On My Way escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 2
On My Way II


Notas iniciais do capítulo

Oi geeente!
Como eu disse... Eu não iria me prolongar no final e esse é o último capítulo, espero que gostem!
(Se puderem, escutem Chasing Cars, Snow Patrol)
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/200953/chapter/2

“EU AINDA NÃO CONSIGO ANDAR! VOCÊ DISSE QUE SERIA TEMPORÁRIO!” A voz inconformada de Quinn e as lágrimas que estava escorrendo em seus olhos estavam parecendo ainda mais dolorosas e mais intensas para mim. Quinn olhou do Dr. Gerritsen para mim com uma expressão acusadora e eu abaixei a cabeça, sentindo todo o peso da culpa cair em meus ombros... Ela não estaria ali senão fosse por minha causa.

Claro que eu fingia que aceitava a ideia de que o acidente tinha sido um evento do destino e também fingia ouvir quando Kurt me dizia que eu não podia prever uma caminhonete passando na frente de Quinn... Mas não eram eles que estavam todos os dias com ela e também, não eram eles que estavam vendo Quinn enfrentar dia após dia, sentindo dores e mais dores que não culminavam em sua memória.

O cansaço e o desânimo dela me atingiam, mas eu não podia ceder e sair correndo. Eu tinha que ser forte, era a minha vez de apoiá-la e de reerguê-la.

“Srta. Fabray, você obteve progressos significativos nesses dois meses de fisioterapia... Mas não vai sair andando de uma hora para outra, você mal começou a sentir suas pernas!” O Dr. Gerritsen estava sendo severo com ela e aquele não seria o melhor caminho. Quinn estava ferida emocionalmente, não poderia voltar as Cheerios naquele ano e tudo era culpa minha. Minha e da minha pressa inútil.

Olhei culpada para Quinn e os olhos vermelhos dela encontraram os meus, abaixei a cabeça e saí dali, precisando respirar fundo. Quinn me chamou de volta, mas eu precisava de um tempo.

Um tempo para me acostumar com o fato de que eu destruí o sênior year da minha amiga por causa de um casamento que não aconteceu. Talvez eu devesse nunca ter tentado ser amiga de Quinn, talvez eu não devesse ter antecipado o casamento... Eu poderia estar vendo-a nos Nacionais com as Cheerios naquele momento, junto com Santana e Brittany, com aquele sorriso enorme nos lábios enquanto dava piruetas e saltos pelo espaço... Será que ela voltaria a ser cheerleader um dia?

Abracei meus ombros e escorei na parede fria, respirando fundo e fechando meus olhos. Eu estava cansada de ver Quinn naquele estado, só eu permaneci acompanhando-a a todas as consultas e terapias, os outros do Glee a tinham abandonado como sempre e a sua mãe estava trabalhando o máximo para pagar tudo. Eu estava tentando corrigir meus erros, mas como? Minha melhor amiga estava gritando dentro daquela sala e eu mal conseguia olhar para ela sem conseguir chorar...

Dr. Gerritsen saiu minutos depois com uma expressão cansada e massageando as têmporas, tentei dar um sorriso para ele quando nossos olhares se encontraram, mas as lágrimas caíram e o médico apertou meu ombro em um silencioso gesto de apoio enquanto virava as costas e caminhava com os ombros caídos pelo corredor.

Até o Dr. Gerritsen, o médico mais otimista que eu conhecera, estava cansado. Não restava mais ninguém para Quinn.

Meu celular vibrou em meu bolso enquanto eu entrava na sala. Meu olhar chegou a Quinn que estava escorada a cama, chorando silenciosamente de cabeça baixa. Eu me apoiei na parede para não chorar ainda mais, respirei fundo e pesquei o celular dentro do bolso.

Finn Hudson.

Bufei furiosa e joguei o celular no bolso de novo, ignorando o toque e retomando meu caminho para Quinn. As coisas entre eu e Finn estavam tensas depois do fim do noivado, ele exigia que eu participasse mais ativamente do Glee Club e nos preparasse para as Nacionais. Mas eu prometi a mim mesma que não faria aquilo enquanto Quinn não voltasse a ficar em pé. Finn só queria me irritar e me desestabilizar, ele não admitia que eu terminara com ele depois de tudo que ele falara sobre Quinn. Aliás, ele era um dos que menos se importava com o estado de Quinn. Não fazia questão de ajudá-la enquanto ela conduzia a cadeira de rodas pelo McKinley High.

