Nameless escrita por Guardian


Capítulo 12
Fúria. Frieza. Cansaço. Confusão. O que mais??


Notas iniciais do capítulo

Desculpem, desculpem, desculpem >/////< Estou com uns problemas em casa, e fiquei praticamente um mês sem escrever um parágrafo sequer...



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 - Acalme-se, Mello – foi tudo o que Klaus disse, e era tudo o que ele dizia, sem alterar uma vírgula sequer, desde que o loiro entrou em sua casa quase derrubando a porta com toda sua fúria. Fazia muito, muito tempo mesmo que Mello não entrava naquele lugar, que não colocava os pés aonde um dia já até pensou em chamar de “lar”, e o próprio ar de lá era repleto de lembranças de anos e anos atrás. Mas antes mesmo de noticiar que as cores das paredes eram as mesmas daquela época, ou que em cima da lareira ainda repousava o mesmo enfeite que tivera que fazer (forçosamente) certa ocasião para um trabalho escolar, obrigou-se a deixar todas aquelas visões de nostalgia fora do alcance de sua mente. Não estava ali para isso. Estava ali para conseguir respostas.

 - Acalmar? Claro! Eu vou me acalmar no momento que você resolver abrir essa sua maldita boca e explicar quem diabos era aquela mulher e por que ela me conhecia! – Klaus fechou os olhos com um suspiro cansado, evitando encarar aqueles olhos azuis que conhecia tão bem. Estavam ligeiramente mais escuros do que o normal, mais fortes e penetrantes do que se lembrava de um dia já ter visto, e o rosto que os ostentava estava contorcido em uma careta de fúria que só aquele loiro impaciente e explosivo sabia fazer.

 Mello andava de um lado para o outro na espaçosa sala de estar do mais velho, mantendo sempre as mãos em punhos com tal força que seus dedos estavam brancos, tudo para controlar a vontade quase irracional que tinha de puxar seu revólver do coldre e acelerar aquela “conversa”. Não, não podia fazer o que queria, e o pior era que tinha plena noção disso.  Era a primeira vez que procurava saber, a primeira vez que desejava descobrir o que sempre ignorou desde que iniciara naquele trabalho. Saber quem era sua vítima, saber o que a tinha feito para ganhar tal posição. E isso o irritava profundamente.

 - Eu já disse que não posso explicar nada por enquanto. Por favor, acalme-se, Mihael.

 Mihael.

 Toda a energia de escape, toda a fúria estampada em seu semblante junto à impaciência e agitação desapareceram com o pronunciamento daquele único nome. Sobrou apenas a frieza em seu lugar. Uma frieza que raramente era mostrada naquela intensidade e que agora se condensava de maneira inesperada e impressionante, como lâminas nas orbes azuis. A frieza da voz repentinamente mais baixa e controlada.

 - Não me chame por esse nome. Nunca.

 E mesmo que involuntariamente, Klaus estremeceu. Fazia um bom tempo que não precisava enfrentar o rapaz em tal estado, anos na verdade, e estava desacostumado a encarar aquela figura que ironicamente ou não, ele mesmo criara. Havia começado a se esquecer como era ficar frente a frente com tão contundente prova de um passado que não lhe era permitido esquecer.

 - Então me ouça – levantou da poltrona onde estava até então, e até pensou em colocar uma mão no ombro do loiro, mas desistiu no meio do caminho – Ao menos uma vez, me ouça.

 - E o que acha que vim fazer aqui? Cortar grama? – soltou com um riso irônico e sem vida, sem perder mais a calma fria que não combinava em nada com sua personalidade.

 - Mello...

 - Vai me explicar que merda toda é essa ou não?

 - Eu... Eu não posso. Não por enquanto.

 O moreno já estava preparado para qualquer reação possível vinda de quem viria; gritos, o som da arma sendo destravada como um aviso, algum golpe direto, mais ironia, um simples bufar seguido de passos impacientes pelo lugar. Estava preparado para qualquer uma dessas reações, menos para aquela que veio de verdade.

 Mello encheu e esvaziou os pulmões profundamente, e lhe deu as costas. Assim, simplesmente virou e fez seu caminho em direção à porta sem proferir uma única palavra e deixando um atônito Klaus para trás.  

 A porta da frente bateu com força e o loiro se deixou encostar nela por um instante antes de ir até sua moto e se afastar definitivamente daquele lugar. Iria descobrir sozinho então.

-x-

 - O que você quer?

 A pergunta saiu baixa e cansada, mais do que pretendia ou esperava, e praticamente desprovida da rudeza que fazia parte da intenção inicial. Nenhum olhar foi direcionado, nenhum movimento foi feito, e o ruivo ergueu uma sobrancelha intrigado com isso. O loiro parecia tão cansado e distante, com a cabeça apoiada por sobre os braços na bancada da cozinha e os cabelos cobrindo e escondendo seu rosto, desde que voltara já ao amanhecer, que Mail não podia evitar uma inquietação de se formar em seu peito. Não gostava daquele ar do loiro, não gostava nem um pouco. O que teria acontecido?

 - Nada – respondeu finalmente, sem uma resposta melhor e menos idiota ocorrer em sua mente.

 - Então vá arrumar o que fazer – e apesar da intenção, novamente a voz saiu mais cansada do que irritada. Estava tão cheio disso...

