Seven Reasons escrita por SumLee


Capítulo 2
Leve-me


Notas iniciais do capítulo

AIIIIIIIIIIIIIII, PRIMEIRO CAPITULO DE SEVEN REASONS! Nossa, vocês não sabem como estava ansiosa por isso, mas eu antes precisava postar o capitulo de RN. E agora que postei, vim atualizar essa daqui *----*
Então, chega de enrolar, já cortamos a fita vermelha, BOA LEITURA *O*



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Hey stranger or may I call you my own

(Hey estranho ou posso chamá-lo de meu?)

I know I don't know you, but there's somewhere I've seen you before

(Eu sei que eu não te conheço, mas eu já te vi em algum lugar antes)

Whatever your name is, whatever you do

(Seja qual for o seu nome é, o que quer que você faça)

There's nothing between us I'm willing to loose

(Não há nada entre nós eu estou disposto a perder)


1. Leve-me

Grama úmida. Galhos secos. Passos pesados. Era só isso que eu ouvia a minha volta, e também... O mar. Batendo forte e revolto, em uma fúria desesperadora. Será que ele estava sentindo o que se passava em mim? Será que aquele tempo agouro e melancólico era o meu interior se exibindo para a pequena cidade de Forks? Talvez... Acho que os dias eram os sentimentos das pessoas. Aquelas que gostavam de verão tinham os seus dias ensolarados e quentes, sendo felizes aonde quer que estejam. As que gostavam de primavera eram as que começavam uma vida. Outono... Podia ser aquelas que gostavam de coisas calmas, de envelhecer. Dias que se passavam lentamente em cores quentes, como ficavam as folhas das árvores. Sobrando o inverno... Ah, o frio e úmido inverno.

Eu gostava do inverno.

Era sempre tão escuro e pálido, sem vida, não importa aonde seja, país, estado, cidade. Eram todos iguais. Sempre congelando nossas bundas, fazendo nossos banhos serem mais rápidos, e também nos derrubar em uma gripe. Acho que era por isso que eu gostava de Forks, porque aqui sempre era frio, como se todo o ano fosse inverno, e dia ou outro mudava a estação. Mas a maioria era inverno.

Eu sentiria falta disso? Com toda certeza. Sentiria falta de acordar cedo e olhar pela janela o céu pálido, as arvores com um verde escuro, e as diversas gotas caindo pela minha janela, sejam fortes ou apenas chuviscos. Também sentiria falta da neve, tão branca e fria. Pequenos cotonetes que vindo muitos nos faziam ficar em casa. Passar um dia inteiro debaixo das cobertas, ouvindo música ou assistindo algum programa na TV, e tomando chocolate quente. Não que eu fizesse isso... Não mais. Ser privada dessas coisas eram realmente revoltante. Nunca poder ficar sozinha assistindo TV. Ficar em casa? Claro! Folga? Nunca!

Yeah, disso eu não sentiria falta.

Mas espera... Será que eu conseguiria sentir falta das coisas pra aonde quer que eu vá? Eu ainda não sabia como seria, porque tinha tantas teorias na minha cabeça que eu já nem sabia mais qual escolher. Afinal, o que acontecia com nós quando morrermos? Eu já quis virar um anjo quando esse dia chegasse. Também quis que fosse como um júri, em que Deus me escolheria para ir para o paraíso. Pois ele existia, certo? Sim, existia. Eu ficava preocupada que, assim como nos filmes de terror, meu espirito andasse pela Terra, assombrando as pessoas. Eu não era má, não tinha porque me preocupar. Ou era? Dizem que só almas que passaram por algo forte - matado, sofrido e esses blá blá blá - eram que vagavam pela Terra eternamente, passando o tempo fazendo essas brincadeiras de assombrar. Isso me dava medo. Mas em todas essas teorias, a única que eu tinha a certeza de querer era que assim que morresse, entrasse em um sono profundo, como um coma. Sem príncipe que com o beijo acorda, ou médicos que esperam por um milagre. Eu queria apenas o sono profundo mesmo... E nunca mais acordar.

Oh, como eu desejava isso.

