Highway To Hell escrita por Syrinx, HévilaChavez


Capítulo 9
Capítulo 6: She Likes Rock n' Roll (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

EEEEE, em homenagem ao Dia do Rock, eu to postando esse capítulo especial :)
Dedicado às minhas bandas divas Evanescence, AC/DC, Muse e Nickelback e aos apaixonados por rock. Esse dia é nosso, gente!
P.S.: ENTÃO, ficou meio grandinho e eu originalmente decidi dividir em dois, mas como vou postar um bônus depois, achei melhor colocar tudo num só mesmo.
P.S.2: HévilaChavez, valeu pelo lembrete!
ENJOY! :)



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FREDDIE

Ponho os óculos de sol e fecho os olhos, permitindo-me um segundo apreciando o vento quente e úmido da Califórnia. Coloco o rosto para fora da janela do Mustang exatamente como Sam costuma fazer, e sabe, ela tem razão, a sensação é ótima. Não sei o que me deu quando concordei em deixá-la dirigir, mas, apesar de estar ligeiramente consciente de que a loira está ultrapassando o limite de velocidade, não consigo me arrepender.

Ela tinha me enxotado cedo da cama, alegando o dia estar glorioso demais para dormir. Então, uma hora depois, estamos subindo a Santa Monica Boulevard rumo aos estúdios Universal, parando primeiro para umas fotos no letreiro de Hollywood. Eu tentei até argumentar que poderíamos ir visitar os estúdios depois de conhecermos as praias, mas Sam pôs o pé na parede. Disse que como apresentadora de um web show, a Universal era mais importante que a praia de Santa Monica.

Era incrível como a atmosfera de Los Angeles era diferente da de Seattle. E eu levantava as mãos pro Céu em agradecimento. E o vaivém de pessoas nas praias, jogando vôlei, dando um mergulho sob o sol escaldante; nos shoppings, nas avenidas era contagiante. Bem diferente do ar frio e melancólico de Seattle. Não me leve a mal. Só é bom sentir um pouco de calor para variar.

Sam, aproveitando que estávamos parados em um sinal, e fez um coque desajeitado nos cabelos e deu um tapa no botão do rádio, sorrindo em reconhecimento à música e cantando junto. Rolei os olhos por trás dos óculos. Será que não havia nenhuma música que ela não conhecesse?

Acelerou, cantando alto e batucando a direção. De vez em quando colocava a cabeça para fora da janela totalmente aberta do Mustang, cantando para algum motorista ou pedestre aleatório. Depois de algumas reclamações da minha parte e um dedo do meio da parte de um motorista, ela finalmente parou.

Cinco músicas depois, estávamos parados em frente ao portal de entrada dos Estúdios Universal em Hollywood, conhecidos como Universal City. Como Sam fez questão de ver tudo, demoramos o dia todo. Dirigindo os carrinhos de golfe, entre sets cobertos e ao ar livre, aprendendo a lidar com câmeras de alta geração e efeitos especiais, - o que, não é preciso nem dizer, foi minha parte favorita - , vendo armazéns onde eram guardados os carros de filmes, figurinos. Andamos pela City Walk, sempre tirando fotos, uma vez que havíamos comprado uma câmera nova mais cedo:

–Carly iria pirar se visse isso. Queria que ela estivesse aqui.- Sam comentou meio triste enquanto descíamos a avenida e avistamos a enorme guitarra do Hard Rock Cafe. Depois correu para o café, alegando estar 'aponto de desmaiar de fome'. Soltou um sorriso de aprovação ao perceber o carro flutuante acima do balcão.

Almoçamos e voltamos ao tour. Ela me puxou rumo ao Escalator e, como havíamos acabado de comer, fiquei meio receoso, mas, como sempre, a loira coseguiu me convencer. Passamos pelo Terminator 2:3D, e pelo Globe Theatre e, finalmente, quando já escurecia, vimos o pôr do sol no velho set londrino, imitando seu sotaque formal, enquanto ríamos e andávamos de mãos dadas em frente à uma daquelas cabines telefônicas vermelhas.

–Podíamos voltar para o hotel e ir aos estúdios da Warner amanhã. -sugeri, girando a chave do Mustang na ignição.

Ela apenas rolou os olhos:

–Nada contra, Freddie, mas acho que a gente podia fazer algo de diferente amanhã, como ir à praia, não temos mais tanto tempo assim. Além do mais, não quero ir para o hotel agora. Eu sugiro que vamos à Calçada da Fama e ao Teatro Chinês. Deve ser lindo à noite. - ela sorriu, lançando-me um daqueles olhares irresistíveis.

Gruni em derrota. Eu tinha que parar de deixar que ela tivesse tanta influência sobre mim. Não era saudável. Então, apenas acelerei.

Ela tinha razão. O lugar era lindo à noite. Fomos primeiro à Calçada da Fama, ricamente iluminada e badalada durante a noite. Subimos a Hollywood Boulevard, rumo ao Teatro Chinês, explorando lojas, tirando fotos e mais fotos e observando o movimento das pessoas, artistas de rua, apontando estrelas e pegadas de famosos conhecidos. Num certo momento da noite, Sam pegou a minha mão, como tinha feito mais cedo e, ao invés de continuar caminhando, ela me parou, puxou-me para um abraço, escondendo o rosto no meu peito. Surpreso, mas ainda assim satisfeito, pus as mãos em suas costas, apoiando o queixo no alto de sua cabeça. Quando finalmente me olhou nos olhos, as íris azuis brilhavam de felicidade e de algo mais que não pude distinguir, sorriu daquele jeito doce, o sorriso lindo que raramente me lançava:

–Acho que ainda não te agradeci por essa viagem, não é? Por estar aqui comigo?

Fingi estar assustado e surpreso pela atitude dela, mesmo sabendo que ela já tinha agradecido outras vezes:

–Samantha Joy Puckett, agradecendo? - pus as mãos em sua testa - Não tá com febre. - levei os lábios ao seu pescoço - E tem o mesmo gosto da Sam. Você é um bom clone, sabia? Quase me convenceu. -estreitei os olhos.

Ela deu um tapa no meu braço, fingindo estar brava, mas falhando miseravelmente:

–Seu besta, só porque eu estou agradecendo, isso não me faz menos eu.

Franzi o cenho, pronto para argumentar:

–Faz sim, é quase tão estranho quanto te ver pedir desculpas.

Ela rolou os olhos, um gesto que começava a se tornar sua marca registrada:

–Ainda temos que jantar, sabia? Estou cheia de fome.

–Depois dos dois cachorros quentes, amendoim caramelado e pipoca doce ainda está com fome?

Ela assentiu, como se fosse óbvio. Levantei as mãos em rendição:

–Não sei nem porque estou surpreso. - e comecei a caminhar em direção ao carro.

Voltamos ao hotel, não era tão longe de onde estávamos, tomamos uma ducha e nos arrumamos para o jantar. Sam sugeriu que fôssemos comer comida árabe para sair da rotina de cachorro quente e pizza, para variar.