Quando eu respirei fundo e ergui os olhos, Quinn me observava apreensiva. Eu dei um sorriso, enxugando minhas lágrimas esquecidas e sentei na cama ao seu lado, puxando suas pernas para mim enquanto ela fazia uma careta. Afaguei suas pernas por cima do tecido da calça azul do hospital e nós duas ficamos em silêncio. Depois comecei a massageá-la inconscientemente e Quinn pigarreou, antes de perguntar:

“Surtei de novo, não foi?”

“É normal, Quinn... Você quer a sua vida de volta.” Eu respondi séria e tentando não bronqueá-la, tudo que ela não precisava era que alguém a abandonasse e eu seria a última por ela. Quinn arqueou a sobrancelha daquele jeito adorável e eu dei um sorriso cruel. “A vida que eu tirei de você, na verdade.”

“Não diga mais isso, Rachel.” Quinn retrucou com a voz fria e a expressão dura, olhei para ela e lágrimas escorreram mais uma vez. A loira fez um pequeno beicinho insatisfeito enquanto secava minhas lágrimas com os polegares. Os ferimentos em sua mão e em seu rosto estavam cicatrizados, mantive sua mão próxima ao meu rosto com um toque sutil em seu pulso. Quinn sorriu triste agora e inclinou a cabeça, olhei para ela e disse inquieta:

“Nada do que você disser vai mudar a minha culpa por ficar te bombardeando com mensagens enquanto você já estava nervosa o bastante por estar atrasada.”

“Você não sabia onde eu estava, Rach... Eu que fui irresponsável, como você sempre disse, por dirigir e teclar sms ao mesmo tempo. Se há uma culpa num incidente sem controle como esse, a culpa é minha.” Quinn falou séria enquanto me olhava fixamente e afagava meu rosto com delicadeza em movimentos circulares de seus polegares, inclinei a cabeça sobre a mão dela e retribuí seu olhar. Sentindo-me mais leve, porém, ainda culpada. Quinn franziu a testa, insatisfeita. “Pare de se culpar, Berry... Ou eu te proíbo de vir aqui, por mais que a ideia de ficar sozinha enfrentando tudo não me agrade.”

Quando Quinn disse aquelas últimas palavras, eu entendi que sua frustração não era apenas por não estar conseguindo andar antes das Nacionais e sim, por estar praticamente sozinha naquilo tudo. Eu olhei para ela por entre as mechas de minha frente e apertei sua perna enquanto me aproximava para abraçá-la, Quinn deu uma gargalhada diante da minha demonstração de afeto exagerada e eu a apertei ainda mais, num sinal mudo para que ela se calasse. Permanecemos assim por muito tempo, afinal, éramos apenas nós contra tudo. Seria assim dali pra frente. Me afastei dela lentamente e chacoalhei seus ombros e entre risadas, bronqueei:

“Eu não vou te abandonar, ok? E você sabe quão sincera Rachel Berry é.”

Quinn deu um daqueles sorrisos contidos, ainda de cabeça baixa. Levantou os olhos lentamente para mim e pegou minha mão, afagando-a enquanto eu deslizava as minhas sobre suas pernas. Nós duas nos olhamos entre sorrisos e eu percebi que eu sempre quis aquilo, apenas nós duas, independente de como ou onde, mas nós duas contra tudo. Até contra uma paralisia temporária.

Eu não ia deixá-la cair e ela não deixaria a culpa me tomar.

Quinn subiu seu toque pelo meu braço e chegou em meus ombros, ali ela ficou séria e se aproximou minimamente, apenas para se ajeitar nos travesseiros e me puxar com ela. Deitei minha cabeça em seu peito antes de ajeitar suas pernas com cuidado sobre a maca, Quinn brincou com minhas cabeças enquanto eu brincava com o tecido leve de sua camisa folgada.

Aquela intimidade natural que surgira depois de dois meses juntas. Noites passadas com ela, debruçada em sua cama do quarto. Sessões dolorosas na fisioterapia, secando suas lágrimas que caíam enquanto os médicos faziam exercícios de reflexo em suas pernas. Tardes assistindo os filmes mais idiotas que a programação do hospital podia ceder. Madrugadas secando suas lágrimas após os seus pesadelos com o acidente. Quinn me consolando quando eu fraquejava. Eu dando forças que nem achava que pudesse existir em mim.