E mesmo com medo de ser um espirito atormentado, eu tinha decidido que a minha hora havia chegado. Eu não poderia fazer isso. Claro que não! Mas como eu podia continuar aqui sendo que minha alma pedia por um descanso? Por paz? Eu me sentia pesada, e como uma vez minha mãe escreveu, eu não podia me deixar carregar o mundo nas minhas costas, porque ela não foi projetada para isso. Eu tentava, mais que tudo tentava não carregar o mundo, deixá-lo em algum lugar, só que ele estava acorrentado em mim, e era impossível. Para acabar com isso? Era simples. Pecado, errado, mas simples. Espera... Era simples, não era?

Não fazia muito tempo que eu decidira, e eu já tinha pensando em tantas coisas. Chorado tantas lágrimas. Destruído tantos sonhos. Mas eu passara, eu me forçara a ser "forte" e, depois de tantas ilusões, imaginações e ideias sobre como fazer, como ia ser depois, e se iria doer, eu me decidira. E agora corria ao meu novo destino. Era ao mesmo tempo um começo e um fim. Começo de liberdade, fim de mim.

Entrei no meio da floresta que se encontrava na minha frente, e aos tombos e escorregões, eu a atravessei, chegando ao lugar. Um penhasco. Era assim que eu acabaria. Sem drama, apenas mistério. Será que alguém encontraria meu corpo? Porque não seria mais eu, seria apenas uma "casca" vazia. Era assim que falavam nos filmes, séries e livros. Nosso corpo era apenas uma casca ao qual nossa alma abitava. Por isso vampiros eram vazios, por serem mortos. Por isso alienígenas entravam em nós depois que nossa alma sumisse, não restava nada quando a morte chegava.

Encarei o mar extenso a minha frente. Uma imensidão de uma mistura de cinza e azul noite, que se balançava, sumindo no horizonte. Era uma coisa tão silenciosa e ao mesmo tempo tão barulhenta. Se estivesse calmo, não se ouvia. Mas se estivesse como estava agora... Era com música de rock! Ondas fortes indo de encontro a enorme parede de pedra.

Eu me aproximei da ponta, olhando para baixo. Alto. Muito alto! Poderia aquilo ser fatal? Eu não queria dor, pois já bastava aquela que eu sentia no buraco frio que se encontrava dentro de mim. Poderia tomar remédios e deitar em uma banheira, mas era bem capaz de alguém me achar antes de isso acontecer. Eu nunca tinha paz! Nunca ficava sozinha! Seria a mesma coisa se cortasse meus pulsos. Até todo o sangue do meu corpo sair, eu já estaria em um hospital, e acabariam fazendo uma transfusão de sangue. Não queria que fosse como um acidente. Eu queria que eles soubesse que qualquer coisa que acontecesse comigo era proposital. Tinham que sentir a consciência pesar, mesmo sem saber o que aconteceu. Então, eu tinha que estar em um lugar escondido, longe de todos, sem a chance de ter algo ou alguém que me impedisse. Pois eu mesma havia desistido de me impedir.

Achava que estava ficando louca criando uma outra personalidade que falasse o quanto era idiota. Por um bom tempo ela me impediu de fazer besteira. Me xingando, falando que era fraca. Mas eu conseguia ser mais forte que ela. E agora não havia nenhuma bagunça dentro de mim que me fizesse parar. Era a decisão final aquela. O fim.

Eu estava sendo dramática. Oh, como estava!

Mas minha vida sempre fora uma drama, então o que custava ser ainda mais? Eu não estaria mais aqui para ninguém jogar nada na minha cara em o quanto estava sendo idiota. Eu não iria escutar mais nada! Isso é, se me encontrassem para saber o que eu tinha acontecido. Meu carro no meio da estrada poderia dar uma dica. Se eles eram burros ou incrédulos o suficiente para não acreditarem no que eu tinha feito, foda-se também. Como disse: eu.não.estaria.mais.aqui!