Acabamos encontrando um bem aconchegante, só que bem longe do hotel. Wahib's Midle East Restaurant era o nome. Tinha realmente a decoração bem árabe. Povoado de tapetes persa, esculturas de bronze de deuses, lâmpadas a óleo e tecidos de várias cores pendendo do teto, almofadas de seda estampadas com motivos orientais. As mesas eram baixas e cheias de almofadas dispostas ao redor, de modo que tínhamos de sentar no chão, como nos restaurantes chineses lá de Seattle. O lugar estava apinhado de gente por ser alta estação. Num canto uma roda de homens de aparência árabe passava um narguilé de mão em mão. Havia um pequeno palco improvisado onde alguns homens tocavam para uma odalisca que se apresentava. Assim que pomos os pés em um dos tapetes, uma senhora gordinha de quase cinquenta anos, vestindo uma túnica árabe azul escuro veio ao nosso encontro, pediu que tirássemos os sapatos e uma hostess também de túnica árabe laranja nos conduziu a uma das mesas vagas.

Sentamos e começamos a conversar, e quando nos deram o cardápio, Sam pediu frango árabe e talule. Como ela pareceu saber o que estava pedindo e era a loira que entendia de comida, resolvi pedir o mesmo. Foi quando percebi Sam observando com bastante interesse a odalisca, como se analisasse a dança dela quase que hipnotizada. Pus-me a observar também. A garota dançava bem, usava uma roupa verde escuro e dançava com uma espada. Sam, por fim, sorriu de lado, num sorriso convencido:

–Amadora.

Olhei para ela:

–Como se você soubesse dançar. - rebati.

O sorriso de lado aumentou e ela se aproximou com os olhos intensos, sussurrando:

–Isso é o que você pensa, Benson. - e voltou a posição normal, dando de ombros - Não me leve a mal. Ela é boa, mas depois que sua mãe namora um professor gostoso de dança, não há nada que você não possa dançar. Além do mais, depois de tango, dança do ventre é meu estilo preferido.

–Então, quer dizer que a garota talentosa de cinco anos ainda se esconde aí dentro, não é? - comentei, estreitando os olhos.

Sam baixou o olhar, incomodada:

–Não quero falar sobre isso.

Só então notei o que tinha falado. Mesmo que indiretamente, a simples menção da morte do pai dela a fazia ficar desconfortável:

–Desculpe, não foi minha intenção. - e fiz menção de pegar sua mão, mas ela puxou, ainda sem me olhar.

–Preciso ir ao banheiro. Volto logo. - e saiu rapidamente.

–Sam! - chamei, o cenho franzido.

Mas ela já havia ido, e a música cessou, a odalisca recolhendo-se do palco.

Verifiquei o relógio. Sam já tinha saído havia dez minutos. Estava pronto para levantar e ir atrás dela, quando a música começou novamente, chamando minha atenção. A luz roxa encheu o restaurante, então só podia ver a sombra dos cabelos loiros. Vestida num traje igualmente roxo, a parte de cima cravejada de pedras coloridas, a saia de pedras roxas, Sam segurava na altura dos olhos um tecido, também roxo, leve, e me olhava intensa e desafiadoramente, os olhos azuis gelados.

Ela tinha razão, a garota era amadora perto do talento de Sam com aquele tecido. Poderosa e sensual, o manuseava com facilidade, os quadris mexendo quase como se ela não tivesse nenhum osso. O tempo todo os olhos dela permaneceram nos meus e a uma certa altura eles escureceram em algo bastente parecido com desejo, mas isso era impossível, porque quem ansiava por ela era eu. Então ela largou o lenço, correndo em direção ao microfone. Nenhum problema, já conhecia o talento dela com a voz. Até ela sorrir de lado, provocante, e começar a cantar em espanhol.

Trilha: http://www.youtube.com/watch?v=0Z9w8s2l8NM

"Ayer yo conocí un cielo sin sol

Y un hombre sin suelo

Un santo en prisión

Y una canción triste sin dueño/

Ya he ya he ya la he

Y conocí tus ojos negros

Ya he ya he ya la he

Y ahora si que no

Puedo vivir sin ellos yo/

Le pido al cielo solo un deseo

Que en tus ojos yo pueda vivir

He recorrido ya el mundo entero

Y una cosa te vengo a decir

Fue de Bahrein hasta Beirut

Fue desde el norte hasta el polo sur

Y no encontré ojos así

Como los que tienes tú/

/Rabboussamai fikarrajaii

Fi ainaiha aralhayati

Ati ilaika min hatha lkaaouni

Arjouka labbi labbi nidai

Fue de bahrein hasta beirut

Fue desde el norte hasta el polo sur

Y no encontré ojos así

Como los que tienes tu"

(Ontem conheci um céu sem sol

E um homem sem solo

Um santo na prisão

E uma canção triste sem dono

/Ya he ya he ya la he

E conheci teus olhos negros

Ya he ya he ya la he

E agora sei que não

Posso viver sem eles

/Peço aos céus só um desejo

Que em teus olhos eu possa viver

Eu já percorri o mundo inteiro

E uma coisa eu venho te dizer

Viajei de Barein até Beirute

Fui desde o norte até o pólo sul

E não encontrei olhos assim

Como os que você tem

/Senhor dos céus, a vós rogo

Nos olhos dela vejo vida

Venho a vós, daqui deste universo

Por favor, meu Deus, respondei à minha súplica

Viajei de Barein até Beirute

Fui desde o norte até o pólo sul

E não encontrei olhos assim

Como os que você tem)

Olhos negros. Sorri, porque, pelo modo como Sam me olhava, tinha uma boa pista de que ela se referia aos meus olhos. E eles estavam hipnotizados por ela. Nem se eu quisesse, lutasse para desviar o olhar, algo me dizia que era impossível. O que era bom, porque era a última coisa que eu queria fazer. Ela retirou o microfone do suporte e desceu do palco, dançando entre as mesas. Balançando os quadris e sorrindo, ela incitava o público, que batia palmas ao ritmo da música. Ela tinha esse dom, eu acho, de com o mínimo esforço, encantar as pessoas. E posso dizer que estava conseguindo muito mais que isso comigo. Sob a luz roxa do restaurante, ela veio até mim, plantou beijos seguidos em meu pescoço e continuou cantando, a boca perto do meu ouvido, as mãos possessivamente em minhas costas, o quadril tocando meu corpo. Engoli em seco, a proximidade entre nós não estava ajudando muito.

