Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 11
O Pequeno Principe da mamãe


Notas iniciais do capítulo

Povo de Deus! Eu achei que nunca terminaria de escrever esse capítulo por esses motivos:
1) Tava com preguiça
2) Ele é meio diferente
3) Está um pouco meloso, mas fofo e engraçado. E acho que consegui passar isso num capítulo só. #FlawlessVictory

OBS¹: Ah, ainda não respondi aos reviews do capítulo passado ,mas tô fazendo isso agora (não pensem que eu sou um escritor ingrato, etc)

OBS²: Amo vocês e quero guardar todos numa caixinha de sapato, depois colocar ela embaixo da minha cama.

OBS³: Boa leitura.

(Música do Radiohead pra ler o capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=cfOa1a8hYP8 )



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(Por Rubem Maldonado)

Após o jantar na casa do meu pai, resolvi voltar para minha casa. Rosemary ficou me olhando com aquela cara de bocó de sempre (daí eu percebi que mesmo ela tendo mudado tanto a aparência, continuava uma anta). Ela queria me dizer alguma coisa, talvez mandar um pedido de desculpas para a nossa mãe ou algo assim, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde aquele aperto no coração dela iria passar.

Antes de chegar no cafofo da Dona Solange, passei numa loja e comprei um carro tão caro quanto o do meu pai, utilizando aquele cheque diviníssimo que a cocota da mulher dele me dera. Saí divando pelo caminho com a minha caranga nova, pisando na cara das inimigas (vizinhas fofoqueiras) que adoravam falar mal da minha vida.

Aquele dia foi longo!

Era incrível como as músicas do Radiohead combinavam tanto com os meus momentos de deprê, quanto com os meus momentos de felicidade. Enquanto eu dirigia, a música no meu novo toca CD às alturas, eu aproveitava os meus primeiros momentos com o meu carro novo.

No entanto, eu sabia que, quando eu chegasse, eu teria que ouvir as lamentações de mamãe sobre Rosemary ter fugido de casa.

Dona Solange estava sentada à mesa da cozinha, um litro de cachaça ao seu lado e um copo daqueles bem vagabundos na sua mão. Quando ela percebeu que eu havia chegado em casa, virou o rosto para mim e me fitou, ardilosa:

— Traidor! Cobra que eu criei em meu seio!

Olhei para os dois lados, procurando mais alguém naquela cozinha. Cobra, eu? Foi aí que eu percebi que era comigo que ela estava falando.

Rumei até a geladeira e tirei uma garrafa de lá. Estava um pouco nervoso porque havia séculos que não via minha mãe alcoolizada.

— Foi você, não foi? — ela se levantou da cadeira. Coloquei mais água no meu copo e bebi, olhando para ela. — Rubem, você não presta! Eu sei que você fez a cabeça da sua irmã pra que ela fugisse de casa. Vocês, filhos, são todos uns ingratos. — gritou ela.

Pousei o copo em cima da mesa e me sentei, cruzando as pernas. Mamãe me olhou, séria. Seus olhos estavam vermelhos, acho que ela havia passado o dia todo bebendo.

— Mãe, a senhora não vê que tudo isso é culpa sua? A senhora privou a gente de muita coisa. Não nos mostrou o mundo, apenas nos escondeu tudo, dizendo que tudo o que há lá fora, além desses portões, é errado e horroroso. Mãe, esses portões foram os monstros da minha infância e da infância da Rosemary. A senhora nunca percebeu isso?

Eu estava um pouco nervoso, nunca havia dito nada assim para a minha mãe. Resolvi pegar a garrafa de cachaça e beber um gole generoso.

— Vocês nunca concordam com o que a gente quer pra vocês. Eu só queria que vocês não se perdessem no mundo. E olha aí no que você se transformou? — ela apontou para mim, com desgosto — Não foi essa a criação que eu te dei, Rubem. Não mesmo!

Mamãe tomou a garrafa de cachaça de minhas mãos e começou a beber, pelo gargalo. Chegamos ao ponto em que competíamos para ver quem conseguia beber mais, até esvaziarmos todo o conteúdo da garrafa.

