Romeo, Julieta E Bianca escrita por EstherBSS


Capítulo 3
Capítulo 3 - O Baile de Máscaras




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O Baile de máscaras

Verona

1591

Bianca observou a entrada dos Capuletos. Aquela era, sem dúvida, uma ótima demonstração de riqueza. Não foi difícil descobrir quem era Julieta. Caramba! Aquilo sim era uma mulher bonita. Deixaria Daniela se revirando de inveja. Ela era ruiva, com cabelo cacheado e a pele alva. Mesmo com a máscara era possível ver os olhos azuis e o sorriso era delicado. Bianca entendia porque Romeo se apaixonaria por ela. Só a achava muito nova. Não deveria nem ter seus quinze anos.

Por falar em Romeo, Bianca vinha procurando-o. Já que estava lá, não custava nada presenciar todas as cenas. Até já tinha descoberto onde era o balcão da Julieta. Bianca usava um vestido típico e uma máscara de gata. Graças a isso, conseguia se misturar bastante bem às pessoas do baile. Mal podia esperar para encontrar o Romeo. Seria ele o mesmo homem que a tinha encontrado mais cedo?

Viu Tebaldo se aproximar e se enfiou entre as pessoas para despistá-lo. Já tinha entendido que ele estava a fim dela e isso não era boa coisa. Esbarrou em alguém e olhou para cima. O homem usava uma máscara simples, mas aqueles olhos verdes...

- Não fuja de novo, bela dama. Meu coração até agora não conhecia beleza. – o homem acariciou o rosto de Bianca que o fitava incrédula – Diga palavra, anjo, para que eu saiba que isso não é um apenas um sonho.

- Julieta... – Bianca balbuciou nervosa. Romeo inclinou a cabeça, curioso – Deve ter visto Julieta. Como então...

- Refere-se a moça que acompanha o senhor Capuleto? É bela. Isto é verdade, mas...

- Então vá ter com ela! – Bianca falou nervosa, interrompendo o rapaz – Veja. Tebaldo já descobriu quem é você. Não faça essa cara de surpresa. – ela se aproximou dele e se inclinou na ponta dos pés para sussurrar ao ouvido dele – Sei que é Romeo Montecchio.

A declaração dela o deixou nervoso. Isso e o cheiro perfumado que ela exalava. Sorrindo com o que estava prestes a fazer, segurou a pela mão e cintura e a puxou para uma dança.

- Não acredito que evites uma dança inocente, bela dama. Não temo Tebaldo. Eu me bateria em espadas com ele por sua causa.

- Não quero dançar! E você não deveria nem me notar. Infernos! Vai acabar morrendo antes da hora.

- Sua boca pronuncia tristes sinas para um pobre apaixonado como eu. – Romeo falou enquanto rodopiava com a mulher em seus braços. Aproveitava o nervosismo dela. Bianca o olhou com os olhos apertados.

- Não venha com esse assunto de bocas. Eu me lembro como isso acabou!

- Se vos ofendo, aceitarei uma penitência. Só não peça que eu me afaste de tua beleza porque sou capaz de não suportar viver longe da luz.

Bianca se separou dele bruscamente. Não podia ficar escutando essas coisas. Já estava ficando vermelha.

- Devia estar falando essas coisas para Julieta e não para mim. É por ela que você deve se apaixonar.

Bianca sumiu entre os convidados antes que Romeo pudesse segurá-la. Era só o que faltava! Despertar o interesse do amante mais famoso da história. Bianca se escondeu atrás de uma armação de metal. Poderia ver o salão sem que fosse vista. Observou dois rapazes se aproximarem de Romeo. Deveriam ser Benvólio e Mercúcio de acordo com a história. O jovem ainda hesitou um pouco antes de se arrastar até Julieta. Bianca observou esperando o beijo. Sabia que ele a beijaria pois isso era o que acontecia na peça de Shakespeare.

- Então, estás aí, Bianca. – uma voz feminina falou fazendo-a se virar. Viu a mãe de Tebaldo acompanhando o senhor que ela acreditava ser o pai de Julieta.

- Ouvi dizer que estás com problema, menina. – o homem falou em tom grave. Não foi preciso muita coisa para que Bianca entendesse que ele gostava de comandar.

- Na verdade, senhor, estou, mas sou crescida o suficiente para me responsabilizar por mim mesma. Agradeço a ajuda da senhora Gianozza e de seu filho, Tebaldo, mas já devo seguir o meu caminho.

- Vejo que é determinada como me disseram. Mas vede que não fica bem uma moça cuidar de si mesma. – Senhor Capuleto rebateu.

- De onde venho isso é comum. Até bem visto. Devo ir agora. Pegarei minhas roupas em sua casa, senhora. – Bianca só queria fugir dali. Podia ver Romeo conversar com Julieta. Onde estava o beijo?

