Highway To Hell escrita por Syrinx, HévilaChavez


Capítulo 12
Capítulo 8: Tijuana (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, estamos vivas! Provavelmente tem muita gente querendo nos matar pela demora (dois meses né, Sr. Dellavechia?), mas esse capítulo é muito complicado de ser escrito, tanto é que só a primeira parte vai ser postada por enquanto... Prometo que vou tentar postar o mais rápido possível, se possível até o final do ano, mas nao prometo nada. O epílogo tá quase pronto, mas a parte final desse capítulo ainda é um problema para nós :/
Enfim, espero que gostem do capítulo escrito pela Hévila, eu só fiz algumas modificações, espero q nao fique mt estranho... O.o
Enfim, ENJOY q tá acabando! :)
P.S.: Reseolvi dedicar esse capítulo ao Dellavechia. Obrigado por não deixar a história morrer!



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Sem sombra de dúvidas os últimos dias haviam sido os melhores. Não porque eu estava indo rumo a Tijuana, mas sim porque tinha Freddie comigo. No princípio, eu não via a hora de pôr os pés naquela cidade. Mas agora, eu queria que ainda estivéssemos mais longe do meu tão esperado destino, porque queria passar mais tempo com ele. E minha vontade de que nossas férias estivessem apenas começando aumentou quando avistei a placa verde acima de nossas cabeças, com letras grandes e brancas: "Bem vindos a Tijuana".

Freddie, que dirigia concentradamente desde que cruzamos a fronteira dos Estados Unidos, disse-me com um olhar de missão cumprida:

-Prontinho Puckett, fiz o que você pediu. Está feliz agora?

Mesmo imersa em meus pensamentos, percebi a pontinha de ironia em sua voz. E mesmo sabendo que não era hora de implicar e começar uma possível discussão, acusei:

-Por algum acaso está sendo sarcástico, Benson?

-Imagina. – ele respondeu, dando de ombros.

Fitei-o de cima a baixo, com uma das sobrancelhas erguidas. Ele voltou-se para mim:

-Não respondeu a minha pergunta. - observou.

-É quase retórica, não acha? – afundei no banco com os braços cruzados. – Sonhei com esse momento a viagem inteira. 

Não sei se ele percebeu a insegurança com que proferi essa frase, mas o fato é que Freddie pareceu não acreditar em uma palavra que eu disse.

-Não parece feliz. – ele começou.

-E porque eu não estaria? 

-Não sei, vai ver você queira passar mais tempo comigo, ou algo assim...

Putz, o nerd leu meus pensamentos. Mas é claro que eu não iria demonstrar isso. Sei fingir muito bem.

-Ah, e você se acha, né? Se toca, Freddie Benson. – olhei para o lado, pondo meus óculos escuros no rosto.

-E eu posso falar? Vou sentir falta de cada dia que passamos juntos. 

Confesso que essa frase me fez lembrar do quanto eu também iria sentir falta dos nossos dias juntos e do quanto eu amava aquele idiota.

-Freddie, eu tenho algo muito importante para te dizer... – falei.

Ele apertou o volante e me olhou, a ansiedade nos olhos curiosos.

 -Você sabe que nós passamos muito tempo juntos, na estrada... desde San Diego, queria muito fazer uma coisa. - meus olhos eram suplicantes.

Os olhos de Freddie brilharam ainda mais. Aproximei-me dele, curvando-me em sua direção. 

-O que você quer fazer, Sam?

Respirei fundo e tentei falar devagar, para que ele entendesse o meu lado:

-Por favor, para o carro naquele posto de combustível ali. Tem uma lanchonete, e eu estou com tanta fome...

Senti o olhar dele me queimar inteira:

-Então era isso que queria me dizer? Que está com fome? Muito romântica, você.

-Ah, para com isso vai. Já devia ter se acostumado. – virei-me para o lado novamente, enquanto ele voltava sua atenção para a estrada.

Não acredito que aquele idiota ainda não entendeu que meu amor é demonstrado com insultos.