Paramos com a pequena discussão que se iniciava ali. E era bom mesmo, porque eu já estava cheio. Sem dizer mais nada, peguei uma toalha e rumei até o banheiro, que ficava perto da cozinha. Ao sair do meu demorado banho, percebi que Dona Solange continuava ali naquela mesa, pensativa. E bêbada como um gambá.

— Me desculpa se eu fiz algum mal a vocês dois. Eu só queria o bem de você e da Rose.

Então uma lâmpada acendeu em cima da minha cabeça.

E daí eu percebi que eu, naquele momento, poderia ter tudo o que eu sempre quis, depois que a Rosemary nasceu, e eu não pude mais ter: minha mãe.

Quando Rosemary nasceu, eu já tinha seis anos de idade. Eu era um menino criado sob os mimos de Dona Solange e de Sr. Zeferino – que na época ainda era casado com ela. Eu tinha de tudo, mas o que eu mais gostava era da atenção deles. No entanto, eles sempre quiseram ter uma garota, e então o desejo deles se realizou.

E eu fiquei para trás.

Toda a atenção deles ficou voltada para aquela recém-nascida garotinha. Eu não tinha a minha mãe mais só pra mim: Rosemary a havia roubado de mim.

O tempo se passou, Rosemary cresceu e eu comecei a perceber que tudo aquilo que eu pensava sobre ela ter roubado nossos pais de mim era besteira. Passei a achar que toda a superproteção de Dona Solange com a gente era exagero, e eu sabia que a Rosemary sofria demais com aquilo.

Mal ela sabia que eu daria de tudo para estar no lugar dela: eu queria a atenção de mamãe, mas já havia me tornado um adulto, talvez um tanto quanto rebelde aos seus olhos, (não como os rebeldes daquela novela mexicana chata, Deus me livre), contudo eu continuava lá, naquela casa, com ela. Eu já tinha o meu emprego, uma vida um tanto quanto livre, mas eu estava lá, na esperança de que um dia eu pudesse ter a atenção da minha mãe de novo.

Então eu andei devagar e abracei minha mãe, como se eu fosse aquele mesmo garotinho de seis anos de idade do qual ela tinha saudades (eu era irresistível quando pequeno, não tão diferente de hoje, né gente?). Eu queria, por um momento, voltar a ser uma criança.

Dona Solange estranhou, mas depois encostou a bochecha na minha cabeça. Eu queria dizer que amava minha mãe, no entanto era difícil, não era uma coisa que eu costumava dizer. Ah, mas dane-se.

— Mãe... me conta uma história antes de dormir?

Então lá eu estava na minha cama e mamãe, caindo de bêbada, segurando um dos livros da minha estante. Era um livro que eu ganhei de “Inimigo Secreto” no Natal passado, chamado “50 Tons de Cinza”. A praga que me deu esse presente disse que eu estava precisando aprender as coisas que haviam naquele livro. Aff, mas deixa pra lá, esse não é o foco.

Dona Solange arregalou os olhos, eles quase saindo das orbitas, ao ler mentalmente as primeiras palavras daquela literatura maluca. Então ela deu com ele na minha cara.

— Ai, mãe! Doeu!

— Você não tem idade pra isso, Rubem! — será que ela sabia que eu já era um homem de vinte e cinco anos de idade? Não importava, pois eu estava feliz em vê-la se preocupando comigo.

Então ela foi até a estante da sala e retirou aquele velho e empoeirado exemplar de “O Pequeno Príncipe”. E eu dormi ouvindo a voz de mamãe lendo as doces linhas daquele livro. Quando ela saiu, eu percebi que havia apagado a luz. Murmurei um sonolento “eu te amo” para ela, que, um pouco assustada me retribui com um beijo na testa.


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Notas finais do capítulo

Se tiver algum erro, me comuniquem, porque minha revisão ficou meio bosta.
No próximo capítulo a galera do shipp "Rosebastian" vai ficar maluca (vocês shippam tudo husahusa)

https://www.facebook.com/osclichesderosemary