 Saiu da casa de Klaus com a clara intenção de fazer sua própria pesquisa, de agir sem a ajuda daquele homem para descobrir o que queria, mas tal vontade acabou ficando perdida em meio ao turbilhão que resolveu envolvê-lo antes mesmo de estacionar no subsolo do prédio. Tentou evitar, lutar contra como tinha aprendido durante todos aqueles anos, mas vinha tão forte que todo seu esforço era inútil. Chegava a ser angustiante.

 Lembrava  da expressão daquela mulher, do seu nome sendo dito em reconhecimento e surpresa, e sabia que eram esses ecos que serviram de chave para as sensações que o dominavam agora. Sensações que nem tinha certeza se seria capaz de separar, analisar e classificar, mas que estavam lá todas misturadas e quase o sufocando, com o inegável amargor do passado a lembrá-lo do que desejava mais do que tudo esquecer.

 Mail ficou olhando mais um tempo para aquela figura agora estranha a ele, sem saber como agir ou o que dizer, e sem realmente desejar indagar o motivo do loiro estar naquele estado. Então passou a olhar para os lados, tentando ter alguma ideia. Estranho, nem se lembrava mais como era sentir-se interessado em fazer algo em relação a outro alguém, tanto porque as últimas experiências do tipo que sua mente guardou lhe haviam ensinado o quanto poderia se arrepender se o fizesse. Talvez o tempo trancado naquele apartamento o estivesse fazendo se esquecer de quem era... Ou quem sabe, de quem deveria ser... De qualquer forma, o fato era que não tinha a menor ideia de o que fazer em uma situação dessas.

 O loiro não ergueu o rosto nem ao ouvir nitidamente os passos do outro soando fortes e se afastando para algum lugar do apartamento. Não importava, ele provavelmente tinha aceitado as palavras que lhe foram dirigidas e foi arranjar o que fazer.

 Queria ignorar as sensações antigas que tanto o castigaram no que restou de sua infância, queria trancar tudo de volta e fingir que nada daquilo lhe pertencia de fato, era o que mais queria e uma das coisas que mais sabia fazer. Então por quê? Por que não conseguia?! Se já tinha feito uma vez, deveria conseguir uma segunda, não? Não era o óbvio a se pensar?!  E por mais inútil que parecesse estar sendo, tentou reunir a disposição necessária para se erguer logo de uma vez e cumprir o que tinha decidido fazer antes de se sentir tão... Patético.

 E ele se ergueu de fato.

 Mas não foi por sua própria força como intentava.

 Não tinha ouvido os passos voltarem a soar perto de si, nem qualquer outro barulho que denunciasse a aproximação, mas teve que erguer enfim o rosto ao sentir aquele aroma. Um aroma que era um velho conhecido seu, que amava mais do que muitos dos fatores que compunham sua vida, que não duvidava que chegasse a ficar impregnado em si em determinados dias.

 Chocolate.

 Fixou os olhos azuis nos verdes do ruivo parado ao seu lado, sem entender aquele gesto. A grande caneca estendida em sua direção, cheia de um chocolate quente obviamente feito há pouco, vinha acompanhada de um olhar igualmente confuso, como se o próprio Mail não soubesse o porquê de estar ali fazendo aquele papel que nenhum dos dois tinha muita certeza de qual era ou o que representava. E não sabia mesmo. Oferecer aquele doce que o loiro tanto parecia amar foi o único pensamento que ocorreu ao rapaz, motivado pelo estranho e inusitado desejo de fazer algo.  Qualquer coisa, pelo motivo desconhecido que fosse, mas qualquer coisa que tirasse aquele ar doloroso de perto de Mello. E essa era a única certeza que Mail tinha no momento: aquele ar não combinava com o loiro.

 - Mail?

 O ruivo estremeceu involuntariamente. De repente se deu conta de que nunca antes Mello o havia chamado pelo nome. E após um breve instante o próprio Mello também pareceu aperceber-se disso, baixando o olhar subitamente incomodado por dar importância a detalhe tão irrelevante.

“Não sei o que aconteceu e sei que não é da minha conta. Só queria ‘arrumar o que fazer’ e não me sentir tão inútil”. Era o que planejava dizer, quase em tom de brincadeira para descontrair o ambiente no mínimo estranho, mas nenhuma palavra deixou sua boca. Não encontrou sua voz. O que estava acontecendo ali? E como única ação restante, esticou mais o braço até que Mello pegasse o que lhe era oferecido. O loiro soprou uma, duas vezes a fumaça que desprendia dali, e após dar o primeiro gole ainda em silêncio, ergueu novamente os olhos e uma curiosa sensação o invadiu.

 Uma vez mais a lembrança daquela mulher relampejou na mente de Mello, mas não era mais a lembrança do momento de sua morte, da forma como ela disse seu nome, do arrepio que aquilo lhe causou. Não, era uma lembrança diversa dessa. Seus olhos, principalmente; o modo como aquele verde brilhava, ela se aproximando dele naquele quarto escuro... Aquele verde... Aquele verde que não demorou a se converter ao verde dos olhos do ruivo ainda ali parado, ao verde que de fato viu quando deveria estar enxergando apenas aquela mulher.

 E quando percebeu, seu corpo tinha se erguido da cadeira e dado um passo à frente, sem se dar conta de ter deixado a caneca ainda cheia esquecida em cima da mesa, ou de que a dita cadeira ameaçou cair no chão com o movimento súbito. Quando se deu conta, seus lábios já tinham se encostado nos de Mail.


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