Humana escrita por Stormborn


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Contém spoilers sobre a saga Edoras.

Boa leitura.



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Mystogan observava sua general com grande interesse. Seu cabelo escarlate esvoaçando ao vento frio de um dia de inverno, dançando de uma forma tão bonita quanto ele pensou que fosse capaz. Seus lábios se movimentando em câmera lenta, dizendo palavras que mal chegavam aos seus ouvidos e já preenchiam todo o seu interior. Ele estava, mais uma vez, sob os encantos daquela linda mulher.

Algo nela – talvez sua voz de sinos? –, fazia seu estômago se contorcer e seu cérebro dar cambalhotas desengonçadas, enquanto seu coração acelerava e batia dolorosamente contra o peito. Respirar estava ficando cada vez mais difícil.

Inspirando com dificuldade, ele notou a expressão da mulher a sua frente. Ela falava, falava e falava, mas nem mesmo ela parecia prestar atenção no que saia de sua boca. Parecia tão automática e absorta em pensamentos... Dificilmente suspeitaria de sua falta de atenção nos assuntos reais, nas reuniões...

Nada disso se comparava ao que ele queria ouvi-la falando.

E de repente, silêncio.

Fazendo cara de falso interesse, o Rei de Edoras viu quando sua Rainha assumiu uma habitual faceta de oficial, demonstrando o quanto deveria ser impessoal e impedir aquele olhar tremer ao encontrar o seu. Tanto fingimento... Pra quê, ó Kami-sama?

Mas Erza Knightwalker era uma boa mentirosa, ele tinha que admitir. Todo aquele ar de respeito, aquela distância – uma distância muito longa para que ele pudesse suportar por muito mais tempo... Enganaria qualquer um naquele mundo, menos à ele.

Não à um ex-membro da Fairy Tail.

Mystogan ouviu os sinos soarem mais uma vez. Ela lhe perguntava se ele havia escutado alguma coisa. Segurando com muito esforço um sorriso debochado – porque, oh, seria tão delicioso vê-la ofendidinha com a sua humanidade –, ele respondeu que sim. Erza ficou descrente e cruzou os braços na frente do peito.

Tão linda...

Ele queria tanto aquela beleza só pra si mesmo. Queria tanto aquela mulher falando baixinho no seu pescoço, arrepiando cada um dos seus pelos, apertando-lhe em um abraço, enquanto deixava seu cabelo cor-de-fogo ser acariciado pelas mãos ásperas de um homem marcado por lutas...

Kami-sama, não era questão de querer. Era precisar.

Nem mesmo com Wendy, por quem ele jurou, por muito tempo à si mesmo, que nutriu sentimentos além, ele se sentiu assim, tão entregue... Tão...

― Rei? ― Erza o estudou com respeitoso interesse e curiosidade.

Será que era tão difícil chamá-lo por Mystogan? Gerard? Em meio a um princípio de desespero, ele teve uma ideia bastante arriscada, que talvez fizesse sua general desistir daquele fingimento todo. Ou talvez, fizesse ela se afastar ainda mais dele...

Mas teria que arriscar, não?

Knightwalker pigarreou baixinho, esperando uma ordem su― Oh, é isso.

― Erza. ― Mystogan chamou-a de forma demorada, arrastando todas as letras manhosamente, sendo anormalmente sedutor. Ela se assustou com seu tom de voz, e isso ficou tão evidente, que ele não impediu um sorriso malicioso de brotar inesperadamente em seus finos lábios.

Foi algo íntimo demais para sua barreira de proteção, ele constatou e continuou, medindo cada uma de suas ações e palavras. Ligeiro, bateu com a mão direita no assento ao seu lado no sofá, divertindo-se com o corpo trêmulo dela, da sua mulher.

Erza suspirou e seguiu seu pedido mudo, ficando perto demais daquele homem...

Como, como se manter com uma postura militar diante àquele sorriso perigoso ocultando a fileira de dentes brancos do seu superior? Não havia um modo de escapar da humanidade tão bem escondida – mas que estrategicamente utilizada – dele. Não, não, não.

Seu lado robô tremia e entrava em estado paralítico com aquele olhar misterioso, mas ao mesmo tempo tão claro de suas intenções... Tão humano...

