Romeo, Julieta E Bianca escrita por EstherBSS


Capítulo 7
O amor de Julieta




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O amor de Julieta

Verona

1591

Quando Romeo chegou, ela já estava lá esperando por ele. Esperava debaixo de uma das árvores do jardim abandonado. Julieta se virou devagar. Abaixou a capa que levava, revelando seus cabelos ruivos. Sorriu timidamente. Ela fitou Romeo e franziu o cenho.

- Estás a sofrer. A dor em seus olhos machuca também meu coração. – ela disse suavemente. Ele se manteve distante, parado a dois metros dela. Não ousou se aproximar mais.

- Em seu coração não deve haver compaixão para com um Montecchio. – Romeo disse amargo.

- Eis que já lho disse que não me importas coisa alguma que sejas tu um Montecchio.

- Suas palavras traem umas as outras. Hora dizes uma coisa, hora dizes outra. Deves decidir-te. – Romeo respondeu. Julieta desviou os olhos, nervosa. Ela juntou as mãos suadas antes de responder.

- Aquelas foram palavras nascidas do despeito e não do amor. Mesmo depois que partistes, eu continuei a sonhar com tua pessoa. Desejo estar ao seu lado e escutar a sua voz. Isso é para mim nada senão amor.

- Triste vida minha a de amar quem não me ama. – Romeo lamentou – Suas palavras são sinceras, Julieta. És bela e doce. Eu, de bom grado, ignoraria teu nome de Capuleto se meu coração assim mandasse.

- Então que sejais dessa maneira! – Julieta falou apoiando a mão no peito – Renegas teu nome e eu renegarei o meu! Sejamos apenas Julieta e Romeo, Romeo e Julieta. Abandonais ter sobrenome e eu o seguirei para onde fordes como sua dedicada amada e esposa.

- Não entendes que estou enamorado de outra?

- Perdoa meus desatinos. Se ajo com leviandade e insensatez é porque estou louca e cega de paixão. O amor guia minhas palavras e ações ao estar assim tão perto de ti. Perdoa esta tola apaixonada que sou! – Julieta se virou e secou as lágrimas que já caiam.

- Devemos ter magoado muitíssimo aos anjos para que nos castigassem com amores impossíveis! – Romeo exclamou. Julieta respirou fundo, se virou e então correu, se jogando nos braços do jovem.

- Jurai por tudo que é lho é mais sagrado que não poderia jamais a vir a amar-me. – Julieta implorou sem se importar com as lágrimas que escorriam pelo seu rosto – Dizei-me isto e me assentarei com minha sina de casar com o desconhecido Páris. Uma palavra que decida meu sofrimento e minha tragédia.

- Não há tragédia maior do que a história que hei ouvido noite passada. Nada resta nela que não me traga a bile à boca. Escutai, Julieta. És jovem e bela. És doce e educada. Qualquer homem no mundo teria razão para vir a amar-te.

- Óh, que são essas palavras que deslizam de tua boca? – Julieta se permitiu um sorriso – Devo então deixar que meu coração acredite em um futuro para nós?

- Aí está uma coisa que não posso lhe afirmar. Meu coração é contenda nesse exato momento. Sofro por uma mulher que insiste que devo ficar contigo. – Romeo afastou Julieta com cuidado, empurrando seus ombros levemente para trás.

- Que dizeis? Tua amada afirma que deves enamorar-te de mim?

- Vês a razão de meu sofrimento. Pois ela mo disse ontem mesmo. Acusou-me de não estar em seu destino. Agora que me atino de que devo estar já que a encontrei. – Romeo pensou alto, franzindo o cenho.

- Ora! Se ela mesma está a dizer que deves tu olhar para mim! – Julieta implorou, mas depois se arrependeu – Oh, que tola o amor tem me tornado. Já me deixou a ponto de mendigar teus sentimentos!

- Não falais assim, Julieta. – Romeo pediu se sentindo um pouco culpado.