Foi impossível não sorrir com tais pensamentos. Era uma sensação de liberdade que saia do meu peito, como se eu o estivesse abrindo com as unhas e mandando a alegria aprisionada fugir para longe de toda aquela dor. Ainda gritando: VÃO! VÃO! VÃO! FUJAM E SEJAM FELIZES! Sabe aquelas cenas em que a noiva estar bem no altar, ao lado do homem que não ama, sentindo uma dor insuportável por tal motivo. Mas então, ela se rebela e foge, e sua irmã - ou melhor amiga mesmo - grita para ela ir ser feliz, porque é isso que importa? Então, era isso que eu estava sentindo naquele momento.

Eu estava finalmente no lugar que queria para o motivo mais libertador possível. Precisava agora me despedir, certo? De alguém? Não, não tenho ninguém que mereça isso de mim, ou que queira isso. De alguma coisa? Ah, eu não tinha tantas coisas para fazer isso. Apenas meus livros, meu carro, meu notebook e só. Que palavras eu poderia dizer a eles? Eram coisas materiais, mas as coisas que mais me entendiam, então eu tinha que dar um crédito. Talvez:

"Vou sentir falta"?

Claro que não! Porque eu não poderia sentir. Pelo menos achava que não. Ainda torcia que eu caísse em sono profundo. Então, eu poderia pensar o que para dar um fim aquilo tudo? O que a mente de um suicida citava em seu ultimo momento? Já sei!

Fechei os olhos, e foi então que percebi que chorava. Deus, eu chorava! Não que isso fosse um milagre, mas que eu estava feliz, então não tinha porque chorar. Será esse motivo das lágrimas? Tanto fazia naquele momento, pois eu não tinha mais tempo. Eu tinha que fazer aquilo logo e fazer aquele vazio dentro de mim ser preenchido. De preferencia com água, que seria o lugar que eu daria o meu fim. Senti o vento frio cortar sob minha pele apesar do pano da blusa, e os chuviscos pequenos e gelados frios baterem nos meus cabelos e no meu rosto. Era uma boa sensação para o final. Soltei um suspiro profundo antes de pronunciar as palavras que havia pensado para terminar aquilo.

"Sinto muito"

Antes de dar um passo a frente, eu sorri com a ironia. Não sentia nada, mas acho que era isso que todos pensavam.

– Eu não acho que o mar esteja muito bom para nadar. - uma voz rouca e suave soou atrás de mim. - Se é que você vai fazer isso...

Arregalei os olhos. Eu dei um passo para trás, cambaleante e acabei caindo de bunda na grama úmida. Olhei para o meu lado, e dei com um garoto. Um garoto sentado em uma pedra que havia ali. Um garoto que me olhava com deboche, e um sorrisinho nos lábios que continham um cigarro aceso. A quanto tempo ele estava ali?

– Eu... Eu... - olhei para o mar, ainda sem saber o que falar. Meu coração batia tão forte no meu peito que parecia que sairia correndo. - Eu não ia...

– Uhum. - murmurou em um tom irônico. - Seria bem trágico se você quisesse justo agora nadar... - olhou para a frente dele. - Acho que seria seu ultimo mergulho.

Arregalei os olhos e desviei para o outro lado, sentindo meu rosto arder, assim como minha nuca e meu couro cabeludo pinicar. Eu tinha sido pega de surpresa, e ainda tinha que ouvir aquilo. Será que ninguém mais podia se matar em paz?

– Talvez essa fosse a intenção. - murmurei baixinho, enquanto olhava para as minhas mãos sujas de lama e grama. Tinha alguns arranhados vermelhos, que sangravam um pouquinho.

Era uma droga aquilo tudo. Eu já estava com arranhados nos joelhos por causa da falta de coordenação que me levou várias vezes ao chão naquela floresta, e agora tinha nas mãos e uma dor incomoda na bunda. Eu sentia que havia caído em cima de uma pedra!

– Sério mesmo? - a voz do garoto soou entediada, me fazendo abaixar a cabeça.

Eu estava com vergonha. Era por isso que não queria fazer algo que alguém pudesse me impedir, pois sabia que a vergonha que sentiria depois era enorme. Achava que penhasco seria a única forma de não ser impedida, e puf!, eu estava errada. Como sempre...

Sentia uma raiva daquele garoto, por estar ali naquela hora. Só eu sabia o quanto estava preparada para dar logo um fim em mim, e o maldito tinha justamente que me atrapalhar. Eu não entendia o porque, afinal, aquela expressão de indiferença indicava que eu podia fazer o que bem quisesse e ele estaria de expectador, assistindo de camarote. Ele bem que podia ter segurado a língua dentro da boca e continuado fumando.

