—Chame os outros, preciso saber de tudo.

Naruto Uzumaki:

                Olhei para o relógio e fiquei surpreso ao ver que já passara das oito da manhã, horário de visita no hospital. Com um esforço sobre-humano eu me levantei da cama e fui tomar um rápido banho, a fim de ir rápido e ver a Sakura-chan. Bocejei e peguei uma solitária caixinha de leite que estava no fundo da geladeira, mas o gosto de azedo invadiu a minha boca e tive que ir correndo para o banheiro.

Ontem havia sido um dia exaustivo, Tsunade nos interrogou por horas como se fossemos criminosos, onde éramos julgados como culpados pelo estado de saúde atual da rosada. Passei a mãos pelos cabelos e saí pela janela, não querendo perder tempo em ter que descer oito andares de escada do meu prédio.

Pulei para o outro telhado com perfeição e assim por diante até chegar ao meu destino. Não fui perder tempo indo até a recepção então fui direto para o oitavo andar, onde a Haruno estava. Pulei pela janela e quase achei que havia errado de quarto quando a vi. Ela estava bem pior do que ontem, seu cabelo estava grudado em seu rosto suado e perigosamente pálido, e abaixo de seus olhos, fantasmagóricas olheiras se formavam e seus rachados lábios entre abertos ansiavam a busca de mais ar, apesar do tubo (que se parecia com uma focinheira) que tinha a função de fazer isso.

Aproximei-me da cama e pude ver que seus pulsos estavam amarrados junto à maca, assim como seus pés. Não havia ninguém no quarto, mas ali tinha sinais de quem alguém a visitara, já que ao lado de sua maca havia um simples vasinho de vidro com alguns lírios já murchos dentro.

Preciso conversar com Ino, afinal, eu trouxe minha amiga para um hospital para que ela melhorasse e não o contrário! Caminhei até a porta, mas antes que alcançasse a maçaneta, a mesma girou, e a loira quase caiu para trás ao me ver.

—O que você está fazendo aqui?!—Perguntou a Yamanaka, irritada, como sempre.

—Horário de visita. —Respondi simplesmente e a mulher estreitou o olhar sobre mim, como uma mãe faz quando não tem paciência para ouvir as abobrinhas que o filho tem a dizer, mas felizmente eu não sou o filho dela.

—Sakura não pode receber visitas. —Respondeu se recompondo, mas sua voz continha uma irritação que ela se esforçava para controlar.

—Percebe-se. —Murmurou uma voz grave, vinda de trás da médica que não pareceu surpresa ao ver Sasuke ali.

O moreno pouco se importava com ela, seus olhos estavam fixos em Sakura e em como a rosada estava lutando para respirar, como se fosse estilhaçar a qualquer momento, como um espelho rachado.

—Os dois para fora!—Ordenou a ninja, mas nem eu e nem o Uchiha demos ouvidos.

—O que está acontecendo, Ino?!—Exigi e Ino soltou o ar pela boca, impaciente.

—Não está acontecendo nada! Sakura está como ontem, nada aconteceu de errado.

Sasuke Uchiha:

                —Não está acontecendo nada! Sakura está como ontem, nada aconteceu de errado. —Retrucou irritada.

                Apertei meu punho, minha mão esquerda quase esmagando os lírios que trouxe para Sakura, mas que pelo visto, não poderei entregar tão cedo.

                —Mentirosa. —Retruquei e Ino ficou vermelha de raiva, quase como um touro.

A loira abriu a boca para falar, muito provavelmente algo mal-educado e ofensivo, mas eu não me importei, uma hora ela vai deixar alguma informação escapar e eu estarei aqui, para me aproveitar desse momento.

                —Sakura não estava daquele jeito quando eu a visitei ontem. —Falei.

                —Sakura-chan não estava desse jeito quando eu a trouxe até aqui. —Confirmou Naruto, também pressionando a Yamanaka a contar a verdade. —Olha, nós só queremos saber o que houve com ela, afinal, a cabeça de algodão doce é nossa amiga. Se coloque em nosso lugar Ino, aposto que você faria até pior se isso acontecesse com o Shikamaru ou com o Chouji...

                Nunca imaginei que isso pudesse acontecer, mas o loiro conseguiu jogar o nosso maior trunfo para cima da garota e com tanta naturalidade que a médica abaixou a cabeça, desviando o olhar para um canto qualquer do cômodo, visivelmente hesitante.

                —Peço desculpas... —Ino resmungou tão baixo, mas tão baixo que eu não consegui ouvi-la direito. —Sinto muito, mas não posso contar nada sobre o quadro clínico da Sakura.

                —Como assim não pode?—Indaguei e a loira mordeu o lábio inferior, visivelmente nervosa.

                —Ordens diretas de Tsunade-sama. —Respondeu. —Sakura se tornou uma paciente altamente sigilosa dentro desse hospital.

                —Mas eu só a deixei aqui ontem! Como ela pode ter se tornado tão sigilosa assim?!—Indagou o Uzumaki enterrando ambas as mãos no cabelo, angustiado.

                —Por que foi de madrugada que tudo piorou. —Murmurou com tristeza enquanto acariciava dolorosamente o braço esquerdo, onde uma extensa marca de arranhão se destacava.

                —O que aconteceu?—Indaguei e Ino nem me olhou, mas eu não desisti, a puxando pelos ombros. —Olhe para mim!—Ordenei entre dentes e a loira obedeceu, mesmo que de má vontade. —Se coloque no meu lugar e no lugar do Naruto. O que você faria se ao invés de você como médica nesse hospital, fossemos eu e o Naruto? Do jeito que você é louca, duvido que abaixaria a cabeça para qualquer negação e diria “amém” para tudo. Estou aqui desde madrugada tentando entregar estas benditas flores pra ela!— Falei chacoalhando os frágeis lírios em minha mão, e uma ou duas pétalas se soltaram, caindo suavemente.

