A Rosa de Vidro escrita por Rafnir
Andar por estes bosques... Sinto como se fosse sempre a primeira vez. A cada passo, uma nova descoberta, uma nova tonalidade, um novo aspecto da natureza que desabrocha diante de meus olhos. Me alegro em ver esta profusão de cores, aromas e texturas que explode em cada recanto desta extensão verdejante que me cerca, pois sei que este é, verdadeiramente, o meu lar.
Estas árvores nem sempre estiveram aos meus cuidados. Antes de mim, meu pai as guardava, e antes dele o seu próprio pai, e assim ascendendo até nossas raízes mais fundas e misteriosas. Hoje, estas árvores são apenas uma fração de sua totalidade, uma vaga lembrança da grandeza de outrora. Mas ainda imponente e bela em todos os aspectos...
E, como é de se esperar, sou eu quem agora cuida para que este pequeno jardim da Mãe Terra permaneça intocado e cheio de vida. Pois meus pais, desde há muito, não habitam mais neste mundo: como as folhas de fogo do outono, abandonaram suas árvores e voltaram ao pó, voltando ao grande ciclo que acomete todas as criaturas deste mundo.
E por falar no outono, é ele que agora nos cerca – com sua brisa gélida, seu ar preguiçoso e tranqüilo que nos envolve e fascina, suas folhas flamejantes a dançar pelos caminhos calçados de pequenas e rechonchudas pedras de um cinza fugaz. O outono nos envolve e guarda, anunciando o inverno gélido e imperioso que há de vir.
Chove. Uma chuva fina e suave, quase que gentil àqueles que não querem se molhar. Diferente dos demais, que correm à procura de abrigo, deixo-me estar, bebendo cada gota de água com meu corpo, como se fosse o próprio néctar dos antigos deuses. Ando sob a chuva serena com um largo sorriso no rosto e um calor aconchegante em meu ser. "Deus está na chuva", dizia minha mãe. Estou inclinado a concordar...
E é assim, num caminhar vago, porém firme, que garanto o bem-estar e o equilíbrio dentro de meus domínios... Esta grande e verdejante cobertura de árvores, grama e arbustos que é o meu lar, e que fora lar de meus antepassados. E, como eles, guardo e protejo sem descanso o legado de nossos ancestrais. E assim, protegido nos galhos de minha árvore – um jovem carvalho que cresce oculto em meio de outras árvores – que eu brado, confiante, às muralhas cinzentas e mortas que me cercam:
- Nova York, vil floresta de pedra e ferro: eu sou Lynnoral Josalfar Alpheimyr, aquele que guarda e serve a semente de Gaia que aqui floresce! Eu sou o guardião do Central Park!
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