- Aproveite a noite mais um pouco, senhorita. Tebaldo há me falado que tens a voz de um anjo e que conheces a língua dos ingleses.

Bianca se arrependeu de ter deixado Tebaldo ouvi-la cantar. O problema era que ela sempre cantava quando estava ansiosa e estivera enquanto caminhava para o baile. É claro que ele tinha falado.

- Canto muito mal, senhor. – Bianca respondeu corando.

- Não seja modesta! – a mãe de Tebaldo interviu e se virou para o homem – Deixe que ela agracie seus convidados com uma canção de amor em inglês. Será muito interessante.

Bianca queria dizer que não seria nada interessante, mas já estava sendo arrastada para o salão antes que conseguisse dizer “Shakespeare”. Enquanto o senhor Capuleto a apresentava, achou Tebaldo a observando com um sorriso do segundo andar. Romeo e seus amigos também a olharam. Ele estava longe de Julieta. Já teriam se beijado? Ela não acreditava que tinha perdido o beijo.

- Então, linda Bianca. Cantará uma canção de amor em inglês para mim e para os meus convidados?

Ela não tinha como negar e sair dali sem que ninguém percebesse. Não havia microfone e os músicos não saberiam a canção. Respirou fundo. Seu coração batia tão rápido que parecia que ela só ouvia o Tum-tum-tum. Pensou na música mais romântica que conhecia.

- This time, this place, misused, mistakes. Too long, too late. Who was I to make you wait? Just one chance, just one breath…

Continuou cantando far away de Nickelback. Adorava aquela canção. Os músicos eram bons. Aprenderam o ritmo depressa e a acompanharam na canção. Quando terminou, recebeu uma, duas, três salvas de palmas. Sorriu contente. A festa prosseguiu e ela tentou fugir de Tebaldo. Acabou entrando em dos quartos superiores para se esconder.

Pensou em que fazer em seguida. Não poderia continuar na casa dos Capuleto. Ergueu o vestido e retirou suas roupas modernas. Tinhas amarrado elas na roupa caso precisasse fugir. Sem ajuda, demorou um pouco para conseguir se livrar do vestido. Sentiu-se muito melhor quando colocou sua calça jeans e sua bota confortável. Deixou o vestido sobre a cama e caminhou até a sacada.

O jardim era belo e além dele havia um caminho de flores na rua. Os versos da cigana brilharam em sua memória.

- Siga o caminho de flores... – ela recitou maravilhada.

Olhou em volta buscando um lugar para descer. A sacada não era tão alta. Passou as pernas pela murada e saltou. Fez um barulhão quando caiu e tentou reprimir os gemidos. Bianca se levantou com dificuldade e se escondeu entre os arbustos bem quando alguém apareceu na sacada. Ficou chocada ao ver que era Julieta. Estava de brincadeira que tinha escolhido logo aquele quarto!

- Ai de mim! – a moça começou. Bianca a olhou. Era mesmo muito bonita. Ignorando as pontadas de inveja, buscou um meio de escapar - Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.

Bianca recitava as palavras ao mesmo tempo em que Julieta fazia. Ela tinha passado pela fase romântica e repetido cada verso daquele livro. A moça continuava:

- ...O que chamamos rosa, sob outra designação teria igual perfume. Assim Romeo...

Bianca suspendeu a respiração quando o viu se aproximar sorrateiramente. Afundou entre as folhas porque ele olhava especialmente para o lugar onde ela estava escondida. Ele falou algo que ela estava nervosa demais para entender.

- Quem és tu que, encoberto pela noite, entras em meu segredo?

Romeo respondeu algo, mas Bianca não estava prestando mais atenção ao diálogo. Olhava Julieta atentamente. Não sabia se Romeo podia vê-la, mas do seu ângulo de vista, via algo preocupante. A expressão da Capuleto era igual a de Daniela. Parecia aquele tipo de mulher que sabia que era bonita e se aproveitava disso. Bianca franziu o cenho. Se ela bem se lembrava, Julieta falaria em casamento naquela cena.

Ela ofegou. A cigana, o destino ou quem quer que a tivesse prendido na história tinha acabado com todo o romantismo. Julieta não era uma menina inocente como ela sempre pensara. A Capuleto podia até estar interessada em Romeo, mas não deixava de usar sua boa aparência para enredá-lo. Ok. Aquilo tinha sido muito decepcionante. Já se preparava para se esgueirar pelo muro até o portão quando ouviu:

- Amaldiçoada seja essa Bianca que tomou o meu amor. – Bianca congelou e se voltou para a cena. Romeo não estava escalando a bancada e nem ajoelhado. Ele se afastava, na verdade. E que história era aquela de tomar o amor dela? – Saias de minha presença, infame sedutor. Devia saber que não existe honra em nenhum Montecchio.