- Sim, pois falo. Falo, mil vezes falo. Tenho me tornado uma mendiga nos assuntos do amor. Todos me dizem que sou mais bonita do que a Bianca que cantou no Baile. Mesmo assim aqui estou lutando invisivelmente com uma inimiga que te atormenta. – Julieta se virou para Romeo – Esquece-a, Romeo. Ó Romeo! Enterra este amor e se apiede de tua Julieta que te ama!

- Esqueceis quem sois? Ainda és uma Capuleto e em minhas veias ainda corre o sangue dos Montecchio!

- Malditos sejam nossos nomes! Que me pouco causa esse tanto! Amo-te. Quantas vezes ainda terei que jurar meu amor para que se apiedes de mim?

- A rixa entre nossas famílias... – Romeo continuou.

- Esse ódio é por demais duradouro, assim como o meu amor. Deixemos que um sentimento cuide do outro. Se é trágico o nosso destino, prefiro deixar uma adaga transpassar meu peito ao invés de que o faça a sua rejeição.

- Estais a falar de morte, tola apaixonada! – Romeo disse exasperado. Era exatamente isso que Bianca havia lhe falado!

- Penso que viver sem amor é um destino pior que a morte.

- És nova. Encontrará alegria em outras cousas.

- Não há alegria para mim longe de ti, amado Romeo. Oh, como posso eu continuar a viver com esse amor que me consome?

- Quisera eu ser digno de teu grande amor, Julieta. Temo que o cupido já tenha me acertado com outras intenções. Amo Bianca. Não posso negá-lo embora ela o faça.

- Se ela nega seu amor, aqui estou eu que o aceito de bom grado. Ama-me, Romeo, e não haverá em todos os tempos amor maior do que o nosso. – Julieta caiu de joelhos chorando enquanto falava. Romeo passou a mão nos cabelos nervoso.

- Oh como lamento tua dor, Julieta. Não sei qual é a pior sina, amar a uma mulher que não me quer ou amar uma Capuleto cujo nome renega ao meu.

- Não sofra por quem não lhe merece, Romeo! Sejamos nós dois a pôr fim na contenda entre nossas famílias!

- Mas amo a outra! É Bianca a dama de meu coração! Mil vezes rogo ao destino que não troces assim de meus sentimentos. Oh, que cruel pecado terei eu cometido para sofrer desta maneira?

- Basta! – Julieta se levantou com o que restava de sua dignidade – Não ficarei mais aqui a me humilhar em tua presença. Se não pode me amar, deve dizer-me nesse instante e não voltarei a atormentá-lo jamais.

- Meu coração pertence a outra. – Romeo falou cabisbaixo.

- Então só tenho mais uma coisa a dizer vos. Beijai-me para que eu guarde em meu peito a memória de seu gosto.

Romeo ergueu os olhos para o rosto da moça. Ela parecia um pouco desesperada. Achou que não faria mal fazer a vontade dela. Ele também desejava saber se o que Bianca dizia era certo. Ele poderia se apaixonar por Julieta?

Ela parou em frente a ele se ergueu na ponta dos pés. Romeo abaixou o rosto e elevou o rosto dela usando o queixo como suporte. Seus lábios repousaram sobre os dela com suavidade. Ela tinha um sabor doce. Julieta suspirou entreabrindo os lábios levemente. O beijo foi doce, calmo e sem nenhuma paixão ardente como no caso de Bianca. Julieta se afastou com um sorriso. Romeo passou a mão no cabelo confuso. As duas mulheres eram pura contradição. Enquanto uma era firme e cheia de paixão, a outra era suave e frágil. Ficou chocado ao perceber que se sentia dividido. Julieta era tudo o que sua sociedade valorizava em uma mulher. Entretanto, lá estava Bianca para tenta-lo com algo proibido.

Confuso, Romeo se retirou sem nenhuma palavra de despedida. Julieta permaneceu lá com o mesmo sorriso, ainda que um pouco maior. Seu amado tinha aparentado ter ficado balançado e era exatamente isso que ela queria. Duvidava que a tal Bianca fosse capaz de fazer melhor do que aquilo. Sorriu ainda mais enquanto caminhava em direção a ama que a esperava por perto. Amava Romeo e não desistiria dele.

...

Verona. Uma praça pública. Entram Mercúcio e Benvólio.

