Liam abriu os olhos tentando ver algo, porém, um clarão tomou conta de sua visão, logo seus olhos acostumaram-se a toda aquela luz, e ele pode distinguir cada parte daquele cômodo branco. Uma mesa ao lado de sua cama, e o seu pai, sentado ao lado, conversando com um homem que ele reconheceu ser John.

- Liam! - John falou ao ver os olhos do garoto abrirem-se, fazendo com que Richard o encarasse e deixasse um longo suspiro de alívio escapar-lhe enquanto erguia-se para ver o seu filho mais próximo.

- Tudo bem? Algo doí? - Richard perguntou preocupado enquanto passava as mãos trêmulas nos cabelos do filho

O garoto loiro forçou um sorriso, ele sabia que ia fazer o pai feliz se o mesmo sorrisse.

- Só o meu braço - Liam murmurou com a voz rouca, percebendo que o braço estava envolto de uma atadura.

- O que você tinha na cabeça para fazer isso? - Richard perguntou, não brigando, apenas, questionando com a face séria.

Liam virou o rosto para o outro lado, ele não sabia porque, mas assim fez. John pôs uma mão sobre o ombro tenso de Richard, formando com os lábios as palavras "Acalme-se".

- Obrigado - John falou para Liam, que viu pela primeira vez a semelhança entre os olhos de John e Elizabeth. Liam deu um leve sorriso de canto.

- Elizabeth... Ela está bem? - Liam indagou, era isso que ele realmente anciava por saber.

- Não tanto como você - Richard falou, vendo que John não iria responder a esta pergunta. - Ela entrou em coma, encontraram muita morfina no corpo dela, e eles esperam que não causem nada muito grave nela.

- Morfina? - Liam perguntou. - Não era alguma espécie de droga? Veneno?

- Ao que os exames indicam, não - Richard falou. - Você deve descansar, Liam, receitas do médico - Richard saiu do quarto com um alívio por saber que o filho já havia acordado, levou consigo, John, pois queria que ele visse alguns vídeos em especial.

Liam assistiu ao pai saindo do quarto juntamente com John, quando os mesmos haviam sumido do seu campo de visão, o garoto ergueu-se com um salto e trocou as roupas do hospital pelas suas, provavelmente o seu pai havia de ter trazido as que ali estavam, a camisa cinza, a calça jeans e o tênis. Assim que terminou de colocar a camisa, Liam encaminhou-se para a porta, saindo e vendo um corredor com algumas pessoas sentadas em cadeiras mais distantes e uma enfermeira passando.

- Er... Será se você poderia me dizer em qual quarto encontra-se Elizabeth Snow? - Liam perguntou para a mesma.

- Você é algum parente? - a enfermeira perguntou o analisando. Liam assentiu. - Quarto 172.

- Obrigada - Liam falou disparando pelo corredor, desviando uma hora ou outra das pessoas que passavam pelo mesmo. 

Depois de procurar por algum tempo a mais, finalmente encontrou o quarto 172. Ele parou, respirando por um tempo antes de entrar naquele quarto.

Elizabeth tinha vários fios ligando à aparelhos que permitiriam a sobrevivência da mesma. Liam aproximou-se com lentos passos da cama da garota.

- Eu sinto muito por isso, Liz, se eu não tivesse aceitado aquilo, talvez isso nunca tivesse acontecido com você, ou se eu tivesse chegado tempos antes de ela começar a fazer isso com você... - Liam não sabia o que dizer ao certo, apenas deixava que toda a culpa que sentia passasse por seu lábios, mesmo sabendo que a garota talvez nunca o escutasse. Liam deixou que uma lágrima escapasse por seus olhos, mas antes que a mesma pudesse completar o percurso, ele a limpou.

O garoto colocou uma das mãos de Elizabeth entre as suas. Estava geladas, e os batimentos da garota estava lentos e baixos, aquilo preocupava Liam. 

- Sinto muito por perceber tarde demais o que eu sinto - Liam explicou-se murmurando.

