Era estranho, por onde quer que eu fosse, um par de olhos grandes e castanhos parecia me seguir. Eu tentava fugir da tentação daqueles olhos que me fitavam com uma profundidade que parecia ir até o âmago do meu ser. Agora era tarde, quando dei por mim já não queria mais me afastar deles, seus mistérios me intrigavam mais que tudo. Eu faria da minha missão de vida desvendar todos os segredos escondidos naqueles olhos, os olhos da minha amada.

Acordei, sentando-me em minha cama extravagantemente grande. Tomei um banho rápido e me vesti, estava pronto para ver aqueles olhos castanhos profundos novamente. Dessa vez eles seriam reais, e viriam acompanhados de sobrancelhas levemente arqueadas, um nariz perfeito e lábios tentadoramente rosados, todos agrupados no conjunto que formava o rosto mais bonito e atraente que eu já vi.

Já fazia uma semana que estávamos em Hogwarts, uma linda e feliz semana ao lado dela. As nossas diferenças haviam sido postas de lado de uma vez por todas. Até mesmo Harry Potter tornara-se um colega "suportável", nós não nos desentendíamos mais. Weasley por outro lado, era uma forte resistência á minha presença, fato que resultou em Hermione e ele quase nunca estarem juntos já que, como monitores, a maioria de nossas tarefas eram feitas juntos (para a minha felicidade).

Caminhei lentamente até o quarto de Hermione, e bati á sua porta.

- Hermione, já está acordada?

- Sim, pode entrar Draco, já estou quase pronta

Girei a maçaneta e adentrei em seu quarto, logo sendo atingido por um agradável aroma de flores silvestres. Seu quarto não era muito diferente do meu, a disposição dos móveis era a mesma, apenas as cores mudavam do verde e prata da Sonserina para o vermelho e dourado da Grifinória.

Ela estava parada de frente para um espelho em um canto do quarto, penteando os já bem arrumados cabelos castanhos. Fiquei lá, parado no meio do quarto, hipnotizado por ela, tomado por uma vontade repentina de pegá-la nos meus braços e beijar os lábios em que ela agora passava um brilho labial. Aposto que estava com uma cara de bobo alegre enquanto admirava a beleza que ela nem parecia perceber possuir.

- Draco, está tudo bem? - perguntou tirando-me de meu devaneio

- Ah, sim... sim, está tudo bem. Você está pronta?

- Sim, vamos? - disse ela pegando a mochila estufada de livros.

- Aqui, deixe que eu carregue isso para você - eu peguei a mochila sentindo o peso que provavelmente equivalia ao dela própria. - O que você leva aqui? Chumbo? - perguntei fazendo-a sorrir

- Apenas os livros de que eu preciso. Deixa que eu levo - disse tentando pegar a mochila de volta

- Não, eu me sentiria um idiota se deixasse você carregar isso por aí enquanto tudo que eu levo é isso - disse estendendo minha mochila com apenas alguns rolos de pergaminhos e penas.

Chegamos cedo para a nossa aula de Poções. O professor Slughorn agora ocupava o cargo de Mestre de Poções, como vinha fazendo desde o meu sexto ano.

Eu não podia evitar me sentir mal toda vez que adentrava aquela masmorra. Tudo ali me lembrava Snape e a forma como ele morreu, a forma como ele tentou me proteger de cometer o assassinato de Dumbledore. Podiam dizer tudo a respeito dele, mas eu nunca deixaria de admirá-lo por sua força e coragem. Afinal de contas, Severo Snape morreu como um herói, não como o vilão ardiloso que todos pensavam que ele era. Snape morreu por amor, ele amava Lily Potter, e por isso ajudou Dumbledore a proteger o filho do homem que ele mais odiava e conseguir assim, preservar a memória de Lily. Ele fez tudo isso para descobrir no final que Harry  Potter deveria morrer pelas mãos do Lord das Trevas. Eu não havia errado em ter gostado dele desde o começo, mesmo que pelos motivos errados. Snape agora era meu herói, um exemplo que eu esperava poder seguir.

Hermione também parecia um pouco perturbada no inicio da aula, mas foi relaxando á medida que começava a separar os ingredientes para preparar a poção que o professor havia pedido. Quase no meio da aula, Harry e Ronald entraram correndo na sala atrasados como de costume e exibindo caras amassadas de sono e cabelos que mais pareciam ninhos de fênix. Eles sentaram-se na mesma mesa que eu e Hermione ocupávamos.

