Fazia tempo que eu não conversava tanto com alguém. Miroku ouviu toda minha história e não pareceu ficar entediado com isso. Começou a ventar um pouco, algumas folhas voaram a nossa volta - foi engraçado.

- Ah, deixe-me tirar isso...

            O monge estendeu a mão no meu peito, no decote do kimono - como por instinto, acabei lhe acertando um tapa - e tirou uma folha que estava grudada em mim. Pedi desculpas, envergonhada por ter batido em seu rosto, mas ele apenas riu, dizendo que estava com saudades dessa reação feminina.
            Me levantei, tentando voltar a cor normal - estava corada por ter batido num monge - então, abri os braços, sentindo aquele delicioso vento tocar minha pele.

- Está ficando tarde, senhorita Rin... É melhor voltarmos ou ficarão preocupados.
- Tem razão - O céu estava escurecendo aos poucos.

            Esperei o monge dobrar sua toalha branca e fui guiada de volta á vila, ja que meu senso de direção era horrível. Não sei se foi voluntário, mas assim que pisei no velho vilarejo, não consegui falar mais nada. Miroku percebeu isso, passou a mão na minha cabeça e disse que era hora de jantar, voltando a me chamar de Yuri.
            Yuri, que ironia. Lírio em japônes e a minha flor favorita, a flor que sempre me lembrava do senhor Sesshoumaru.
            O jantar estava ótimo, nunca havia comido carne de veado - o senhor Sesshoumaru sempre matava um youkai e assava-o para mim. Cansada pela caminhada com Miroku, fui dormir, depois de receber vários sorrisos com desejos de bons sonhos. Adormeci rapidamente, dessa vez na casa do monge, e mais uma vez sonhei com meu querido youkai protetor.
            Dessa vez despertei cedo, não queria ser um incomodo para todos, mas o dia começou igual ao outro, talvez aquilo fosse uma rotina. Youta se sentou ao meu lado, com seus amigos, me acompanhando no desjejum.

- Bom dia, Yuri - Youta sorriu, como sempre - Gostaria de colher algumas frutas comigo hoje?

            Os companheiros do jovem cochicharam algo, mas Youta não pareceu se importar e, como eu não sabia o que fazer, resolvi aceitar o convite. Terminamos o café-da-manhã, agradecemos pela comida e saimos, só nós dois e um enorme cesto de palha clara. Para minha surpresa, ficamos próximos ao túmulo do senhor Jaken, rondando atrás de frutas, flores, temperos e ervas medicinais. Youta era rápido, mas paciente, ia na frente, segurando os galhos baixos para eu não bater e me explicava pra quê cada erva servia.
 
- Youta! Cuidado!

            Youta estava distraído, olhando para o chão a procura de cogumelos comestíveis, e quase bateu a cabeça num galho quebrado.

- Yuri... - Ele realmente estava surpreso - Você fala?
- ... - Pensando bem, aquelas foram as primeiras palavras que ele ouvira da minha boca.
- E que voz linda você tem - Ele voltou a sorrir enquanto eu corava - Seu nome não é Yuri, né?
- N..Não...
- Como se chama? - Seus olhos brilharam de curiosidade.
- Rin.

            O jovem elogiou meu nome, mas não perguntou minha história ou o porquê de eu me manter calada no dia anterior. Na verdade, algo lhe pareceu mais interessante: minha boca. Mantendo aquele sorriso meigo, ele aproximou seu rosto do meu, lentamente, e encostou nossos lábios, fechando os olhos devagar.
            Como eu não sabia como reagir, acabei sendo beijada.