Ela contemplou a praia. O sol tão quente, tudo brilhoso. Lá era tudo maior. Muito maior. Escutou o canto dos pássaros. O corpo estava latejando, e ela ainda se sentia exausta. Se encostou contra um dos pilares, e contemplou tudo de longe. Observou as borboletas, destemidas, belas, livres... Seu sonho desde criança havia sido ser uma borboleta. Admirava elas. Por dentro daquela pessoa que ela demonstrava ser, ainda existia uma menininha que sabia o que queria. Mas... O que ela queria de verdade?

Ser feliz. Este era seu objetivo. A coisa que ela devia querer de verdade. Sua vida fora muito complicada, tivera mais baixos, do que altos. A verdade sambava na sua cara. Ela sempre teria que viver na sombra dele. Chuck Bass.

Por que era obrigada à amá-lo tanto? Nunca pensou que era possível amar alguém tanto assim. Era difícil ver aquele que amava indo pra casa com outro alguém, Blair sabia disso. Pensou na sua história com ele, em como eles passaram o status de 'colegas' pra 'amando incondicionalmente'. Era naqueles momentos, que Blair se perguntava o que Chuck tinha, que a fazia amá-lo tanto.

- Blair? - chamou uma voz lá atrás. Blair Waldorf ergueu uma sobrancelha, e se virou. A camisola de seda moldava-se perfeitamente ao corpo. Logo à sua frente estava a empregada do lugar, Awa Delacour, uma mulher que devia ser apenas alguns anos mais nova que ela. Olhos verdes encantadores. Imediatamente, Blair lembrou-se da sua Serena.

- Pois não, Awa? - perguntou Blair, cruzando os braços, e assumindo a velha posição de garota fria.

- O Sr. Humphrey está no telefone.

Blair perdeu a pose toda, e arregalou os olhos castanhos. As pernas estremeceram. Seu Dan! O coração acelerou levemente. Da última vez que haviam se visto, foi pra verem um filme juntos. Depois daquela, Dan nunca mais havia procurado se comunicar com ela, e Blair era orgulhosa demais pra fazer aquilo.

- Humphrey? - perguntou Blair, sentindo a garganta secar. - Traga-me o telefone, Awa. Falarei com ele aqui.

Awa assentiu, fez uma reverência um tanto exagerada, mas Blair merecia. Awa saiu do quarto, pra em alguns minutos voltar com o telefone cor âmbar na mão. Blair pegou o telefone, agradeceu com o olhar, e atendeu.

- Olha só quem finalmente lembrou que eu existo.

Blair escutou a risada que ela tanto gostava do outro lado da linha. Se sentia feito uma garotinha que havia acabado de ganhar seu presente de natal.

- Pois é, né, fiquei com vergonha de ligar pra aí, porque, quem sabe era algum homem mal-humorado que atendia...

- Não faz mal, Humphrey - ela se sentou na cama, dobrando as pernas, e tentando, sem sucesso nenhum, diminuir o sorriso bobo no rosto. - Como está Manhatthan?

- Oh, tá bem legal. Eu estava em Hamptons com o Eric, mas eu já voltei. Senti falta do cheiro dos waffles do meu pai...

Blair riu.

- Por falar nisso, manda um beijo pro Rufus e pra Lily - disse Blair, pestanejando. - Recebeu o convite do meu casamento?

Ficou um pouco de silêncio, o que Blair estranhou, e a fez erguer a sobrancelha. Mas logo Dan respondeu.

- Recebi sim. F-Ficou muito bonito - Há algo de estranho na voz dele, pensou Blair.

- Ficou rouco de repente, Humphrey?

- Desculpa, é que... Er... Eu fui tentar imitar a voz daquele tal de Cory Monteith, sabe como é, né, acho a voz dele... Legal. - Blair riu baixinho.

- Você não muda, Humphrey.

- Nem você, Waldorf. Percebe-se também, afinal, você já está falando meu sobrenome inúmeras vezes.