– Isso não tem nada haver com você. - falei baixo, mas alto o suficiente para que ele pudesse escutar. Tudo bem que depois dele ouvir meu resmungo, acho que poderia ouvir tudo.

– Claro, claro. - soltou o ar, como se pesasse.

O silêncio que reinou ali me incomodou, como se uma bolha expandisse do corpo do garoto me empurrando para o lado, querendo espaço. Eu me movi desconfortável aonde estava, sem saber o que fazer. Não queria voltar para casa, mas também não conseguiria dar continuação ao que eu tinha ido fazer ali. Não com aquele garoto me olhando daquela forma, como se eu fosse uma estúpida. A única coisa que eu podia fazer era esperar. Quem sabe, depois dele indo embora, eu conseguisse. Sentia ainda a determinação dentro de mim, só precisava estar sozinha para fazer.

Encolhi minhas pernas e as abracei, encostando minha testa nos joelhos. Senti quando meus cabelos caíram como cascatas pelos meus ombros, assim fazendo uma cortina que tampasse minha visão, evitando que minha curiosidade sobre o garoto me fizesse passar mais uma vergonha. Minha respiração ainda estava acelerada - não sei se de raiva ou do susto -, mas meu coração aos poucos parecia voltar ao ritmo normal. Como eu queria que agora ele estivesse parado... E eu encontrasse meu sono profundo.

Concentrada em esperar, eu fechei meus olhos, apenas ouvindo o bater das ondas nas rochas. Passou um bom tempo - suficiente para que os chuviscos molhassem meus cabelos - e nada do garoto ir embora. Eu começava a me irritar. Será que ele sabia o que eu iria fazer quando ele não estivesse mais ali? E se fosse, porque se importar? Eu era uma desconhecida para ele, então... Tanto fazia se eu morresse ou não. Que me deixasse ir logo!

– Porque você faria isso?

Me sobressaltei com sua voz, que agora não tinha nenhuma ironia, desdém ou coisa assim, apenas a indiferença. O que me deixou irritada, porque ele não podia se dar ao trabalho de perguntar se não queria mesmo saber a resposta. Perguntar a uma pessoa porque ela quer morrer não é questão de educação. Pelo menos ainda não. Então, isso não lhe dava o direito de querer se intrometer.

Levantei minha cabeça decidida a lhe dar uma resposta grossa e que o faria correr dali, mas ao olhar para seu rosto - sem susto - eu me senti como se estivesse hipnotizada. Poderia ser a minha loucura atacando, eu não sei, mas a face daquele garoto - que talvez tivesse a minha idade - me fazia pensar em anjo. Lindo e perfeito. Não que alguma vez eu tenha visto algum anjo, mas era essa sensação que ele me passava. A pele tão pálida e lisa. Os cabelos revoltos de uma cor de bronze, como as medalhas que eu já havia visto. E os olhos... Foram eles que me prenderam. Eram verdes. Era um verde tão único que isso o tornava ainda mais especial. Um escuro profundo, como um mar da Califórnia, tendo uns reflexos dourados como se estivesse no pôr-do-sol. Ele poderia ser um anjo mesmo? Mas as roupas... Não eram de anjos. A calça jeans e a jaqueta de couro não eram de anjos. Só se eles estivessem modernos...

Mordi meu lábio inferior, me segurando para não perguntar se anjos tinham virados modernos para o garoto estranho e empata-suícidio. Ele com toda certeza não me daria uma resposta educada, e eu já estava cansada de ser pisada. Agora eu quem tinha que pisar... Mas como fazer isso com uma pessoa com aquela face? Seria crueldade! Eu não podia ser cruel porque queria ir para o céu! Isso é, se alguém como eu merecesse um lugar lá.

– Eu... - olhei para o chão, pegando um pedaço de grama. Resolvida a dar uma desculpa qualquer que o fizesse me deixar de lado, o encarei, e seus olhos verdes se encontraram com os meus. - Estava cansada. - admiti sem controle. - Não aguentava mais.

