Mais alguns dias se passaram. Tentei ao máximo manter minha vida normal. Alice e Kim me ajudavam bastante, sempre estavam aqui me fazendo rir, querendo me levar a força pra sair... Enfim, sendo minhas amigas. Até Giorgio me ajudava, principalmente quando ia dormir. A verdade é que eu não queria pensar em Jake, porque só de pensar, a dor da sua ausência me atormentava.

– Sofia acho que hoje vou trabalhar até mais tarde. - Minha mãe falou pegando suas coisas para sair.

– Tudo bem. - Sentei no sofá e liguei a televisão.

– Provavelmente só volto amanhã.

– Tá certo.

– Não vai achar ruim? - Ela ficou entre a televisão e eu.

– Eu não. Porque acharia ruim? - Disse indiferente.

– Nada! Por nada. Já vou indo. Tchau e juízo. - Ela me beijou e saiu.

Ouvi meu celular tocando, era a Alice.

Já está pronta para o Ballet?

– É... Claro! Já estou pronta.

Ainda está de pijamas não é?

– Não consigo esconder nada de você. - Sorri.

São 16h! Como você ainda está de pijamas?

– Eu me troco em 10min. Prometo!

É bom mesmo! Em exatos 13min estou passando ai.

– Até já.

O Ballet também estava me ajudando e muito a passar por tudo isso. Depois que a Sra. Carter parou de ficar em cima de mim me mandando ir ao médico, melhorou bastante. Eu falei pra ela que tinha ido e que estava tudo certo, que era completamente normal eu senti dores, não só nas pernas, mas em outras partes do corpo. É claro que eu não fui ao médico, mas eu precisava ensaiar e não ia conseguir essa proeza com a Sra. Carter tentando me impedir.

Arrumei-me depressa e ouvi o barulho de um carro, com certeza era a Alice.

– Então... Está animada para hoje? - Ela perguntou assim que entrei no carro sorridente.

– Estou normal. É só mais um dia de ensaio Alice, pra quê tanta animação? - Respondi educadamente. Ela me olhou confusa por alguns instantes, mas depois voltou sua atenção para a estrada.

– Tem razão. Mas, sabe como eu sou! - Ela colocou outra vez um sorriso em seu rosto.

– Louca! - Disse rindo.

– Ah! Antes que eu esqueça. - Ela me entregou uma sacola rosa.

– O que é isso? - Comecei a abrir.

– Não abra agora! - Ela me lançou um olhar de reprovação. - É só uma coisinha que eu achei a sua cara. E eu agradeceria se você usasse quando terminasse de ensaiar. Sério, se não usar eu vou ficar ofendida!

– Por tanto que não seja nada ridículo...

– Sofia olha pra mim! Acha que eu ia te dar algo ridículo? Por favor. - Alice disse se gabando.

Chegamos bem rápido ao colégio.

– Que horas venho te buscar?

– Ás 20h. - Falei lhe dando um beijo no rosto e saindo do carro. - Obrigada Alice!

– Disponha! - Ela sorriu e foi embora.

Entrei na sala de dança, e após me alongar, comecei a ensaiar com Sra. Carter. Mas eu fui uma desgraça. Não estava conseguindo me concentrar.

– Sofia, pare. - Sra. Carter se pôs em minha frente. - O que está acontecendo?

– Desculpa, mesmo. É só que... Os últimos dias não têm sido fáceis...

– Eu imagino. Soube de você e Jake.

– Como a senhora soube?

– As noticias aqui voam. - Ela sorriu sem graça. - Eu entendo que você está passando por uma situação complicada, mas você não pode misturar as coisas. Não deixe que sua vida atrapalhe sua dança. Quando entrar por aquela porta, esqueça até do seu nome, mas mantenha a mente fria e focada.

– A senhora tem razão. Eu sinto muito mesmo, isso não vai mais acontecer.

– Você pode ir pra casa se quiser, acho que está bom por hoje.

– Eu posso ficar? Só mais um pouco?

– Mas, eu tenho que fechar a sala.

– Eu fecho para a senhora.

– Você vai mesmo querer ficar sozinha aqui Sofia? Não é melhor ir pra casa?

– Olha, se eu for pra casa eu vou ficar sozinha do mesmo jeito. E eu gosto de ficar aqui, me ajuda a pensar. - Ela ficou em silêncio por alguns instantes.

– Tudo bem. Eu também gosto de ficar aqui sozinha e pensar na vida. As chaves estão ali na mesa. Nos vemos segunda.