- Você deveria parar de se culpar, garoto - uma voz feminina soou a porta, fazendo com que Liam soltasse a mão de Elizabeth, virando-se para encarar uma garota ruiva, alta, que tinha leves sardas na região abaixo dos olhos, a mesma usava um vestido e uma sapatilha.

- Qu-Quem é você? - Liam perguntou com a voz vacilando, por um segundo, ele achou a forma da fala da garota parecida com a de Melissa.

- Ah é, que cabeça a minha - ela bateu na própria testa, arrancando involuntáriamente um sorriso de Liam. - Sou Bruna Scamander - ela ergueu uma mão para o menino apertar, mas o mesmo ficou com o cenho franzido -, a namorada do Alex, irmão da Elizabeth.

- Ah claro - Liam falou, parece que Elizabeth já havia comentado sobre ela, ou talvez fora Josh. Então os olhos de Liam desviaram-se para Elizabeth deitada naquela cama, coberta por lençóis brancos e desacordada. Bruna o observava.

- A família dela está na cantina, achei melhor que eles saíssem um pouco daqui, afinal, aquela família é muito grande - Bruna soltou um riso antes de retomar a sua face séria. - Mas você estava lamentando-se quando eu cheguei, eu sinto muito por ter atrapalhado isso, mas é que eu não gosto de ouvir as pessoas lamentando-se.

- É que se eu tivesse chegado mais cedo eu poderia salvar ela, tenho certeza disso, e quem sabe, ela não estaria aqui hoje - Liam falou sentindo os olhos arderem.

- Em uma coisa você está certo, talvez ela não estivesse aqui - Bruna falou fitando a garota inconsciente -, não é querendo ser pessimista, mas é que talvez ela realmente não estivesse aqui, se é que você me entende.

Liam assentiu, ele compreendia muito bem aquilo que ela havia mencionado.

- Mas é que se eu tivesse...

- Olha garoto...

- Liam - o loiro falou para a ruiva. - Liam Thompson.

- Certo, o garoto que a levou para o baile - Bruna constatou. - Bem, mas o que eu queria te dizer era, não importa o quanto você lamente, o que foi feito ficou no passado, e o "se" não nos pertence, caso contrário, muitos dos nossos erros seriam concertados, você não acha?

Liam apenas a encarou, vendo que a mesma lhe lançava um sorriso simples, porém, verdadeiro.

- Sua atadura - ela indicou o braço do garoto, a atadura precisava ser trocada, já havia muito sangue na mesma. - É melhor trocá-la.

Liam pareceu querer permanecer ali, mas então, decidiu que era melhor trocar a atadura, ou quem sabe se aquele ferimento não podia infeccionar.

- A gente se vê, Bruna - Liam falou para a garota

- Também acho isso, Liam - a ruiva respondeu sorrindo, vendo que Liam deixou seus olhos durarem mais alguns segundos em Elizabeth antes de dar uma palmada na porta e sair dali.

[...]

- Eu não compreendo - John falou após ver os vídeos. - Então a culpa por minha filha estar em coma é da Melissa?

- Sinto em informar que sim - Richard falou. - Olhe, você já tem os vídeos, e Melissa desapareceu, você precisa de mais alguma prova?

- Não - John falou fitando o outro lado da cantina. - Eu preciso mover-me.

- John?

John ergue-se da mesa enquanto caminhava para o local em que uma família estava, só havia uma mulher loira, dois garotos loiros, e demais eram morenos, incluindo o marido dela, que a consolava.

- Vocês são a família da garota que estão em coma? - John perguntou direto.

- Sim - quem respondeu foi um garoto alto, de cabelos negros, e olhos castanhos.

- Eu sinto muito pelo que aconteceu com ela - John respirou fundo. - Tudo bem, vou direto ao ponto, talvez esse não é o melhor momento, mas é que... Amy, Amy Snow, lembram-se dela? - John viu que os olhos castanhos do garoto ficaram opacos, e a mulher loira limpou as lágrimas para prestar mais atenção na conversa.

- O que tem a Amy? - ela perguntou erguendo-se e colocando os braços ao redor do filho.