– Hm. - fez, desviando seus olhos dos meus.

Foi só então que consegui voltar a mim, percebendo que tinha aberto minha boca. Era tarde para concertar ou inventar desculpas, então retomei minha atenção à grama. Ouvi quando o garoto se movimentou, e de repente seus tênis All Star estavam na minha frente. Levantei minha cabeça e ele me olhava de cima, fazendo eu me sentir extremamente pequena, como uma criança. Ele já não tinha mais o cigarro por perto. - Vem aqui. - estendeu a mão branca e de dedos longos para mim.

Sem pensar, eu peguei sua mão para sentir uma sensação de calor. Muito calor. Que subiu por todo o meu braço e se espalhou pelo meu corpo, chegando ao meu cérebro. Eu me senti tonta na mesma hora, sem perceber que fui levantada com a força dele. Pisquei os olhos duas vezes, rapidamente, afim de voltar a Terra novamente, pois eu me sentia fora de órbita. Me xinguei mentalmente por me sentir assim apenas com aquele toque estranho.

O garoto de cabelos acobreados me puxou na direção do penhasco, fazendo nós dois ficarmos bem na ponta, um pouco mais para o lado de aonde eu estava, acho que talvez... Horas atrás? Eu não sabia, só sabia que tinha ficado muito tempo ali.

– Está vendo aquelas pedras? - perguntou, me tirando dos meus pensamentos.

Olhei na direção que o garoto apontava, aonde tinha pedras enormes que eram pouco cobertas pelo mar. As águas pareciam tão nervosas e desesperadas que senti um arrepio correr por toda a minha espinha.

Eu apenas assenti com a cabeça para o garoto.

– Se você pular daqui - indicou aonde estávamos - vai cair lá, e assim será fatal. Agora se pulasse dali - apontou para o lugar que eu tinha parado antes - você bateria a cabeça em um lugar dentro da água, e isso amenizaria, fazendo a sua morte ser de afogamento por apagar. Isso significa que você sentiria dor. Então... A sua morte tem que ser aqui aonde estamos, por ser rápido.

Senti minha respiração se acelerar e meu coração palpitar, fazendo o sangue bater e ecoar nos meus ouvidos. Porque aquele garoto estava falando aquilo para mim? Queria mesmo que eu morresse? Mas ele nem me conhecia para querer aquilo! Não sabia nem metade de mim para desejar que eu fizesse aquilo... Era sempre assim! Ninguém se dava o luxo de me ver de outra forma.

– O que foi? - ele perguntou, me tirando da minha briga interna. - Não vai fazer isso? Ou quer que eu pule com você por ser fraca demais?

– Eu-eu... - senti meus olhos se encherem de lágrimas, que logo escorriam por minha face. Soltei minha mão da dele e levei até meu rosto, prendendo os soluços. - Pare com isso!

– Ah, por favor... - ele soltou os desgostos como veneno. - Eu lhe digo o lugar fácil e você mostra ainda mais que é fraca?

Meu coração deu uma vacilada.

– Porque está fazendo isso?! - minha voz saiu histérica até para meus ouvidos. - Porque quer que eu me mate?! Não preciso que me mostre que...

– Claro que precisa. - revirou os olhos. - Se você não aguenta a vida, imagina então uma morte dolorosa. Para você as coisas tem que ser fácil e rápidas, assim não fica se martirizando.

Outra vacilada... Sangue batendo no ouvido...

– Você não sabe nada sobre mim! - empurrei o peito dele, fazendo-o dar um passo para trás. - Não sabe os motivos!

– Não sei mesmo, mas sei que você é uma estúpida idiota. Todos falam que se matar é para os corajosos, mas isso está errado. É apenas para os fracos. Acham que isso é uma válvula de escape, mas também estão errados. Isso é apenas uma forma de fugir de tudo! - ele segurou meus punhos e me puxou para perto, deixando seu rosto a centímetros do meu. - Eu entendo que alguns tem motivos fortes, garota, mas sei que eles também são fortes, só não acharam essa força dentro de si. Desistiram antes, o que é realmente triste, pois isso trouxe tristeza para outras pessoas que ficaram. Eles só precisavam de mais um tempo, um alguém, e achariam a força deles. Estamos aqui para um motivo, e temos uma força para passar pelo que vier até chegar nesse tal motivo. Então, porque você não para com isso e seja mais forte, que é mais bonito do que parecer essa bonequinha quebrável.