"Ayer yo vi pasar una mujer

Debajo de su camello

Un río de sal un barco

Abandonado en el desierto/

Ya he ya he ya la he

Y vi pasar tus ojos negros

Ya he ya he ya la he

Y ahora si que no

Puedo vivir sin ellos yo/

Le pido al cielo solo un deseo

Que en tus ojos yo pueda vivir

He recorrido ya el mundo entero

Y una cosa te vengo a decir

Fue de bahrein hasta beirut

Fue desde el norte hasta el polo sur

Y no encontré ojos así

Como los que tienes tú

/Rabboussamai fikarrajaii

Fi ainaiha aralhayati

Ati ilaika min hatha lkaaouni

Arjouka labbi labbi nidai

Fue de bahrein hasta beirut

Fue desde el norte hasta el polo sur

Y no encontré ojos así

Como los que tienes tú

/Rabboussamai fikarrajaii

Fi ainaiha aralhayati

Ati ilaika min hatha lkaaouni

Arjouka labbi labbi nidai

Min bahrain ila beirut

Fue desde el norte hasta el polo sur

Y no encontré ojos así

Como los que tienes tú

/Le pido al cielo solo un deseo

Que en tus ojos yo pueda vivir

He recorrido ya el mundo entero

Y una cosa te vengo a decir

Fue de Bahrein hasta Beirut

Fue desde el norte hasta el polo sur

Y no encontré ojos así

Como los que tienes tú"

(Ontem eu vi passar uma mulher

Debaixo de seu camelo

Um rio de sal e um barco

Abandonado no deserto

/Ya he ya he ya la he

E vi passar seus olhos negros

Ya he ya he ya la he

E agora sei que não

Posso viver sem eles

/Peço aos céus só um desejo

Que em teus olhos eu possa viver

Eu já percorri o mundo inteiro

E uma coisa eu venho te dizer

Viajei de Barein até Beirute

Fui desde o norte até o pólo sul

E não encontrei olhos assim

Como os que você tem

/Senhor dos céus, a vós rogo

Nos olhos dela vejo vida

Venho a vós, daqui deste universo

Por favor, meu Deus, respondei à minha súplica

Viajei de Barein até Beirute

Fui desde o norte até o pólo sul

E não encontrei olhos assim

Como os que você tem

/Senhor dos céus, a vós rogo

Nos olhos dela vejo vida

Venho a vós, daqui deste universo

Por favor, meu Deus, respondei à minha súplica

Viajei de Barein até Beirute

Fui desde o norte até o pólo sul

E não encontrei olhos assim

Como os que você tem

/Peço aos céus só um desejo

Que em teus olhos eu possa viver

Eu já percorri o mundo inteiro

E uma coisa eu venho te dizer

Viajei de Barein até Beirute

Fui desde o norte até o pólo sul

E não encontrei olhos assim

Como os que você tem)

–Desde quando você canta em espanhol, Sam? Pensei que odiasse. - perguntei, afastando-me um pouco de modo a olhá-la nos olhos.

Ela sorriu, misteriosa:

–Existe muita coisa sobre mim, Benson, que você não conhece.

–E se eu quiser conhecer cada pequeno detalhe, Puckett? - beijei a base de seu pescoço.

–Temos tempo. - foi tudo o que ela respondeu.

Quando a música acabou e nosses corpos se separaram, respirei fundo, o coração batendo rápido e vi Sam ainda lançar um sorrisinho sarcástico antes de desaparecer e voltar com suas roupas normais, fingindo que nada havia acontecido. Quando a comida finalmente chegou, a observei quieto por cima do prato. Sem sinal da garota de minutos atrás, apenas a comilona de sempre. Será que ela fazia aquilo de propósito, porque sabia que me deixava louco?


***

Fomos à praia no dia seguinte. Acordei a demônia cedo, o que me custou dois socos. Um por acordá-la cedo demais e outro por obrigá-la a passar protetor solar. Visitamos as duas melhores praias, Santa Monica e Malibu. Mergulhamos, corremos pela praia, jogamos vôlei e badminton, e a loira até aprendeu a surfar com alguns garotos que descaradamente flertavam com a demônia. E o pior. Ela dava corda só pra me irritar. Acho que ela estava virando uma espécie de Ph.D nisso.

À tarde almoçamos no shopping, indo ao cinema logo depois para assistir a algum patético filme de terror. Como não estava muito a fim, a loira começou uma rodada de insultos e ameaças que chamou a atenção dos que passavam perto de nós. Percebendo que aquilo me envergonhava profundamente, ela começou a falar mais e mais alto, fazendo-me puxá-la de uma vez por todas para a bilheteria.

De lá, Sam quis ver um pouco as lojas, o movimento das pessoas. Mas ela não foi tão longe. Encantou-se com uma loja de fantasias, correndo para dentro e experimentando cada uma delas. Parecia uma criança em um parque de diversões. Essa era outra característica dela que me fizera apaixonar por ela. Sam conseguia se divertir com qualquer coisa, e me fazer rir ou me envergonhar, dependendo da situação. Como gostava de vê-la alegre e a alegria não implicava diretamente na minha vergonha, como algumas vezes acontecia, saquei a câmera e comecei a tirar fotos de suas combinações excêntricas de roupas.

Fada, vampira, bruxa, uma réplica malfeita do Barney, líder de torcida, mágica. Cada flash me rendia uma risada pelas poses e caretas que ela fazia. Por fim, saiu vestida de fazendeira:

–Agora só falta a Carly aqui e podemos fazer uma edição de iCarly especial em Los Angeles. Já estou até vestida para uma peça patética. - ela veio até mim, soprando o bigode e girando o braço no ar, como se fosse um laço, e sentou-se ao meu lado.

–Sinto falta dela. - comentei, deixando a câmera de lado e abraçando seus ombros.

Ela deitou a cabeça em meu ombro e suspirou:

–Eu também. Há muitas partes dessa viagem que eu gostaria de ter compartilhado com ela. Eu sei que estamos filmando e tirando fotos como se não houvesse o amanhã, mas não é a mesma coisa.

–Acho que a única coisa que nos resta a fazer é aproveitar a viagem, como ela disse que fizéssemos. Depois que nos pegarem, acho que nem vida teremos mais. - argumentei.

–É quem sabe poderemos repetir a dose quando tivermos sessenta anos. Isso sendo otimista em relação ao seu castigo. - provocou e eu apenas dei de ombros. Era verdade mesmo.

Ela riu e eu a empurrei de modo que ela ficasse de pé:

–Então vai, coloca outra fantasia e um sorriso no rosto, assim teremos mais fotos para mostrar para Carly, eu sei que ela vai querer ver tudo, mesmo.

Sam voltou para o provador e, enquanto esperava, dei uma boa olhada pela loja. No entanto, foi algo do exterior dela que me chamou a atenção. Acho que Sam em sua euforia e eu em meu desespero por acompanhá-la nem tínhamos notado. Sorri de lado a lado, aí estava uma coisa que agradaria a nós dois. E era bom que eu arranjasse um passatempo para a loira, antes que ela novamente inventasse algo arriscado como, por exemplo, rachas.

Caminhei até o quiosque em que um grande cartaz anunciava que o próximo show do AC/DC seria na cidade. A apresentação aconteceria no dia seguinte, à noite, e estava quase esgotado. Comprei as entradas e, silencioso, voltei até a poltrona em frente ao provador, como se nada tivesse acontecido. Sam ainda se vestia.