- Quente está o dia! Peço-te, Mercúcio, que nos retiremos. Os Capuletos caminham pela cidade e o sangue ferve nestes tempos quentes. Evitemos as contendas! – Benvólio disse enquanto caminhava, tentando convencer o amigo.

- Tu te assemelhas a esses tipos que temem a batalha, mas a procuram quando ela não vem até vós. – Mercúcio retrucou.

- Serei acaso desse tipo?

- Ora, vamos! És tão esquentado como quem mais o for em toda a Itália! És tão briguento que se houvesse dois de vós, mataríeis um ao outro antes que se desse o cabo o dia.

- Vejas só! – Benvólio replicou – Se eu fosse tão briguento como tu, não teria tantos amigos como os que tenho.

- Eis que eles o entendem o tentam. Sua cabeça é tão cheia de rixas que vês brigas até onde não existem! – Mercúcio implicou com o amigo.

- Pois eis que agora hei visto uma contenda que se avizinha! – Benvólio estacou na rua e tentou puxar o amigo pelo braço – Saiamos daqui porque hei vindo os Capuletos.

Mercúcio firmou os pés insistindo em não sair do lugar. Os passantes estranharam o movimento repentino e, vendo Tebaldo, entenderam que não tardaria a haver confusão. As pessoas começaram a cochichar enquanto os inimigos se encontravam.

- Anda, Mercúcio! Pela minha cabeça, és Tebaldo! – Benvólio insistiu.

- Por meu pé, a mim isso pouco ou nada importa. – Mercúcio falou desafiante.

Tebaldo caminhava decididamente em direção aos dois. Outros Capuletos, guardas e servos o seguiam. Deteve-se a alguns passos e os cumprimentou rigidamente com a cabeça. As pessoas paravam de andar e se aglomeravam para ver o desenrolar do encontro.

- Ficai perto de mim, cavalheiros, pois vou falar lhes. Bom dia. Uma palavra com qualquer um de vós. – o Capuleto falou e embora mantivesse a fria cortesia, seus olhos faiscavam de raiva. Mercúcio ergueu o queixo em desafio e sorriu de canto.

- Apenas uma palavra e nada mais? Acrescentai mais alguma coisa que tempere a conversa como um verso de poeta ou uma estocada de espada!

Tebaldo estreitou os olhos em desafio e fuzilou o jovem com o olhar. Ouviam se murmúrios e apostas de luta.

- Haveis de me encontrar disposto para isso quando fordes oponente adequado. No momento, só me interesso por Romeo. – Tebaldo respondeu com displicência e arrogância.

- Senhores, retiremo-nos daqui. – Benvólio acudiu – Está praça é por demais frequentada e já nos tem olhos fixos.

- Para que servem os olhos senão para fixarem-se em algo. Deixe que olhem. – Mercúcio exclamou zangado – Estás interessado então em Romeo?

- De certo que estou! – Tebaldo respondeu.

- Já eu cá não imaginava que tivesses interesses por homens. Estão os Capuleto a revelar suas preferências em praça pública?

Diante do comentário de Mercúcio, Tebaldo e todos os Capuletos colocaram a mão em suas espadas retirando-as parcialmente de suas bainhas. Mercúcio fez o mesmo, assim como Benvólio que já se lamentava. Os homens ficaram se encarando com ódio enquanto os passantes já se preparavam para mais uma contenda entre Montecchios e Capuletos.

- Sacas a tua espada rapaz – Ameaçou Tebaldo - e responde às injúrias que tem me feito!

O Capuleto sacou a arma ao mesmo tempo em que Mercúcio fazia o mesmo. Eram ambos habilidosos na arte da esgrima e dançavam uma dança perigosa de vida ou morte. Tebaldo atacava usando força e irritação. Mercúcio defendia usando velocidade e esperteza. Próximos dali, dois frades corriam em direção ao amontoado de pessoas.

- Acuda-me, Santo Deus! – um dos frades exclamou – Minhas pernas já fraquejam ante este louco plano!

- Não reclame, Frei Lourenço! Já estamos quase lá! Olha aquele monte de gente. Aposto que o Mercúcio e o Tebaldo já estão se engalfinhando. Temos que ir impedi-los. Já baguncei a história mesmo!