Quanto ela...

― Sabe... Você poderia ficar mais perto, Erza. ― Ele a ouviu ofegar. ― Isso é uma ordem. ― Eles se encararam com intensidade. Mystogan a provocava, enquanto ela se sentia sem escolhas a não ser a de obedecer.

Porque, oh, ela era um robô muitíssimo eficiente.

Aparentando uma falsa naturalidade, tão falsa que o Rei riu baixinho, mas por dentro queimando e tremendo, ela obedeceu a ordem, sem reclamar ou demonstrar insatisfação, como sempre fez. Uma corrente elétrica pareceu danificar seu cérebro quando ela sentiu o perfume dele. Tão...

Os dois não se olhavam, mas sentiam toda a tensão palpável no ar. Knightwalker podia jurar que ele sorria grandiosamente, como se acabara de ganhar um prêmio ou coisa melhor. E ela estava tão indefesa, tão exposta, tão...

Tão mudada por Erza Scarlet.

Sim, ela era a grande heroína dos dois. Mystogan devia toda uma vida de gratidão pela sua ex-companheira de guilda, que conseguiu deixar um pouquinho de Earthland em Edoras, para que ele não sentisse a terrível solidão. Ela conseguiu transformar uma mulher sádica em uma pessoa tão humana quando ele ou ela. K.walker, mesmo sem admitir, sentia uma enorme gratidão por isso também...

Então, por quê contrariar esse seu lado? O seu lado que queria mandar as formalidades para um buraco qualquer e enterrá-las de vez, para nunca mais serem necessárias. Porque ela precisava de alguém tão humano quanto ela aprendeu a ser.

E esse “alguém” queria muito acabar com todas as mentiras e barreiras.

Havia um silêncio constrangedor em que Mystogan estava mergulhado em pensamentos.

Seria tudo tão mais fácil se sua Erza fosse a outra...

Não, não, não.

Decidido a libertar a sua Rainha, e assim fazendo com que ela ficasse aberta ao amor – ao seu amor, – ele esticou a mesma mão com que a chamara, no ar, para enfim tocar e acariciar os sedosos e vivos cabelos ruivos. O Rei gostava tanto deles; os fios avermelhados davam cor ao seu mundo que outrora fora cinzento.

Observou atentamente as reações da mulher; ela ficou ainda mais tensa com a demonstração de carinho, mas, milagrosamente, relaxou pouquíssimo tempo depois, talvez disposta a aproveitar o que ele tinha para oferecer.

Talvez...

Mas aquilo não podia estar acontecendo.

Ora, Mystogan era o Rei de Edoras, ela... Era apenas a sua comandante, conselheira e assistente. Aquela intimidade... Não, não era permitida, não podia existir de forma alguma. Ela não podia se dar ao luxo de ser humana. Não, não com ele...

Maldita Scarlet que a deixara assim.

Recobrando um pouco do senso perdido, Erza afastou sem nenhuma delicadeza a cabeça dos dedos calejados de Mystogan que, após ficarem segundos no ar, caíram bem lentamente em cima de sua perna. Um silêncio desagradável se instalou no aposento que, depois de segundos angustiantes, foi quebrado pelos movimentos apressados de fuga de Erza.

Virando-se para onde ela agora se encontrava, o Rei viu o quanto o seu esforçado controle ruía pouco a pouco, enquanto ele acompanhava cada um de seus movimentos de endireitar o uniforme e os cabelos.

Por que aquela mulher era entorpecente?

― Rei... ― Os sinos badalaram firmes, decididos. Ele ficou intrigado. ― Me desculpe, não tenho mais nada para fazer aqui. ― Pausa. ― Posso me retirar?

O que ela tinha de linda, tinha de teimosa e resistente.

Mystogan a encarou com uma pontada de impaciência. Estava na cara – talvez nos olhos trêmulos e suplicantes, ou nos lábios entreabertos? – que ela não queria nada além do que ele também queria. Mas então, por quê, ele queria saber, complicar tudo?

― Não, não pode. ― Os olhos castanhos-avermelhados faiscaram. Erza, contrariada, virou-se de costas para Mystogan. Ele suspirou, cansado.