Quando finalmente puxou para o lado a cortina vermelha do provador, agradeci aos Céus por estar sentado. Ela estava linda. Vestia uma toga grega com vários fios de ouro adornando-a. Uma gladiadora dourada nos pés, e várias jóias de ouro pelo corpo, inclusive uma coroa posta cuidadodamente sobre os cabelos claros, que caíam como uma cascata de cachos por um dos ombros.

Deu um passo a frente, encarando-me. Queria desviar o olhar, mas aqueles olhos azuis estavam ali, a me hipnotizar, prendendo-me. Sorri de lado e levantei por fim, girando-a com delicadeza pelos ombros, de modo que estivéssemos ambos de frente para o espelho. Ela ainda me olhava séria, intensamente pelo espelho, e eu podia sentir sua respiração acelerada. Ainda a segurando pelos ombros, atrás dela, sussurrei:

–Sabe com quem está se parecendo, Sam? - perguntei, ainda sorrindo de lado.

Ela mordeu o interior da bochecha e negou com a cabeça uma vez, os olhos sem deixar os meus:

–Você parece Afrodite. - respondi simplesmente.

Uma ruga apareceu em sua testa, e eu percebi que ela não sabia do que se tratava:

–Afro, quem?

A girei novamente, do modo que ela estivesse de frente para mim:

–Sério que você não sabe, Sam? Quem é Afrodite? Já estudamos mitologia grega, sabia? - contestei.

Ela me olhou com cara de tédio:

–Desde quando eu me interesso pelo que nos ensinam na escola, Benson? E não, não sei mesmo quem é essa tal de Afrodite. Se não soubesse, não estaria perguntando. - ela esclareceu, esquivando-se de mim raivosamente.

Voltei a pôr as mãos em seus ombros, acalmando-a:

–Ok, tudo bem. Afrodite é a deusa grega do amor e da fertilidade, Sam. Era considerada a deusa mais bonita do Olimpo, o lar dos deuses. - expliquei.

Sam corou e desviou o olhar, tentando esconder com as mechas as bochechas adoravelmente rosadas:

–Ah, certo, então. - foi tudo o que conseguiu dizer.

–Feche os olhos. - ordenei, após um tempo.

Ela franziu o cenho, e abriu a boca para protestar:

–Não vai me beijar, não é? Porque o que eu disse em Carmel ainda está valendo e eu juro que quebro seus dentes... - mas eu pus a mão em sua boca, parando-a, tentando não me importar com as palavras dela.

–Apenas feche. -ordenei mais veementemente, só liberando seus lábios quando seus olhos estavam definitivamente fechados.

Tirei os ingressos do bolso e pus em frente ao seu rosto, permitindo que ela abrisse os olhos. Quando ela os viu, pulou em meu pescoço, gritando loucamente. A coroa caindo aos seus pés. Depois me empurrou e começou a fazer uma coreografia estranha de comemoração, arrancando olhares das vendedoras e dos outros clientes.


***

–Nossa, quanta gente. - Sam comentou, enquanto passávamos em frente ao Staples Center, o estádio onde aconteceria o show.

A fila de carros andava devagar e só conseguimos vaga para o carro várias ruas abaixo de onde ficava o estádio. A rua era meio isolada e sinistra, mas como havia vários carros e o movimento das pessoas era constante àquela hora, não vi problema em deixar o carro ali. Quem sabe se voltássemos cedo, chegaríamos a tempo de encontrar o carro ainda inteiro.

Subimos as várias ruas, acompanhando a multidão que seguia para os estádios. Enquanto caminhávamos, ia analisando o espaço ao nosso redor. Aquilo estava se tornando um costume sempre que nos encontrávamos em um local de potencial confusão. E eu rezava para que nada acontecesse. Deus sabe o tipo de gente mal encarada que passava por nós. A maioria era normal. Adolescentes empolgados com o show. Adultos que já foram esses adolescentes nas gerações anteriores. Mas alguns realmente eram bem estranhos. Do tipo que se você encarar por mais de dois segundos quebra sua cara. Notei que olhavam muito para Sam, analisando-a descaradamente. Usava um jeans curto, o que garantia uma boa visão de suas pernas, e uma meia arrastão com um Allstar preto. Estava tão preocupada em achar o caminho para o estádio que nem notou que a encaravam. Passei o braço sobre seus ombros, irritado. Aquele material era meu, querendo ela ou não.

Sam me puxou pela mão, indo a frente mais apressadamente. Passamos por um mar de gente até finalmente conseguirmos passar pela entrada do estádio. Ela parecia ansiosa, de vez em quando olhando para mim como se só quisesse confirmar de que eu também estava na mesma euforia que ela. E estava. Não só porque estava vivendo as melhores férias da minha vida, não só porque estava em um show do AC/DC. Mas principalmente porque tinha Sam comigo. Qualquer coisa com ela valeria a pena.

Enfim, depois de entregarmos nossos ingressos, adentramos na atmosfera de show. E, se pensávamos que fora do estádio havia multidão, dentro era um formigueiro humano. O lugar estava um pouco escuro, eu via somente as luzes vindas do palco, ainda vazio. Havia pessoas lotando as fileiras e quase todas elas tinham em mãos um bastão fosforescente. Havia de todas as cores, amarelo, verde, azul, vermelho... O barulho estava muito alto, e Sam ainda me guiava, puxando minha mão. Foi quando ela virou-se para mim, mas a sua voz era inaudível por causa do barulho que a multidão fazia. Ela então aproximou-se de mim, e quase gritou no meu ouvido:

–A grade ainda não está cheia, se corrermos, talvez consigamos um lugar na frente.

E sem esperar se eu concordaria ou não, saiu me puxando, abrindo caminho entre as pessoas, que gritavam freneticamente, balançando os bastões fosforescentes. Uma garota também loira de jaqueta vermelha deu um grito tão agudo nos meus ouvidos quando passamos, que eu também gritei, mas acho que quase ninguém ouviu. Depois, mas a frente, outra garota sacudiu o bastão dela na minha cara. Foi uma eternidade para chegarmos na frente do palco, onde Sam queria ficar. Sam parou e soltou minha mão. Começou a pular e a gritar como as outras pessoas.

–Anda Freddie, se meche! – ela gritou para mim.

Então o show de abertura começou. Cobra Starship abriria o show. Como não era um estilo de música que eu gostasse muito, a princípio, não me empolguei muito. Mas, à medida que as músicas iam e vinham, comecei realmente a entrar no clima e curtir tanto quanto Sam, que gritava bem alto a letra das músicas. E novamente eu me pergunto, existe alguma música que ela não conheça? Deixei uma nota mental para perguntá-la depois.

