Memórias Do Barão Sangrento escrita por Elena


Capítulo 4
4


Notas iniciais do capítulo

É o último, espero que gostem.



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Apunhalei-me, matei a mim mesmo pela segunda vez naquele fatídico dia. Por um instante cheguei a pensar que isso me aliviaria, mas seria desonroso se eu não pagasse caro pelo que fiz. Então morrer já não era o bastante, eu tinha de sofrer pela eternidade para compensar monstruosidade que cometi. E ainda estou pagando.

Não me lembro muito bem do que é morrer, tudo que me lembro é de sentir dor quando o punhal transpassou meu corpo e depois não senti mais nada, quando abri os olhos estava flutuando sobre meu corpo, nunca pensei que me tornaria um fantasma, eu nunca temi a morte, mas a eternidade me pareceu um bom preço a pagar pela morte de minha amada, um fantasma não pode sentir da mesma forma que os humanos, tudo que sentimos é como se estivéssemos nos lembrando do que aconteceu a muito tempo, é como quando uma pessoa sofre muito e supera, e quando lembra é como se não fosse tão ruim quanto parecia, mas nem isso foi-me concedido, eu ainda consigo sentir pesar, dor, vergonha e ódio pelo que fiz, exatamente como no momento em que percebi que tinha acertado meu anjo.

Com o coração em pedaços (sei que não tenho mais coração pulsando dentro de mim, mas a dor continua, para me lembrar do que fiz, para não me deixar esquecer, para me lembrar dia a dia, porque me tornei um fantasma), viro-me para ver meu anjo pela ultima vez, qual não é minha surpresa ao ver um outro fantasma logo acima do corpo inerte de Helena, era o fantasma dela, sinto lágrimas tomarem conta de meus olhos, e fico surpreso de poder chorar, mas uma alegria insana e uma vontade enorme de pedir perdão, mesmo que não mereça tomam conta de mim.

Aproximei-me devagar e ela percebeu me olhando com rancor, tudo que eu não queria nunca ver naqueles olhos, ela estava sentindo por mim o que um dia sentiu pela mãe.

- Olha o que você fez! – ela exclama e sai apressada, fugindo… fugindo de mim, como se eu pudesse fazer algo pior com ela, do que o que já fiz, eu não fui atrás dela, sabia para onde ela tinha ido, Hogwarts.

Chegamos quase ao mesmo tempo, Helena foi direto aos aposentos da mãe, me senti pior ainda imaginando o desprezo que Rowena dedicaria a mim, quando soubesse o que fiz com sua filha.

- Mãe! – exclama Helena surpresa, percebo que ela realmente não tinha acreditado em mim quando lhe disse que Rowena estava morrendo.

Olho para a cama onde repousa minha mais amada amiga, ela estava tão pálida quanto eu me lembro, seu rosto está mais encovado ainda, e ela mal abre os olhos, parecia tão fraca.

- Minha menina, você veio. – Rowena fala com uma voz que nem parecia a sua, rouca e baixa, ela faz um esforço para sorrir, mas tudo que consegue é um esgar. – Eu temi que eu não fosse vê-la antes de partir… fico feliz que isso não tenha acontecido… eu sinto muito pelo que eu lhe fiz… saiba que eu te amo… minha menina linda.

Essas foram as ultimas palavras dela, Rowena morreu com um pequeno sorriso no rosto, e mesmo destruída pela doença, ainda havia beleza nela, ela ainda irradiava aquela aura de sabedoria que tanto me fascinou, mesmo quando ainda era um sonserino e as hostilidades entre as casas estavam no auge.

- Ela nem percebeu. – fala Helena com voz tremida.

- É claro que não, já faz algum tempo que ela não enxerga direito. – alguém fala, e ao olhar me surpreendo ao ver meu antigo professor.

