Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 29
A menina dos meus olhos


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer imensamente à Lady Yagami pela belíssima recomendação. Muito linda, fiquei muito feliz ao lê-la, alegrou meu dia. Muito obrigado mesmo!
Outra coisa, duas leitoras me deram a ideia desse título, mas eu não consigo me lembrar quais foram elas, então se pronunciem se quiserem créditos rsrsrs
Ah, tenho um recado pra vcs nas notas finais.


Música : Yael Naim - New Soul
https://www.youtube.com/watch?v=6OmbjjWVhko



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(por Sebastian Freitas)

Eu continuei enxergando o mundo como se fosse o céu nublado por um bom tempo. Foi uma experiência incrível quando vi meu pai, mesmo embaçado ou quando fiz minha primeira refeição após a cirurgia nos olhos: eu vi o que eu iria comer e aquilo, mesmo sendo tão simples, me fez ficar emocionado.

Eu agradeci à Deus e ao Dr. Lionel por ter dado tudo certo. Talvez eu tivesse nascendo de novo e nem percebi.

No dia do casamento de Dóris e Rubem lá no Brasil, eu acordei um pouco nervoso com o que poderia estar acontecendo no meu país. Não tinha ninguém no meu quarto, papai talvez poderia ter saído para tomar um lanche. Era cedo da manhã, mas eu estava com pressa e queria ligar para Rosemary para lhe dar os últimos toques sobre o casamento. Eu não queria que minha irmã sofresse e, estando nos Estados Unidos da América, eu nada poderia fazer.

Desci da cama e abri os olhos. Estava tudo escuro, mas não era a escuridão de como quando eu era cego, era apenas a luz que estava apagada. Rumei em direção à porta, girei a maçaneta e senti a luz penetrar em meus olhos.

Estava diferente. Eu estava enxergando tudo de uma maneira mais perfeita do que no dia anterior. Feliz, comecei a andar por entre os corredores. Desci as escadas com meus passos lentos até chegar num local que parecia a recepção do hospital. A recepcionista profanava algumas palavras em inglês pelo telefone, talvez brigando com alguém. Era com o namorado, (ou ex) certeza. Passei por ela, pensei em até pedir seu telefone emprestado, mas lembrei que meu inglês era péssimo e eu poderia passar por uma saia justa.

Saí do hospital, ninguém me percebeu, mesmo eu estando com aquela bata branca que mais me fazia parecer uma alma vagando pelo estacionamento, passando pelos carros parados com cuidado, sem soar o sinal do alarme.

Eu só queria um telefone público ou até mesmo um celular, mas o fato de eu estar enxergando perfeitamente bem me fez ficar tão empolgado a ponto de eu sair andando por aí, sem destino, conhecendo o mundo de outro jeito.

Pude ver melhor os carros passando pelas avenidas e buzinando, as pessoas vestidas em seus ternos andando por todos os lados, atrasadas para mais um dia de trabalho, os cães latindo, os pássaros piando. O formato do rosto de cada gente que cruzava comigo na rua e estranhava minhas vestes; é maravilhoso enxergar e era a primeira vez que eu tinha aquela experiẽncia, sozinho.

Daí eu percebi que era um garoto que, por mais que enxergasse, estava perdido em um país desconhecido, em que eu mal sabia falar a língua nativa daquelas pessoas.

Sim, eu estava perdido. E mal sabia para onde ir ou para quem pedir socorro.

Caminhei mais e mais, seguindo meus instintos, indo para a direção que meu coração mandava. Pus o pé direito na avenida e senti um baque. Caí no chão e rolei enquanto um motoqueiro tentava se equilibrar sobre sua moto, falando alguns palavrões americanos. Uma multidão me rodeava.

👯♡ 👯♡ 👯

(por Rosemary Maldonado)


O pai de Sebastian me disse para ficar tranquila, que o garoto havia voltado a enxergar e estava curioso para conhecer o mundo de outra maneira. Falou também que o hospital havia se responsabilizado por tudo, pois o paciente saíra sem ninguém perceber.

Meu coração estava apertado. Eu só queria que aquele telefone tocasse e que eu pudesse ouvir a voz de Sebastian novamente. Eu tinha tanta coisa pra dizer a ele, tanto o que ouvir... eu queria que ele me dissesse como estava se sentindo, agora que enxergava. Queria poder olhar nos olhos dele e que ele me correspondesse.

Eu só sabia rezar. Eu só sabia pedir que o seu anjo da guarda o guiasse e que nada de ruim o acontecesse. Só imaginava no quão ruim seria estar em um lugar desconhecido, com pessoas que não falam sua língua.

