No dia seguinte ao da festa, eu acordei extremamente feliz, todo sorrisos e assobios. Todos que passavam por mim pelos corredores me olhavam de forma estranha, porque eu sempre parecia mal-humorado e de repente estava todo alegrinho.

Cheguei ao Salão Principal com os olhos cravados na mesa da Grifinória, procurando por um rosto em especial. Não me decepcione ao encontrar dois grandes olhos castanhos a me fitar. Sorri largamente para ela, que deu um sorriso envergonhado também e logo baixou o olhar com as costumeiras bochechas rosadas.

O que foi agora? Será que eu beijo tão mal a ponto dela ficar com vergonha?

Me sentei no meu canto isolado da mesa da Sonserina, pensando no beijo que dei nela. Minhas mãos em sua fina cintura, sua respiração quente tão próxima a mim... e aqueles lábios macios, sua lingua brigando por espaço com a minha...

Suspirei ao lembrar da corrente elétrica que percorreu meu corpo no momento em que nossos lábios se tocaram. Se eu parasse para analisar a situação, perceberia que essa mesma corrente sempre percorria o meu corpo quando eu a tocava, mesmo que um simples encostar de braços provocava essa reação em mim, porém em uma intensidade bem menor.

Eu realmente estava perdido!

Não era simples paixão ou até mesmo desejo o que eu sentia por Mione, ontem á noite eu acabei por constatar que era amor, um amor ardente e consumidor que tomou posse do meu coração. Como fui idiota a odiando por todos esses anos! Agora vejo o que eu perdi, mas de uma coisa eu tenho certeza, não perderia mais nenhum tempo. Faria tudo que estivesse ao meu alcance para conquistar Hermione. O primeiro passo eu já tinha dado, afinal aquele beijo não foi qualquer coisa. A sua amizade eu já tinha, bastava agora mostrar a ela que não queria ser apenas amigo dela. Claro que se ela não gostar de mim da mesma forma eu a respeitarei e aceitarei a sua amizade, mas tudo que eu não posso suportar é perdê-la por completo.

Arrisquei mais uma olhada para a mesa rubro-dourada á procura dela. Infelizmente, o que encontrei foi um Ron Weasley me encarando com um olhar de puro ódio e virando-se para a Hermione, chamando-lhe a atenção.

- Mas que droga! - só percebi que tinha dito aquilo alto quando vários sonserinos viraram suas cabeças para o meu lado, mas não me importei com isso.

Será que aquele ruivo não se tocava que Hermione não queria ela nem pintado de ouro?

Ela não gostava mais dele... espera um minuto... me lembrei de algo

– Hermione, me fala, você... gosta de algum menino neste círculo?

Droga, eu tinha esquecido da pergunta que Harry fizera para ela no jogo de verdade ou desafio. Será possível que ela... não, isso não era possível, ela nunca iria gostar de alguém... ela era boa demais pra...

Por um momento, um maldito momento, meu coração se acelerou com a possibilidade, mas logo em seguida foi massacrado quando consegui ver o que estava bem na frente do meu nariz empinado... Talvez ela apenas ainda nutrisse algum sentimento pelo garoto sentado ao seu lado.

Perdi a fome ao pensar nisso e me levantei um tanto cabisbaixo com a minha nova teoria. O que piorava tudo, era o fato de eu não ter ninguém para desabafar, ninguém para falar sobre, a verdade é que eu não tinha nenhum amigo e só fui perceber isso agora. 

Subi a té a minha sala comunal, peguei meu material e me dirigi para as estufas para a aula de Herbologia. Percebi que ainda estava cedo, então me sentei embaixo de um carvalho que havia ali perto e me pus a desenhar. Desenhar me acalmava, me fazia esquecer de algumas coisas. Eu traçava linhas e mais linhas com a minha pena e o meu pergaminho e só percebi o que estava fazendo quando vi uma réplica pobre do rosto de Hermione a me encarar.

Merlim, até quando não estou pensando em nada, ela aparece. Estou começando a cogitar que alguém colocou um feitiço anti-remoção na minha mente, porque só assim para eu não conseguir tirar aquela garota da minha cabeça.

