Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 26
Soltando a franga e a granja inteira - PARTE 2


Notas iniciais do capítulo

Oi!!!!
Continuo sem PC, mas escrevendo a fic firme e forte. Estou meio lento para acompanhar algumas fics e responder aos comentários devido a isso, mas saibam que eu não vou abandonar ninguém. Já passei por essa provação uma vez e sei como é difícil para um escritor ter problemas desse naipe. Enfim, vamos ao que interessa?



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Foi preciso que Dóris tomasse a iniciativa. Ela agarrou meu irmão pela cintura que, submisso à situação, se entregou. Os convidados aplaudiram; papai ficou emocionado enquanto mamãe, lá do seu cantinho, continuava incrédula acompanhando a cerimônia.

O que mais poderia rolar?

Rubem estava cada vez mais caindo num poço profundo. A única saída era contar a verdade antes que ele caísse mais. Todavia, eu conhecia o meu irmão. Ele era carne dura, nunca daria o braço a torcer. Já Dóris, estava crente que meu irmão sairia daquela cerimônia hétero da Silva.

Marjorie tirou seu Moto G da bolsa super discreta (só que não) e mandou uma mensagem rápida para alguém, era como se fosse um aviso ultra secreto. Eu percebi isso porque ela ficava olhando para os lados, super desconfiada, enquanto teclava.

— Falando com quem, meu amor? — papai perguntou. Fiquei observando os dois conversarem e me esqueci da cerimônia, que rolava a todo vapor.

— Resolvi fazer uma surpresa pro Rubem, docinho de coco. — respondeu a madrasta, encarando o noivo, que continuava em cima do altar improvisado do jardim — Convidei algumas pessoas chegadas a ele, mas elas só poderão vir para a festa e vão perder a cerimônia de casamento. Mesmo assim, tenho certeza que Rubem vai adorar!

— Marjorie, você é um anjo. — papai roubou uma bitoquinha dela. — É por isso que meus filhos gostam tanto de você. (não, ele não foi sarcástico)

— Eu daria minha vida pelo Rubem e pela Rosemary.
E ela o abraçou. Limpou na gola da camisa do meu pai o veneno que escorria da sua boca

Dóris jogou o buquê e, puxa, tudo é um clichê mesmo. Sabe nos filmes e novelas, quando aquela personagem coadjuvante, normalmente a mais peituda, que não está nem aí, acaba pegando o buquê? Quer dizer, quando o buquê acaba indo parar nos braços cruzados dela, como se houvesse um imã cujo todas as encalhadas tem?
Sim, o imã invisível e bizarro das encalhadas que eu possuo acabou atraindo aquele buquê para mim. Significava que eu estava pronta para me casar? Meu pretendente estava à milhas de distância naquele momento. Sorry.

A festa seria no amplo salão da mansão dos Maldonado, e começou assim que os noivos trocaram suas alianças. Papis fez questão de contratar o bufê mais caro, pois estava muito orgulhoso por seu filho estar se casando.

— Rose, já saiu o resultado daquela prova que você fez? — indagou papai, do nada. Quase me engasguei com o canapé. Perdi Marjorie de vista. Droga, o que ela estava aprontando? Ficar observando uma pessoa num lugar fechado e movimentado não era uma tarefa fácil.

Oh, aquela prova! Nem me lembrava mais dela. O vestibular para arquitetura. Lembrei que sairia segunda feira próxima, respondi isso a Zeferino e saí, procurando a lacraia da minha madrasta. Fui até o jardim e... Céus, esqueci que mamãe estava na área. Putz, as duas, a ex e a atual de Zeferino Maldonado estavam frente a frente.
Eu mal pude respirar, mal pude ter tempo de pensar em alguma coisa. Solange e Marjorie já estavam trocando farpas uma com a outra.
O que me restava era apenas observar, já que não existia ninguém no mundo que parasse aquelas duas.

— Que eu saiba não foi marcado nenhum evento de caridade hoje. É o casamento do filho do MEU marido. — falou Marjorie, olhando para o vestido da mamãe com repulsa.

— Rubem por acaso é meu filho também. — Solange respondeu friamente, mas eu sabia que, por dentro ela estava pegando fogo.

— Nossa, você é a ex do Zeferino? Credo, pelo visto ele melhorou e muito o gosto. Ora, depois de me conhecer, Zef não precisa de mais ninguém.

Mamãe esfregou bem as duas mãos na barra do vestido. Elas pareciam estar coçando, loucas para agarrar o megahair da primeira dama da vez. Mas ela não o fez.

Por pouco.
Ufa!

Estávamos livres de um barraco até então. Até então, pois muitas águas ainda haveriam de rolar naquela festa.

Rubem e Dóris agora estavam casados no religioso e no civil. A garota, a partir daquele momento, fazia parte da família Maldonado. Papai estava crente que mais cedo ou mais tarde seria avô, mamãe (assim como eu) apenas observando no que aquela maluquice daria. Solange, no entanto, de olho sempre em Marjorie, pois ela não levaria desaforo pra casa, claro (nisso o Rubem puxou a ela).