Between Us - Peter Bradley Adams (http://www.youtube.com/watch?v=m_dvakUl9wA)

Mais uma vacilada...

Minhas pernas estavam bambas e eu não consegui manter meu peso em pé. O garoto lentamente soltou meus pulsos, me deixando cair de joelhos bem na sua frente. Eu sentia uma dor no meu peito, maior do que qualquer outra, e isso só me fazia chorar ainda mais. Queria parar e mostrar para aquele garoto que eu não era uma fraca, mas eu não tinha forças para me levantar. Eu não tinha forçar nem para respirar...

– Vamos lá... - o garoto sussurrou, se abaixando na minha frente. - Me mostre o que você é...

Levantei minha cabeça, ainda sentindo a dor insuportável no meu peito. Seu rosto estava tão perto do meu que eu podia ver ainda melhor os riscos dourados em seus olhos, e ver que não tinha mais indiferença neles, e sim expectativa. Ele estava esperando que eu tomasse uma atitude. Olhei para o penhasco, vendo as ondas me chamarem, clamarem para que eu fizesse o que tinha ido fazer ali. Eu não sabia qual era mais forte, as águas ou os olhos do garoto.

– Por favor, faça alguma coisa... - ele continuou a sussurrar.

Voltei a encará-lo, me prendendo no minimo sorriso que havia em seus lábios. Porque ele sorria? Eu não sabia que tipo de sentimento o rondava, eu não sabia se ele queria que eu pulasse ou se queria que eu me mostrasse forte. Eu só sabia que eu odiava parecer fraca, que eu era mais forte do que um lutador de boxe profissional. Eles não aguentariam o que eu aguentei! Então, aquele garoto não podia me chamar de bonequinha quebrável, pois eu não era aquilo. Nunca havia sido... E não podia deixar as palavras dele penetrarem na minha mente, sussurrando coisas positivas, se enroscando como uma cobra nos meus pensamentos negativos. Eu não queria aquilo!

Engatinhei até a ponta do penhasco e fechei os olhos. Eu jurava que podia sentir os respingos do mar quando batiam nas pedras... Mas eu sabia que eram os chuviscos. Aquilo fazia minha mente tão reboliça quanto aquele mar se acalmar... E as decisões se formarem com exatidão. Olhei para o garoto atrás de mim, e dei um sorriso minimo, que ele retribuiu.

– Me de um motivo. - pedi, com um choramingo. - Por favor, só me de um motivo...

Ele enrugou as sobrancelhas, e em um instante, ficou em pé. O olhei, vendo o vento forte balançar e bagunçar ainda mais seus cabelos.

– Quantos motivos lhe trouxeram aqui? - perguntou.

Eu olhei para baixo, vendo minha vida inteira passar por minha cabeça. Todas as cenas que eu revivia em pesadelos dolorosos, que me fazia acordar suada e ofegante. Oh Deus, ele queria que eu pulasse? Pois era essa vontade que eu tinha ao pensar em todos juntos, trazendo dor e sufoco ao meu peito.

– Sete... - murmurei com a voz dolorida. - Sete motivos.

– Então, se você levantar agora, eu lhe daria sete motivos para não fazer isso. Lhe darei mais alguns dias de vida aqui, e se não conseguir lhe convencer... Bem, teremos outras tempestades como essa.

Eu não queria mais alguns dias, queria que ele resolvesse tudo aquilo naquela hora, mas eu tinha lhe pedido motivos, e era isso que ele iria me dar, mesmo que demorasse dias. E mesmo que poderiam ser pouco dias, parecia que eles seriam uma eternidade. Uma parte dentro de mim transformava dias em anos, e essa que gritava para eu pular logo, deixar de conversa boba e dar continuidade ao plano. Só que outra gritava ainda mais alto para eu dar uma chance ao garoto e uma chance a mim mesma. A minha alma vazia.