- Vejo que alguém andou tomando uma poção do amor das bravas! - ouvi uma voz ás minhas costas e me virei sobressaltado

- Do que você está falando? - me fiz de desentendido, escondendo o desenho

- Me engana que eu gosto Malfoy - riu Harry - Eu vejo o jeito que você olha pra ela

- Ela quem?

- Vamos ser irônicos agora?

- O que deu em você Harry?

- Em mim nada, em você pelo contrário... - continuou rindo - Seu idiota, não percebe que ela tá caidinha por você?

- Ah claro, e o Flitwick tem 1,80m

- Deixa de ser burro Draco, eu meio que percebo essas coisas com as pessoas ao meu redor

- Do mesmo jeito que só percebeu que a Gina estava apaixonada por você no 6º ano? - dessa vez foi a minha vez de rir da cara de vencido dele

- Ok, ponto para você nessa, mas é sério, desede o começo do ano que eu tenho notado isso nela. Você é o único cego que ainda não viu isso, e ela é tão cega quanto você por não perceber o quanto você gosta dela

- Quem gosta de quem? - perguntou Hermione chegando ao lado de Harry

- Hã... hum... ah...é... - tudo que consegui fazer foi gaguejar, e sim, eu estava corado

Harry começou a rir descontroladamente e disse que iria procurar por Gina.

- O que deu nele? - perguntou Mione

- Sério que você não percebeu ainda?

- Percebi o quê?

"Que eu estou perdidamente, completamente, irrevogavelmente e todas esssas drogas de mente apaixonado por você" 

- Que seu amigo tem problemas? 

- Ah, isso eu já  tinha notado, mas não se preocupe, apesar de ser incurável, não pega - disse sorrindo

- Assim espero

A professora Sprout logo nos chamou para a estufa 3 e fomos trabalhar novamente com raiz de mandrágora, mas dessa vez estudaríamos outras propriedades dessas simpáticas plantinhas.

As aulas do período da manhã e da tarde passaram rapidamente quando eu estava com Hermione, e pareciam demorar uma eternidade quando não tínhamos aula juntos.

Hermione parecia ir perdendo a timidez aos poucos e voltando ao normal no decorrer do dia. Pensei seriamente em perguntar o que havia de errado com ela, mas não tinha coragem. A garota parecia bipolar, uma hora estava toda elegre, conversando, em outra hora estava carrancuda e pensativa, não queria papo comigo de jeito nenhum.

Num desses momentos de "gelo" dela, estávamos andando até a sala de Aritmancia (sim, pra poder ter mais tempo com Mione, eu havia me inscrevido nas mesmas aulas que ela) ela simplesmente virou-se para mim, segundo o colar que havia dado a ela na última noite e que estava pendurado em seu pescoço. Percebi seus olhos cheios de lágrimas que não caíam e em preocupei. Ia perguntar o que havia de errado, mas ela foi mais rápida.

- Obrigada por isso - disse segurando o colar - Você não sabe o quanto significa para mim... isso sempre me faz lembrar do Dumbledore

Tive um pequeno momento de desconforto por lembrar que quase havia tentado matá-lo. Mas Hermione me fez esquecer disso ao se aproximar de mim para me dar um beijo na bochecha. E eu, idiota, virei o rosto sem querer (sim, realmente foi sem querer) e seus lábios tocaram os meus por um breve segundo. Ao perceber o que tinha acontecido, Hermione encarou meus olhos e saiu andando apressada e envergonhada para a aula de Aritmancia, antes mesmo que eu tivesse a chance de me desculpar pelo acidente (é sério gente, foi um acidente, um delicioso acidente, mas mesmo assim...)

O resto do meu dia foi focado naquele pequeno selinho não intencional, e na já familiar corrente elétrica que me percorreu naquele momento.

Logo já estava na hora do jantar e eu como de costume, me isolei de todos e comecei a comer, ainda pensando no que Harry tinha me dito.

Será que era verdade aquilo, ou era apenas paranoia da mente dele?

Olhei para o lado ao perceber alguém se sentando perto de mim.