Enquanto eu comia o meu delicioso cheeseburguer, Freddie abasteceu o carro, que já estava na reserva. Depois ele juntou-se a mim e eu pedi mais um sanduíche para viagem. Conversamos um pouco, e as estrelas que surgiam no céu através dos fracos raios de sol nos indicaram que o dia já acabava. Apressamo-nos enfim. Pegando o lanche que eu pedira há pouco, saímos e voltamos para o carro.

Quando começamos a avistar traços tipicamente mexicanos, comecei a criar inúmeras expectativas. Imaginei-me comendo em restaurantes renomados da cidade pratos bem apimentados e escutando uma música em espanhol bem animada. Mal esperava para chegarmos em Tijuana. 

Pus meu braço para fora, e comecei a sacudi-lo freneticamente dando alguns gritos de alegria, e de vez em quando gritava para algum carro próximo que finalmente havíamos chegado em Tijuana.  Freddie, que mostrou um semblante de vergonha alheia, reprimiu-me, segurando o volante com apenas uma mão e tentando por meu braço para dentro com a outra.

-Sam, para com isso, Sam! Todo mundo tá olhando...

Como sempre, ele não conseguiu me deter, ou melhor, deter minha euforia. Pus meu braço para dentro, mas liguei o som e voltei a pô-lo para fora novamente. Freddie pareceu desistir de me fazer ficar quieta. Bad medicine, do Bon Jovi, era a música que tocava quando liguei o rádio. Comecei a cantar alto, me inclinando para fora do carro pelo vidro totalmente aberto. 

http://www.youtube.com/watch?v=4sJxDUxrlqE

 -“Seu amor é como um remédio ruim, remédio ruim é o que preciso, agite, assim como remédio ruim, não há nenhum médico que possa curar minha doença” – eu cantava freneticamente para o motorista do carro ao lado, que me ignorou completamente, fechando os vidros do seu carro como se quisesse se proteger de mim. Freddie começou a dar altas gargalhadas. Voltei-me para ele, minha testa franzida.

-Qual é a graça, nerd? - quis saber, cruzando os braços.

-Nada não. Só não pude conter o riso quando vi que aquele cara te confundiu com uma louca. – ele respondeu, tampando suas risadas com as costas da mão, como se adiantasse alguma coisa. – E a propósito, qual música você não conhece, hein, Sam?

Mais uma vez, dei aquela olhada no nerd de cima a baixo, com as sobrancelhas erguidas.

-Ui. Esse seu olhar me deu medo agora, me senti inferior. – ele ironizou, ainda rindo.

A música ainda tocava aos nossos ouvidos, mas a um volume, para mim, ainda baixo. Girei o botão do volume o máximo possível, até sentir a parte interna dos meus ouvidos vibrarem dentro do meu cérebro. Comecei a cantar mais alto que a música:

- “Eu tenho muito dinheiro, mas não é disto que preciso, vou precisar mais que uma dose, para tirar este veneno de mim.”

Percebi que Freddie reclamava do meu lado, sua voz inaudível em razão do volume do som e da altura da minha voz. Foi a minha vez de rir. Enquanto eu ria, ele deu um tapa no botão do rádio, desligando-o. 

-Ah, Freddie. Como você é bobão. Como foi que aguentou ir para o show do AC/DC comigo, hein? 

Ele não respondeu nada, apenas esfregou o ouvido com a palma da mão, fazendo uma careta. Estiquei meu braço e liguei o som novamente.

- “Eu tenho todos os sintomas conte 1,2,3”

Peguei o punho dele, e fechei sua mão a força, ainda cantando a música. Posicionei sua mão fechada a centímetros abaixo da minha boca, como se fosse um microfone. Esse ato fez Freddie rir muito, mas o volume do som não me permitiu ouvir aquelas risadas alegres que eu tanto amava.

- Anda, canta comigo, eu sei que você sabe! – eu gritei para ele.

- “Primeiro você necessita” – comecei.

- “É isto o que você ganha por se apaixonar, então você sangra, você tem um pouco, mas nunca é suficiente, de joelhos, é isto que você ganha por se apaixonar, e agora este garoto está viciado, pois seu beijo é a droga.” – cantamos em coro.