Começaram a cantar Good Girls Go Bad, uma das poucas que eu conhecia, e eu comecei a cantar junto, meio timidamente no começo, mas Sam, percebendo, lançou-me um sorriso de lado e começou a pular e cantar, incentivando-me. Depois You Make me Feel e outras músicas que eu realmente não em importei em aprender o nome, estava me divertindo demais para isso.

Até que finalmente eles deixaram o palco, agora totalmente no escuro, e um barulho ensurdecedor de sinos preencheu o estádio e do alto, bem acima de nós, um sino de várias toneladas começou a descer sobre nossas cabeças com a logo do AC/DC. O barulho dos gritos misturou-se ao dos sinos, anunciando o começo do show principal e a primeira música: Hells Bells.

O palco começou a iluminar-se no mesmo momento em que as guitarras e a baterias deram sinal de vida. Brian surgiu primeiro em meio à fumaça de gelo seco, com um martelo enorme em mãos batendo duas vezes no sino, incentivando o pessoal, que já gritava loucamente, e começou a cantar. Depois surgiram Angus e Malcolm e eu me lembro que pensar que aquele era o momento mais incrível da minha vida. Sam pegou minha mão e sorriu, e eu, em meio à loucura e os gritos e ao solo insano de guitarra, consegui ler seus lábios em um rápido 'obrigada'.

O show em si passou rápido. Seguiu com TNT, Highway to Hell, e Sam, que nunca largava minha mão, a apertou calorosamente, reconhecendo que aquela era a música que originalmente tinha nos levado ali. Era mais do que uma música para nós, era quase como três palavras que resumiam essas últimas semanas. Back in Black e Thunderstruck vieram e foram, enlouquecendo a multidão; tanto que na metade do show eu já estava surdo, desorientado, dolorido e sem voz. Mas, principalmente feliz. Aquilo valia completamente a pena.

You Shook Me All Night Long e High Voltage. Black Ice e Rock n' Roll Train. Shoot to Thrill e The Jack.

No que eu calculei ser a última música, Brian perguntou quem sabia cantar She Likes Rock n' Roll. Ouvi Sam gritar ao meu lado junto com o restante do público. Mas devo dizer que o dela se destacou, meu ouvido estava a ponto de sangrar depois daquilo. Já que estávamos perto da grade, a vi ser suspensa pela cintura por segurança brutamontes. Ela disse algo para ele e ele virou-se para mim, ajudando-me com o braço. Depois da força descomunal que ele aplicou e dos múltiplos chutes que tive que dar para me livrar das pessoas que agarravam-se a mim, finalmente pisei são, salvo e desorientado no chão no palco. Sentia-me como naquela vez em que fui jogado no meio dos fãs de iCarly em plena Webicon. Só que mil vezes pior.

Sam, no entanto, parecia ter se recuperado rápido, porque já abraçava Brian, Malcolm e Angus como se fossem melhores amigos. Brian, sempre brincalhão, fez uma mesura e beijou a mão da Sam, que sorria radiante:

–Mas olha o que temos aqui! - a fez dar um volta - Goltei da blusa. - ele comentou, sorrindo, referindo-se a bata do AC/DC que ela usava bor baixo da jaqueta de couro.

Quando me aproximei, eles me cumprimentaram rapidamente, e Brian virou-se para Sam, que dizia algo em seu ouvido. Ele assentiu uma vez e chamou um contrarregra, que em poucos segundos me puxou e passou uma guitarra para meus braços. Olhei interrogativamente para Sam e Brian. Ela apenas deu de ombros, sorrindo diabolicamente.

–A loirinha aqui disse que você toca muito bem. - Brian explicou - Que tal um desafio? Sabe tocar a próxima música?

Se eu sabia? Foi uma das primeiras que aprendi. Mas preferi mostrar.

Com um movimento rápido dos dedos, toquei as primeiras notas de She Likes Rock n' Roll. À minha direita, escutei Angus soltar um barulho de aprovação e ele continuou a tocar, acenando uma vez para Malcolm e para mim, incentivando-nos. Passaram um microfone para Sam e, juntos, Brian e a loira começaram a cantar:

Trilha: http://www.youtube.com/watch?v=Oe0faTzWrxw

"A little game of falling down,

You rock n' roll when the call come 'round,

Come on baby, and make some time,

Made in the shade and you wished it'd turned around,

You're gonna rock, you'll roll the night away,

You're gonna roll baby, and I'll make the grade,

We gonna rock you now, rockin' and rollin' all in the town,

You're gonna make it right, we're gonna need to rock all night,

She digs rock n' roll,

She likes rock n' roll,

You want rock n' roll,

I need rock n' roll everyday,

And all through the night

We are a gang coming down,

We're gonna rock all night,

Rockin' rollin' all the time

She may be home, rollin' out the grove,

You know that rock and rolls, squeezing out the tube,

She digs rock n' roll,

She likes rock n' roll,

You want rock n' roll,

I need rock n' roll,

Everyday, and through the night,

She digs rock n' roll, she gives rock n' roll, she gives me rock n' roll,

I like rock n' roll,

I gotta dance all night long,

And rock into the room,

She likes sugar, and I like honey too,

We gonna rock it,

Ain't gonna mess around with you,

She digs rock n' roll,

She likes rock n' roll,

You want rock n' roll,

I need rock n' roll,

Everyday, and through the night,

She digs rock n' roll,

She gives rock n' roll,

She lives rock n' roll,

I like rock n' roll,

We gonna rock 'round, rockin' rollin' all in the town,

We're gonna make it right,

We're gonna make it rock all night,

We're gonna rock 'round,

Rockin' rollin' all in the town,

We're gonna make it right,

We're gonna make it rock all night"

(Pequeno jogo de quedas

Você faz Rock n` Roll quando o chamado aparece,

Venha meu amor, e arrume um tempo,

Feito nas sombras e você gostaria que tivesse dado meia volta

Você vai dançar e girar a noite toda

Você vai girar meu amor , e eu vou conseguir,

Nós vamos chocar você agora, sacudindo e agitando tudo na cidade

Voce vai acertar, nós vamos ter que curtir a noite toda

Ela curte Rock n` Roll

Ela gosta de Rock n` Roll

Você quer Rock n` Roll

Eu preciso de Rock n` Roll todo dia,

E a noite toda

Nós somos uma gangue,

Vamos agitar a noite toda,

Sacudindo e agitando o tempo todo,

Ela pode estar em casa, rolando no bosque

Você sabe que isso detona, tirando tudo do tubo

Ela curte Rock n` Roll,

Ela gosta de Rock n` Roll,

Você quer Rock n` Roll,

Eu preciso de Rock n` Roll,

Todo dia e a noite toda,

Ela curte Rock n` Roll, ela dá Rock n` Roll, ela me dá Rock n` Roll,

Eu gosto De Rock n`Roll,

Eu tenho que dançar a noite toda,

E entrar com tudo no quarto,

Ela gosta de açúcar, e eu gosto de mel também,

Nós vamos detonar,

E não vamos fazer mal a você

Ela curte Rock n` Roll,

Ela gosta de Rock n` Roll,

Você quer Rock n` Roll,

Eu preciso de Rock n` Roll,

Todo dia e a noite toda

Ela curte Rock n` Roll,

Ela dá Rock n` Roll,

Ela vive o Rock n` Roll,

Eu gosto de Rock n` Roll,

Nós vamos curtir por aí, sacudindo e agitando tudo na cidade

Nós vamos fazer certo,

Vamos agitar a noite toda,

Vamos fazer Rock n` Roll por aí,

Sacudindo e agitando tudo na cidade,

Nós vamos fazer certo,

Vamos agitar a noite toda)

Vou te contar, a parceria Sam e Brian estava dando muito certo, porque o público gritava a plenos pulmões enquanto os dois cantavam e incentivavam a multidão. E Sam estava lá, mais uma vez usando daquele carisma inigualável, pondo Los Angeles toda aos seus pés, e eu podia dizer que Brian estava tão encantado com ela quanto a multidão.