- Ela era a mãe de Elizabeth, e é provável que vocês não saibam quem é o pai - John falou fitando o chão.

- Aonde você quer chegar, Sr.? - a mulher perguntou.

- Campbell, John Campbell. O que eu quero é dizer para vocês - John respirou fundo. - Eu... Eu sou o pai da Elizabeth.

A mulher arregalou os olhos diante da revelação.

- Desculpe, mas como? - o homem de óculos perguntou.

- Eu sou o pai da Elizabeth. Eu entendo que talvez isso seja difícil para vocês aceitarem, depois de tanto tempo sem dar notícias, mas é que eu não sabia sobre ela, descobri a alguns meses.

- Eu... Eu vou para o quarto da Elizabeth - o garoto alto falou saindo dali. Tocar no nome de Amy sempre o fazia sentir-se triste, e o único modo da tristeza diminuir um pouco era vendo Elizabeth.

[...]

Era uma floresta vazia, cheia de árvores, e não importava para aonde ela fugia, sempre ela ouvia o mesmo som, a gargalhada fria de uma mulher, depois a voz dele, ela o reconhecia por ser o seu salvador.

- Liz, onde está querida? Você sabe que eu irei te encontrar- Elizabeth correu o máximo que podia.

- LIAM!- gritava pelo garoto.

- Aqui, Liz, venha me encontrar!- era o que ela recebia como resposta, mas sempre longe demais.

- Liz? Não fuga, Snow White, apenas coma da maçã, afinal, o meu caçador sumiu- a voz de Melissa aproximava-se, juntamente com os seus passos, até que a figura da mesma já era visível. - Te achei! Ainda bem, já estava ficando cansada de brincar de esconde-esconde.

Melissa estava diferente, usava um vestido longo e negro, mas trazia uma maçã vermelha em sua mão, e na outra uma adaga. Elizabeth arfava enquanto dava passos vacilantes para trás, até que chegou ao limite, a suas costas havia um precipício, e ela sabia que se caísse ali tudo estaria acabado, literalmente.

Mas a voz de Liam partia dali.

- Vamos tornar isso mais fácil, Liz?- Melissa perguntou transformando-se em uma mulher de cabelos negros, longos, uma pele alva, um pouco mais velha que Melissa. - Vamos deixar a "mamãe" fazer isso.

- Não! Por favor, não! SOCORRO!- Elizabeth gritava ao passo que agarrava-se a uma árvore que ali havia. A sua mãe (se é que aquela mulher era a sua mãe) aproximava-se dela, até chegou a um ponto em que agarrou o pulso de Elizabeth com força, muita força.

- Socorro? Ajuda? Você quer que isso termine, então, vou fazer isso de uma maneira rápida - a mulher empurrou Elizabeth para aquele precipício, fazendo com que sua voz ecoasse por todo o local, uma frase: "Mamãe te ama, Liz".

Elizabeth apenas gritava e sentia-se caindo, e caindo... Ela já estava preparando-se para o baque quando pode puxar o máximo de ar que lhe era permitido.

[...]

Cory estava fitando a garota morena deitada na cama, ele observava os aparelhos e depois a ela, já havia se passado horas talvez, mas nada importava, ele queria ver a garota abrindo os olhos, não importava o tempo necessário para isso. 

Ele havia se sentado, seus olhos estavam fechando-se contra a sua vontade, até que surpreendeu-se com uma longa e profunda inspiração, que fez com que o mesmo ergue-se com um salto de sua cadeira.

- Liz? - chamou aproximando-se da garota, constatando que a mesma abria os olhos lentamente. - Elizabeth! - sorria.

Elizabeth sentia o corpo dolorido, sentia a garganta seca, e uma forte dor de cabeça. Seus olhos levaram algum tempo para acostumar-se com a iluminação do local, até que viu a forma de Cory ao seu lado.

- Cory - murmurou com a voz fraca, vendo o garoto sorrir.

[...]