Cantamos a música inteira, e quando esta acabou, girei o botão do som, deixando uma música lenta em um volume bem baixo. Meus tímpanos pareciam que iam se projetar para fora dos meus ouvidos a qualquer momento, porque ainda vibravam. Freddie beijou minha mão umas duas ou três vezes, a mesma mão que segurava meu microfone improvisado. 

Ficamos algum tempo em silêncio, e eu começava a me perguntar se demoraríamos muito para enxergar a cidade em si, com todos os bares, boates, hotéis e outros lugares que talvez movimentassem o lugar. Notamos que a paisagem ao redor ia ficando mais vazia à medida que prosseguíamos a viagem. Como se o lado americano da fronteira quisesse se manter afastado e isolado do lado mexicano.

Ao longe, pudemos avistar a entrada da cidade. O contraste daquela parte do México com os Estados Unidos era gritante. Um cenário desolador, até. Casas simples, muitas feitas do que reconheci ser material reciclado, umas amontoadas sobre as outras. A poluição também era evidente, havia lixo a céu aberto, além de pneus e sucatas de carros. Até o ar parecia mais pesado do que o de San Diego. Fiquei esperando Freddie fazer algum tipo de comentário do tipo: “Passamos as férias inteiras viajando e correndo risco de vida para parar nesse tipo de lugar?”. Já estava esperando essa pergunta e por isso ensaiava mentalmente a minha resposta bem elaborada. Entretanto, acho que ele pensou o mesmo de mim, por isso apenas nos olhamos de rabo de olho, sem saber o que falar. Mas não senti arrependimento, não mesmo. Frustração seria uma palavra mais adequada. 

Aos poucos, uma fumaça começou a tomar conta da fronteira com Tijuana, tornando o clima ainda mais tenso. Estreitei os olhos analisando a estrada a nossa frente. Estávamos nos aproximando da alta e grossa cerca que separava os países. Era feita de arame farpado e chapas de um metal reforçado. Um entreposto americano com vários policiais extremamente armados guardava a fronteira na margem da rodovia. Freddie e eu nos olhamos com o semblante assustado. Sempre tínhamos ouvido falar que a segurança era rígida, só esperava conseguíssemos driblá-la.

Começamos a diminuir a velocidade, à medida que nos aproximávamos da blitz. Já era noite, e as únicas fontes de luz na estrada era a luz vermelha e azul das sirenes da polícia girando, da mínima construção que era o entreposto e o farol do Mustang, que estava em meia luz. Não chegamos a demorar muito tempo. Quando nos aproximamos, o procedimento de rotina foi feito: pediram que parássemos e revistaram cada centímetro do carro e de nossas malas. Olharam rapidamente nossos documentos, sempre nos olhando desconfiados por causa de nossa pouca idade, acho. Mas como Freddie agora era maior de idade e os nossos passaportes estavam em dias, eles não torceram tanto o nariz. 

Foi quando uma gritaria começou que percebi que a polícia estava apreendendo alguns supostos criminosos. Atraídos pela celeuma, vimos os policiais retirarem pacotes e mais pacotes de dentro do mesmo carro de onde os criminosos saíram correndo. Como já tínhamos sido liberados, Freddie me puxou pelo braço e, apressando-me para dentro do carro, prosseguimos viagem.

Um conversível ultrapassou-nos, e foi parado por um dos policiais. Apenas observei. Em poucos minutos, a nossa frente, assistimos a mais uma apreensão. O porta-malas do carro fora aberto e de lá mais pacotes, que percebi ser droga, e algumas armas foram retiradas. Aquele lugar era mesmo assustador, mas nada que me deixasse muito intimidada. 

-Tijuana sofre com alguns problemas relacionados ao tráfico de drogas. Já li isso em um site, mas pensei que não era tanto assim. - Freddie comentou.

Escutei tudo o que o nerd disse, mas fingi não me importar e ignorei suas palavras. Felizmente, o trabalho dos policiais ocuparam seu tempo, e acabamos passando pela cerca sem maiores complicações. 

-Foi por pouco. – Freddie falou alguns minutos depois.

Após mais algum tempo naquele cenário desolador, caótico, a fumaça que dominava o ar foi sumindo e aos poucos o ambiente foi se tornando mais animado. Começamos a ver alguns pequenos prédios, viadutos, uma maior movimentação e uma iluminação bem mais forte.