A Yamanaka estava sem fala, surpresa, e eu sinceramente não sabia se aquilo era bom ou ruim.

Ino Yamanaka:

                A minha frente estava um Sasuke que eu nunca havia tido a oportunidade de ver, era um Sasuke ansioso e preocupado, se importando com a fragilidade alheia. O moreno abaixou a cabeça, e sua mão apertou meu ombro com força, mas eu não me importei. Não queria me mover, talvez com receio de que o moreno pudesse se quebrar caso eu me movesse.

                —A Hokage te deu uma ordem, iremos respeitar isso, mas só nos conte, pode ser até sem muitos detalhes o que aconteceu com a Sakura. —Falou quase murmurando, me encarando profundamente e foi então que o Uchiha disse algo que eu nunca pensei que ele fosse capaz de dizer. —Por favor, Ino.

                Por alguns instantes eu sustentei o olhar dele e suspirei.

                —Se eu for presa, juro que vou matar vocês dois. —Murmurei e Sasuke se afastou, sem esboçar nenhuma reação inesperada, mas Naruto fez questão de sorrir abertamente e me abraçar com uma força descomunal.

                —Muito obrigada Ino-chan! Muito obrigada mesmo... —Repetia, eufórico.

                —Certo,certo, eu já entendi. —Falei desfazendo o abraço e arrumando meu jaleco. —Bem, como o Naruto viu ontem, eu não sabia o que Sakura tinha, na verdade nem a Tsunade-sama conseguiu. Encontramos um corte profundo que atravessava o corpo dela, era uma ferida inflamada e bem feia, não parecia ser muito recente então a costuramos e com o medicamento certo, Sakura melhorou e passou boa parte da noite dormindo. — Analisei a expressão dos dois ninjas na minha frente, talvez eles possam saber de algo sobre a ferida misteriosa da rosada.

                Naruto franziu o cenho, encarando o chão de forma pensativa, visivelmente não sabia de ferida nenhuma, já Sasuke pareceu bem menos surpreso que o Uzumaki, seus olhos negros continuaram a me fitar, escutando atentamente o que eu dizia, sem se prender no fato da ferida da Haruno, como se aquilo não fosse uma surpresa para ele. Estranho...

                —Foi mais ou menos lá pra umas quatro da manhã que as coisas mudaram drasticamente.  Eu fui vê-la, uma visita rotineira para ver se estava tudo bem, nada demais, mas foi então que de repente a Sakura acordou bruscamente, ela não estava só agitada, parecia ser outra pessoa, outra... Coisa. Parecia um animal.

                Tanto Naruto quanto Sasuke franziram o cenho, confusos e preocupados, tentando assimilar algo que eu ainda tentava entender também.

                —Sakura estava descontrolada, nem parecia um ser humano, por isso tivemos que dopá-la e amarrá-la na maca.

Um breve silêncio se estendeu e eu acariciei as marcas dos arranhões em meu braço, me lembrando da noite passada. Só de me lembrar dos olhos selvagens e dos grunhidos e rosnados ferozes de Sakura, meu corpo estremeceu, aquela não era a minha melhor amiga...

—Desculpa, mas eu só posso dizer isso... —Murmurei e sai antes que algum dos dois me perguntasse sobre mais alguma coisa.

Naruto Uzumaki:

                Um longo silêncio se estendeu entre nós dois, só o som oco do salto alto de Ino ecoava pelo corredor, mas esse som logo desapareceu também, deixando a mim e ao Sasuke mergulhados no silêncio.Sem dizer nada, o moreno ao meu lado saiu andando na direção da saída, mas não sem antes jogar o que sobrou dos belos lírios pela janela mais próxima.

Percebendo que ficarei sozinho nesse hospital, eu me levantei e segui o Uchiha, tendo que correr um pouco para alcançar o ninja.

—E então?—Indaguei, me desviando de uma enfermeira desatenta.

—Então o quê?—Retrucou Sasuke, sem nem ao menos olhar para mim.

—O que a gente vai fazer Teme!—Disparei e o moreno parou de andar na hora, me deixando dar alguns passos sozinhos. —Ei, o que foi?

—Deixa de ser otário, Naruto! O que você acha que nós dois podemos fazer pela Sakura? Não somos médicos!

—Mas somos amigos dela!—Retruquei, me aproximando do Uchiha. — Devemos fazer al...

—Já fizemos alguma coisa!— Interrompeu, irritado. —A trouxemos até um hospital, a própria Hokage está cuidando dela. —Raivoso, ele me segurou pela gola da blusa e me empurrou para longe do seu caminho. —Também quero tirá-la daquela maca ridícula e daqueles tubos horríveis, mas vê se entende uma coisa Naruto: não é sempre que você pode resolver tudo com um sorriso ou com os próprios punhos, dessa vez, nem eu e nem você podemos fazer lago a não ser esperar.

Fiquei ali, apoiado na parede, surpreso, vendo a silhueta de meu melhor amigo desaparecer por entre os corredores brancos daquele grande hospital. Por um momento, eu desejei ter raiva dele, ir atrás dele e dar um forte chute no estômago dele, e iniciar uma bela briga como antigamente, sinceramente, eu desejei por isso, mas a raiva não veio só a frustração, e eu entendi o que Sasuke quis dizer e eu me senti assim como ele: Frustrado e impotente.