Companheirismo, carinho, preocupação... Eu estava uma bagunça, mas só me sentia arrumada quando estava com ela e quando via aquele sorriso se abrir diante de uma caixa de bombons contrabandeada para dentro do quarto ou um ursinho de pelúcia que eu trazia para lhe fazer companhia quando não podia passar a noite com ela.


Eu não sabia e muito menos entendia o que cresceu entre nós, mas parecia certo, porque me fazia feliz e fazia Quinn feliz.

Quinn respirou fundo em meus cabelos e eu apertei o tecido de sua camisa antes de me levantar, a loira resmungou irritada com meu afastamento e eu apertei suas bochechas enquanto dizia rindo:

“Chega de folga, Fabray. Vamos voltar ao trabalho.”

“Ah não, Rachel!” Quinn protestou indignada e cruzando os braços sobre o peito, apoiei minha mão ao lado de sua cabeça e debrucei meu corpo, desfiz o nó de seus braços entre risadas enquanto ela ficava cada vez mais emburrada. Quinn Fabray era extremamente teimosa quando não queria fazer os exercícios, dei uma cutucada em suas costelas e ela riu, sentindo cócegas. Depois, apanhei sua mão e beijei a palma antes de oferecer:

“Se você conseguir caminhar até mim apoiando-se nas barras, eu faço qualquer coisa.”

“Qualquer coisa?” Quinn perguntou arqueando a sobrancelha com um ar interessado, eu revirei os olhos e acenei com a cabeça. E ela quase pulou da cama para o chão. Segurei-a firme pela cintura e a apoiei até chegarmos ao aparelho que consistia em duas barras de ferro na qual ela se apoiava na tentativa de caminhar.

Quinn apanhou as barras com familiaridade, quando vi que ela estava segura ali, corri para o outro lado e sorri para ela. Bati palmas e Quinn revirou os olhos, entediada, ignorei esse comportamento mal-educado dela e encorajei:

“Venha pra mim, Fabray.”   

Quinn deu um pequeno sorriso e respirou fundo, apertando as barras com tal força que suas mãos estavam até brancas. Fiquei a observando em silêncio, dando todo o tempo do mundo para Quinn se concentrar. Seus cabelos estavam sobre seus olhos enquanto ela forçava uma das pernas a ir para frente. Quinn deu o primeiro passo sem muita dificuldade.

No segundo, ela desequilibrou-se e quase caiu, corri para socorrê-la, mas ela agitou a cabeça negativamente e ergueu o corpo com uma força sobre-humana. Arregalei os olhos para ela, ainda próxima e ela deu um daqueles sorrisos convencidos, antes de dar de ombros e me mandar se afastar para a outra extremidade.

Assisti a tudo calada, com o coração batendo forte e quase pulsando para fora do peito. Eu tentava canalizar toda a minha força e segurança para mandar para ela, em uma espécie de troca de energia. Quinn continuava seu percurso, ora devagar, ora rápida. Ora fazendo caretas de dor e em outras, sorrindo satisfeita com o próprio desempenho.

Estávamos próximas agora, faltava apenas um passo. Estendi meus braços ao lado do corpo dela, mas não a toquei. Quinn parou para respirar e sua testa estava suada, os braços tremiam por apoiá-la o tempo todo e as pernas pareciam moles e cansadas. Mas eu sabia que ela não ia desistir. Quinn ergueu os olhos para mim e eu vi a obstinação dela dentro deles, limpei seu suor e lhe dei mais um sorriso. Quinn respirou bem fundo dessa vez e se movimentou.

E céus, ela tinha conseguido!

Quinn deu o último passo com sucesso e ergueu os olhos brilhando em lágrimas para mim. Eu coloquei as mãos sobre a boca e comecei a chorar, sem controle algum. Quinn gargalhou e soltou as mãos das barras, ficando em pé sem apoio algum. Chorei mais ainda e abaixei a cabeça, não acreditando.