– Obrigada, até segunda.

Sentei no chão e peguei meu celular onde ainda havia umas mil fotos de Jake e eu. Será que ele não sentia minha falta também? Ele não estava tão machucado quanto eu estava? Ele não me queria mais de volta?

Depois de passar um tempo apenas pensando em quão horrenda minha vida estava, resolvi me levantar e me trocar. Mas ao tentar me levantar, ocorreu um pequeno problema com a minha perna. Ela não estava doendo, como de costume, aconteceu pior, eu simplesmente não a sentia.

– Ah não, isso não. - Comecei a fazer massagem e tentar ao máximo ficar calma.

Muito tempo depois, consegui mexer ela novamente. Respirei fundo, aliviada. Levantei-me e fui para o banheiro. Tomei um banho rápido e lembrei-me da sacola que Alice havia me entregue. Tinha um vestido e uma sandália lindos.

– Pra quê que eu vou usar isso? - Guardei a roupa na sacola novamente, mas me veio à cabeça Alice dizendo que se eu não usasse ela iria ficar ofendida. Não podia fazer isso com ela, logo ela, que tem sido uma amiga, aliás, uma irmã praticamente. - Ai Alice, o que eu não faço por você?!

Fiquei tentando imaginar o motivo de ela me dar essa roupa pra vestir, ai me veio a resposta. Tenho andado meio desligada com roupas, admito. Isso com certeza eram uma das terapias dela. Alice ficava me falando toda hora para eu me amar mais, me colocar em primeiro lugar e toda essa baboseira.

Terminei de me vestir, sequei o cabelo, fiz uma maquiagem levinha e fui andando para a saída após fechar a sala. Alice iria ficar satisfeita de ver que me produzi toda por culpa dela.

Avistei luzes vindas em minha direção, só podia ser ela vindo me buscar.

– Kim? - Falei surpresa. - O que você está fazendo aqui?

– Vim te buscar.

– Obrigada, mesmo, mas a Alice que vem me buscar.

– Não mais. Ela me pediu para vir. - Kim abriu a porta do passageiro para eu entrar.

– Estranho... - Sentei no banco e fechei a porta. - Será que aconteceu algo?

– Tenho certeza que não, vai ver ela teve que fazer alguma coisa. - Kim sorriu.

– É, vai ver foi isso. - Me arrumei inteira pra nada. Podia ter voltado feinha pra casa mesmo.

Fui o caminho todo tão distraída que nem percebi onde estava indo.

– Kim, essa é a sua casa, não a minha. - Disse quando paramos em frente a uma grande casa com um jardim lindo.

– Eu sei, só tenho que pegar uma coisa e eu te deixamos em casa. Desce também, vem me fazer companhia. - Assenti com a cabeça e saí do carro.

Quando abrimos a porta umas 100 pessoas gritaram: "Surpresa!”.

– Hoje é seu aniversário? - Olhei para Kim confusa.

– Não Sofia, é o seu! Parabéns! - Ela sorriu e me abraçou.

– Meu aniversário é só dia 15.

– E hoje é dia 15 bobinha. - Alice apareceu e me abraçou também.

– Não acredito que você realmente esqueceu seu aniversário. - Minha mãe disse rindo.

– Claro que não esqueci! Só estou brincando com vocês. - Sorri sem graça. É óbvio que eu tinha esquecido meu aniversário. - Vocês, realmente me deixaram surpresa.

– Essa é a graça de festas surpresa! - Kim falou sorrindo.

– Bom, já que festa, vamos festejar não é?! - Tentei fingir uma animação que não existia em mim. Mas automaticamente todos começaram a dançar, rir, beber, se divertir...

– Você tinha mesmo esquecido seu aniversário não é? - Alice sussurrou.

– Não fazia ideia que era hoje. - Falei. Ela e Kim começaram a rir. - Que eu me lembre, achei que tinha dito que não queria festa.

– Achou mesmo que eu ia perder essa oportunidade? - Alice disse. - Resolvemos fazer aqui pra você não desconfiar de nada.

– Eu realmente não desconfiei de nada.

– Ótimo, então fizemos um bom trabalho. - Kim falou orgulhosa.

Um tempo depois fui dar uma volta, cumprimentar algumas pessoas. Vi Seth, Quil e Embry parados rindo de alguma coisa. Fui andando na direção deles.

– Ai está nossa aniversariante! Até que enfim apareceu. - Seth disse e me abraçou.

