H - Ponto Zero escrita por Siadk


Capítulo 31
031 - Revelações


Notas iniciais do capítulo

[Alice]

Todos os personagens dessa história pertencem à mim. Por Favor não usar sem minha permissão!



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Nos últimos capítulos: Alice acorda do coma, mas some do hospital sem deixar rastros. Ninguém sabe nada desde então.

031 – Revelações

[Alice]

 

Abri os olhos lentamente, estava exausta. A visão embaçada revelou que eu não estava só.

– Daniel?! – Perguntei, sem conseguir esconder o animo na minha voz.

Mas não era o Dan. Não era ninguém. A imagem se transformou em uma enorme bola de pelos arroxeada antes de sumir no ar, deixando um sorriso sínico no ar. Apenas outro truque da minha mente. “Onde eu estou mesmo? Preciso me levantar e...

Pequeno problema, eu já estava em pé. Não só em pé, como na beirada de uma mureta no terraço de um prédio qualquer. “Como eu posso conseguir dormir em pé? E onde diabos eu estou?” As coisas estavam voltando aos seus devidos lugares na minha mente, mas eu agilizei um pouco o processo quando olhei para o beco lá em baixo. Tinha me lembrado. Estava em North Gare...

Como vim parar aqui?

Com meus poderes, claro. Desde que acordei do coma, meus poderes estavam mais fortes, mais surreais. Conseguia fazer coisas que nem imaginei que eram possíveis antes.

Ok, uma resposta. Mas porque vim para North Gare?

Hum... Fácil. Vim para impedir que o Dan morresse nas mãos daquele monstro. Não precisei fazer a próxima pergunta, que provavelmente seria ‘como vim parar em cima desse prédio?’ Desde que cheguei nessa cidade sombria parece que só fico em cima de prédios.

No inicio, meu objetivo era tentar achar o Dan, mas parece que eu havia chegado antes dele. Então, enquanto fazia um passeio noturno para clarear a mente, vi um garoto levar três tiros no peito e continuar em pé. “Isso! Ele pode ajudar, ele pode vencer aquele assassino sem grandes riscos.” Pensei. E o que fiz em seguida foi jogar um jornal para despertar o interesse dele no assunto. Foi bem mais fácil do que imaginei. Acho que é isso que garotos mascarados fazem, perseguem sanguessugas gigantes. Tentei segui-lo, mas cai em um sono profundo no meio do caminho. “Ainda não estou completamente recuperada do coma. Deve ser por isso” Cheguei a essa conclusão quando acordei desse sono pesado e voltei a ela quando cai no sono novamente em cima do prédio. Mas da primeira vez eu estava caída no terraço imundo de um prédio, dessa vez eu estava em pé.

Não vem ao caso, voltando para minha breve historia antes de eu chegar onde estava. Acordei zonza, perdida. Precisava achar o garoto mascarado e saber se ele havia derrotado Eric. Minha sorte é que não foi difícil encontrá-lo usando meus poderes para me ajudar. Voei pela cidade, estava invisível aos olhares desavisados. Encontrei não só o garoto, mas Eric também. E a visão não me animou nem um pouco. Lembro que quase gritei, achei que tinha levado aquele garoto para sua morte prematura quando o vi caído em cima da própria cabeça. Mas ele se levantou, acertou Eric em cheio.

Ele conseguiu, ele realmente conseguiu.

E foi tão simples. Foi muito simples... Simples demais. E eu aprendi durante minha vida que nada é assim tão simples. O garoto voou em direção à uma parede, aparentemente sem mais nem menos. Suzanna! Aquela maldita vaca. Então era verdade no fim das contas. Dan estava namorando uma traidora desde o começo. Se eu ao menos tivesse avisado ele. Se tivesse contado o que sentia.

– Acha mesmo que teria adiantado alguma coisa, tolinha?!

Não me virei para saber de quem pertencia a voz. Pousei no prédio e continuei olhando para a cena lá em baixo. Eu sabia que a voz pertencia à mim. Era aquele maldito gato gordo de novo.

– Homens são assim, minha querida. Completos idiotas! Quando você vai aprender? – Continuou ele, tentando me tirar do sério. – Nem mesmo seu amado pode se livrar dessa sina, docinho.

Mas ele não me tiraria do sério. Não importava se estava ou não falando do Dan. Não perderia a cabeça por causa de uma voz interior, mesmo que ela estivesse se projetando para fora de mim naquele exato momento.