Passamos por mais algumas avenidas, que estavam cada vez mais movimentadas. Comecei a enxergar hotéis, restaurantes e casas noturnas, o cenário que há muito eu queria ver.

Passamos pela entrada do aeroporto, por mais alguns prédios, até eu ver algo que me fez prender novamente a respiração. Sacudi o Freddie e apontei para a placa que havia a nossa frente, com letras grandes e ao redor iluminada por várias pequenas lâmpadas que acendiam sequencialmente. Na parte superior da placa havia uma seta virada para a direita e no centro estava escrito: Pueblo Amigo Hotel & Casino.

https://plus.google.com/114258070956878710563/photos?hl=pt-PT

-Hmm? – Ele me olhou curioso – Você quer descansar no hotel ou se divertir no cassino, Sam?

Não segurei o riso:

-Você acha que eu vim lá de Seattle, passei por tudo que passei, viajando dias e dias nesse carro claustrofóbico, te aguentando do meu lado para finalmente chegar e ir dormir, Freddie? – cruzei os braços, enquanto ele revirava os olhos – Claro que não.

-Ok, já entendi. – ele retorquiu sem fazer objeção, fato que me deixou um pouco surpresa. 

Finalmente ele estava entendendo que esse era o meu jeito de dizer “eu te amo”.

Ele virou o volante do Mustang na direção da seta, e nos deparamos com um enorme e requintado prédio, iluminado por tantas luzes que nos deixou um pouco atônitos. Entramos em uma fila de carros, quase todos conversíveis, e as pessoas que deles desciam sempre bem vestidas. Era evidente que se tratava de um lugar para gente com boas condições financeiras. Uma ótima oportunidade para ganhar mais dinheiro, com apostas.

Quando finalmente chegou nossa vez, um manobrista muito bem vestido e educado apareceu do lado do carro, nos saudando com um “boa-noite” e nos dando as boas vindas. Agradecemos a gentileza. Peguei minha jaqueta e descemos do carro, deixando que o manobrista o estacionasse. 

Coloquei minha jaqueta e puxei as mangas. Certifiquei-me de que estava visivelmente a altura das pessoas que frequentavam aquele tipo de lugar. Certifiquei Freddie também. Pelo menos aparentemente estávamos bem.

O ambiente estava lotado. Havia muitas mesas, com pessoas jogando pôquer, outras blackjack, e havia uma mesa de sinuca mais afastada. No fundo, um bar com todos os tipos de bebida que se pode imaginar, no qual pessoas conversavam alegremente. Vi um grupo de jovens fazerem um brinde, provavelmente também estavam aproveitando as férias. Uma música de fundo tocava, para deixar o lugar ainda mais agradável.

Puxei Freddie pela mão, até uma das mesas de pôquer. Ele, instintivamente, me olhou com um olhar perdido. 

- Com, licença. – falei tentando ser o mais simpática possível – estão começando outra rodada?

Um homem corpulento de uns trinta anos que segurava um cigarro, olhou-me de cima a baixo, surpreso pelo jogo ter sido interrompido. Depois tomos um gole da sua bebida e levantou-se da mesa, vindo em nossa direção:

-Quanto vocês têm? – perguntou e logo em seguida deu uma tragada.

-Cinco mil. - respondi no mesmo tom desafiador.

O homem olhou por cima do ombro para quem estava na mesa: dois rapazes, um loiro e um moreno que pareciam ter a idade dele. Do lado oposto da mesa estavam sentados dois homens tipicamente mexicanos, a julgar pelas feições características e o sotaque espanhol. Um era branco e o outro bem moreno. O loiro também fumava, e exalou a fumaça enquanto me analisava com os olhos curiosos. Com um gesto, um dos mexicanos autorizou a nossa entrada no jogo. Logo os outros concordaram:

-Muito bem, é quase a aposta de cada um aqui. Podem juntar-se a nós. – falou o corpulento, afastando-se e voltando a sentar-se.

Puxei um maço de notas do meu bolso e o funcionário do cassino trocou o valor em fichas. Eu podia escutar os pensamentos de Freddie sobre jogar a dinheiro, mas ele não fez uma só reclamação. Apenas sentou-se do meu lado, de frente para os dois mexicanos.

