Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 7
A culpa não é das estrelas, é totalmente minha


Notas iniciais do capítulo

Então, gente. Cheguei!
Quero dar as boas-vindas aos novos leitores e dizer que estou respondendo os comentários.
Boa leitura!



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Quando acordei, minha vista ainda embaçada, vi apenas uma silhueta à minha frente e uma luz muito forte a iluminando. Então, minha visão começou a ficar mais nítida e eu percebi que quem estava na minha frente era um rapaz magro, que vestia roupas apertadas da seção feminina da loja e usava um brinquinho na orelha esquerda, além de luzes nos cabelos: Rubem.

Quando ele percebeu que eu estava de olhos bem abertos, berrou:

— Ah, você me paga, sua cocotinha! — então ele apertou bem meu pescoço e tentou me esganar.

Daí as lembranças da noite passada vieram todas à minha mente: dezoito anos, fugir de casa, dirigir sem saber dirigir, manobrar o volante com a ponta do dedão do pé, escutar Lorde enquanto dirigia, dar com o carro recém-roubado do meu irmão no tronco de uma árvore.

Eu nem precisava mais querer estar morta. Eu já estava Mortinha da Silva. Euzinha já havia assinado meu contrato com a dona morte assim que bati aquele carro, xodó do Rubem, naquela árvore maldita.

Quando eu já estava ficando roxa, sem ar, meu pai puxou o Rubem de cima de mim, enquanto Marjorie ficou observando o barraco de lá da porta do quarto de hóspedes da mansão.

— Rubem, se acalma! Se acalma! — Sr. Zeferino Maldonado era um homem baixinho, careca, até parecia um pouco frágil, mas na verdade impunha ordem onde quer que fosse e a quem quer que fosse na hora que quisesse. Ele segurou meu irmão pelos ombros e começou a sacolejá-lo. Por um momento, achei que seus ossos haviam se quebrado.

— Meu carro, pai! Ela destruiu meu carro! Meu carro! — Rubem berrava. — Eu comprei ele com o meu dinheiro! Ele era a minha vida! EU QUERO O MEU CARRINHO DE VOLTA! — papai continuava sacolejando meu irmão, que gritava mais ainda — ALGUÉM VAI TER QUE PAGAR PELO PREJUÍZO!!!

De repente, eu ouvi um barulho tão forte que eu me levantei da cama, assustada. Era Marjorie, que havia se aproximado de Rubem e lhe dado uma tapa na cara. Sabe quando os loucos estão tendo um surto psicótico e a única maneira de acalmá-los é na base da porrada? Quer dizer, na base da tapa na cara?

Rubem ficou paralisado, olhando para a nossa madrasta loiruda com aquela cara de “eu não acredito que você fez isso comigo, sua biscate!”. Eu sabia que, caso papai não estivesse ali naquele quarto de hóspedes, Rubem revidaria, provavelmente arrancando todos os cabelos (lê-se megahair) de Marjorie.

— Já se acalmaram? — papai perguntou, sentando na cama, ao meu lado, me abraçando. Rubem, por sua vez, continuava estático.

— E-ela me bateu! — meu irmão finalmente disse algo, ainda incrédulo.

— Bati mesmo. Não quero escândalo aqui dentro da minha casa. — Marjorie afirmou, indo até o espelho, como se não estivéssemos lá naquele quarto. Arrumou o sutiã por cima da blusa de oncinha.

— Mas ela quebrou meu carro! — Rubem apontou para mim. Eu abracei meu pai, com medo daquele louco — E eu quero que alguém pague pelo prejuízo. E eu não gostei nada, nada de você ter me batido, sua loira de peito falso!

— Êpa! Já chega! — disse meu pai. Zeferino tinha ódio de quem falasse mal de sua querida e santa esposa. Nem nós, seus filhos, poderíamos cometer tal ato.

Marjorie, por sua vez, ao terminar de arrumar os peitos (lê-se siliocones) no espelho, pediu que esperássemos e, minutos depois, voltou ao quarto de hóspedes entregando um pedaço de papel para Rubem.

— Toma. — disse ela.

— Que é isso?! — os cabelos cheios de luzes loiras de meu irmão estavam desarrumados por causa de seu escândalo e, de vez em quando ele passava a mão para arrumá-los.

— É um cheque. Acho que esse é o suficiente para comprar um carro novo. — Marjorie caminhou e sentou também ao meu lado, na cama, onde papai continuava me abraçando. — Deixe o carro antigo aí, mais tarde eu mando para o ferro velho.