– Ei, Garfield! Porque você não some daqui?! – Eu disse, com um sorriso preocupado.

Ele sumiu. Era parte de mim, então que eu pelo menos pudesse controlá-lo. E foi ai que aconteceu. Senti a presença do Dan na cidade. Não sei como, meus poderes não fazem esse tipo de coisa, mas eu senti. E sem mais nem menos, apaguei.

E aqui estou eu, vendo um beco vazio e em chamas. Sem garoto mascarado, sem assassino devorador de sangue, sem vadia traidora. Completamente sem pistas.

Mas pelo menos eu sabia que Dan já estava na cidade. Mas também sabia de algo mais. O tempo em que fiquei dormindo não foi de completo inútil, eu tive um sonho novinho em folha. E sonhos são sempre bem vindos para uma pessoa que tem total poder sobre eles. “Talvez não um ‘total poder’, mas com certeza uma ‘influencia’ eu diria.

Tem alguma coisa maior acontecendo. Alguma coisa muito grande. E antes de me encontrar com Dan, eu preciso me certificar que tudo dará certo no final. Não posso deixar esse jogo sanguinário continuar.

Não posso deixar que as peças negras dominem o tabuleiro!

Duas asas prateadas brotaram das minhas costas. Criando forma, tornando-se asas de morcego. “Morcegos? Você quis dizer demônios, certo?” Insinuaria aquele gato idiota e eu responderia. “Não leve a mal, nunca gostei de anjos. Alem do mais, são prateadas, nem são do tipo que representam todo o mal do universo.

– Agora se não se importa Garfield, temos que reunir novos amigos!

Com apenas um movimento gracioso das asas meus pés saíram do chão. Em pouco tempo eu já estava sentindo o vento frio e reconfortante da noite acariciando meu rosto. “Para onde devo ir agora?” Me perguntei, enquanto analisava a cidade iluminada. Por mais luzes que eu pudesse ver, o ar daquele lugar ainda a tornava uma cidade suja, perigosa. A toca de um predador furioso e faminto. O que não deixava de ser verdade, levando em consideração que Eric se abrigava nas entranhas de algum beco nesse momento.

– Quem sabe se você me contar o sonho eu não possa te dar uma dica de onde encontrar seus novos amigos? – E lá estava a voz de novo, tentando me ajudar de sua maneira fria.

Olhei para sua direção e segurei uma risada.

– Você fica ridículo com essas asas, sabia? – Disse, e não estava mentindo. – De qualquer maneira, não tenho porque contar meu sonho, você é uma parte descontrolada do meu subconsciente. Tenho certeza que sabe o mesmo que eu sei.

O gato gordo continuou voando ao meu lado, usando as minúsculas asas roxas de morcego que agora estavam em suas costas para me acompanhar. Seu sorriso se alargou, o que era mau sinal. Sempre que aquele sorriso aparecia em seu rosto peludo significava que ele tinha razão em alguma coisa.

– Sim, você esta certa, eu sei o que se passou no seu sonho. Mas com toda a certeza, me contar será de ótima ajuda. – Suas asas bateram algumas vezes de maneira ridícula enquanto ele falava. – Enquanto você me conta, estará repassando o sonho para você, ou seja, estará pensando melhor sobre ele.

Como eu havia previsto. Odeio aquele sorriso. Mas como ele estava certo em certo ponto, eu decidi contar o que eu tinha visto. Ou pelo menos o que me lembrava ter visto.

– Ok, vamos fazer do seu jeito Garfield. – Comecei, e sabia que ele não ousaria me interromper. – Começou com um parque, acho que o parque da cidade, recheado de arvores cobertas de neve e com um lago particularmente grande. O problema era o que estava nevando. Demorei um pouco para entender, mas depois que percebia não tinha erro, eram peças de xadrez. Todas completamente brancas. Tudo ali parecia branco demais, com exceção do lago que era de uma cor completamente contraditória. Isso chamou minha atenção e você sabe como eu sou curiosa, caminhei em sua direção tentando entender o porquê de sua cor escura. Só quando cheguei perto o suficiente para cair nele com um simples desequilíbrio que ele realmente tomou forma.