O funcionário do cassino que embaralhava as cartas embaralhou-as habilmente na mesa, distribuindo duas para cada um de nós e deixando cinco de cabeça para baixo na mesa, dando início à partida. Como ele seria o dealer e eu estava diretamente à sua esquerda, eu seria a primeira a apostar:

-Quinhentos dólares. – falei, empurrando as fichas à minha frente.

O cara loiro que estava do meu lado apostou o dobro. Assim, todos o outros mantiveram o valor da aposta, menos o corpulento que, com um sorriso convencido apostou mil e quinhentos. 

As rodadas pareciam nunca ter fim, tão cuidadosos eram os homens, e as apostas cresciam cada vez mais. Os mexicanos que estavam de frente para Freddie foram os primeiros a saírem da partida, jogando as cartas na mesa. Alguma coisa me dizia que eles perderam de propósito, como se fizessem parte de um esquema. Achei esquisito terem entregado os pontos tão cedo, mas me voltei para a partida, após examinar cada um com o olhar. 

O outro cara moreno bebeu um gole do seu whisky antes de declarar que também estava fora do jogo.

Alguns segundos mais tarde, Freddie também saiu da partida, percebi que não queria arriscar com o seu conjunto de cartas. Finalmente, só restaram eu e o loiro, que tentava frustradamente me intimidar com seu belo par de olhos verdes. Senti Freddie apertar minha coxa por baixo da mesa.

O jogo prosseguiu, e quando finalmente pudemos revelar nossas cartas, vi que as minhas eram todas do mesmo naipe, um Flush, e as dele formavam dois pares, portanto, eu havia ganhado. Os demais jogadores me entregaram o dinheiro, que para eles, não parecia nada de exorbitante. Freddie me lançou um olhar de orgulho, enquanto o loiro me falava um “parabéns” com um sorriso cheio de dentes. 

Peguei as fichas e pedi que o funcionário as trocasse para mim. Peguei o maço de notas e guardei no bolso da minha jaqueta. Era bom parar enquanto estávamos ganhando. Quando fizemos menção de nos levantar da mesa, o homem corpulento veio em nossa direção e me deteve, com um puxão levemente forte no meu braço. Freddie colou o corpo no meu, encarando-o:

-Sou Robert Klim. – ele falou, esticando a mão para mim. 

Quando ia tocando a mão dele, Freddie passou o braço por cima do meu ombro, e cumprimentou Robert com um aperto de mão firme e seco. Olhei para trás para ver a cara do nerd.

Depois, virei-me para o sujeito que acabara de se apresentar a nós, e antes que eu falasse algo, ele tomou uma das minhas mãos, e levou os lábios até ela:

-Foi um prazer conhecê-la, señorita...

-Samantha Puckett. – completei, sentindo Freddie apertar minhas costas, contorcendo-se em ciúmes. 

Robert deu mais uma tragada no seu cigarro, e com um sorriso amarelo falou:

-Samantha Puckett, não gostaria de jogar mais uma vez conosco? Aumentaremos as apostas. - sugeriu com um sorriso que ele esperava ser sedutor. 

Fiquei pensativa sobre aceitar o convite, mas olhei para o Freddie só para checar o que ele achava. Vi que ele reprovou a proposta de Robert. 

-Tudo bem. – aceitei só para contrariá-lo, escutando o nerd bufar atrás de mim. 

Robert puxou a cadeira para que eu tornasse a me sentar, em seguida Freddie também tomou seu assento, a contragosto. 

-Vamos às regras. – ele falou, tomando um gole de Martini em seguida.

-Regras? Como assim regras? As regras já são estabelecidas. Conheço as regras do pôquer. - disse secamente.

Os demais presentes na mesa tiveram um acesso de risadas. Por fim, Robert bateu na mesa com força e falou:

-Ok, já chega de brincadeira. O assunto agora é sério. Esse não será um joguinho de pôquer, será O jogo de pôquer. 

Ri de escárnio do outro lado da mesa:

-Ah, é? Posso saber por quê? Você está esquecendo que não pode me obrigar a jogar. - lembrei.