- Cala-se, Hum... Dan - ela se corrigiu, para que ele não viesse com outra piadinha. - E você tem novidades... Do...

- Chuck? - a voz de Dan havia ficado estranha novamente.

- É - Blair respirou fundo, sentindo a velha angústia dentro do peito voltar. Ela e Chuck haviam ficado sem se contatar durante as 'férias'. - Você tem?

- Bom, nenhuma, ou quase. Só sei que ele, o Nate, e a Serena se encontraram lá no Caribe. Ela não te contou isso?

Matarei e esquartejarei Serena van der Woodsen, pensou Blair, sentindo uma leve raiva invadi-la.

- Por que não ligou pro meu celular? - perguntou ela, mudando de assunto. - Sabe, pra não correr riscos?

- É que, hehe - ele deu uma risada aparentemente sem graça. - Sabe como é, né, eu to sem crédito...

Blair não conseguiu segurar a gargalhada.

- Ah, cale a boca, Blair.

- Desculpa, Humphrey - ela tirou a mexa do cabelo que estava no olho. - Coisa do instinto.

- Ótimo - ele fez falsa voz ofendida. - Hey, eu vou desligar, tenho que dar uma procurada numa coisa aqui, sabe... Depois tem como você pedir pro Louis me ligar? Tem algo que eu adoraria falar com ele.

Blair ergueu novamente a sobrancelha, curiosa.

- Falo sim, Humphrey. Não se esqueça de me ligar, assim que tiverem novidades.

- Claro que não vou me esquecer de você, Blair. Eu jamais poderia.

Silêncio.

O coração de Blair conseguiu acelerar ainda mais com aquelas palavras. Fizeram uma magia enorme dentro dela. Sentiu o corpo se arrepiar inteiro. Umedeceu os lábios, e fechou os olhos.

- Quer dizer... - ele falou, meio desconcertado. - Tipo, você sabe, você é uma das minhas melhores amigas. Eu não vou esquecer disso.

- Claro - disse Blair, sentindo um leve aperto com a palavra 'amiga' e sem nem saber porquê. - Tchau, Humphrey.

- Tchau, Blair.

Assim que desligou o telefone, Blair respirou fundo novamente. Milhares de cenas vieram pra sua cabeça. Todas elas com Dan. O jeito que ele sorria, a cara ofendida que ele fazia quando ela reclamava do seu cabelo enorme. Sentia tanta falta dele. Queria ele ali com ela. Os olhos se encheram de lágrimas ao se lembrar daquele passado que ela tanto evitava. Apertou os punhos, e colocou uma das mãos sob o coração. Dan, Dan, Dan. Sentia saudades, mas era orgulhosa demais pra admitir.

Que se dane, pensou ela. Dan estava sem crédito, mas não era obrigado a responder seu torpedo, era?

Pegou o celular, e começou a digitar.

Como eu queria que você estivesse aqui - B.

Pronto. Que a culpa viesse pra cima dela, e a vergonha também. Ela finalmente tinha admitido. Era o que importava.

Há muito longe dali, Dan Humphrey estava sentado na mesa do loft velho do pai, conversando no laptop com Nate Archibald. Tinha acabado de falar com Blair, ah, Blair. Nunca sequer havia imaginado que poderia sentir algo diferente por ela. Havia doído demais nele quando recebera o convite de casamento dela com Louis. Se perguntava por quê, dentre tantas garotas no mundo, logo Blair Waldorf.

Sentiu o celular vibrar, e o pegou, esperando alguma mensagem de Serena, mas na verdade, seu coração quase pulou pra fora, era de Blair. Abriu-a imediatamente, e leu:

Como eu queria que você estivesse aqui - B.

Os lábios dele tremeram, e o coração acelerou. Se sentia um garotinho se apaixonando pela primeira vez. Aquele frio na barriga que o atormentava já fazia algum tempo. Ele precisava responder.

Então pegou o celular, mandou, envergonhado, uma mensagem á cobrar, que dizia:

Eu também - D.

CONTINUA...