Meu corpo se esvaía em sangue... Eu estava caída no chão de meu quarto, envolta de uma poça daquele líquido rubro que saía de meu ferimento em meu abdômen. O pior de tudo aquilo era saber que eu mesma me causara isso, eu mesma perfurei minha barriga com aquela faca, que agora se encontrava caída ao meu lado, a única testemunha de minha morte, que eu sentia se aproximar cada vez mais.

 Nesse instante pude ouvir uma porta se abrir, xinguei-me em pensamento, como pude ser burra o suficiente para não trancar a porta?

 Ouvi a porta sendo fechada, barulhos de algo que pareceu-me chaves sendo jogadas sobre uma superfície dura.

 - Amor? – ouvi aquela voz chamar-me, parecia feliz, por algum motivo desconhecido para mim, já que nossa vida não andava tão bem.

 Pude ouvir passos pesados se aproximando, a porta de nosso quarto estava fechada, mas eu podia sentir sua aproximação.

 De repente, a porta se abriu, revelando a figura masculina que eu tanto amara em minha vida, ele estava sorridente, sua pele sempre branca parecia um tanto corada hoje, seus olhos esverdeados estavam brilhantes e seu cabelo negro emoldurava seu rosto angelical.

 Ele encarou a cena – que provavelmente estava assustadora para qualquer pessoa – e foi perdendo seu sorriso aos poucos.

 Ele demorou alguns segundos para raciocinar, vi seus olhos se encherem de lágrimas.

 Gerard ajoelhou-se rapidamente ao meu lado, pareceu não se importar que sua calça jeans ficaria totalmente manchada com meu sangue.

 - Por favor! O que aconteceu aqui? – ele soluçava, pegando meu corpo fraco e puxando para um abraço apertado que eu mal pude corresponder. – Quem fez isso com você?

 Procurei entre meu interior as forças necessárias para pronunciar algumas palavras.

 - E...eu – gaguejei, sentindo cada centímetro de meu corpo tremer.

 Ele encarou-me perplexo, provavelmente nunca entenderia o porquê de minha escolha pela morte, para ele nossa vida estava perfeita, já que ele não sabia do que eu fizera e da culpa que eu teria de carregar por toda minha vida se continuasse ali.

 Provavelmente ele nunca me perdoaria por isso, afinal, quando eu fosse levada a algum hospital, mesmo que em vão, ele descobriria o meu segredo, ou pelo menos parte dele, e me odiaria pensando que eu acabara com um futuro que podíamos ter, sem saber, que na verdade, eu apenas eliminara uma continuação de uma mentira.

 - Por quê? – ele murmurou, entre soluções e lágrimas, puxando meu rosto para o seu e selando nossos lábios.

 - Eu te amo – sussurrei, gastando minhas últimas energias para olhar em seus olhos e dizer a coisa mais sincera e verdadeira que eu poderia lhe dizer.

 Vi mais lágrimas caírem se seus olhos, uma única e solitária lágrima rolou de meu olho, passando por minha bochecha e chegando à minha boca. Foram às últimas sensações que tive, logo minha visão ficara turva e tudo escurecera...

 - Não! – a voz chorosa de Gerard implorara.

 Não pude voltar atrás.

 Suspirei ali, nos braços de meu único amor verdadeiro, que infelizmente eu enganara com seu melhor amigo, mas que se dependesse de mim, nunca saberia da real verdade.

 Eu traíra meu marido com seu melhor amigo, Frank... E desta traição, infelizmente, fora gerado um filho, que agora morria comigo, deixando Gerard livre para procurar alguém que lhe ame – não tanto quanto eu o amei, isso seria impossível – e lhe dê filhos, assim como ele tanto quis.