“Era um lago negro porque seu fundo estava coberto por mais peças de xadrez. Dessa vez pretas. Ainda havia algo de errado com aquela paisagem, algo de muito errado. Não importava se o branco do parque estava em maior quantidade, o negro do lago infestava todo o resto, arruinava a harmonia da cena. Demorou um pouco para eu perceber a terceira cor que, cada vez mais, dominava a neve cristalina. Pouco a pouco, toda parte branca que estava encostada ao lago começava a mudar para uma cor avermelhada. ‘Aquela é a frente de combate e nós estamos perdendo’ Pensei, enquanto cobria a boca com a mão e recuava alguns passos para me manter segura. Bom, essa não esta nem perto de ser a parte mais importante.”

Agora voávamos mais baixo, procurando rostos familiares pela multidão na rua. Eles não poderiam nos ver a não ser que realmente esbarrássemos neles. Não era como ser invisível, era mais como ser descartável para o interesse deles. Percebia que o gato queria saber o resto, mesmo já sabendo, e também percebia que eu queria contar.

– Bom, continuando. – Retomei o assunto, voltando para o mais alto que conseguia chegar. – Eu já não estava mais no parque, dessa vez estava em uma sala de cinema. Antes que eu percebesse que estava sozinha as luzes se desligaram e o telão se iluminou. O que vou contar agora é o que realmente importa. O que passou no telão foi uma lista, não de nomes, mas de cenas. De qualquer maneira sua intenção era mostrar quem eu precisava achar.

“E a primeira pessoa da lista era ninguém mais ninguém menos que o Dan. Ele estava sentado em uma cadeira de avião, olhando pela janela, completamente distraído. A pessoa do lado dele era um garoto que parecia ter a mesma idade que ele, tentava abrir um saco de amendoim sem sucesso. Foi o Dan que abriu pra ele. ‘– Valeu Dan, o que eu seria sem você?’ foi o que o amigo disse ao agradecer. Dan respondeu ainda distraído ‘– Um garoto sem ajuda para fazer o trabalho pesado da faculdade.’ E voltou a olhar para a janela. Então aconteceu a turbulência, as pessoas começaram a entrar em desespero, o avião ia cair com toda a certeza. Eu... eu não quero contar essa parte Garfield.”

Mas Garfield queria ouvir, ele sabia que poderia ser importante. Por mais que ele não estivesse sorrindo ou insistindo para que eu continuasse, eu continuei. Soltei todo o ar dos meus pulmões e a cena voltou inteiramente viva para minha cabeça.

– O avião estava praticamente se desmontando no ar. Um objeto que eu simplesmente não consegui identificar acertou a testa do amigo do Dan. Era um objeto pesado, o garoto perdeu a consciência. – As palavras não conseguiam sair da minha boca, mas eu precisava me esforçar. – Acho que ele morreu no mesmo instante, Garfield. Mas o pior foi ver o olhar de desespero no rosto do Daniel, ele estava manchado com o sangue do amigo e gritava seu nome sem parar. Não consegui prestar atenção ao nome, mas doía em mim tanto quanto doía nele. Eu nunca mais quero passar por isso, eu me recuso a deixá-lo sofrendo tanto de novo.

“Mas depois disso a cena mudou, não lembro para qual exatamente porque eu estava pensando ‘Acho que foi depois desse acidente que encontramos o Dan.’ E eu realmente acho que tenha sido, mas o Dan escondeu isso da gente, ele queria começar uma vida nova, ele queria e não conseguiu. Graças à namorada vadia que ele arrumou. Droga, como eu odeio ela.”

– Não interessa no momento Alice. Me conte apenas o que você viu no sonho e pare com os palavrões, nunca combinaram muito com você.

Garfield estava certo, eu fazia o tipo animada. Animada até demais, de acordo com o Ed. Palavrões nunca foram muito minha praia, mas era simplesmente impossível se controlar na minha situação. Decidi voltar ao sonho.

 – Ok, continuando. Na terceira cena quem apareceu foi o Gui. Ele estava na frente de uma pessoa que eu não consigo reconhecer, mas era claro o que ele estava fazendo. Foi a primeira vez que eu vi o poder dele funcionado pelo seu próprio ponto de vista. Sabe quando o Neo via tudo em códigos no Matrix? Bom, foi quase a mesma coisa, só que não eram códigos. Realmente parecia que ele estava lendo a pessoa como se ela fosse um livro em formato humano. Tinha algo no braço do Gui, não consegui ver o que era, mas parecia ser metálico. ‘Acho que já vi isso no laboratório dele em um dia que entrei sem avisar, mas não tenho a mínima idéia do que se trata.’ Antes que eu pudesse chegar à uma conclusão plausível a cena mudou de novo. Também não me lembro se vi a próxima cena ou se me distrai e perdi mais algumas, na verdade foi assim durante o sonho inteiro, então não sei se estou te contando tudo.