- Agora mesmo tua boca disseste que o nome não importava. – Romeo respondeu com o olhar apertado – Vim aqui fazer o certo e confessar que não deve amar a mim, pois meu coração e minha alma pertencem a outra.

Bianca deixou o queixo cair. O que estava ouvindo não podia ser verdade! Romeo tinha que se declarar para Julieta e não dar um fora nela.

- Amaldiçoo o momento em que meus olhos viram tua pessoa. Arranco o coração do peito para que ele seja morto antes de amar a um Montecchio. Chamarei meus parentes para que o matem. – Julieta falava chorosa. Bianca assistia a tudo incrédula. O que ela tinha feito com a história?

- Em teus olhos há mais do perigo do que em vintes punhais de teus parentes. Chame-os! Conjure a presença pérfida de teu primo aqui! Prefiro ter cerceado logo a vida pelo ódio deles, a ter longa vida sem o amor de minha doce Bianca.

Aquilo definitivamente não estava acontecendo. Instantes depois, Bianca viu Romeo saltar o muro e ganhar rua. Não podia continuar ali também. Caminhou até o portão e saiu da casa. Seu coração estava acelerado e suas faces coravam como nunca. Romeo estava mesmo apaixonado por ela? Tentou pensar o que tinha feito para que ele se apaixonasse. Tinha chutado a canela dele. Nada romântico. Tinha o mandado encontrar com Julieta. Nada romântico também. Tinha dançado com ele. Isso tinha sido um pouquinho romântico. Depois cantara... Não podia ser a música. Podia?

Bianca pensava nessas coisas enquanto corria pela rua florida. Apesar de cobrir o nariz, sua alergia já se manifestava e ela começou a espirrar. Já estava no meio do caminho quando os espirros se tornaram incontroláveis. Ela espirrava tanto que até já estava lacrimejando. Sua visão estava meio embaçada e ela tropeçou. Praguejou quando ouviu alguém se aproximar. Ouvia barulho de cascos e pensou em um cavalo. Ficou surpresa ao perceber que era um pequeno burro. O cavaleiro era igualmente pequeno, mas bem gordinho tornando o trabalho do animal mais difícil.

- Eia! Quem vem lá? – o idoso perguntou.

- Ninguém. Continue o seu caminho, senhor. – Bianca falou querendo que o homem sumisse e assim ela pudesse seguir o caminho das flores.

- Isso não é maneira de se dirigir a um homem de Deus. – ele continuou o discurso, mas ela parou de prestar atenção. Mordeu o lábio. Seria arriscado, mas ela já imaginava quem ele era.

- Frei Lourenço? – arriscou e o homem parou de falar.

- Sejas clara, minha filha. Meus ouvidos velhos se enganam com a doçura de tua voz. – Bianca franziu o cenho. Até os freis falavam em versos! – És amiga ou inimiga.

- Amiga! Amiga com certeza. Preciso de muita ajuda, senhor Frei. Mal posso acreditar que o encontrei. Mas devo sair daqui antes que o Tebaldo venha atrás de mim.

- Fala do Capuleto? Tebaldo Capuleto? – o Frei perguntou curioso já olhando para o fim do caminho.

- Necessito um lugar para me esconder. É urgente. Contarei tudo o que quiser saber, mas me tire daqui, por favor!

- Não encha seu coração de medo e terror, filha de Deus. Caminhe comigo e um lugar seguro encontraremos em breve.

Ele lhe deu uma capa semelhante ao que os freis usavam e ela o vestiu por cima da roupa ignorando o cheiro estranho que tinha. Bianca o acompanhou1 nervosa e aliviada ao mesmo tempo. O Frei a guiou em silêncio pelas ruas. Ele a levou por uma porta secreta para dentro da Igreja e depois para um quarto espartano.

- Agora me expliques o motivo do encontro de nossos caminhos que já não me aquieto. Quem sois, filha, para vir assim pedir meu auxílio?

- Meu nome é Bianca Baristieri.

- Dos Baristieri da vinícola? – Frei perguntou com o cenho franzido. Bianca revirou os olhos. Ela puxou a roupa de frade pela cabeça e se sentou na cama em seguida. Frei Lourenço não conseguiu disfarçar a curiosidade diante das roupas estranhas de sua interlocutora.

- Não sou de Verona, frei. Aliás não sou da Itália.

- Pois que vejo. És bastante diferente das moças que vejo. Leva uma estranha indumentária. – Frei Lourenço puxou uma cadeira e se sentou perto da cama.

- Posso lhe falar em confissão, Frei? – Bianca não era católica, mas queria ter certeza de que o Frei não falaria nada a não ser que ela permitisse. Ele concordou.

- O que atormenta a sua alma, filha?

- Frei, acho que cometi um terrível erro...


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