- Tens ideias loucas, menina! – Frei Lourenço reclamou com a outra pessoa vestida de Frade.

- E como que eu iria aparecer aqui no meio de todo mundo? – Bianca perguntou e depois puxou o companheiro pelo braço – Corre, frei! Corre! Temos que impedir aqueles dois antes que o cheiro dessa roupa acabe comigo!

Mercúcio lutava freneticamente contra o Capuleto. A luta andava difícil devido à habilidade dos dois combatentes. Ambos atacavam e recuavam, atacavam e recuavam em uma dança sem fim.

- Retêm vossas espadas, cavaleiros. És um homem de Deus que ordena.

Mercúcio, Tebaldo e todas as pessoas da praça se viraram para encarar o frade gorducho que acotovelava as pessoas para chegar ao centro. Vinha outro frade logo atrás do primeiro, maior de altura e menor de largura.

- Nem mesmo uma palavra santa pode segurar a minha espada agora, frade! – Tebaldo rugiu.

- Mesmo que eu acatasse sua ordem, bom padre, o rugido desse insolente me obrigaria a voltar a fazer uso da espada! – Mercúcio bradou em resposta.

- Ides ambos caminhar para a ruína de boa vontade? – Frei Lourenço gritou elevando as mãos em nervosismo. O Frade ao lado dele se manteve em silêncio, mas concordou com a cabeça.

- A ruína seria um bom lugar se lá eu pudesse desfrutar da morte desse Capuleto! – Mercúcio respondeu enquanto encarava Tebaldo. Faltava pouco para que voltassem a bater espadas.

- Não temem a condenação dos vivos e nem de Deus? Será que escuto tal blasfêmia? – o frei perguntou recebendo nova concordância do outro.

- A única blasfêmia aqui é a existência de Montecchios nessa cidade! – Tebaldo rugiu e se preparou para atacar.

Bianca decidiu que tinha que agir rapidamente. Logo Romeo chegaria e aí seria tarde demais. O lugar onde se encontravam era largo e como toda boa praça tinha barraquinhas de mercadores. Bianca avistou uma melancia e nem parou para pensar. Pegou a fruta e a lançou.

A melancia se espatifou ao acertar cabeça de Tebaldo. Os espectadores ofegaram. Mercúcio parou de lutar e não sabia como controlar as gargalhadas. Benvólio fitava a cena com olhos arregalados. Frei Lourenço gemeu e Bianca notou não ter sido boa ideia quando Tebaldo a olhou com ódio.

- Eu me pergunto qual a pena por matar um homem de Deus. – o jovem Capuleto falou antes de se virar com a espada pronta para atacar Bianca. A roupa de frade escondia sua verdadeira identidade, mas ela também não esperava aquela reviravolta nos acontecimentos. Amaldiçoou sua atitude impulsiva. – Defenda-se frade!

Bianca estendeu as mãos em um gesto para que ele parasse. Moveu a cabeça firmemente em sentido negativo.

- Mira, Benvólio! – Mercúcio falou alto – Mira o oponente que tenho arrumado. Capaz de ser derrotado por uma fruta, lançada pelas mãos de um frade.

Tebaldo se virou novamente para o amigo dos Montecchio. Estava claramente decidindo quem atacar primeiro. Mercúcio foi rápido e o desarmou com um ataque de espada. Bianca quase podia imaginar o jovem matando o Capuleto, o que daria na mesma para a história. Não podia deixar que ninguém morresse! Ela correu e se lançou contra Mercúcio. Os dois caíram no chão com um barulho alto e as pessoas voltaram a ofegar. O jovem se debatia para tentar se levantar, mas Bianca sempre o empurrava de volta para o chão.

Mercúcio sacou uma adaga e atacou. Bianca demorou um pouco a notar três coisas. Um, Romeo tinha chegado à praça. Dois, seu capuz de frade tinha caído e seu cabelo castanho se espalhava em suas costas. Três, havia uma adaga pressionada contra o seu peito. Bianca levou a mão até o coração. Sentia como se eletricidade a percorresse. Doeu.


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