A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 9
Familiar


Notas iniciais do capítulo

Capitulo escrito por BubblesChan !



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# 16/05/2001

# 09:05 – Quarto

Minha mãe acordou-me hoje com uma notícia um tanto inesperada. Disse que meus tios estavam na cidade. Eu pouco sei sobre eles, é de meu conhecimento que se mudaram para o Canadá quando eu ainda tinha oito anos. Desde então eles viviam por lá. Não faço a menor ideia do que os fez mudar de ideia e voltar para um lugar como este.

# 16/05/2001

# 21:45 – Quarto

Sinto muito por não ter relatado nada durante a tarde, devo dizer que tempo foi uma coisa que não me sobrou muito hoje. Devido a chegada de meus tios, mamãe está os ajudando com a mudança. Eles alugaram uma casa há umas duas quadras de distância daqui, só que pretendem reforma-la. É estranho que eles tenham pagado aluguel, ouvi dizer que eram ricos. A família de minha mãe é a parte mais “abastada” da minha genealogia. O casamento com meu pai só dificultou as coisas, ele era pobre, e minha avó nunca o aprovou. Mesmo assim, minha mãe nunca deixou de ter contato com a irmã mais nova, que se casou com um canadense de grandes posses.

Hoje a professora anunciou que seríamos “agraciados” com a presença de um novo aluno. Mal me virei para observá-lo e aquele ser correu em minha direção, me abraçando fortemente, quase me deixando marcas. “Estelinha!” Ele exclamou. Um sorriso envergonhado brotou em meu rosto. Todos nos olhavam, a professora ficou visivelmente envergonhada, pelo visto ela pretendia o apresentar para a turma inteira.

– Vejo que já se conhecem. – Disse entre dentes. Assenti com a cabeça e voltei a meu lugar. A professora sugeriu que ele se sentasse à minha frente, na cadeira vazia que nunca ninguém ousou tocar. Pablo sempre foi muito simpático e atencioso, passou a aula inteira conversando comigo por bilhetes. No intervalo encheu-me de histórias sobre o Canadá, os amigos que fez, as comidas que provou, as músicas que compôs. Ah, sim, esqueci de falar sobre isso. Além de rico, meu primo tem muitos talentos. Toca piano, canta e desenha magnificamente. Ele sempre foi o orgulho da família, diferente de mim, claro.

O que mais admiro é que aparentemente ele nunca mudou, pelo menos comigo. Mesmo tendo tantas coisas para se vangloriar, nunca o fez. Ele foi uma das poucas pessoas que eu sentia que gostava de mim, alguém que talvez eu pudesse “confiar”. Sempre fomos muito próximos um do outro, éramos inseparáveis quando mais novos. Compartilhamos diversas experiências, inclusive o primeiro beijo. Ele me ensinou a me defender dos meninos mais velhos no primário. Sinto-me um pouco inútil agora, talvez se eu tivesse me imposto mais, o escutado mais, eu não estaria em uma situação como essa.

Ele me acompanhou até em casa, no fim de tarde. Pediu para que eu contasse sobre minha vida, porque ele não tinha parado de falar um minuto sobre si. Tentei ao máximo não falar muito sobre as coisas que sofro, mas aparentemente não consigo mentir para ele. Sempre fomos tão amigos que me senti confortável para confessar tudo. Ele me escutava boquiaberto, acho que a única coisa que o poupei foi o estupro. Nem eu mesma gosto de lembrar sobre isso. Ele me abraçou e pediu – quer dizer, implorou – para que eu confiasse nele. Disse algo que me corroeu por dentro e me encheu de más lembranças: “Quero que me deixe te proteger.”

Provavelmente ele não sabia que aquelas palavras teriam um impacto tão grande mim. Naquele momento eu apenas o abracei, não lhe disse nada. Ele acariciou meu cabelo por alguns minutos e puxou meu rosto para que eu o encarasse, dando um beijo casto em meus lábios. Não entendi exatamente o que aquilo significou para ele, talvez nada. Senti algo estranho dentro de mim, algo que não conseguia identificar. Quando entrei em casa mamãe ainda estava fora, ajudando na mudança. Me deitei na cama e permaneci aqui até agora, com aquele gesto e aquelas palavras ecoando em minha mente.

Mas eu deveria confiar nele, diário?
 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam do Pablo?
Próximo capitulo: Beijo da morte



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