Salazar Slytheryn, ele já tinha rompido com Hogwarts a algum tempo, olho ao redor e percebo que não só Salazar com seu corpo esguio e olhos e cabelos negros está ali, Helga está segurando a mão de Rowena, Helga é uma das criaturas mais estranhas que eu já conheci, sua bondade chegava a ser estranha, ela chegou ao cumulo de comprar uma fazenda para que os elfos domésticos vivessem como quisessem, ela era baixinha e gorda, de cabelos loiros e rosto rosado, seus olhos eram azuis céu, quando era mais jovem e magra, ela se parecia com uma daquelas fadinhas do campo que os trouxas imaginam existir, também estava presente Godric, aquilo me deixou mais surpreso do que qualquer outra coisa, Godric e Salazar num mesmo cômodo, sem tentar se matarem era algo a se pensar, mas eu sabia o motivo, ambos não podiam deixar de prestar suas ultimas homenagens a Rowena, aquilo era uma trégua, temporária, mas uma trégua.

- Se ela enxergasse bem, ela teria visto a mais tempo a coisa que estava criando como filha. – continua Salazar, sua língua ainda era bem afiada, aquilo me irritou, já não bastava tudo que Helena passou, ainda tinha que ouvir as provocações dele? – Mas eu me alegro que Rowena não tenha visto que sua filha se tornou um fantasma, isso a teria matado mais rápido do que a doença, apesar de que isso significaria que ela não sofreria tanto com as dores.

Salazar com um balançar de ombros vai em direção a porta, a dor que vejo no rosto de Helena é insuportável, me viro e dou de cara com Godric, que olhava para Rowena pensativamente, quando Salazar estava para sair Godric fala, com sua voz forte e poderosa:

- Hoje é um dia estranho e triste.

- Porque diz isso? – Salazar pergunta, provavelmente esperando algum motivo para começarem a brigar.

- Triste porque Rowena se foi e ela era importante para mim, nunca terei uma amiga como ela, excluindo Helga é claro. – ele dá um sorriso triste a Helga que chorava desconsoladamente ainda segurando a mão da amiga. – E estranho, porque pela primeira vez em toda minha vida, concordo plenamente com algo que você diz Salazar.

Godric lança um olhar severo a Helena que se encolhe e se aproxima da cabeceira da cama de sua mãe, eu pensei em interferir, mas estava surpreso demais com o fato de Godric ter falado que concordava com Salazar, o mesmo parecia estar acontecendo com este, que estava de boca aberta, talvez por não saber o que falar Salazar olha ao redor dele, e seu olhar cai sobre mim.

- Sabe, eu te considerava um homem de valor. Mas medo da morte? – Salazar mais afirmou do que perguntou.

- Eu nunca tive medo da morte. – eu respondi ofendido. – Eu apenas… - olhei para Helena que evitou meu olhar. – Eu tinha que pagar pelo que fiz.

- Você é mais idiota do que eu estava pensando, preferiria que você tivesse medo da morte. – ele me fala e sai.

Eu olho para aquelas pessoas que ainda estão lá dentro e não suporto mais ficar ali, enquanto Salazar estava ali, eu sentia que podia ficar, afinal ele é pior do que eu, e isso é alguma coisa, mas agora que ele saiu, eu me senti indigno de continuar ao lado daquelas pessoas, cuja honra era sua vida, e também não podia mais olhar para o fantasma da minha amada.

Estou novamente na torre de astronomia arrastando correntes, apenas para fazer barulho, assim todo mundo sabe que estou ali e não se aproxima, se alguém passasse por ali, também ouviria meus gemidos, gemidos de dor, dor pelo que estou lembrando, dor pelo que me tornei, e dor por não ter nem ao menos o perdão de Helena para acalmar meu ser, lágrimas escorrem mais uma vez pela minha face, todas as noites eu me obrigo a subir nessa torre e lembrar, lembrar de tudo que mais me machuca, é um preço que não considero alto, não depois do que fiz, eu ainda estou pagando.


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Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que leram, acreditem ou não, essa é a maior fiction que já escrevi, rs, se vocês puderem, deem uma olhada nas minhas ones, novamente, obrigada, espero que tenham gostado. xoxo.