-Por cento e cinquenta mil? - rebateu, as sobrancelhas grossas erguidas - Por cento e cinquenta mil, você não jogaria pelo simples medo de perder? Jogue limpo, Samantha. Jogue para ganhar mais. - instigou.

Senti uma onda de fúria tomar conta do meu ser: 

-Você quer que eu jogue? Ok. Não sou covarde. Mas vamos jogar limpo. Está com a grana? - quis saber.

Ele tragou mais uma vez seu cigarro nojento e fez um sinal para os demais. Cada um depositou em um canto da mesa trinta mil dólares. Apalpei o bolso da jaqueta para perceber que os trinta mil dólares que eu havia ganho na rodada anterior estavam a salvo. Fiz que sim com a cabeça:

-Só mais uma coisinha, Srta. Puckett. Há uma condição. - ele disse, um sorriso predador nos lábios.

Levantei uma sobrancelha e falei com um tom desafiador:

-Qual é?

-Você fará tudo que eu mandar, caso perder. - seus olhos me perfuravam.

Pressionei o maxilar com força, enquanto senti Freddie apertar minha mão por baixo da mesa. 

-Fechado. – foi minha resposta. Afinal, eu era Samantha Puckett, a garota que nunca recusa uma aposta.

O jogo teve início. Senti-me confiante, ativa e atenta a cada jogada. Os demais também dedicavam total atenção e percebi que diferente da primeira vez, eles agora jogavam para ganhar. Menos o nerd que tremia ao pegar as fichas e se atrapalhava todo com o seu baralho. Humpf. Estava com medo de perder. Mas eu não. Iria faturar uma grana preta no pôquer. Ia tudo para conta da mamãe, pensei com um sorriso. Minutos depois, Freddie saiu do jogo, deixando-me na mão e com a obrigação de ganhar. Era melhor assim, ele já estava me irritando com aquele nervosismo dele. Logo depois, o loiro saiu. Na jogada seguinte, um outro jogador entregou os pontos, e me fez perceber que o que eles realmente queriam era que eu me sentisse autoconfiante, como se deixassem que eu ganhasse. Mas por que fariam isso? Só restava eu e os dois mexicanos na rodada. Vi Robert cochichar algo para o ouvido do loiro e logo em seguida negou com a cabeça para um dos que ainda jogavam.  

Mais um jogador saiu, e restou novamente eu na partida contra alguém que, pelo jeito, jogava aquilo todos os dias. Apoiei meus cotovelos na mesa e encarei minhas cartas na mão, enquanto via o olhar suplicante do Freddie em minha direção.

Senti que por um fio eu poderia perder. Era tudo ou nada.

Infelizmente, por um deslize meu, fiz o outro jogador completar seu baralho. Quando revelamos as cartas, percebi que iria dar adeus a minha grana preta. Era uma sequência minha contra uma quadra dele. 

Ele jogou as cartas diante de mim, em cima da mesa. Em seguida esticou os braços, estalando os dedos. Fechei os olhos, tentando controlar a raiva. Não acreditei que havia perdido trinta mil dólares. 

-Tudo bem, senhorita Puckett, tudo bem. – Robert piscou para os outros. 

Bufei e puxei os trinta mil do bolso da jaqueta. Arremessei a contragosto o maço de notas, fazendo elas se misturarem às cartas na mesa. Puxei o braço do nerd e levantei-me de uma vez. Robert levantou-se rapidamente e se pôs à nossa frente, impedindo-nos de passar.

-Esqueceu da proposta? Você perde, eu mando. - cruzou os braços, olhando-me severamente.

-Claro que não esqueci. Sou uma mulher de palavra. E eu paguei o dinheiro que devia. - cuspi para ele, irritada.

-E quem foi que disse que eu quero seu dinheiro? - ele riu, pegando as cédulas da mesa e colocando no bolso interno da minha jaqueta. Afastei a mão dele rudemente, enojada.

-E o que você quer, então? - perguntei, e eu tinha certeza de que não ia gostar da resposta.

-Quero que me acompanhe até meu carro. - disse para nós, e indicando os dois mexicanos com a cabeça, eles nos pegaram pelos braços e nos forçaram até a saída do cassino, chamando a atenção das outras mesas.

