

- Er… Oi? – arrisquei.

- O QUÊ DIABOS VOCÊ FEZ?????????????? – ele gritou, levantando e começando a andar em círculos. –QUEM É VOCÊ? COMO ENTROU AQUI?

-Eu que pergunto quem é você. – falei. – E eu que pergunto como você entrou aqui.

- Você por acaso é algum tipo de ladrão?

- Não sou eu quem devia perguntar isso?

Nos encaramos em silêncio por alguns minutos.

- Eu vou ligar pra polícia. – ele declarou, por fim, saindo em disparada na direção do meu quarto.

- O quê? – saí correndo atrás dele, que agora atravessava a porta, praguejando e perguntando onde diabos estava o telefone. Entrei no cômodo quase um segundo depois dele. – O quê diabos você…?

Meus olhos passaram por todo o quarto. Eu tinha certeza de que tinha visto ele entrando.

Mas estava vazio.

Esfreguei o rosto outra vez.

- Aoi, você está enlouquecendo.

Naquela noite, o loiro não tornou a aparecer, mas isso não significa que eu consegui dormir.

E esse foi o só o começo do enorme problema que seria me mudar para um novo apartamento. Só o começo, porque logo mais eu iria descobrir que as coisas só tenderiam a piorar.


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Notas finais do capítulo

Bom, nos reviews do último capítulo, várias pessoas deram palpites sobre o que viria a acontecer. A Srta. Kaulitz acertou em cheio a respeito de uma coisa, então eu decidi que ia contar de onde veio a ideia de Spirit.
Spirit é baseado em filmes como ''A Margem do Jardim'' e ''E Se Fosse Verdade?''. Numa bela noite enquanto eu me aventurava pela casa escura e vazia, morta de medo, eu me lembrei desses filmes e pensei ''E se o Aoi se mudasse pra uma casa habitada pela alma do Uruha?'', e aí eu comecei a escrever. O rascunho do projeto ficou parado por uns dois meses até que eu acordei numa bela manhã e vi que tinha o plot todo e que era só sentar e escrever.
Fim da maravilhosa (?) história de como Spirit nasceu. 8D
ENFIM, GALERE.
Prevejo gente querendo minha cabeça numa bandeja por causa dessa parte AoixHiroto que teve (a LikaNightmare, por exemplo q). Mas não vai ter mais, era só essa parte. E eu estou pensando em fazer uma side-fic pra essa história do Hiroto e do Tora, mas ainda não sei.
ENFINES, eu quero os meus reviews. Tem 15 leitores e 14 reviews. Poxa gente, não custa nada, o dedo não vai cair. Não precisa ser TOOOODO um review enorme, embora eu vá ficar ainda mais feliz se for. Pode ser só um ''oi, eu leio isso aqui, eu existo, e gostaria que você continuasse, Hanko''.
Me motiva muito, sabe?
Por isso que eu só vou atualizar quando os leitores e os reviews estiverem coincidindo. *chantagista*
Obrigada pelos reviews - que eu ainda não respondi, desculpe ;3; -, e vejo vocês no próximo.
Beijos,
Hanko ~
P.S.: Se não me deixar um review, mando o Uruha ir puxar o pé de vocês durante a noite. n