Com os punhos cerrados, eu limpei as lágrimas e levantei, ficando de frente para o garoto. Ele sorria. Um sorriso inocente que fez meu coração dar mais uma vacilada. Mas dessa vez sem doer.

– Está certo. - murmurei. - Alguns dias, sete motivos.

Ele assentiu e estendeu a mão para mim, que eu peguei. Foi uma surpresa quando o garoto me puxou com força contra ele, enterrando seu rosto nos meus cabelos. Eu fiquei sem reação. Não estava acostumada a contatos assim, não importava com quem fosse. Mas o que eu sentia ali, fez meus braços ganharem vida e se envolverem na cintura do garoto. Sem pensar em nada, encostei minha testa em seu peito, e suspirei. O ar que passou por mim parecia carregado de tanta coisa: alivio, esperança, força e principalmente, determinação. Tudo isso parecia sair do garoto, me envolvendo junto daquele abraço.

Do garoto...

– Sou Bella. - sussurrei, ainda me apertando contra ele.

– Sou Edward. - ele murmurou.

Eu sorri sem intenção, sentindo uma coisa se aquecer minimamente dentro de mim. Como se estivessem acendendo uma lareira, quando era apenas uma chama pequena que não fazia diferença. Eu sabia, sentia que Edward - seu nome soou como uma música na minha cabeça - acenderia ainda mais aquela lareira. Era o resto de esperança dentro de mim que existia e ansiava por aquele garoto bipolar com um texto enorme.

Bipolar...

Isso fez uma questão crescer dentro de mim, dispersando meus outros pensamentos.

– Posso lhe fazer uma pergunta? - sussurrei, e sem esperar resposta. - Se eu tivesse escolhido pular, você deixaria?

Edward soltou uma lufada de ar, como um riso, e me apertou ainda mais em seus braços.

– Não. - respondeu por fim, o que fez meu coração dar um pulo e acelerar. - Eu te impediria e levaria para longe daqui.

Eu sabia que o "daqui" significava, e aquilo só me deixou ainda mais encantada com Edward. Ele queria me salvar de mim, me levar para longe de mim mesma. E eu estava apenas deixando ele me puxar pela mão, confiando. Algo que nunca havia feito.

(...)

Just call me if ever our paths may colide

(Apenas me chame, se alguma vez os nossos caminhos colidirem)

I want you to call me under these darkened sky's

(Eu quero que você me chame na escuridão desse céu)

Whoever you love, whoever you kiss

(Quem você ama, quem você beija)

The wandering between us I'm willing to miss

(O espaço entre nós eu estou disposto a perder)

Now I'm drifting out over deep oceans

(Agora eu estou derivando ao longo de oceanos profundos)

And the tide won't take me back in

(E a maré não vai me levar de volta)

And these desperate nights I'll call you again and again

(E nestas noites desesperadas eu vou chamá-lo novamente e novamente)

There's a comfort, comfort in things we believe

(Há um conforto conforto, em coisas que nós acreditamos)

Other than danger, wanting the things I can't see

(E há o perigo, querendo as coisas que eu não posso ver)

Wherever you live now, wherever you walk

(Onde quer que você vive agora, onde quer que você anda)

This distance between us I'm willing to cross

(Essa distância entre nós eu estou disposto a cruzar)

[...]

Hey stranger or may I call you my own

(Hey estranho ou posso chamá-lo de meu?)

I know I don't know you, but there's somewhere I've seen you before

(Eu sei que eu não te conheço, mas eu já te vi em algum lugar antes)




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Notas finais do capítulo

aiai, que emoção!! E então, minhas gatinhas lindas, o que acharam desse meu Drama? Se estiver péssimo, podem falar, porque eu realmente não sei escrever com esse genero >
.
Eu estou arriscando porque eu estava escrevendo essa história para uma amiga, como um presente. Acho que não sou a única que já ouviu pessoas falarem assim ou já se sentiu assim, e acho que precisamos todos de uma mão. Então estou escrevendo essa fic não só pra mim e pra minha amiga, como para todos que tem maus momentos e precisam de apoio. Então, esperem que vocês realmente gostem da fic *-----*
.
Comentem falando o que acharam!
.
É isso, Beijooos :*