Meu coração bateu aliviado em meu peito enquanto minha mente só conseguia ver Quinn Fabray novamente em pé a minha frente. Tinha me esquecido da nossa diferença de altura, mas ela fez questão de me lembrar quando deu mais um passo vacilante em minha direção e me abraçou, afundei a cabeça em seu colo ainda chorando enquanto escutava a gargalhada eufórica dela e a sentia afagar meus cabelos.

“Precisamos contar isso para o Dr. Gerritsen!” Murmurei animada demais e quase a derrubando quando saí de seu abraço. Quinn fez uma careta incomodada e fez que não com a cabeça, eu abri a boca para bronqueá-la e ela me interrompeu dizendo:

“Primeiro minha recompensa, depois o comunicado.”

“Mas Quinn, isso é...!” Eu não consegui terminar a frase, porque senti suas mãos em minha cintura e seus olhos esverdeados moverem para meus lábios. Inconscientemente, lambi os meus e aquela foi a deixa para que Quinn rompesse a distância entre nós.

Os lábios dela tocaram os meus delicadamente, ela segurou meu queixo com o dedo indicador enquanto afagava a minha cintura, a príncipio, fiquei confusa porque não parecia certo... Mas quando a língua dela passou sobre meus lábios e eu abri a boca, sentindo-a invadir e chupar minha língua. Eu perdi o foco, o rumo e a racionalidade. Enlacei seu pescoço com meus braços e ela riu da minha reação, mordendo meu lábio em seguida. Quinn se afastou de mim e eu tentei abocanhar seus lábios sem sucesso, ela riu do meu esforço enquanto se afastava e murmurou:

“Não se esqueça que temos uma deficiente aqui, Berry. Não abuse de mim.”

“Calada, Fabray. Você já está de pé e merece uma recompensa por isso.” Murmurei com um sorriso antes de me aproximar e dessa vez, ela não se afastou. Nossos lábios se tocaram mais uma vez e eu entendi o porquê de ela não querer meu casamento.

Afinal, Quinn era a única em meu caminho.

###

Quinn voltou a andar com sucesso dois meses depois, até hoje o Dr. Gerritsen me pergunta o que eu fiz para fazê-la caminhar com tanta rapidez. Eu sempre coro nesses momentos e Quinn me belisca na cintura, me deixando ainda mais sem graça.

Nós duas fomos para as Nacionais com o New Directions e vencemos o Vocal Adrenaline com facilidade nas finais. Santana e Brittany trouxeram o troféu das Nacionais das Cheerios e Quinn se surpreendeu ao ver que o nome que estava no troféu, como capitã, era o dela e não de Santana. Ela e a latina choraram por horas abraçadas ao troféu até que Quinn viu a apresentação e bronqueou Santana pelos movimentos obscenos da coreografia.

Após a formatura, todos nós tomamos um rumo... Mas ainda permanecemos em contato.

Finn ficou em Lima, cuidando da oficina de Burt como o previsto. Kurt foi para NYADA comigo e Blaine ainda está no McKinley, terminando seus estudos, pretende ser nosso calouro daqui a alguns anos. Santana e Brittany foram para Ohio State University, Santana faz Direito e Brittany está envolvida em alguns projetos de dança enquanto cursa Tecnologia em Alimentos. Tina e Mike vieram para NYC, Tina faz Jornalismo na NYU e Mike está dançando na Julliard. Sam e Mercedes foram para o Kentucky, ouvi dizer que Sam virou olheiro de uma universidade e Mercedes está cursando Moda. Artie está na NASA, cursava Engenharia quando descobriram seu potencial.

Eu vim para NYC e estou em NYADA com Kurt, dividimos um pequeno apartamento e eu já fiz alguns papéis na off-Broadway. Quinn foi para Yale (New England) e nunca mais pode voltar a torcer. Hoje, minha namorada é uma das melhores alunas de Yale. Já fez duas ou três peças e foi elogiada em ambas. Somos um casal artístico, por assim dizer.

No final, o casamento com Finn era um equívoco e o acidente acabou trazendo Quinn para mim. Foi da pior forma que o destino resolveu agir, mas hoje, vendo Quinn percorrer o palco correndo enquanto faz seus papéis magistralmente... Eu só posso agradecer.

Porque tudo deu certo e tudo ia ficar bem, ela era forte e eu estava disposta a tudo por ela.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam do final? Reviews?
Beijos e até mais.