-Ei, cara, o que é isso? – Freddie se manifestou, debatendo-se.

-Fica frio, não vai acontecer nada com vocês... - Robert garantiu, pegando-me pelo braço - A não ser que a sua garota não tome cuidado. 

-Cala a boca, seu idiota! – falei em alto e bom som. – Eu aceitei as condições, eu vou cumprir o que você disse, não precisa de violência! - argumentei, exaltada.

-Sam, você vai mesmo? – Freddie me perguntou, o olhar perdido.

-Vou sim. Tenho dezessete e não sete, lembra? – falei dando uma piscadela e sorrindo forçadamente. Precisava passar confiança para o nerd, embora eu estivesse também nervosa. Mas disfarçar era um dos meus dons.

-Podemos ir? – Robert perguntou educadamente, mas era evidente que ele tentava controlar a paciência.

Desvenciliei-me dele e o empurrei para trás com a ponta dos dedos e passei à sua frente. Endireitei a jaqueta e o cabelo. Olhei para trás e vi Freddie encarar-me novamente, os olhos arregalados, com medo.

Robert apagou seu cigarro no cinzeiro e dirigiu-se a saída do cassino, comigo logo à frente.

No estacionamento, longe de olhares curiosos, os capangas puxaram as armas, treinadas em nossa direção. Passamos por todos os carros, até chegarmos a um conversível prata, em um local isolado e escuro. Ele parou e ficou me encarando por um tempo. Sustentei o olhar, cruzando os braços, o queixo erguido. Ele deu a volta no carro, ainda me olhando. Em seguida abriu o porta-malas. Aproximei-me. Dentro havia duas malas. Ele logo tratou de abri-las. Deparei-me com pacotes e mais pacotes de droga. Entendi de súbito da onde vinha todo o dinheiro que haviam apostado no jogo. “Traficantes.”, pensei.

-Cocaína? – perguntei, mantendo tom de voz tranquilo, como se há muito estivesse acostumada a lidar com esse tipo de gente.

-Sim. Essa é sua tarefa: levar a droga até a fronteira. - ele me olhou, esperando minha reação.

Meu coração deu um pulo. Cerrei os punhos, tentando controlar a raiva e o medo:

-E se eu não fizer? - quis saber.

O loiro, um dos que segurava Freddie, destravou a arma que apontava para a têmpora do nerd. Robert riu:

-Eu estava esperando que dissesse isso. - e deu um tapinha no meu ombro, em seguida inclinando-se para sussurrar em meu ouvido - Se não fizer, uma bala atravessa o rostinho bonito do seu namorado. - enrijeci mais por causa da proximidade que da ameaça.

-Está certo. – foi tudo o que consegui dizer, entre dentes.

-Sam, não! - Freddie gritou, e se virou para Robert - Olha cara, a gente já te deu o dinheiro, só nos deixa ir. - Freddie tentou argumentar. 

O outro se irritou:

-Já disse que não quero seu dinheiro, garoto! - ele gritou - Eu preciso de uma mula para atravessar essa droga até San Diego e vocês apareceram no momento certo. - explicou -E agora já chega! Você tem vinte e quatro horas para levar a mercadoria ou pode dar adeus ao seu amigo! - perdeu a calma, jogando as duas malas em minha direção. 

-Quando chegar em San Diego, faça a entrega nesse endereço, de lá eu te dou a localização do seu namorado, e, quem sabe, você consiga encontrá-lo inteiro. - continuou, atirando um pedaço de papel dobrado em minha direção - Acredite, eu vou saber se concluir o serviço. E nem se dê ao trabalho em chamar a polícia, meu nome é respeitado demais por essas bandas. 

Ele se afastou com um sorriso perverso. Depois virou-se, ainda rindo:

-Ah! E só um conselho: esconda a droga no estofamento. É o melhor jeito de despistá-los. - aconselhou. 

Assentiu para os outros, que jogaram Freddie rudemente no banco de trás, e entraram logo em seguida, e o carro saiu, cantando pneu. 


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Notas finais do capítulo

Eu sei que demorou um tempão, mas comentem, ok? :)



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