“Dessa vez era um desconhecido no telão. Um garoto usando roupas rasgadas e sujas, sempre seguido por um cachorro. Em um segundo ele estava correndo pelo terraço de um prédio e no segundo seguinte ele já não era mais sequer humano. Seu corpo estava transformado em algo muito semelhante a um lobo equilibrado nas duas patas traseiras. Não sei o que ele foi fazer no terraço do outro prédio, mas posso jurar que tinham muitas flores por lá. E novamente a cena mudou, dessa vez para uma garota. Estava em uma moto preta, gigante. Ok, talvez eu esteja exagerando, mas a única vez que vi uma moto daquelas foi em um filme de corridas clandestinas. Ela não usava nenhum capacete e eu pude ver claramente seu rosto. Tenho que admitir, ela era linda. E eu só acho que uma garota é bonita quando ela realmente é. Um guarda parou ela na rua. Disse que ela estava acima do limite de velocidade e que era obrigatório o uso do maldito capacete. Então, com um simples olhar, ela fez o guarda mudar de idéia. Com certeza ela pode controlar a mente das pessoas e isso pode ser de gigantesca utilidade. Espero que ela aceite se juntar a nós.

“A cena mudou mais uma vez. Era o garoto que gostava de se fantasiar para o halloween. Parecia usar uma nova máscara de caveira e sua blusa de frio com capuz estava ilustrada com o tórax de ume esqueleto. Segurava seu taco de beisebol na mão direita e parecia estar ocupado conversando com um cara de aparência suspeita. O cara estava segurando uma arma pesada, você não vai acreditar, mas eu tenho certeza que era uma metralhadora giratória. Pude ouvir os tiros sendo disparados e não me assustei com a cara de terror no rosto do suspeito. Sim, aquele garoto era a prova de balas. Acho que nada poderia matá-lo. E mesmo tendo seu rosto coberto pela mascara, eu pude jurar que ele estava sorrindo daquela cena.

“E novamente outra pessoa apareceu no telão. Mas o local era o mesmo, acho que um banco. O bandido armado com a metralhadora tentava correr e o garoto mascarado simplesmente ficou parado. E sem mais nem menos o suspeito caiu. Parecia ter tropeçado em algo, mas o chão estava completamente impecável, nenhuma pedra, nada. E era isso o que tinha mudado. Sem mais nem menos uma garota apareceu ao lado do criminoso e o algemou. Ela usava uma roupa justa e completamente branca, também com um capuz lhe cobrindo o rosto. Sorriu para o garoto mascarada que confirmou com a cabeça e os dois saíram do banco.”

– E eu acho que é só isso, não me lembro se tem algo a mais. – Eu conclui enquanto pousamos em mais um terraço. – O que eu devo fazer agora?

Ele não respondeu, não essa pergunta pelo menos.

– Não está se esquecendo de algo Alice? –  Eu sabia, ele não queria só ouvir o sonho para me ajudar, ele queria cutucar a ferida.

– Não sei do que você esta falando.

Seu corpo sumiu, deixando para trás apenas sua boca recheada de dentes amarelados.

– Estou falando do segundo filme. Daquele que você diz não ter prestado atenção, mas nós dois sabemos que você viu cada detalhe dele. Do filme que está ocupando sua mente de perguntas.

Me movi para tentar acertá-lo com a mão fechada.

– Cale-se! Aquilo não foi nada, ok?! – Não o acertei, nunca o acertaria.

Mas novamente ele estava certo. O segundo filme era o que mais me atormentava. Simplesmente não estava certo, não podia estar.

– Suzanna, de que lado você está afinal?

 


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Notas finais do capítulo

Notas do Sádico: É isso pessoal, o último da "primeira temporada" Espero que gostem, realmente espero... Como eu deixei uma quantidade alarmante de duvidas no ar, tentarei não demorar muito para começar a "segunda teporada" ok?! ^^
Se acharem melhor, postem nos reviews que querem uma mensagem privada quando a nova temporada sair. E eu também adoraria saber o que vocês querem para a continuação dessa série, tentarei ao maximo colaborar.

Didicatoria do Sádico: Simplesmente a todos os pobres coitados que tiveram a paciencia que acompanhar minha fic até agora... muitissimo obrigado.