Era uma manhã fria, o vento uivava e a neve cobria todo o chão numa espessura de mais de dois palmos. Seus pés afundavam na neve fofa, e suas mãos ardiam de frio. Estava além do bosque sagrado, mas não se lembrava de como fora parar lá. Ele precisava prosseguir, havia algo lhe conduzindo a adentrar mais e mais fundo no frio cortante que fazia em mais um dia de verão em Winterfell.

Robb Stark era apenas um menino de quatorze anos, tinha a pele clara e os cabelos vermelhos como o fogo. E seus olhos eram azuis, tão azuis quanto o céu. Honrado, corajoso, forte. Robb era o herdeiro de Winterfell, e este era um peso que ainda estava por recair sobre seus ombros de garoto. Mas não ainda, ele rezava aos Deuses antigos todos os dias e seu pedido era sempre o mesmo: não ainda.

Mais adentro, continuava a caminhar, sempre em frente, mais e mais, e quanto mais caminhava, quanto mais frio ficava, mais distante parecia estar. Uma busca sem fim dentro de um verão congelante do Norte. Só havia um resultado para tal busca. Seus lábios estavam rachados, não sentia mais algumas extremidades de seu corpo, e ainda assim prosseguia.

Tentou se lembrar o porquê estava ali, e nada lhe veio à mente. Branco. Em todos os lugares, por todos os lados, até em sua cabeça. Frio. Muito frio. Por breves instantes Robb temeu que morreria, um homem da Casa dos Stark, um homem do Norte, morreria congelado no coração de uma floresta, seria o auge da humilhação.

Mas então ele finalmente viu. Ele a viu.

Ela vestia uma túnica branca feita de um tecido muito fino, seus cabelos eram tão negros quanto os de seu pai, Lord Stark, e formavam cascatas por sobre seu busto farto, e seus lábios era vermelhos carmim. Sobre sua cabeça havia uma coroa de um algum material próximo ao cristal, e rente ao seu corpo flocos de neve dançavam agitados como se fosse uma pequena tempestade.

E ainda assim o que havia de mais inacreditável estava em seus olhos, eram azuis somente como o gelo o sabe ser, e ainda assim quando Robb os encarava sentia-se aquecido de uma forma que nem mil fogueiras conseguiriam aquecê-lo. Seus olhos queimavam apenas como o frio sabia queimar.

A razão lhe dizia que não estava certo, alguém como ela não poderia existir. E se existisse já deveria ter morrido congelada naquele frio, mas não. Ela era a coisa mais linda que Robb vira em toda sua vida, e provavelmente era também a mais perigosa. E estava ali, ao alcance de seu toque. Vida e Morte, a dois passos de distância.

- Está chegando... – sua voz era suave, límpida, e muito poderosa. Robb não conseguia decidir se admirava seus olhos, ou seus lábios em movimento.

- O que? – estranhou como sua voz soou, e o gosto vazio que deixou em sua boca. Não lembrava que tinha a capacidade de falar, e não fazia a mínima idéia do por que o fez.

- O inverno está chegando. – na voz dela o lema de sua família parecia ter um significado diferente, não parecia com um aviso amigável, nem mesmo como uma ameaça velada, soava mais como uma sentença proferida. Robb tremeu.

E ele não será bom para você, meu menino. A ultima frase não foi dita em voz alta, parecia que lhe soava dolorosa e perigosa demais para que o fosse feito. Mas ainda assim ele sabia que era dela a voz em sua mente, e não duvidou por um momento sequer disto. Ela era uma entidade a ser exaltada, uma deusa a ser honrada, uma mulher a ser amada. Robb não conseguia faz distinção entre as opções, e não julgava ser necessário.

Ela lhe concedeu um sorriso triste, nada mais que um leve erguer de lábios. O bosque, que antes cheirava apenas a frio, passou a cheirar também a dor. A mulher estendeu o braço, como se sua intenção fosse de tocar-lhe a face, mas a distancia não permitiu que o fizesse.

- Meu Rei. – foram suas últimas palavras proferidas, e então ela desapareceu em um redemoinho de neve seguido por um clarão que o cegou momentaneamente.

Quando voltou a abrir os olhos estava em seu quarto, deitado em sua cama, e tinha apenas duas certezas, a primeira era de nunca ter sentido tanto frio em sua vida, e a segunda é de que jamais se esqueceria de seu sonho de inverno.

- Robb, querido, se apresse! A comitiva do Rei chegará hoje, precisa estar apresentável! – a voz de sua mãe, Lady Catelyn, se fez ouvir do outro lado da porta.