Quanto a mim, bem, eu podia sentir as câmeras no meu rosto, e minha humilde performance na guitarra sendo transmitida pelo telão e para sabe Deus lá quantos países. Estava muito nervoso e realmente me esforçava para não errar nenhuma nota, já que fazia bastante tempo que não tocava essa música em particular, mas a julgar pelo modo como os irmãos Young sorriam para o público, tocavam e me apoiavam, acho que estava indo bem.

Perto do final da música, Sam virou-se para mim, enviando-me um daqueles sorrisos gloriosos e arregalou os olhos dando um pulinho rápido, como uma daquelas fãs enlouquecidas. E eu sabia o que ela gritava para mim com os olhos: estamos no palco com AC/DC! Aquilo parecia um mundo meio paralelo. Quer dizer, qual a chance disso acontecer com o Freddie Benson e Sam Puckett normais? Retribuí o sorriso, tocando as últimas notas de She Likes Rock n' Roll.

Quando a música finalmente terminou, Brian foi à frente do palco e anunciou que essa era realmente a última música e agradeceu. Chamou a mim e a Sam, passou o braço pelos ombros dela e deu um tapinha no meu ombro:

–Sam e Freddie, senhoras e senhores! - anunciou - Nossos talentosos fãs desta noite! - e virou-se para mim - Caramba, você tem talento, garoto! E você, Sam, tem potencial para ser uma estrela! Vocês tem algo mais a dizer? - ele perguntou, estendendo o microfone.

Sam tomou o microfone de suas mãos e olhou para uma câmera que descia do alto, ficando bem a frente dela:

–Essa é dedicada a todos os fãs de iCarly! Quem é fã faz barulho! - ela gritou e o público reagiu com assobios e mais e mais gritos. Então seu sorriso diminuiu um pouco e ela apertou o microfone nas mãos, um pouco triste - Carly, eu sei que quando vir isso provavelmente vai surtar, se já não tiver surtado, quando descobriu que eu e o nerd aqui fugimos, mas gostaríamos que soubesse que sentimos sua falta e sentimos por não estar aqui conosco. Não é a mesma coisa sem você. É isso. - e deu um passo atrás, devolvendo o microfone.

Brian pegou o microfone, analisando-nos:

–Então vocês que são os apresentadores de iCarly, estava me perguntando de onde conhecia os dois. Minha neta adora seu webshow. Sempre assisto com ela. - ele sorriu.

E Sam olhou para mim novamente, os olhos arregalados, e eu sabia que ela estava se controlando para não pular no pescoço do vocalista e gritar para o mundo que Brian Johnson assiste iCarly com a neta.

***

Descíamos a rua em direção ao carro quando me dei conta de algo. Na verdade, estava meio óbvio: confusão.

Tínhamos saído bem tarde do show, passando um bom tempo no backstage a convite da banda, de modo que a maioria das pessoas já havia saído do estádio e, consequentemente das ruas. Se, com a multidão que se dirigia ao show as ruas mais afastadas eram sinistras, agora a atmosfera era dez vezes pior. Agradeci aos Céus por ter observado bem o caminho na ida, porque, caso contrário, não o teria reconhecido.

Sobrando apenas alguns grupos de gente muito estranha fumando e se agarrando, o lugar estava mais escuro e, se possível na Califórnia, mais frio. À medida que íamos descendo a rua, as pessoas nos encaravam como se fôssemos de outro planeta. Puxei Sam para mais perto como medida de precaução.

Contudo, apesar de toda minha atenção, foi Sam que os viu primeiro. Estavam em um grupo de cinco e, assim como da primeira vez, meu cérebro gritou em alerta. Podia não ser toda a gangue, mas a amostra grátis já me fazia querer correr como se não houvesse o amanhã. Reconheci Hooper, o guitarrista que tocou na pequena performance de Sam entre eles. Tinha um sorriso enviesado no rosto e acenou uma vez para mim em reconhecimento quando me pegou encarando-o. Dos demais homens, apenas reconheci o atendente do balcão do bar. A garota loira que tinha batido na minha bunda estava com eles, apoiada em Hooper, lançava em minha direção aquele mesmo olhar de malícia.

Paramos de caminhar e pus um braço na frente do corpo de Sam, numa postura protetora. Ela empurrou meu braço para o lado, claramente demonstrando que não precisava de proteção. Não olhou para mim uma vez. Continuava encarando, percebi, a garota loira numa máscara de profundo desgosto e irritação. Qual é, Sam, vai escolher uma hora dessas para ter ciúmes? Será que ela não percebeu que a ameaça aqui não é a garota, mas o careca latino com um bastão de ferro na mão?

–Até que enfim vocês chegaram. Estava começando a achar que teria que ir buscar os dois. - declarou Hooper, dando um passo à frente, os olhos perigosos.

–E será que eu posso saber o porquê de tanta espera? - exigi, cruzando os braços.

–Harry que dar uma palavrinha com os dois. - ele sorriu, assassino.

–Mas a gente não está a fim. Se não se importa, a gente está cansado, foi uma noite longa. - declarei, cruzando a rua, puxando Sam comigo. Podia sentir sua postura rígida, ela estava claramente se preparando para a briga. Má escolha, Puckett, se depender de mim ninguém vai apanhar hoje.

–Ah, mas vocês não vai querer fazer essa desfeita, não é? Ele ficou tão feliz quando descobriu que vocês estavam na cidade. Além do mais, é como você disse, a noite foi bem longa. Não vamos mantê-lo esperando. - e assentiu uma vez para o latino e o atendente do bar, que, a julgar pelo brilho prateado no cós da calça trazia uma arma consigo.

Plano A, negociação. Testar uma abordagem mais gentil. Ninguém fere, ninguém sai ferido. Sam pareceu ler meus pensamentos, porque disse numa voz arrastada e perigosa:

–Acontece, Hooper, que ninguém quer ir. E, como isso é um país livre, você não pode nos obrigar.