Meu telefone tocou, mas não era Sebastian, e sim o pai dele. Notícias?

— Cadê, encontraram o Sebastian?

Sim, Rosemary. Nós estamos voltando para o Brasil. — ele respondeu, havia um tom frio e seco em sua voz.

— O que aconteceu? Me deixa falar com ele!

Silêncio. Meu coração já não aguentava mais nada. Meu coração não aguentava mais nenhum tipo de brincadeiras de mal gosto. Se eu tivesse de esperar mais um segundo...

— Rose? — sua voz macia e suave veio acompanhada de sua respiração ofegante — Rosemary, é você? Eu... eu tô bem!

— Sebastian! Seu maluco! Você quase me matou do coração! O que houve?

— Nada! Quer dizer... eu atravessei a avenida sem olhar para os dois lados e uma moto me pegou em cheio. Mas estou bem, foram só alguns arranhões.

— Sebastian, pelo amor de Deus, não desgruda do teu pai! — supliquei.
Sebastian riu do outro lado da linha.

— Pode deixar, papai está uma fera comigo. Mas olha, não se preocupa, tá tudo bem. Meu pai disse que você queria me contar uma coisa...

Toda aquela preocupação pelo sumiço do Sebastian me fez esquecer da aprovação do vestibular.

— Eu passei Sebastian! Vou estudar arquitetura na federal, não é ótimo?

— É maravilhoso, Rose! Mal posso esperar a hora de eu chegar aí, pra te dar um abraço de parabéns.

Eu fiquei arrepiada em pensar que dali a poucas horas, Sebastian estaria junto a mim e que ele veria meu rosto pela primeira vez. Tremendo nas bases, me despedi dele e desliguei o telefone. Fui até o quarto, onde Dóris e Rubem, os recém-casados, comversavam. Queria falar com minha cunhada, um papo sério.

— Rose, o que foi? — Dóris interpelou.

— Credo, tá branca. Parece até que viu fantasma! — disse Rubem.

— Seu irmão... o Sebastian saiu do hospital e ficou andando feito um zumbi pelas ruas dos Estados Unidos, daí uma moto pegou ele.

Dóris quase caiu para trás com a notícia, mal me deixou terminar de contar.

— Calma Dóris! — continuei — ele só sofreu alguns arranhões. Você sabe como o Sebastian é, afinal, foi assim que eu e ele nos conhecemos. Ele se desprendeu de você e foi parar no provador da loja, não foi?

— Mas, se o seu boy está bem, por que você tá tão pálida, manina?

— O Sebastian recuperou a visão. E eu estou com medo que ele me veja e me ache feia.

Dóris e Rubem começaram a rir e eu não entendi a piada.

— Qual é a graça? — questionei.

— Moça, quando o Sebastian chegar, leva ele à praia pra ver aquelas periguetes funkeiras que se acham, tá legal? — recomendou meu irmão — Tenho certeza de que ele te achará uma beldade.

— Para, Rubem! — Dóris o repreendeu — O que seu irmão quis dizer, do jeito dele, é que o Sebastian não vai preferir outra pessoa, porque ele já te conhece a fundo, Rose. Sabe, essa é uma linda história de amor. Daria até um ótimo filme, sabia? — a garota suspirou.

— Como assim, cunhadinha?

— A história de vocês dois só mostrou que a beleza não importa quando se conhecesse a pessoa por dentro. E Sebastian só agora vai conhecer sua beleza exterior, não é lindo?

Não sei se tinha algo de lindo. Nunca fui romântica porque nunca tive ninguém por quem me apaixonar, tampouco nunca me interessei por filmes de romance; mamãe não me deixava assistir por causa das cenas de beijo. Bom... acho que não sou romântica. Falar é fácil, quero ver na prática.

Que Sebstian volte e que eu tire minhas próprias conclusões, concluí.

Ao cair da tarde, um carro de cor preta e uma viatura da polícia foram estacionados em frente à minha casa; uma mulher chique saiu de dentro do carro preto e dois policiais saíram da viatura.

— Bom, meninas, chegou a minha hora. Eu vou ser preso, mas vou divando. — disse Rubem, suspirando, no entanto, desfilando. Ele estava se achando a Lady Gaga no clipe de Paparazzi, quando ela é presa, só pode.

Ele abriu a porta e deixou que o vento entrasse, sacudindo seus cabelos. Saiu desfilando pelo jardim enquanto Dóris, mamaẽ e eu o observávamos se aproximando dos policiais e da mulher chique.

— Tereza, estou pronto para ir para o xadrez. — ele esticou os braços para os policiais — Podem me prender, podem levar a mim, este reles meliante, para a cadeia!