– É bom ver vocês. - Disse sorrindo. - Como estão as coisas?

– Você quer dizer "Como Jake está?" certo? - Quil sorriu. Assenti com a cabeça.

– Na medida do possível, as coisas vão indo. Mas, já estiveram melhores. E Jake... Bom, Jake está vivo, já é alguma coisa. - Embry falou.

– É o suficiente. - Falei educadamente. - Digam a Emily que sinto saudades dela, por favor.

– Pode deixar. - Seth disse. Despedi-me e fui para a cozinha.

– Curtindo sua festa? - Minha mãe disse animada.

– Nossa! Demais, não vê minha cara de felicidade? - Falei irônica.

– Sua cara vai mudar logo, logo. Ainda falta eu te dar seu presente. - Ela disse me puxando para o jardim.

– Meu presente está aqui fora? Sério? É o que, uma árvore?

– Quando você quer, fica chata demais. - Minha mãe parou e ficou de frente pra mim calada só me olhando.

– É esse meu presente? Um pouco de silêncio? - Disse sarcástica.

– Não! Aquele é o seu presente. - Ela sorriu apontado para detrás de mim.

– Oi Sofi. – Sofi? Só uma pessoa me chamava assim, mas... Não, isso não era possível. Virei-me e ele estava ali, parado, sorrindo.

– Pai? – Meus olhos encheram de lágrimas de alegria. Sai correndo e pulei, literalmente, em seus braços.

– Como você cresceu! Minha menininha está grande, e pesada também. – Ele falou rindo, comecei a rir também.

– Ai meu Deus! Pai, você tá aqui, em Forks! Como isso aconteceu?

– Eu e seu pai estamos conversando há muito tempo. – Minha mãe se aproximou e ficou ao lado do meu pai.

– Há muito tempo? Tipo quanto?

– Uns meses. – Ele sorriu.

– Espera... Era com ele que você passava horas no telefone?

– Exatamente. – Ela disse.

– O que acontece é que, eu e sua mãe percebemos que esse orgulho bobo não leva a nada. Nós dois erramos, então, tiramos a conclusão de que nós dois deveríamos ceder. E quando eu recebi um convite para vir trabalhar aqui, não pensei duas vezes, liguei para ela e contei tudo e desde então temos nos falado todos os dias.

– Então isso quer dizer que... ?

– Que nós voltamos a ser uma família. Completa dessa vez! – Minha mãe deu um selinho no meu pai.

– Isso é sério? Ou é pegadinha? Já sei, eu estou sonhando não é?

– Não está não! Você não queria tanto que seu pai ficasse com a gente? Agora você conseguiu o que queria.

– É bom demais pra ser verdade! – Eles dois me abraçaram. – Eu tenho que contar isso para o Jak... – Me interrompi.

– Contar pra quem? – Meu pai perguntou.

– Pra Alice e pra Kim, são minhas melhores amigas. Elas vão surtar quando eu contar que você está aqui. – Sorri. – Como é bom te ter de volta pai. – O abracei de novo.

– Como é bom estar de volta. – Ele falou e beijou o rosto da minha mãe.

Entrei e fui correndo contar para elas duas, mas claro que elas já sabiam. Armaram tudo com minha mãe! Esse tinha tudo pra ser o melhor aniversário da minha vida. Só faltava uma pessoa presente nele.

Depois de uma longa festa de aniversário, cheguei finalmente em casa. Subi para o meu quarto, coloquei meu pijama e fiquei sentada na varanda, esperando que ele aparecesse, ao menos pra desejar um feliz aniversário.

– Sabe que ele não vem. – Giorgio pulou em minha varanda e sentou ao meu lado.

– Sei... Pior que sei.

– Então porque continua esperando?

– Porque um dia, só Deus sabe quando, ele vai vir. Vai pedir desculpas, dizer pra eu esquecer tudo o que aconteceu e que quer recomeçar.

– E você vai dizer o que?

– Eu? – Sorri. – Não vou dizer nada. Só vou abraça-lo, forte, pra ter certeza que ele não vai embora de novo.

– A proposito, sei que já passou da meia noite, mas... Feliz aniversário. – Giorgio falou após alguns minutos de silêncio, e me entregou uma caixinha branca. Quando abri vi um cordão com um pingente de sapatilhas de Ballet. Coloquei em meu pescoço.

– Gostou?

– Amei! Obrigada, de verdade. – Lhe dei um beijo no rosto e fui me deitar.