— É por isso que eu amo essa mulher. — meu pai deu uma bitoca em Marjorie, na minha frente. Eca. Eu cheguei a escutar aquele smack nojento que as pessoas fazem quando beijam. Não que eu já tenha beijado (isso mesmo, eu nunca beijei) mas eu sempre via as garotas da minha escola beijando os rapazes. Apesar de eu achar meio nojento, confesso, sempre tive vontade de saber como é beijar.

Ter meus lábios colados nos de outra pessoa.

Rubem, ao ver o valor do gordo cheque, esboçou um sorriso de orelha a orelha. Parecia até que esquecera a sacanagem que eu havia lhe aprontado. Parecia até que nem odiava mais a Marjorie, que outrora lhe dera uma forte tapa, e parecia que meu pai nem se incomodava de Marjorie usar seu dinheiro para resolver tudo.

Eu não tinha o costume de pedir dinheiro ao meu pai. Na verdade, eu nem tinha como gastar. Talvez eu passasse a pedir um pouco, considerando que eu era uma garota livre a partir daquele momento. Quanto a Rubem, meu pai não dava dinheiro a ele desde o dia em que ele conseguiu um emprego.

— Ok, agora eu quero tomar um banho. E também preciso de uma chapinha. — meu irmão guardou o cheque no bolso e foi ver seus topetes no espelho — estou atrasado para o trabalho.

— Chapinha?! — meu pai se assustou. Marjorie se levantou da cama e disse a Rubem que arrumaria uma chapinha para ele, toalhas limpas e todas aquelas coisas que vocês já sabem sobre um banho pós ressaca e pós barraco.

Meia hora depois, meu irmão estava limpinho da silva e com o cabelo feito. Tomávamos café da manhã, juntos à grande mesa da sala de jantar, Marjorie, papai e eu. Era uma mesa farta, com muitas coisas que eu nunca havia comido na minha vida.

— Não vai tomar café conosco, Rubem? — perguntou meu pai, passando requeijão na torrada. Eu estava tentando decidir sobre qual das treze opções de geleia eu passaria na minha.

— Aff, eu achei que vocês não iriam me convidar. — ele desfilou até a mesa e se sentou em uma das várias cadeiras vazias.

— Então, Rubem... eu estava querendo um favor seu. Já que você vai ganhar um carrinho novo, vejo que isso não vai lhe custar nada. — meu pai falou, um pouco sério.

Rubem enchia um prato com croissants, pães franceses com patê/geleia/requeijão (alguns dos pães tinham as três coisas), torradas e mais um monte de coisas que eu não sabia o nome. Ele mal estava prestando atenção no que papai dizia. Era meio que como quando meu pai morava conosco, na nossa casa. Quer dizer, minha ex-casa.

— Rubem, você tá me ouvindo?!

— Tô “poi”, pode “duzer” — essa era a voz dele tirando a barriga da miséria falando de boca cheia, dando a entender que estava prestando atenção.

— Quero que leve a Rosemary na loja onde você trabalha e ajude sua irmã a escolher algumas roupas. Vou entregar este cartão de crédito na sua mão. — o cartão platina do meu pai brilhava, dançando entre seu polegar e seu indicador.

Neste momento, Rubem engasgou.

Eu também me engasguei.

Roupas?! Eu tinha poucas roupas, a maioria era baseada em vestidos compridos e floridos ou camisas muito frouxas que pertenceram ao meu pai e eu usava para dormir. Além de uma calça jeans e a camisa com o emblema da escola onde eu estudava. Por isso, não foi difícil levar minhas coisas para a casa do meu pai. Nunca me preocupei com vestuário, afinal, eu não saía da casa.

— Mas pai, a Rosemary é... careta. — ele parou de comer (pra onde iria aquela comida toda?! Meu irmão era magro como uma tabua de passar roupa, mas era bom de garfo) — Fofa, desculpa, mas as roupas da Folk Basfond são do século XXI.

Eu fiquei de cabeça baixa. Humilhada.

— Talvez fosse uma boa ideia a Rose renovar o guarda-roupa. — Sr. Zeferino sorriu para mim — Vá, filha. Esse é o meu presente de aniversário para você.

Eu retribui o sorriso. E devo dizer que estava desconfortável ainda com aquela nova vida.

Mas era apenas o começo.


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Notas finais do capítulo

Rosemary vai às compras! Será que vai acontecer aquele clichê da feiosa ficar bonita? e.e
nonono -q
Até mais!