— Ah, Rubem, quanto drama! — disse a mulher, Tereza — Pode ficar tranquilo, você não vai preso.

— Não?!

— Não. Eu vou te perdoar, mas só porque uma pessoa veio falar comigo e contou sua situação.

— Quem? — Rubem indagou.

— Eu, Rubem. — eu, Rosemary, falei. — Me aproximei de Tereza e apertei sua mão.

— Como assim, Rosemary. Não tô entendendo!

— Eu passei no vestibular e papai me deu o dinheiro que prometeu, ué. Eu paguei sua dívida. — confessei.

— Oh! Rosemary, você não existe! Juro que nunca mais vou zoar com você. — comemorou meu irmão.

— E eu estou devolvendo o dinheiro da Rosemary. — disse Tereza, me devolvendo o cheque que lhe entreguei escondido naquele dia mais cedo.

— Como assim? — Todos nós nos perguntamos.

— Pegaram o bandido que enganou o Rubem, o Martin. Ele é um cafajeste que adora aplicar golpes com aquela carinha de anjo dele. Mas felizmente a polícia já vinha atrás desse traste há muito tempo.

— Ai, meu Deus, é muito forninho pra eu segurar! Quer dizer que eu tô livre?!

— Sim, Rubem. E melhor, se quiser, pode ter seu emprego de volta.

Rubem pulou no pescoço de Tereza e a abraçou, feliz. Bom, agora ele tinha uma família para sustentar, quer ele queira, quer não. Um emprego seria muito bem-vindo.

👯♡ 👯♡ 👯

(por Sebastian Freitas)

(recomendo ouvir Coldplay - Ink ao ler essa parte)

O avião chegou ao Brasil no dia seguinte, bem cedo. Eu vi meu reflexo nos vidros das portas e janelas do aeroporto e me assustei. Não que eu fosse feio, mas era uma sensação diferente ver a mim mesmo. Este sou eu. Esta é a minha identidade. Dóris havia me prometido que esperaria papai e a mim no aeroporto, mas como eu nunca havia visto o rosto da minha irmã, foi difícil encontrá-la.

— Pai, a Dóris está por aqui?

— Quero te lançar um desafio, Sebastian. — papai me propôs. — A Dóris não pôde vir te receber no aeroporto, mas outra pessoa veio. Uma pessoa que lhe quer bem.

— Rosemary? — lágrimas brotaram dos meus (novos) olhos.

— Exato. Seria você capaz de reconhecê-la, no meio de todas essas pessoas?

Então eu olhei em volta. Tinha muita gente. Mulheres de todas as idades, de todos os tamanhos, etnias e até religiões. Não pude deixar de ter medo de pagar um mico caso a confundisse com alguém. Se ao menos eu ouvisse sua voz...

— Sebastian? Sebastian! — ouvi alguém chamar. Rodeei o local com os olhos e só via as mesmas pessoas. Algumas delas olhavam para mim.

Qual delas era a Rosemary? Para qual delas eu poderia correr em sua direção para abraçá-la e dizer que tudo dera certo?

Resolvi fechar os olhos do meu rosto e abrir os olhos do meu coração. Eu podia, de alguma forma, sentir que Rose estava ali. E então eu segui meu coração e caminhei, caminhei pela multidão até tocar alguém. Não abri os olhos, apenas perguntei:

— Rose, é você? Me diz que sim!

A pessoa em questão não me respondeu nada. Então eu finalmente abri os olhos e vi uma garota. ouvi sua voz, conhecida, sair de sua boca.

— Sim, Sebastian. Sou eu, Rosemary.

"Eu vejo a estrada começar a subir
Eu vejo suas estrelas começarem a brilhar
Eu vejo seu rosto e o quero tanto
Tudo o que eu sei
É que eu te amo tanto
Tanto que dói"

Coldplay - Ink


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Notas finais do capítulo

Gostaram?! Falta só mais um capítulo e temos mais algumas surpresinhas rsrsrs

Então, é que algumas pessoas me perguntaram se eu iria escrever outra fic quando acabasse essa e a resposta é sim, vou. Vou tanto que já estou, então se vocês quiserem ler uma obra inédita minha, vou deixar o link de "Enquanto o Sol Brilhar", passem lá
fanfiction.com.br/historia/605601/Enquanto_o_Sol_Brilhar/

Ela não é tão comédia quanto as fics que eu costumo escrever, vai ter um pouco mais de drama. Pra quem gosta de comédias, recomendo duas fics minhas (que, por acaso, viraram livros) "Um Conto Sobre Estrume" e "Faça Suas Apostas"

É isso. Vejo vocês no último capítulo ^^