Meses após o acontecido, Liam tentou ligar para Elizabeth, mas nunca encontrava o que dizer, então, antes que ela atendesse desligava o telefone. Os corredores daquela escola estavam diferentes, muitos dos alunos não sabiam o que havia se passado, então, ninguém apontava para ele, ou murmurava comentários, o rapaz apenas queria chegar a sua sala de aula, a mesma já não estava longe, apenas alguns passos que ele fez questão de diminuir. Ao chegar, sem se dar conta, acabou por tropeçar com alguém.

- Desculpa - Liam escutou a vozdelachegar aos seus ouvidos. - Liam?! - a garota falou um tanto surpresa e feliz ao mesmo tempo.

- Oi... - Liam sabia que esse seria o momento correto para falar tudo, então -, Liz, eu sinto muito pelo o que aconteceu, você provavelmente deve ter descoberto a minha parte...

Elizabeth assentiu.

- Eu sinto muito.

- Não sei porque está se desculpando, se não fosse por você, talvez nem viva eu estaria - Elizabeth falou. - Na verdade, eu tenho que te agradecer, pelo que você fez.

Liam sorriu de canto, mas ele sabia que dentro dela havia uma ferida, uma grande ferida, algo que ele não conseguia compreender, mas que só o tempo poderia curar, pois tudo na vida passa, mas do mesmo modo que ele sabia sobre isso, ele queria estar ao lado dela quando ela precisasse de um ombro.

- Tudo bem, vamos fazer isso de novo - Elizabeth falou despertando o garoto de seus devaneios. - Oi, sou Elizabeth Snow Campbell - a morena ergueu uma mão para o garoto sorrindo. Até que para ela não foi tão estranho e difícil aceitar que tinha outro pai, o garoto loiro sorriu, aquela Elizabeth estava diferente, mas ele gostava dela assim.

- É um prazer conhecê-la, Srta. Campbell - Liam fez uma reverencia, arrancando risos da garota, enquanto beijava a mão da mesma, e fitava os olhos azuis -, sou Liam Thompson.

- Igualmente, Sr. Thompson - Elizabeth respondeu sorrindo.

- Srta. Snow Campbell, você gostaria de me acompanhar? - Liam perguntou depositando sua bolsa dentro da sala de aula.

- Para onde? - Elizabeth sorriu.

- Tenho um lugar que eu gostaria que a senhorita visse - Liam falou.

- Tudo bem - Elizabeth segurou a mão que Liam erguia para a mesma.

Liam seguiu caminho por entre os alunos, desviando de alguns, até que chegou a uma escada, fez sinal para que Elizabeth subisse, a garota assim fez, sua curiosidade sempre fora maior, ao subir prendeu a respiração, era um jardim. Um dos mais belos que ela já vira, lírios, gardênias, tulipas, rosas...

- Liam, é lindo aqui! - ela falou virando-se para o garoto que estava encostado em um parte mais afastada do local, mas depois desencostou-se, pegou um lírio branco e entregou a Elizabeth.

- Você sabe o que essa flor significa? - Liam perguntou aproximando-se da garota, ficando tão próximo que podia sentir a respiração dela bater em seu rosto.

- Deixe-me te amar - Elizabeth falou recebendo o lírio.

- Exatamente - Liam falou aproximando-se mais ainda da garota, quebrando a pequena distância que havia entre eles.

Suas mãos foram para o rosto da garota, segurando-o, enquanto sentia os lábios dela sobre os seus. Ele desejava o melhor para ela, e a partir daquele momento era assim que seria, o melhor para ambos. Talvez seja verdade que a vida acabe com um final feliz, só não idica que a mesma seja fácil sempre, ou feliz.

Uma coisa nós aprendemos nos contos de fadas, as princesas crescem, tornam-se donzelas, muitas vezes enfrentam perigos maiores do que poderiam imaginar, como enfrentar a Rainha Má, mas o seu príncipe aparece no final, ajudando-a, talvez ele não seja uma pessoa perfeita, pois já errou muitas vezes, mas a vida é assim, assemelha-se a um conto de fadas, e uma hora, o final feliz irá chegar.