Música agitada, convidados comendo a vontade. Os noivos com cara de tédio, tendo que enfrentar aqueles parentes que eles nunca se lembram de ter visto mas que os conhecia como a palma da mão :

“Como assim não se lembra de mim? Eu troquei sua fralda suja quando você tinha seis meses!”


“Eu fui a primeira a te pegar no colo quando você nasceu, Dorinha.”


“Rubem, lembra quando você nasceu e teve que mamar no meu peito porque sua mãe estava muito fraca? Sorte que seu primo quis dividir meu seio com você. Bonitinho da titia. (aperto de bochechas)”

“Te paguei um picolé no dia do seu aniversário de três anos. Disso ela vai recordar!”

“Rubem só tomava sopinha se fosse comigo, nem com a própria mãe ele tomava. Só comigo. Nós sempre fomos muito apegados quando ele criança, né Rubinho?”

Rubem ficou procurando por alguma câmera escondida, incrédulo com toda a aquela gente falando asneiras sem parar. Doris só sabia rir e agarrar meu irmão, tirando todas as casquinhas possíveis.

— Precisa me agarrar tanto? — perguntou meu irmão, sutil como uma cascavel.
— Somos casados agora. É isso que um marido e uma esposa fazem. — ela o puxou pelo colarinho, ficando com a boca próxima a dele — E mais tarde tem mais.

Ele engoliu a seco. E engoliu mais a seco ainda quando uma turma interminável começou a entrar pela porta do salão da mansão. Rubem conhecia aquelas pessoas? Eram esquisitas, fantasiados, cheios de glitter, saltos altíssimos, perucas coloridas, apliques, sobrancelhas falsas, seiosbundascoxas falsas. Achei que estivessem imitando a Marjorie, mas eram apenas as Drag Queen's amigas do meu irmão.

O QUÊ!

Mil palpitações, o que aquela galera estava fazendo ali? Socorro, quem os convidou?

Minha resposta estava logo a minha frente, encostada na parede, rindo sem parar: Marjorie. Ela pediu para o DJ tocar uma música bem gay: "TOCA UMA MÚSICA PRO GAYS!" . E então ele colocou aquela versão de I Will Survive, com as Pussycat Dolls.

Papai ficou sem reação, pois não estava entendendo nada. Doris ficou sem jeito quando uma das Drags tirou Rubem para dançar e o levou para o meio do salão. Outra Drag (que parecia ter uns dois metros de altura, cabelo lilás e vestido rosa choque) pegou o microfone e disse:

— Solta a franga, Rubem! Eu sei que quando essa música começa a tocar na boate você não resiste!

— Que palhaçada é essa, Rubem?! Que boate é essa que você frequenta? — papai indagou, cheio de atitude.

Rubem olhou para Marjorie e sacou que aquilo tinha o bedelho dela.

— Papai, eu não sei quem é esse povo. — mentiu, se engasgando com as palavras — PODEM PARAR COM ESSA PALHAÇADA! — gritou, histérico, afeminado. — CHEGAAA!

A música parou e todos olharam para o meu irmão após dar aquele ataque de pelancas. Acho que ele saiu do armário sem querer.

— O que vocês querem de mim Hein? — Ele questionou, com a voz mais grossa (maninho, não adianta mais disfarçar)

— Quero que você não renegue quem realmente é. Nos somos seus amigos, não nos rejeite.
— Não conheço vocês. — fez beicinho e cruzou os braços.

— Seu papis sabe que você não gosta da sua noiva, Rubem?

— Parem! Eu disse pra pararem de se meter na minha vida! Vão embora.

— Rubem, da pra me explicar o que está acontecendo? — papai e todos os outros convidados quiseram saber.

— Fala o que você tem pra falar, Rubem. Se liberta logo, bota a cara no Sol!

— Fala logo, Rubem! — Zeferino insistiu — Vamos acabar logo com essa algazarra!

Um coro se formou naquela sala. Todos já sabiam do que se tratava toda aquela gente, menos papai:

“FALA! FALA! FALA! FALA!”

— TÁ BOM! — esperneou ele — Eu sou gay, papai. E só estou me casando com a Dóris por causa do dinheiro que o senhor me ofereceu.

Papai caiu durinho no chão.


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês nos comentários, me aguardem lá!
PS: Resolvi me desconectar do meu Facebook. Não estou gostando das coisas que andam postando por lá, compartilhando nas páginas. Estava de saco cheio desde aquele dia 15, dia das manifestações. Vi discursos de ódio contra nordestinos, contra quem apoia candidato X ou Y, fotos pregando mais ódio... Sem contar depois daquele beijo gay que teve na novela. Não estou obrigando ninguém a achar bonito, mas acho que uma demonstração de amor na televisão brasileira é bem mais saudável do que ver um filho matando um pai e vice-versa, só por causa de dinheiro.
Desculpa qualquer coisa.
:)