Fechei os olhos em desaprovação. Péssima frase, Sam, péssima frase. Tanto que eu já sabia o que ele diria a seguir:

–Você quer me ver obrigar? - ele estreitou os olhos, lançando um sorriso sarcástico - Olha, podemos fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil. - e levantou os braços, como se se rendesse - O que você me diz, Sammy?

–Não me chama de Sammy. - rosnou e, assim como ele levantou os braços em rendição - Tudo bem, do jeito fácil, como quiser. - começou a caminhar na frente, como se nada tivesse acontecido.

Hesitante, comecei a caminhar em sua direção, fazendo questão de passar o mais longe possível do latino com a barra de ferro e a garota loira. Se eu pensasse com cuidado, o nível de confusão que cada um me renderia era igual.

Caminhamos alguns quarteirões, Sam e eu na frente, mas escoltados de perto pelo grupo maravilha. Por fim, em um cruzamento de duas ruas, ordenaram para que nós parássemos e, um segundo seguinte, estávamos sendo empurrados rudemente em direção a um beco entre dois dos prédios que tinham um aspecto abandonado e sujo.

E, no meio do beco com a maior parte da gangue, estava ele: Harry. Estava enroscado num beijo no mínimo empolgado com a garota morena que tínhamos conhecido da outra vez. O resto, mais ou menos seis ou sete homens, pelo que pude contar, estava aquecendo-se em volta de dois tonéis pretos pegando fogo e conversando animadamente. O beco estava escuro e a única luz era a proveniente das chamas dos toneis, que lançavam sobras longas e fantasmagóricas nas paredes dos prédios. Ao longe, logo depois da grade de arame que demarcava o final do beco, podia-se ver a outra rua, também mal iluminada e sem viv'alma.

Harry percebeu a agitação do grupo assim que chegamos e soltou a garota, dando um passo à frente:

–Demorou demais, Hooper. - reclamou - Sean e Jason já estavam começando a apostar para qual delegacia vocês tinham sido levados. - ele comentou e dois caras em meio às sombras, Sean e Jason, suponho, riram.

–Eles demoraram a sair do estádio. E você sabe como os dois podem ser difíceis quando querem. - explicou.

Harry passou a língua pelo lábio inferior, deixando evidente a cicatriz que tinha nele. Encarou-me acusadoramente. Fora um soco meu que causara aquilo nele:

–É, eu sei, sim. - foi tudo o que disse.

–Olha, agora que já se viu, acho que nós podemos ir agora, não é? - Sam sorriu forçado, pegando no meu braço e acenando para a saída do beco.

–Ah, mas logo agora que vocês chegaram. - ele fingiu estar desapontado e depois sorriu, dando um passo à frente - Sabe, fiquei muito feliz quando descobri que os dois estavam por aqui. Depois de sermos liberados da cadeia, soubemos que teria um show do AC/DC em Los Angeles e resolvemos vir. Só não imaginávamos encontrar vocês aqui, subindo a rua para entrar no estádio, e depois cantando lá em cima, veja só! Eu disse que você tinha potencial, loira. Sei reconhecer um talento quando vejo um. - acrescentou, e seu sorriso alargou-se quase diabolicamente - Então nossa vinda para cá saiu melhor que o esperado. Os dois têm uma dívida comigo - você sabe, pela polícia e a confusão e tudo mais - e receio não poder deixá-los ir. Vocês ainda tem que pagar. Com a vida. - anunciou casualmente, dando de ombros, como se dissesse que vai chover.

E o resto da gangue manifestou-se, alguns levantando bastões de ferro e de baseball, outros com facas na mão, o brilho dourado do fogo refletindo nas lâminas, o atendente do bar e Harry traziam armas nas mãos. Mas acho que eles queriam nos provocar uma morte lenta e dolorosa, porque apenas os com os bastões e as facas deram um passo à frente.

–Uou, uou, espera aí, ninguém aqui quer brigar, cara. Se é um pagamento que você quer, nós temos dinheiro. - e lá estava o plano A de novo. Negociação.

Harry rolou os olhos e riu:

–Será que não percebe? Eu não quero e nem preciso do seu dinheiro. É seu rosto que eu quero retalhar.

Meus músculos se retesaram e meu estômago revirou de medo e, por instinto, procurei a saída do beco com o canto do olho, calculando as chances de escapar. Harry deve ter percebido isso, porque riu:

–É inútil correr. São dois de vocês e onze de nós.

Trilha: http://www.youtube.com/watch?v=nmy113gMds0&feature=relmfu

–Se é briga que você quer, Harry, então é briga que terá. - Sam declarou ameçadoramente, amarrando o cabelo e me empurrando para um lado. O olhar dela era assassino sob as chamas do fogo.

Então dois vieram para cima de Sam, que esquivou-se da investida de um primeiro bastão de ferro, mas levou um outro golpe nas costas de um de madeira, quase desequilibrando-se. Pulou quando um terceiro tentou dar-lhe uma rasteira e, num momento de distração dele, chutou-lhe as partes baixas, fazendo-o curvar-se no chão de dor e, tomando-lhe a faca, cortou o segundo, abrindo um talho no braço que segurava o bastão de baseball. Ele recuou por um segundo, avaliando o corte e ela tomou-lhe o bastão, jogando-o em minha direção. E, começou a esquivar-se do que estava com o bastão de ferro.

Ela era rápida, eu tinha que admitir, e lutava bem também, tanto que estava dando conta de três ao mesmo tempo. A observava embasbacado, mas me obriguei a me concentrar na minha parte do problema. Eu tentava a todo custo me lembrar das poucas aulas de wrestling que tinha feito assim que entrei na academia, e, quando Sam me jogou o bastão, consegui me esquivar uma vez do cara latino com o bastão de ferro, quando o ataquei, ele esquivou-se também, e um segundo apareceu por trás, pondo a faca em minha garganta, perfurando um pouco meu pomo de adão. Com um movimento rápido, puxei a mão que segurava a faca girei, de modo que o seu braço torcia-se em um ângulo estranho. Com um puxão a mais, escutei um estalo e ele soltou a faca. Chutei o latino no estômago, num momento seu de distração, enquanto ele vinha em minha direção. Ele recuou, sem ar. Girei o bastão, batendo-o com toda a força em sua cabeça. Ele caiu, inconsciente.

Mais dois vieram, um com um bastão de ferro e outro com uma faca. Distrai-me por um segundo, levando a mão à garganta, voltando um pouco vermelha. Não era fundo, mas na garganta nunca se sabe. E ardia. Um deles, aproveitando-se girou o bastão em minhas costelas e eu caí para trás, langando meu próprio bastão, batendo no concreto do prédio. Ele avançou e eu girei para o lado, evitando-o. Dei um tapa em sua orelha, e ele caiu para o lado desorientado.