- O que nós perdemos? - perguntou Harry, e Hermione logo começou a discorrer em uma explicação do que o professor havia nos pedido.

Rony não parecia muito interessado nas explicações que Mione dava a Harry, mas, tampouco olhou pra mim, que estava sentado ao lado dela.

O restante de nossas aulas correram normalmente até a hora do almoço. Hermione e eu estávamos saindo da aula de adivinhação da professora Trelawney, á qual ela ainda achava uma perda de tempo, porém, não querendo perder nada em seu último ano decidiu retomar a matéria.

Andávamos lado a lado pelo caminho até o Salão Principal, em um silêncio confortável, tranquilo, cada um envolto em seus próprios pensamentos. Quando chegamos ás grandes portas de madeira, despedi-me dela com um beijo na bochecha, deixando-a um pouco corada e dirigi-me para a mesa da Sonserina enquanto ela ia até Gina e Neville na mesa da Grifinória.

Eu agora fazia as minhas refeições sozinho, nenhum dos meus antigos colegas Sonserinos queriam a minha companhia desde que eu começara a me enturmar com os amigos de Hermione. Sempre ficava isolado em um canto da mesa, e ninguém se atrevia sentar-se ao meu lado. Eu sinceramente não me importava com isso, uma vez que sempre que pensava sobre o assunto, um ditado trouxa passava pela minha cabeça: "antes só do que mal acompanhado". O que realmente me incomodava era o fato das antigas rixas entre Grifinória e Sonserina não terem sido deixadas para trás junto com a Guerra de Hogwarts. Eu sou uma prova viva que o grifinórios bem que tentavam, mas os sonserinos não davam nenhuma brecha para a aproximação.

Eu passei todo o meu almoço abservando Hermione. Era incrível o fato de eu não poder manter meus olhos longe dela. Eu prestava atenção em tudo á sua volta, ela, seus amigos, ela, os muito rapazes que a olhavam com o que eu podia chamar de interesse (aquilo realmente me deixava doente de raiva). Mas dentre todos os seus admiradores, o que mais me intrigava e preocupava, era seu ex-namorado Rony Weasley. O garoto de cabelos de fogo não parava de encarar Mione com um olhar de frustação, que eu só podia julgar como sendo pelo término do namoro dos dois.  

Quando conversávamos sobre o assunto, Hermione dizia que Rony estava conformado com a separação dos dois, que ele sabia que eles haviam confundido a amizade deles com amor. Eu não caia muito nessa de amigo conformado, mas fazia um esforço porque Mione gostava do garoto.

A minha última aula seria um período vago de Defesa Contra as Artes das Trevas, que, por incrível que se pareça, ainda não tinha um professor para o cargo. Hermione também teria essa aula comigo, então decidimos ambos voltar para a nossa Sala Comunal para começar a adiantar a crescente pilha de deveres de casa que já tínhamos.

- O que você acha Draco?

- De quê? - perguntei meio confuso

- Eu estava relembrando o nosso quinto ano quando Harry nos ensinava DCAT na Sala Precisa. Então eu pensei se... bem, nós todos temos experiência o suficiente com a matéria, então pensei que seria legal se nós nos reuníssemos para praticar... é óbvio que ninguém precisaria de um professor, mas se passarmos muito tempo sem praticar feitiços defensivos, nós podemos... você sabe... acabar ficando meio enferrujados.

- Quando eu penso que não posso esperar nada mais de você, eu me surpreendo de novo

- O quê? Você achou a minha ideia ruim? - perguntou meio receosa

- Ruim? Hermione Granger, você é a pessoa mais brilhante de todo o universo! - disse com um sorriso que ia de orelha a orelha, fazendo com que as suas bochechas de porcelana ficassem em um adorável cor de rosa.

- Bem, eu acho que como monitores chefes, nós devemos nos encarregar disso

- Concordo plenamente, amanhã mesmo eu posso ir até a McGonagall e conversar com ela sobre o assunto.

- Sério? Você faria isso por mim? Eu tenho que conversar com os outros para ver o que eles acham da ideia...

- Não existe nada que eu não faria por você Mione, nada.