O Rei desviou o olhar dos cabelos ruivos e olhou pela janela; uma visão tão linda preenchia os céus, que o fez suspirar.

― Erza, o pôr-do-sol está tão bonito... ― Inconscientemente, ela compartilhou do que ele via, maravilhando-se e se esquecendo, momentaneamente, do que acontecia nos aposentos reais. Ele deu uma pausa necessária antes de continuar. ― O pôr-do-sol aqui em Edoras é muito mais bonito do que em Earthland... ― Disse vagamente.

E se tinha uma coisa que ele gostava mais do que o pôr-do-sol de Edoras, era o lindo cabelo escarlate de Erza esvoaçando ao vento frio de inverno, como ele estava naquele momento. Uma beleza muito rara e única. Mas o Rei não pôde apreciar aquela visão; estava absorto no que falaria a seguir.

A ruiva olhou-o de esguelha e viu uma expressão vazia, tão semelhante a que ele possuía nos primeiros meses como Rei. Mas que ela viu, aos poucos, transformar-se em algo tão caloroso, que ela foi tremendo por dentro. Ele agora encarava-a com intensidade.

Com a intensidade de alguém que viveu por muitos anos em Earthland... Um humano.

― Tenho uma ordem para você, Knightwalker. ― Ela empertigou-se como uma verdadeira oficial, se surpreendendo com o tom sério de seu superior. ―Pare de fingir.

E então, olhos castanhos-avermelhados se arregalaram.

Um buraco enorme abriu-se em seu estômago. Sua cabeça dava voltas e voltas. E a postura se perdeu.

Eu sei, mais do que qualquer outra pessoa, que você é tão humana quanto qualquer um habitante de Earthland. ― Pausa. ― Ela fez isso com você... Não? Ela tornou isso possível.

Erza tremeu com a possibilidade dele gostar da Scarlet. Ele a mencionava com tanto carinho e admiração... Seu coração pareceu parar de bater.

― Não precisa fingir. ― Mas sua voz era tão aveludada, tão terna... Ela podia derreter. ― Não precisa ter medo.

Crack.

Erza Knightwalker tremia, tentando tentando tentando, sem sucesso, reerguer o seu tão precioso muro blindado. Ele rachava, quebrava, se espatifava no chão, bem diante àquele que não poderia ver seu lado vulnerável, ver sua proteção se esvair.

Isso só incentivou Mystogan a continuar.

― Você... Não precisa ter medo de vivenciar o mundo como uma humana. Não dói. ― Houve mais uma pausa, o sol desaparecia ao fundo. ― Porque eu vou estar com você.

Erza ofegou.

― Te ajudando, auxiliando...

Erza percebeu, com um misto de horror e satisfação, que seu muro não se restabeleceria. Nunca mais. E ela se sentiu... Oh, Kami-sama, maravilhosamente completa, como se ela só precisasse daquele momento para poder viver. Repeti-lo sempre sempre sempre.

E quando ele voltou a falar, ela percebeu que era o fim. O fim da Erza robô.

― Te amando, Erza Knightwalker.

Você, você, você.

Não a Erza Scarlet.

Knightwalker percebeu, tarde demais, que ele levantara do sofá e dava passos em sua direção, cada vez mais próximo. Não, não... Sim, sim, SIM! Ela se sentiu ser envolvida pelo calor do corpo dele, tão másculo e protetor. Ela precisava tanto disso...

Mystogan assoprou em seu ouvido esquerdo, o que causou reações múltiplas em seu corpo. Reações que ela nem tinha ciência de que existiam. Ele sorria tão majestosamente... Erza podia sentir contra a sua pele do pescoço. Ele era tão dela.

E num dos atos finais, ele sussurrou:

― Então, por favor... Não chore.

Ele a virou e beijou-a, como nunca seria capaz de beijar outra mulher. Como nunca se imaginaria beijando Erza Scarlet. Porque era a Erza Knightwalker que amava, que precisava ter pra si. Amar, cuidar, ensinar... Toda uma vida era muito pouco para o que ele pretendia fazer junto dela.

E o seu gosto, mesmo que em conjunto com as lágrimas salgadas, era indescritível. Tão único...

Era só dela, da sua Rainha.

[...]


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Notas finais do capítulo

Bye-bye~~