Mais alguns segundo de luta seguiram-se e eu contava minhas baixas mentalmente. Um corte na garganta, outro no alto da sobrancelha direita, minhas costelas doíam horrivelmente onde tinham sido atingidas e minhas pernas e meus pulmões ardiam com o esforço. Sam não estava melhor que isso, mas estava se virando melhor que eu.

Não sei em que ponto Harry percebeu que demoraria muito tempo para nos cansar a ponto de nos subjugar, mas eu sabia que ele perderia a paciência logo. E isso aconteceu na forma de um grito:

–Chega! - ele vociferou e, de relance eu o vi sacar a arma, um vulto negro em meio à escuridão e mirar em Sam.

Minha garganta puxou o ar para gritar pela loira, totalmente alheia ao fato, mas era tarde demais. Com um estrondo ensurdecedor, ele disparou a arma. Ouvi o grito de Sam e ela caiu no chão. Ela ficou no chão, arfando. Em meio ao breu, não conseguia ver o sangue. Quando dois caras avançaram para ela, gritei, chamando a atenção deles. No meio tempo em que me livrava dos dois, pelo canto do olho, vislumbrei a expressão vitoriosa no rosto de Harry, que caminhava em direção a Sam, provavelmente querendo terminar o que tinha começado. Meu coração gelou e meu pulmão ardeu ainda mais. Mas meus músculos continuaram lutando, somente a adrenalina me guiava. Não chegaria a tempo, era o meu único pensamento.

Ele parou em frente a Sam e seus olhos se arregalaram de medo. Ele apressou-se em levantar a arma, mas Sam aparentemente sem nenhum dano, chutou a arma para longe, caindo perto da grade de ferro que demarcava o final do beco. Ergueu-se num pulo e avançou para ele, desferindo socos. A garota morena, tentando defendê-lo ainda tentou empurrar Sam, mas ela a pegou pelos cabelos e a jogou longe. Harry, recuperando-se rápido, copiou o movimento de Sam e, a pegando pelos cabelos longos, a jogou na grade. Corri em seu auxílio, sem prestar atenção em mais nada e, quando Sam gritou meu nome, eu percebi que tinha sido um erro. Harry e um outro cara derrubavam os toneis no chão, o líquido espalhando-se pelo asfalto e o fogo alastrando-se com rapidez. Era uma armadilha. O fogo formava uma parede alta e nos impedia de passar, assim como a grade. Viraríamos churrasco tão rápido quanto eu posso dizer morte.

Harry riu e abriu os braços, indicando o fogo:

–Viram? Eu disse que era inútil correr. Sua dívida está paga. Divirtam-se. - e saiu correndo sem olhar para trás.

Olhei em volta. A fumaça começava a arder em meus olhos e impossibilitar a visão. Estava ficando mais e mais quente também. Sam avançou até o fogo, calculando se dava para passar ou não. Vendo que era inútil, a puxei e ela esquivou-se com raiva:

–Ah, mas você tinha que vir na minha direção, não é, Freddie? - e me deu um tapa no braço - E agora, o que a gente faz? - perguntou, deslizando pela grade de ferro, até sentar no chão, observando as chamas, que chegavam cada vez mais perto, num misto de medo e concentração. Fechou os olhos respirando com dificuldade, tossindo algumas vezes.

–Não sei, não dá para saltar, nem apagar as chamas. O jeito mais viável seria escalar a grade. - e olhei para o alto, observando as grossas voltas de arame farpado enrolado em cima dela.

–Eu não consigo, Freddie. - Sam confessou, abaixando a jaqueta de couro e levantando um pouco a manga da blusa, revelando um corte profundo no braço, um tiro de raspão que eu não tinha notado por causa da escuridão do beco e da jaqueta escura, que camuflava a torrente de sangue que descia.

Ajoelhei-me ao seu lado, examinando o corte. Era bem fundo, ia precisar de pontos, dez ou onze, pelo que pude perceber. Era isso, estávamos mortos. Sam não ia conseguir escalar a grade com aquele braço e eu não poderia içá-la nem deixá-la. Além dos ferimentos, estávamos exaustos demais para sequer respirar o ar poluído. Tossia que nem um louco, procurando ar puro. Num surto de raiva, avancei sobre a cerca, chutando com toda a força, tentando derrubá-la. Sam levantava-se com dificuldade, o fogo perigosamente perto dela:

–Anda, loira, deve haver algum jeito! Não podemos simplesmente desistir, ok? Pensa em alguma coisa! - implorei, capturando seu rosto em minhas mãos.

Ela devolveu meu olhar, os olhos azuis assustados e marejados. Estava a beira das lágrimas e provavelmente tão assustada quanto eu. Sim, Sam Puckett assustada. Para você ter uma ideia da gravidade da situação. Olhava em todas as direções, tentando achar algo que pudesse ajudar. Seus olhos arregalaram-se e eu vi a chama de uma esperança neles. Desviei o olhar na direção em que Sam olhava e avistei a arma de Harry a alguns metros de nós, quase que totalmente engolida nas chamas.

Uma arma? O que Sam pretendia fazer com uma arma?

Voltei meu olhar para ela, mas Sam já tinha se soltado de mim, olhando freneticamente para as pequenas junções de ferro que prendiam a grade ao concreto. Mas ela não me deu tempo para entender o que estava acontecendo, apenas gritou para que eu pegasse a arma, enquanto vasculhava os bolsos da jaqueta freneticamente. Corri para alcançar a arma, e precisei de quatro tentativas até conseguir segurá-la nas mãos. Aquilo queimava como o inferno.

Caminhei em direção à loira e ela abria um papel de chiclete, mastigando rapidamente. Aquilo era algum tipo de brincadeira? Chiclete numa hora dessas?

–Sam, tem certeza do que está fazendo? - perguntei cautelosamente.

Ela apenas me lançou um olhar do tipo 'espere e verá'. Tirou o chiclete da boca e o dividiu em dois, enfiando-o fundo nas orelhas. Num surto de entendimento, compreendi o que ela faria. Mas era tarde demais para protestar, num movimento rápido ela tomou a arma das minhas mãos como se tivesse prática nisso, destravou começou a atirar em direção à parede de concreto, onde as junções ficavam fincadas. Só tive tempo de tapar os ouvidos e fechar os olhos. Pedaços de concreto voavam e eu sabia que Sam estava fazendo um bom estrago na parede dos prédios. Se fosse no lugar certo, nossa vida estaria salva. Ouvi Sam começar a chutar a grade com força. Abri os olhos e observei. As junções estavam quase partidas e a grade meio solta. Com um pouco de força ela cederia. Suados e tossindo nossos pulmóes fora, começamos a chutar ainda mais no mesmo instante que o fogo começava a lamber perigosamente nossos pés e pernas:

–Mais forte! - Sam gritou, e com um baque alto a cerca cedeu, e nós arrancamos rumo à outra rua, rumo ao ar puro.



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Notas finais do capítulo

Reviews, recomendações, ingressos para o show do AC/DC ou o do Evanescence em outubro... tamos aí. (u.u)